quarta-feira, 26 de outubro de 2011

OS TRÊS MOSQUETEIROS



   
     Paul W. S. Anderson (Não cometam o atentado de confundi-lo com o brilhante Paul Thomas Anderson) é um diretor que em uma só palavra pode ser descrito como medíocre. Sua carreira só ganhou algum destaque porque veio pendurada na fama da franquia Resident Evil (aonde dirigiu e produziu), ainda que esta mesma franquia só tenha sido razoavelmente bem sucedida nas telonas graças ao grande número de fãs dos games que a originou. Então, não é que Anderson seja um bom diretor, ele só fez nome a partir de algo que já era famoso antes, já que se dependesse de seu talento como realizador, eu tenho certeza, ele ainda estaria mendigando em Hollywood. Pena é que, os produtores deste Os Três Mosqueteiros (e ele é um deles) não perceberam isso antes.



     Um filme feito literalmente para arrancar grana dos bolsos alheios. Feito com preguiça e má vontade. Assim é o filme em questão. E pensando nisso cheguei à seguinte conclusão: Se as pessoas envolvidas no projeto, que trabalharam para fazê-lo acontecer, não se importaram com a qualidade do mesmo, por que eu, que pouco tempo tenho, vou me incomodar em escrever um texto longo e trabalhoso sobre um filme essencialmente ruim? Pois então, resolvi adotar o espírito de porco com o qual o filme provavelmente foi feito e entregar aqui a crítica do filme como ele a merece, sem grandes desenvolvimentos, apenas uma exposição didática e sem emoção daquilo que eu vi. Quem sabe você que está lendo tenha até uma idéia melhor de como o filme é.


     -Roteiro absurdo escrito por Andrew Davies e Alex Litvak junto à direção de Anderson recontam a obra de Dumas de forma preguiçosa. Exemplo: a forma de apresentar os personagens é pretensiosa, esfregando o nome e o rosto de cada um na tela. Obviamente para garantir que nos lembremos de quem é quem durante o filme, já que sabiam que seu roteiro mal escrito não desenvolvia ninguém, tornando todos os personagens esquecíveis.
     
     -Pelo mesmo motivo o nome de cada um parece ter que ser lembrado a cada minuto. Normal é ver algum nome de personagem sendo dito pela décima vez em uma mesma cena.
     
     -Redundância é colocar o nome de um lugar onde se passa uma cena em caixa alta na tela, só para segundos depois algum personagem repetir para os outros onde estão. Detalhe é que esta cena se passa durante uma missão importante, tornando inacreditável que os outros não soubessem a sua localização.
     
     -Arcos dramáticos nada desenvolvidos. Não me venha dizer que aquele rei de m... Tem um relacionamento conturbado com sua rainha que eu vou me irritar. Aquilo é uma perda de tempo descomunalmente fútil dentro de uma narrativa já absurdamente fraca.



     -O Personagem de Logan Lerman, D'Artagnan, parece movido pela meta de se tornar o homem mais imbecil da Europa, já que seu personagem inconsequente nunca tem seus sentimentos explicados. Na verdade creio que aqui, Lerman interprete um débil fugido de um hospício, devido a suas bruscas mudanças de humor ou sua inexistente preocupação seja com o que for acompanhadas da mania de achar graça de tudo (não vou nem citar a tendência do garoto de largar as mais fajutas frases de efeito). E se for o caso, então o ator merece um Oscar. Aliás, que tipo de pais simplesmente mandam o filho embora em uma colina, não esperam nem o menino pegar uma mochila nem nada, simplesmente tchau! Que desespero é esse?
     
     -Matthew MacFadyen, Luke Evans e Ray Stevenson, respectivamente, Athos, Aramis e Porthos, os Três mosqueteiros do título, estão em atuações no piloto automático. Esquecíveis. Milla Jovovich como Milady faz o que sempre faz. É Milla Jovovich, inexpressiva e apostando em meia dúzia de sorrisinhos enviesados.
   

    
     -Orlando Bloom e Chritoph Waltz totalmente desperdiçados em papéis que pretendiam ser de vilões. Canastrões não por sua culpa acredito, mas pelo texto horrível ao qual tiveram que seguir.
     
     -Anderson deixa claro que tudo que ele queria era dinheiro. A apresentação do filme em formato 3D é totalmente irrelevante, devido a pouca profundidade de campo das cenas, provando que o acerto do diretor em Resident Evil 4 no uso da técnica, foi um mero acaso. Outra coisa é notar a ausência quase que total de sangue (ele surge em poucas gotas mais para o final), mesmo com Anderson investindo em violentas cenas de batalha e duelos onde espadas entram e saem de corpos sem jorrar uma gotinha vermelha que seja. E isso até seria aceitável, porém, notar que as espadas saem limpas e brilhantes de dentro dos peitos de dezenas de personagens é inconcebível. Tudo, é claro, em prol de uma classificação livre.
     
     -Ah sim, a montagem! Que horror é o tom totalmente episódico que nos conduz durante toda a projeção. Pulando de fato em fato sem se preocupar com uma boa transição entre as cenas, o montador Alexander Berner adota um ritmo didático a sua montagem monótona, que se restringe a contar os acontecidos um após o outro sem emoção alguma, seja em um diálogo ou em uma cena de ação.
     
     -A trilha de Paul Haslinger até que tenta, mas caí na mesmice depois de dois ou três minutos de filme, apostando em jogar toda a orquestra nas caixas de som sempre que lhe dá na telha, em músicas que não possuem identidade alguma.


     
     -Mas se há algo a se elogiar e a se criticar também, é a direção de arte, que se nos cenários e nas vestimentas dos personagens principais entrega um show de detalhes, bordados e babadinhos, no figurino coadjuvante faz feio ao vestir os soldados do rei, por exemplo, com fantasias que saltam aos olhos, já que claramente não pertencem aquele cenário, e sim a um palco da Broadway. E sim, eu estou levando em consideração o estilo steampunk adotado pelo longa. Outra coisa é o péssimo uso da green screen, que falso, só subtraí pontos do projeto.


     
     Pretensioso a ponto de não fechar seus arcos dramáticos e deixar mais do que um simples gancho para uma continuação, o novo longa de Paul W. S. Anderson erra até em não terminar, já que nem mesmo possuí um clímax bem feito (me recuso a chamar aquilo de clímax), ou uma resolução satisfatória, na verdade não há nenhuma, porque devia ser normal choverem barcos em pátios de castelo naquela época (steampunk, eu sei! mas mesmo assim). E não vale nem citar o constrangedor e gordinho alívio cômico do filme, tão sem graça que nem as crianças acharão graça. E no fim, o que devia ser um por todos e todos por um, é um pra ver e ver pra não gostar.

NOTA: 2/10  
   

domingo, 16 de outubro de 2011

GIGANTES DE AÇO

     

     Muito recentemente falei aqui sobre A Hora do Espanto, ressaltando quão divertido era o filme "vampiresco" apesar de seus defeitos de roteiro, citando também que estes filmes leves e carismáticos eram acontecimentos raros. Constatação que, depois de ver o longa aqui sobre robôs, tem que ser repensada, já que ele também consegue este feito. E, diga-se de passagem, com muito mais êxito que o outro. Longe de ser um filme inteligente ou imprevisível, Gigantes de Aço (Real Steel) tem como maior mérito o enorme carisma de seus protagonistas associado a uma estória que, se não possui a mais original das estruturas, ao menos consegue ter uma que é empolgante e divertia.



     Um ex-boxeador, Charlie Kenton (Hugh Jackman), trabalha como promotor de robôs lutadores de Box (eu sei, também pensei WTF?!). Vendo-se afundado em dívidas, já que seus robôs tem o péssimo hábito de perder as lutas, Charlie se vê sem saída para escapar dos muitos credores que tem. É então que entra em cena Max (Dakota Goyo), um filho que Charlie renegou quando bebê e que agora, com a morte da mãe, está temporariamente sob seus cuidados. Mas, a difícil relação entre os dois logo ganha algum espaço para se desenvolver quando o garoto mostra extremo interesse pelo trabalho do pai, e juntos eles treinam um robô um tanto incomum (adquirido inusitadamente) para disputar pequenas lutas. O que nenhum dos dois esperava é que o grandalhão de metal fosse uma ótima aposta para se conseguir o maior título destas lutas.



     Vindo de uma série de fracas comédias, tais quais Doze é demais, A Pantera-Cor-de-Rosa, Uma Noite no Museu 1 e 2 e Uma Noite Fora de Série (este último diverte ainda que seja irregular), o diretor Shawn Levy pouco faz que não seja conduzir a trama de forma previsível. Então esteja pronto para contra-plongées aos montes quando os robôs estiverem em cena e muitos plongées enfocando o garoto Max, por motivos óbvios. Mas se esta lógica é batida, ao menos funciona dentro do longa quando o diretor resolve enfocar Max e Charlie quase sempre no mesmo nível, se não de câmera, de altura mesmo, colocando algumas vezes o garoto sobre um banco ou semelhante para deixá-lo na altura do pai. Isso serve ao roteiro que procura estabelecer a relação pai e filho com uma incomum igualdade de conhecimentos entre os dois. E para tentar ajudar Levy na tarefa, foi chamado Mauro Fiore como diretor de fotografia. O profissional obviamente já esta acostumado a lidar com seres digitais, tendo em vista que ele vem de Avatar aonde fotografou o filme dos aliens azuis ao lado de James Cameron. Mas se os efeitos visuais casam de maneira espetacular com a iluminação de Fiore nas cenas que se passam sob a luz do sol, é triste ver que nas sequências mais escuras, onde normalmente os efeitos visuais se saem melhor (por ter menos luz em contato com suas texturas), eles voltem a soar apenas bons, já que a noção de realidade se perde na luz artificial que faz dos seres computadorizados apenas isso, boas criações digitais.



     Mas acontece que a força do filme não são seus efeitos, e sim seus personagens. Em dado momento de inspiração de Levy, o diretor coloca Charlie e Max frente a frente de perfil em um plano aberto. Ao fundo dos dois vemos vários arcos, propositalmente, os dois estão colocados aos pés, cada de um de um arco. Estes mesmos arcos se encontram para formar um só pé, ou seja, é curioso ver que mesmo no mais declarado filme "pipocão" se veja elementos que busquem complementar a história, já que claramente este plano indica a saída dos dois personagens de lugares totalmente diferentes e seu encontro em um ponto comum mais adiante, assim como os dois arcos que lado a lado, se encontram no meio. E novamente, se esta linguagem não é genial, ao menos prova a atenção dos realizadores para com seu projeto. O que no mínimo gera algum conforto, afinal, não é ruim perder tempo falando sobre um filme aonde nem mesmo seus realizadores se dão ao trabalho de prestar atenção no que estão fazendo? Assim, é claro o carinho com que, por exemplo, John Gatins trata as relações pessoais dentro do filme. Ainda que cometa erros. Afinal é impossível não notar as viradas abruptas do texto que não são bem suavizadas nem por Gatins e nem pelo montador Dean Zimmerman, que tornam momentos como a entrada do garoto Max no filme, forçados e inquietantes. Afinal de contas o garoto pouco parece sentir sobre a morte da mãe, que logo é superada, na verdade, esquecida pelo roteiro! Se fazendo assim, uma (burra) desculpa para a entrada do menino em cena. Sem citar a desnecessária "rebeldia" de Charlie mais para o fim do filme, que serve apenas... Bem, serve para Bailey (Evangeline Lilly) dizer meia dúzia de frases bobas, por que de resto, nada se altera entre o começo desta cena e o final da mesma, a não ser os preciosos minutos de paciência do espectador.



     Mas, se a força do filme são seus protagonistas (humanos), não é graças ao roteiro. Hugh Jackman é inegavelmente um dos atores mais carismáticos e um dos mais queridos do público atualmente. Então, ele nem precisaria se esforçar muito, e de certa forma não o faz, encarando seu papel de forma divertida, usando muito do seu já garantido carisma para conquistar o público como Charlie, pouco sensível e precipitado. Mas quem dá um show ao lado do ator, criando uma química ágil e deliciosamente divertida com o mesmo, é o garoto Dakota Goyo. O ator-mirim se solta e entrega um Max extrovertido, falante, engraçado, sentimental e inteligente, mas ainda sim uma criança, vide sua ingenuidade em certos momentos. Enfim, um personagem totalmente tridimensional. É claro que não tendo visto o menino em outros filmes, pode-se dizer que ele apenas está sendo ele mesmo. Mas pela gama de emoções que seu personagem consegue passar, prefiro acreditar que seja, ao lado de Joel Courtney e Elle Fanning, uma das melhores atuações mirins do ano.



     E se você se deixar levar por essa dupla, ao chegar ao clímax, você com certeza vai encontrar aqueles momentos típicos de se fazer vibrar na cadeira e gritar "Vai lá!". E grande parte desta emoção que o desfecho nos passa, é mérito da trilha muito bem vinda de Danny Elfman, que não cria tema algum, mas que pelo menos estabelece um fio condutor nos instrumentos eletrônicos, se saindo mais uma vez correto em seu trabalho. E por mais caricatos e estereotipados que sejam os vilões do filme (tem mais de um dependendo do momento), é impossível não vibrar ao som do ótimo Sound Design aliado as composições de Elfman, quando  se chega ao previsível fim que estes tem.



     E sim, o final era previsível. Adotando o velho ideal norte americano do Box (e de qualquer outra disputa) de que perder resistindo e persistindo até o final é melhor do que ganhar sem grandes esforços, o filme se encerra de maneira empolgante, deixando um raro sentimento de "quero uma continuação disto". Afinal, mesmo os mais graves tropeços do longa não impedem o espectador de encontrar em Gigantes de Aço um ótimo divertimento. Porque se não for pela empolgação, o filme no mínimo, vale pela sua dupla de protagonistas.



NOTA: 7,5/10 

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A HORA DO ESPANTO

     

     É sem demora. O público hoje em dia já está bem mais informado que na década de oitenta, e principalmente o público alvo deste remake de um bom (e apenas bom) filme "terrir" de 1985. Equilibrando bons e maus momentos, A Hora do Espanto (2011) na pior das hipóteses é uma boa, e cada vez mais rara, oportunidade de diversão.



     Charley Brewster (Anton Yelchin), um garoto popular de uma High School em Las Vegas, mora com a mãe, Jane (Toni Collette) e sustenta um namoro com a bela Amy (Imogen Poots). Mas Charley nem sempre foi esta pessoa, e quando um velho amigo chamado Ed Thompson (o sempre ótimo Christopher Mintz-Plasse) da época "nerd" de Charley, vem avisá-lo que seu visinho, Jerry Dandrige (Colin Farrell), é um vampiro, sua rotina dá uma cambalhota e torna-se sua a responsabilidade de garantir a segurança de seus entes queridos.


     Diferentemente do longa original, aqui o "vampirismo" de Jerry é revelado nos primeiros minutos do longa, deixando de lado qualquer suspense. Um erro? Eu não acho, pois empurrar demais uma revelação que já está no conhecimento do público, teria sido perda de tempo. Assim, é sem cerimônias que Ed conta a Charley sobre sua teoria, em um diálogo que ainda conta com uma boa piada sobre Crepúsculo, que num filme que trata os milenares sugadores de sangue nas regras mais tradicionais, era bem esperada. Responsável pelo texto, a roteirista Marti Noxom (sim, que alívio! É uma só!) constrói a primeira parte do longa de forma gradual e dosada, mas sem nunca deixar que seu público alvo se canse, algo que também é mérito da eficiente montagem e da direção correta de Craig Gillespie.


     O diretor, aliás, merece alguns elogios a mais já que consegue fugir de lugares comuns do gênero, como a aparição repentina de um personagem inofensivo (ou não) atrás do herói. Preferindo a tensão ao susto, Gillespie acerta ao manter o espectador sentado quieto na poltrona em momentos de total imersão devido ao suspense em cena. Destaques para as quase seguidas sequências onde Charley procura por uma garota na casa de Jerry, e a consequente escapada dos dois de lá. Lembrando em muito até os momentos de inspiração de Wes Craven nos dois primeiros filmes Pânico, principalmente a ótima cena no segundo filme do assassino mascarado, onde duas personagens têm que passar por cima do desacordado Ghostface para sair de um carro. Em contraponto, a insistência de Gillespie em inserir várias vezes durante o longa planos aéreos do bairro de Charley, é irritante tendo em vista que seu propósito (de mostrar o quão isolado é o local) já é percebido desde a primeira vez, bastariam mais uma ou duas destas tomadas (exagerando) para lembrar o espectador em momentos chave.


     Ainda sim esta primeira parte é eficiente em não só nos apresentar os personagens, mas fazer com que nos importemos com eles. Estabelece um bom clima e conduz com cuidado, e boas tiradas, o suspense crescente. Porém, o filme tem seu ritmo (não o tom) quebrado drasticamente depois de uma inusitada sequência em que Jerry decide não mais esconder de Jane sua verdadeira identidade. Agora sim, um erro? Infelizmente sim, pois a partir desta virada, o filme (que apesar de continuar divertido) cai em uma estrutura formuláica de perseguições e cenas de "como vamos acabar com ele?", retomando a boa linha com que começou somente em seus minutos finais, já no clímax.


     Mas se ao menos podemos salvar a boa cena de perseguição com os carros (que ainda traz uma participação mais do que especial) no quesito ação, pode-se também detoná-la por problemas e (agora sim) lugares comuns técnicos. Por exemplo: A iluminação dentro do carro onde estão os protagonistas em fuga, sugere uma fonte luz azulada vinda exatamente de cima de suas cabeças, nos fazendo acreditar que eles estão sem o teto do carro e sendo iluminados pelo luar, o que para quem acompanhou o plano sequência que precede este enquadramento, não faz sentido algum! Aliás, que fique registrado, embora filmado em 3D, o filme claramente não foi planejado para tal, já que sua fotografia escura e enquadramentos de pouca profundidade de campo inutilizam a tecnologia, deixando-nos a mercê dos comuns objetos que saltam na tela e te esbofeteiam. Recurso que serve em muitas vezes para divertir um público mais descompromissado, aqui ofende a quem realmente aprecia a sétima arte e sabe como um jato de sangue voando na sua direção pode ser prejudicial para a capacidade de imersão de um roteiro.


     Em compensação temos a raridade que é um elenco funcional em um filme do tipo. Anton Yelchin, que vem ganhando cada vez mais destaque em seus papéis (e desde seu personagem em Star Trek já torcia para que ele ganhasse um de protagonista), interpreta Charley com o desconforto necessário de alguém que vive uma vida que não é sua ao mesmo tempo em que sustenta o saudosismo de tempos melhores. A cena que mostra o garoto revendo vídeos antigos ilustra com precisão estes sentimentos. Enquanto isso, Imogen Poots se mostra mais do que uma donzela em perigo interpretando Amy, nos fazendo gostar de um personagem que normalmente seria dispensável. Já Toni Collette (sempre ótima), repete o seu papel de mãe de um filho diferente (ou com quem acontecem coisas diferentes) que já vimos antes em O Sexto Sentido, Um Grande Garoto e Pequena Miss Sunshine (para não citar a problemática mãe de United States of Tara). E rejuvenescendo o personagem a quem dá vida, David Tennant encarna com humor o ilusionista e perito em criaturas das trevas Peter Vincent, caricatural, mas sem cair em algum over que incomode.


     Mas não é só Tennant que parece se divertir com seu papel, pois há um outro ator ai que parece estar a vontade com seu personagem. Este ator é Colin Farrell, sempre subestimado, acabo achando que Farrell é muito injustiçado na maioria das vezes. É verdade que ele é um ator limitado, com um campo de segurança bem determinado, mas ainda sim quando dentro deste ele normalmente se sai muito bem. Exemplo é seu personagem no recente Quero Matar meu Chefe, onde ele é uma das únicas coisas boas do longa. Ou seus personagens em Por um fio, Minority Report e Na mira do chefe. E seguindo esta linha de bons momentos, Farrell entrega aqui um Jerry extremamente leve. Totalmente dentro de sua área de atuação, o ator encarna um vampiro canastrão e bem humorado, que com certeza vai divertir mais do que assustar. O que pelo menos neste filme é um efeito proposital e não acidental.


     Muito graças a este elenco, o longa acaba se tornando carismático, quase que escondendo os erros cometidos pela falta de autoconfiança do diretor e da roteirista, que se tivessem acreditado em sua fórmula inicial um pouco mais, talvez tivessem entregue um longa até melhor que o original. Mas o que acaba é que temos um pequeno e pouco pretensioso filme de vampiro, feito para se ver num sábado à noite comendo pipocas, pronto para ser esquecido assim que chegar aos créditos. O que é uma pena, já que acima de tudo, este novo A Hora do Espanto é muito divertido.

NOTA: 7/10    

domingo, 9 de outubro de 2011

POR ÚLTIMO OU NÃO, O IMPORTANTE É RIR!

     Você está sentado na poltrona do cinema esperando começar a próxima aventura, drama ou suspense que te levarão a um mundo totalmente novo! Então, vêm os trailers. Entre eles, aquele de uma comédia romântica assustadoramente batida. Não corra! Não se esconda na sala que estiver passando Melancolia! Não tente fugir! Para onde você for, as comédias românticas vão te encontrar. Produzem-se tantas, que elas deveriam vir de brinde com outros filmes, já que só este ano conto no mínimo umas dez! E é verdade, em sua maioria são fracas ou repetitivas.
     Mas, calma, há esperança! E para provar isso vou falar aqui brevemente de três filmes de comédia que estrearam de agosto pra cá, que se não são obras primas, são no mínimo, inteligentes, bem sacadas e (pasmem) fazem rir bastante! E sem apelar para a casca de banana.

AMIZADE COLORIDA

     O maior tapa na cara. Afinal, o que esperar de um filme cujo pôster estampa Justin Timberlake e Mila Kunis fazendo sinais com conotações sexuais? Pois bem, o filme não é genial, mas ainda sim conta com o carisma de seus protagonistas, em especial de Kunis que vem me surpreendendo a cada novo papel, renegando o seu passado escuro em dejetos cinematográficos como Max Payne.
     Dois amigos decidem se "divertir" sem assumir compromisso emocional algum um com o outro, para assim, continuarem sua amizade. Mesma plot, aliás, de Sexo sem Compromisso que também estreou este ano com Ashton Kutcher e Natalie Portman, que foi colega de Kunis em Cisne Negro. Mas quem se deu bem não foi a vencedora do Oscar, já que o longa de Ivan Reitman foi fraco e desengonçado. Aqui, este tal de Will Gluck, que assina como diretor e roteirista (ao lado de outros dois neste último) faz um trabalho muito mais competente ao realmente desenvolver a relação entre os dois protagonistas e suas relações familiares.
     Assim é compreensível a falta de tato sentimental dos protagonistas se você encarar que: Um lida com um pai que sofre de Alzheimer e tem de administrar o setor criativo de uma empresa ao mesmo tempo, enquanto a outra tem marcado em sua personalidade o distanciamento e o constante abandono da mãe. E com a missão cumprida de nos convencer, ou melhor, de dar credibilidade a sua plot, Gluck consegue levar o resto do filme com harmonia e muito bom humor.
     É verdade que a trama torna-se batida a partir daí, mas nem por isso o diretor apela para o sexo o tempo todo, usando o tema com a moderação necessária. Eu poderia apontar algumas falhas que me incomodaram como a desatenção com a mudança brusca de luz entre um corte e outro num diálogo entre os personagens de Timberlake e Kunis, mas isso não incomoda tanto quanto a obviedade dos roteiros de outras comédias por ai.

NOTA: 7/10

MISSÃO MADRINHA DE CASAMENTO

     Ok, você leu o título não é? Diga-me, eu estou tão errado assim em ter esperado uma bomba? Acho que não. Mas novamente fui surpreendido (pra não dizer atropelado) com um filme que realmente funciona.
     Annie (Kristen Wiig) é convidada por sua melhor amiga, Lillian (Maya Rudolph), para ser madrinha em seu casamento. Mas há um grande problema. Outra das madrinhas, Helen (Rose Byrne), uma ricaça e pirua incurável, quer tomar o posto de "melhor amiga" da noiva. E para isso vai usar do que parece ser um cartão de crédito infinito, competindo assim diretamente com a falida Annie. E como se não bastasse, há ainda outras três madrinhas escolhidas por Lillian, cada uma com algum distúrbio psicológico aparente, que tornarão a relação entre este grupo ainda mais difícil de ser concebida. E assim esta dada a partida para uma competição entre as duas madrinhas, onde o prazo final é o casamento.
     Dirigido por este desconhecido Paul Feig, um dos grandes méritos do filme é a confiança que o diretor tem em seus roteiristas. Em quase todas as cenas em que se desenvolve uma situação inusitada (sempre hilárias), o cineasta abre mão de uma trilha composta divertidinha que normalmente acompanharia estas sequências, sublinhando para o espectador "Vejam, este é um momento engraçado! Riam!", substituindo este espaço sonoro pelo bom e velho silêncio, deixando (e confiando muito) que os diálogos associados às boas interpretações e o carisma dos atores fizessem o seu dever de divertir o espectador.
     A aposta do realizador também se vê na exploração destas cenas, já que ele cede muito tempo a várias delas, acreditando que o público estará imerso na trama e no humor e não ligará se houver tempo para mais uma piadinha dentro daquela situação. E isso se vê na ótima e hilária cena do avião, que podia muito bem ser mais curta, mas que é explorada durante no mínimo uns dez minutos em um crescendo absurdamente divertido.
     O elenco, quase todo de mulheres, é com certeza a alma do filme, já que desde Wigg com sua fragilizada Annie, até Melissa McCarthy com sua caricatural Megan, todos os atores criam química e agilidade entre os personagens, esses tão diferentes uns dos outros. E é um alívio ver que os mesmos não caem em piadas forçadas e previsíveis, sendo talvez o momento mais "errado" do longa, uma indigestão coletiva que soa Over demais.
     Assim, mesmo que a sub-trama de Annie com o policial atrapalhe um pouco o ritmo do filme, deixando-o um tanto longo de mais, o longa ainda é uma peça rara nos dias de hoje, onde a confiança de um realizador em sua estória e personagens é cada vez mais escassa.

NOTA: 8/10

AMOR A TODA PROVA

     O nome de Steve Carell normalmente é atribuído a um filme no mínimo divertido. E por isso não levantei más expectativas a cerca deste longa que trazia, além deste ator, Julianne Moore, Ryan Gosling, Marisa Tomei, Kevin Bacon e Emma Stone. Mas diferentemente daquele fraco Idas e Vindas do Amor que também juntava um elenco cheio de nomes populares, este Amor a Toda Prova é inteligente, divertido, carismático e acima de tudo, engraçado. E é de longe a melhor comédia do ano (e um dos melhores filmes também), até agora pelo menos.
     Fugindo de esquemas clássicos o máximo que pode, o roteiro de Dan Fogelman conta a estória de Cal (Carell) que descobre que a esposa Emily (Moore) o esta traindo e quer o divórcio. Jogado de volta na vida solteiro, ele encontra Jacob (Gosling) que o ensinará como voltar a ser, digamos assim, um "garanhão". Isso enquanto acompanhamos várias sub-tramas envolvendo, por exemplo, o filho de Cal que é apaixonado pela babá, que por sua vez é apaixonada pelo próprio Cal!
     Enfim, o filme consegue desenvolver todos os seus arcos com maestria, enquanto brinca discretamente com estereótipos do gênero. Assim é impossível não rir quando em dada cena, Cal pronuncia para ninguém além dele mesmo "Que clichê" (veja o filme e vai entender essa). Além disso, os diretores Glen Ficarra e John Requa se saem muito bem dividindo a direção do longa, não sendo geniais ou inovadores, mas agindo de forma correta (um plano sequência por dentro de um bar, que serve de elipse, é o destaque) e mantendo a mão firme no que se trata dos atores. Estes últimos, aliás, estão todos de parabéns pelos seus respectivos papéis. Destaque para Carell e Gosling que juntos nos dão algumas das melhores cenas do longa, fazendo e rir e chor... Não, só rir mesmo.
     Terminando em um clímax hilário onde todas as tramas e sub-tramas se chocam, Amor a Toda Prova termina com aquele gostinho de quero mais, provando que até a mais declarada das comédias românticas pode sim ser divertida, inteligente e (quem diria) surpreendente. 

NOTA: 10/10

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

CONTRA O TEMPO


          Nada como "tomar nos dedos" positivamente. Quando vi o trailer deste Source Code (título original), admito que não fiquei muito empolgado. Porém, o novo longa estrelado por Jake Gyllenhall, que está chegando atrasado por aqui, excede com folga as baixas expectativas entregues pelo marketing. Não é nenhum clássico ou obra prima, mas ainda sim, o filme consegue o que cada vez mais pode ser considerado um feito, ser completamente satisfatório dentro de sua proposta.


     Imagine o seguinte: Há uma tecnologia que pode te colocar no corpo de alguma pessoa que já morreu durante os últimos oito minutos de vida dela. Imagine também que aconteceu um atentado terrorista envolvendo dois trens, um de carga e outro cheio de civis. É neste cenário que somos introduzidos na trama de Contra o Tempo. O capitão Colter Stevens (Gyllenhall) acorda em um corpo que não é seu a bordo de um trem, e oito minutos depois, bum, tudo explode e ele acorda em uma cápsula, onde ele só pode ver um monitor que mostra Colleen Goodwin (Vera Farmiga), que é a única pessoa a quem Stevens tem acesso. Ela pouco explica o cenário em que o capitão está metido, mas deixa claro o objetivo desta operação, encontrar a bomba e o terrorista a bordo do trem. E assim, o militar é mandando diversas vezes para os últimos oito minutos daquele civil, e durante essas experiências, ele vai começar a se questionar se aquilo se passa realmente só dentro de sua cabeça, ou se há algo mais por trás de toda esta operação.


     Um dos grandes destaques do projeto é com certeza sua montagem. Conduzida habilmente pelo montador Paul Hirsch, esta parte cumpre sua função ao inserir com maestria, os espectadores, na situação do protagonista. Por exemplo, ao começar o filme bruscamente no meio da ação, Hirsch nos deixa tão perdidos quanto o próprio Stevens. Ou mais tarde, retratando de forma eficiente o cansaço do mesmo perante a uma exaustiva repetição, usa de planos rápidos dos momentos chave do evento no trem. Tudo muito bem orquestrado pelo diretor Duncan Jones (Cria do David Bowie), que se mostra muito competente atrás das câmeras, principalmente na atenção que dá à relação entre Stevens e Christina (Michelle Monaghan). Aliás, é interessante notar, que para não estressar o espectador no mesmo nível que o protagonista ao nos forçar a assistir de novo e de novo o mesmo cenário, Jones opte por abordar de diferentes maneiras os acontecimentos.


     Assim o diretor cria de momentos cômicos a outros muito tensos. Por exemplo, ao mostrar Stevens se divertindo com a idéia de já saber o que vem em seguida, o realizador corta um clima pesado e insere uma leveza a trama. Mas assim como sabe abordar o momento da explosão de várias maneiras brutais, Jones sabe também recriá-lo com uma carga dramática maior e mais profunda em um dos dois melhores planos do filme, em que mostra em câmera lenta o triste acontecimento. E falando nisso, há um plano realmente tocante mais para o final, que só tem sentido e carga dramática graças ao ótimo roteiro de Ben Ripley.
     Este último merece palmas por abordar de maneira tão coesa o universo que criou. Inserindo elementos, como a perda de memória para que as exposições no começo não soem forçadas, o roteirista consegue nos apresentar seus personagens e suas regras de forma gradual, liberando apenas o necessário para entendermos aquilo que vamos ver em seguida. O que soma pontos ao projeto, já que é mais um área bem sucedida da produção em nos mostrar como se sente o personagem principal.


     Sim, os personagens! Que prazer é dizer que não há um entre eles que seja dispensável ou a quem falte carisma. Pois até o muito criticado (e na minha opinião, quase sempre injustamente) Jake Gyllenhall, está ótimo em seu papel. Carismático, o ator incorpora um Stevens confuso a princípio, frágil até, mas que com o tempo, vai se tornando mais ágil e adotando uma postura mais ereta e focada, demonstrando o total retorno da educação militar do personagem. Vera Farmiga é a única coisa que impede que sintamos total empatia pela instituição dentro do longa. Ao incorporar uma militar claramente fragilizada com o desespero de Stevens, Farmiga é o nosso elo com esta ala do roteiro que podia ter facilmente caído em estereótipos nas mãos de um roteirista ou de uma atriz menos talentosos. Já Michelle Monaghan traz aos olhares de Christina uma inocência palpável, que contrastam brutalmente com seus cenhos fechados sempre que vê o protagonista fazer algo incrivelmente fora do comum.


     E isso é o suficiente. É um dos maiores filmes do ano? Não, e nem pretende ser. É um clássico então? Não, e nem pretende ser também. Então por que diabos dar a nota máxima para este filme? Simples, porque dentro de sua proposta inicial, o projeto é extremamente feliz ao alcançar seus objetivos. E assim, temos um filme divertido, carismático, tecnicamente falando bem feito e acima de tudo, cativante, que com certeza vai prender sua atenção do início ao fim. É verdade que os objetivos do filme não eram os mais altos, mas nem por isso ele merece menos reconhecimento por tê-los alcançado.

NOTA: 10/10