A verdade é que Esquadrão
Suicida não sabe que filme quer ser. Ou melhor, ele sabe como gostaria de
ser, mas lhe falta coragem e inteligência pra chegar lá. Tente imaginar alguém
palestrando sobre um tema que não domina, gaguejando de tópico em tópico
enquanto emprega vários “hmmmm”, “ããhnnnn” e “unnnn” entre eles. Esse é o
sentimento da primeira meia hora de projeção. A coisa é que o longa, dirigido e
escrito por David Ayer (vindo do ótimo Corações
de Ferro), desentende que vilões já são figuras empáticas por sua própria
natureza - é muito fácil para o espectador se identificar com personagens que
desprezam regras e adotam certas liberdades sociais/comportamentais, mesmo que
condenemos suas ações. Ora, é isso que torna um Walter White, um Deadpool ou mesmo
um Coringa concepções tão cativantes. Assim sendo, é decepcionante constatar
que, além de um roteiro batido e cheio de furos, uma montagem caótica e uma
direção no mínimo problemática, o filme ainda investe em um esforço vazio para
sensibilizar o público sobre seus anti-heróis.
Depois dos eventos de O
Homem de Aço e Batman vs Superman,
a líder de uma agência secreta dos Estados Unidos, Amanda Waller (Viola Davis),
propõe a formação de um time de super-criminosos para combater possíveis novas
ameaças de meta-humanos – e mesmo que ninguém pareça muito interessado em
apontar, o próprio recrutamento do grupo acaba gerando um problema a ser combatido
pelo mesmo. São eles Arlequina (Margot Robbie), Pistoleiro (Will Smith),
Capitão Bumerangue (Jai Courtney), El Diablo (Jay Hernandez), Killer Croc
(Adewale Akinnuoye-Agbaje), Amarra (Adam Beach) e Magia (Cara Delevingne),
todos sob o comando do militar Rick Flag (Joel Kinnaman), que ainda conta com a
proteção de Katana (Karen Fukuhara). Com explosivos implantados no pescoço,
impedindo-os de fugir, os vilões devem ajudar o governo a cumprir uma missão em
troca da redução de anos nas suas sentenças.
Porém, quem são as pessoas por trás desses nomes exóticos?
Aparentemente, Ayer e a Warner se preocuparam com a mesma pergunta, e investem
os primeiros 30 minutos de Esquadrão
Suicida em uma colagem cheia de letreiros em 3D para introduzir cada um dos
membros – e o recurso em si não é o que incomoda, mas sim o filme acreditar que
ele será o suficiente para aprofundar os personagens. Esses “atalhos” gráficos
trazem, sim, descontração para qualquer narrativa (basta constatar o seu efeito
em Bastardos Inglórios, ou de forma
ainda mais latente em Scott Pilgrim,
por exemplo), mas sem um roteiro inteligente que os sustente, como os de Quentin
Tarantino e Edgar Wright são, acabam soando apenas como muletas preguiçosas de
direção. Além disso, o uso insistente de canções populares, inseridas de
maneira desengonçada na montagem (que é um caos à parte), denuncia uma
tentativa desesperada do projeto de alcançar a irreverência de filmes como Deadpool e Guardiões da Galáxia – chegando ao ridículo de repetirem uma das
músicas da trilha sonora desse último, Spirit
in the Sky.
E ao invés de seguir o exemplo de algumas dessas produções e assumir
as personalidades assassinas e cruéis de seus protagonistas, Esquadrão Suicida prefere tentar
justificá-las, ou pior, ignorá-las por completo quando tenta descaradamente
criar um clima de família entre assassinos desumanos, frios e até impulsivos. Seria possível? Talvez, mas o roteiro não sustenta esse vínculo, deixando de
criar as sequências necessárias para isso, que mostrassem interação e
aprofundamento das relações entre eles, para investir em cenas de ação
genéricas e mal conduzidas – e a incompreensível mise en scène delas é o menor
dos problemas se comparada ao fato de que são completamente desinteressantes em
seus conceitos (além de repetitivas) e pouco servirem à trama. A impressão é
de que Esquadrão Suicida seria um filme
muito melhor se seus personagens (conceitualmente tão interessantes)
abandonassem a missão e fossem para um bar beber e conversar. E quando isso de
fato acontece, o filme ganha o seu único bom momento. El Diablo aproveita o papo para contar um pouco sobre si mesmo (e notem como, ao não tentar
justificar suas ações, que são assombrosas, acabamos comprando muito mais o drama
de seu personagem), e Arlequina acaba constatando algo que o próprio Ayer parece
ignorar: “Assuma suas merdas”, admita que está lidando com pessoas ruins, e não
heróis. Se tivesse se focado nessa cena do bar, em uma espécie de Cães de Aluguel dos vilões da DC, o
projeto provavelmente teria tido melhores chances de ser bem sucedido. Mas ela
é apenas um oasis num deserto de equívocos.
Então é frustrante ver os esforços tão acertados de Margot
Robbie como Arlequina (insana, intensa e divertida na medida certa), Will Smith
como Pistoleiro (que confere sua habitual humanidade ao assassino) e Viola
Davis como Amanda Waller (fria e durona sem soar caricatural), perdidos em um
filme que não sabe o que fazer com eles. E se o roteiro não dá conta dos mais
destacados membros do esquadrão, é até vergonhoso como usa, por exemplo, o
Amarra, que apesar de sua participação tola, ao menos pode dizer que tem uma
função na trama. O que é muito mais do que sobra para o Coringa de Jared Leto,
que parece estar em um filme à parte – basta notar que suas cenas quase sempre
dizem respeito a um plano para salvar Arlequina, que no final das contas,
quando executado, não faz diferença nenhuma pros eventos do roteiro. Além disso,
Leto tropeça feio ao compor um dos vilões mais icônicos do imaginário popular,
investindo em rosnados e trejeitos que não sugerem nem sequer insanidade, mas
uma clara indecisão sobre o que fazer para interpretar o Palhaço do Crime –
Jack Nicholson e Heat Ledger mandam beijos. E o ponto mais baixo da inserção do
vilão vem depois que o projeto falha até mesmo em entender o óbvio: a relação
entre a Arlequina e o Coringa é abusiva, e não deve ser romantizada.
Como resultado final, Esquadrão
Suicida é uma ótima oportunidade para se ficar embriagado: uma virada de
vodka toda vez que aparecer um furo de roteiro (por que Magia não usa um certo
poder mais cedo durante o clímax?), outra pra cada fala que ressalta que
Arlequina é maluca (só essa regra já garantiria o coma alcoólico), mais uma pra
cada música pop inserida desnecessariamente, e duas viradas pras cenas de ação
que não acrescentam nada – com rodada especial durante flashbacks que explicam
coisas que já tinham ficado claras. Por fim, percebe-se que o medo de não ser
cativante o suficiente é justamente o que acaba tornando o filme algo tão desinteressante
e decepcionante – mas vou esperar ansioso pela versão estendida da cena do bar.
Recebeu muitas criticas, pessoalmente eu acho que é um filme que nos prende. Harley Quinn para sempre sera meu personagem favorito!! Sinceramente os filmes de ação não são o meu gênero preferido, mas devo reconhecer que Esquadrão Suicida superou minhas expectativas, aqui deixo os horários da estréia http://br.hbomax.tv/movie/TTL607710/Esquadrao-Suicida. Adorei está história, por que além das cenas cheias de ação extrema e efeitos especiais, realmente teve um roteiro decente, elemento que nem todos os filmes deste gênero tem.
ResponderExcluir