quarta-feira, 28 de setembro de 2011

SEM SAÍDA

     

     Oh não! Sou um pobre garoto arrancado de sua rotina ao saber que meu passado esconde segredos sombrios envolvendo meus pais que, aliás, até onde sei, estão mortos! Agora estou solto em um mundo totalmente desconhecido e pra completar tenho a tarefa de enfrentar um vilão que encabeça uma organização muito do mal! Quem sou eu? Harry Potter? Luke Skywalker? Não! Eu sou Taylor Lautner tentando virar a nova estrela de filmes de ação.
     Você pode correr pros coadjuvantes, pode correr pra direção, pros roteiristas e em último caso, até pro Lautner. Mas o fato é, se você for ao cinema esperando ver neste longa algo mais do que um filme de ação genérico, você vai descobrir no meio da sessão, que está sem saída (como adoro estes trocadilhos!).



     Depois de descobrir que é adotado, Nathan (Lautner) vê seus pais adotivos serem mortos, a partir daí começa a fugir, junto com Karen (Lily Collins), de uma equipe da CIA comandada pelo Doutor Octopus, o agente Frank Burton (Alfred Molina) e de um sérvio chamado Kozlow (Michael Nyqvist), que supostamente buscam uma lista de nomes que o garoto teria. Tudo isso enquanto Nathan tenta descobrir as verdades sobre o seu passado, contando com a ajuda da Dra. Bennett (Sigourney Weaver), uma agente disfarçada incumbida de proteger o garoto.



     Ok ok, todos já sabem que Lautner só sabe fazer uma expressão certo? Aquele braba, com a  carranca fechada. Pois os roteiristas, Shawn Christensen e Jeffrey Nachmanoff (ambos sem carreira relevante), sabiamente (ironia) cuidam para que o personagem interpretado pelo ator não tenha que fazer mais que isso, o que acaba tornando Nathan um estereótipo. Assim, mesmo que Lautner soubesse como atuar direito, ele não poderia ter feito nada, o que é um ponto a ser considerado. É verdade que o ator não é nada versátil, mas também não é ruim o suficiente para não nos convencer de pelo menos uma ou duas das emoções de Nathan. Não que isso seja um marco, mas perto de todo o resto é algo que vale ser ressaltado. A verdade é que, o diretor John Singleton não possuí tato dramático algum, mas pelo menos sabe conduzir uma cena de ação, principalmente no que se trata do quesito espacial, já que nunca nos perdermos em meio a essas sequências. Provavelmente sabendo disso, ele teve a esperteza de enfiar alguns atores competentes em diversos núcleos do roteiro, para que na ausência de um tiroteio ou de um carro capotando, tivéssemos alguma carga dramática trazida por estes.



     Assim, Singleton cerca Lautner e a inexpressiva Collins com alguns coadjuvantes que, se enquanto personagens são desinteressantes e até nulos, pelo menos trazem força ao filme através de sua presença. Entre eles estão Jason Isaacs que interpreta Kevin, o pai adotivo de Nathan, Alfred Molina que trás alguma agilidade ao seu agente Frank Burton, sempre com aqueles olhos caídos e assustadores, principalmente quando são ajudados por aquele sorriso enviesado que só o ator sabe fazer. E temos até Sigourney Weaver, sempre andando com postura e mantendo uma expressão fria, mas sabendo ser uma mãe também, conseguindo trazer algum carisma.



     A parte técnica não tem destaques, pois, se a montagem faz um bom trabalho no clímax, é apenas uma redenção por, em uma cena de luta, ficar cortando a cada cinco segundos para planos externos do trem onde ela acontece. Como se tivesse medo de que o espectador tenha esquecido onde se passa a cena. Singleton também não sabe ter voz na direção, pois, ao filmar uma multidão em um estádio, o diretor permite que vá para o corte final vários momentos onde pessoas encaram a câmera, o que como já devem saber, é totalmente inaceitável já que isso corta completamente o fio entre a realidade e a experiência de se ver um filme. Ok! Concordo, o fio deste longa em especial era bem fino e frágil, mas mesmo assim isso não justifica tamanho descaso.



     Enfim, não é que o longa seja de todo ruim, pois possuí algum ritmo e pode até ser divertido (muito moderadamente), o que não vai impedir as senhoritas "crepusculetes" (termo usado por Pablo Villaça) de invadirem os cinemas e berrar a cada novo pedaço do tórax de Lautner que aparecer em tela. Mas nem isso salva este mais novo e novamente medíocre filme do John Singleton.

NOTA: 3/10

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

GLEE 3D - O FILME

   

     Isso é um documentário? É uma ficção?  Ou é apenas um show gravado? Ao final da sessão, ter a impressão de que se viu as três opções passarem pela tela em algum momento, não é perceber o filme de forma errada. E talvez este seja o maior erro deste projeto, tentar disfarçar com esses três gêneros acima o seu propósito claro e inquestionável: Ganhar rios de dinheiro com um longa que claramente é tudo, menos aquilo que o ótimo seriado que o originou se propõe a ser, uma ode a arte e sua aplicação na superação de nossos maiores obstáculos. Assim, a Fox nos entrega este exemplar medíocre e feito sem vontade alguma que não seja a de se enterrar em uma montanha de dinheiro fácil.



     Glee, pra quem não conhece, é um seriado que conta a história de estudantes de uma High School em Ohio que se juntam ao quase extinto clube do coral (glee club em inglês). Liderados pelo professor de espanhol Will Schuester (Matthew Morrison), estes jovens aprendem a superar e aceitar suas singularidades através da música, da dança e do teatro. Propositalmente o seriado insere durante seus episódios todos os tipos de temas polêmicos sobre a adolescência, tais como drogas, sexo, gravidez, bullying, etc. E as músicas estão lá quase sempre para ilustrar o que se passa, e de forma elogiosa, a série conduz música e personagens paralelamente de forma brilhante, sempre deixando qualquer dos episódios interessantes seja nos momentos cantados ou nos falados normalmente mesmo. 



     Enfim, as versões regravadas pelo grupo de músicas famosas fizeram sucesso. E não tardou até que seus integrantes ganhassem uma turnê de shows. E demorou menos ainda para este show virar um filme... Em 3D!! E aqui está o resultado.
     O Filme (Fic/Doc/Show) faz com que seus protagonistas, mesmo estando fora da série, encarnem seus respectivos personagens não só no palco enquanto cantam, mas nos bastidores também. Primeiro erro: todos que estão assistindo ao filme sabem que aquilo é um show aonde os atores vão se apresentar, e que eles não são realmente os personagens em um grande show. Assim, soa tolo, fútil e muitas vezes até mesmo constrangedor, que estes mesmos atores tenham que interpretar para um público que não quer e nem precisa disso. Que, aliás, muito pelo contrário, desejaria ver as personalidades por traz destas ficcionais. E a produção não investe um centavo que seja no mínimo em um roteiro, já que é claro o improviso dos artistas enquanto são maquiados e arrumados para os shows. Outro grande erro: As únicas imagens que vemos destes são ou na apresentação ou nestes camarins fechados e escuros, o que torna uma identificação que seja com a idéia, impossível.



     Terceiro erro: Para nos lembrar que, por mais que eles tentem nos fazer acreditar que todos são personagens de ficção, aquilo ainda é um documentário, Kevin Tancharoen, o diretor, investe em curtos depoimentos de fãs da série entre uma música e outra. Todos conseguem o feito de serem completamente desinteressantes justamente por abordar os mesmos temas que a série aborda, só que de uma maneira muito comum e fútil. Assim resta a nós, meros mortais, apreciar o show que não trás grandes novidades, e conta com representações das melhores cenas musicais da série, no palco. E convenhamos, pra quem já viu o seriado, parece até chato rever as músicas fora de contexto.



     Já o 3D, quando é filmado com as câmeras específicas para isso se saí muito bem, mostrando a tão cobiçada profundidade, distribuindo as camadas de maneira convincente e realista. Mas ainda perde em questões técnicas para a qualidade da produção, por exemplo, do documentário do Justin Bieber, que por mais que sofresse de problemas estruturais como filme, ainda sim contava com uma boa história e uma produção fantástica no grande show (leia mais aqui).



     Enfim, este filme erra inicialmente por existir, já que sua vinda, de cara, já corrompe os ideais do seriado, e continua seus erros ao nem mesmo justificar convincentemente este primeiro. Vale se você, assim como eu, gostar das músicas e quiser ouvi-las de novo, o que aliás, pode se conseguir sem ter de gastar uma fortuna e tempo indo ao cinema.


NOTA: 4/10

domingo, 18 de setembro de 2011

CONAN - O BÁRBARO

     

     Isso é uma crítica de um filme e este é o primeiro parágrafo, você o está lendo. Essa é a parte onde eu introduzo o texto: "Assistir a este rebot de Conan é em muito sentidos, uma experiência memorável, que durante sua duração, te levará a refletir e pensar na vida como um todo e em suas motivações como ser humano. Quem for ao cinema conferir o filme, sairá de lá um ser humano diferente, um ser humano melhor eu espero. E se prender a tais reflexões é a única saída, já que, conseguir se concentrar em filme tão mal roteirizado, montado, atuado, dirigido, fotografado e finalizado é um feito simplesmente bárbaro!" No começo eu explorei o humor através do duplo sentido das minhas colocações, que vieram a se contrastar com minha real opinião sobre o filme em questão. Aqui é o fim do primeiro parágrafo, você acabou de terminá-lo.

      E ai? Chato né? Quando alguém fica te explicando o óbvio o tempo todo duvidando da sua inteligência? É ruim certo? Se você achou chato eu ter feito isto só nesse parágrafo ai, imagina ter que ver um filme de quase duas horas em que isso acontece durante todo o tempo?! Pois assim é ver Conan - o bárbaro, um filme que te trata como se você tivesse acabado de ligar a Discovery Kids. Uma Discovery Kids gore, é verdade, mas convenhamos, violência e sangue gratuitos não fazem sozinhos um filme ser melhor.


     Ah sim, a sinopse. Conan é um garoto nascido da guerra e já cedo perde o pai e todo seu vilarejo para Khalar Singh (Stephen Lang), que busca as partes de uma coroa com poderes místicos que junto com o sacrifício de uma jovem de sangue puro, trará sua esposa, uma poderosa feiticeira, de volta dos mortos. O garoto cresce e vira um poderoso guerreiro (Jason Mamoa) em busca de vingança contra Khalar, que por sua vez esta prestes a achar a jovem que precisa para terminar o ritual, usando da traiçoeira filha Marique (Rose McGowan), que também é uma feiticeira, para encontrar esta garota chamada Tamara (Rachel Nichols). 


     Mais uma vez temos aqui o clássico exemplo de que muitos roteiristas trabalhando em um filme geram um encontro de idéias que podem acabar se desgastando. Aqui, nenhuma das idéias deve ter sobrevivido a colisão. Não que os roteiristas do filme sejam os melhores profissionais na sua área, afinal Thomas Dean Donnelly e Joshua Oppenheimer são culpados também pelos “roteiros" de Dylan Dog whatever e Sahara, assim como Sean Hood, cujo único outro filme que roteirizou foi Halloween: ressurreição. Só para vocês terem uma idéia da qualidade do trabalho pregresso desses caras. Enfim, o filme começa de maneira previsível com uma narração em off explicando as origens da tal coroa mágica e só então vemos o nascimento de Conan. E depois de assistirmos ao pai do cimério Corin (Ron Perlman) literalmente rasgar a barriga da esposa e arrancar Conan de lá, já temos uma idéia de como será o filme dali em diante.


     A partir daí o filme segue no piloto automático, todo e qualquer diálogo se dá em função de explicar o que acabou de acontecer, ou pior, o que está acontecendo. Em certa cena mais para o final, em um plano muito aberto, vemos Conan e um ladrão observando Khalar e seus capangas atravessando uma encosta em direção a entrada de uma caverna, até que Conan diz, de maneira muito inteligente e provando o alto nível de perspicácia do personagem nas mãos dos roteiristas, o seguinte: "Eles estão indo para aquela caverna!". Assim seria legal que alguém tivesse batido um papo com o diretor Marcus Nispel, outro cujo currículo o entrega, e lhe explicado a redundância contida não só nessa, mas em várias outras cenas. 


     E sim, temos que falar da direção de Nispel, que parece ter em mente que qualquer cena de ação envolvendo Conan tenha que ser em um cenário fechado, com múltiplos capangas ou monstros a serem esmigalhados, com um "chefão" para se derrotar no final e um objeto ou pessoa que deve ser protegido enquanto todo o resto se desenrola. Assim, depois da terceira vez que vemos esta estrutura um uma cena de luta, é inevitável aquele suspiro de impaciência, já que já sabemos exatamente o que vai acontecer. Mas Nispel não para por ai. Em dado momento ele resolve investir em uma luta diferente, dentro de um barco, onde Conan pode lutar com quem quiser a vontade. O problema da cena? É que ela é totalmente irrelevante para o filme! Nada acontece nela que não seja a luta, nada muda do seu começo até seu fim, é simplesmente a vontade do cineasta (que vergonha chamá-lo assim) de dar uma mexida no filme. 


     E claro que há um romance totalmente forçado entre Conan e Tamara, que em dez minutos passam do ódio ao sexo animal sem pestanejar. E pior ainda é constatar que depois de matar dezenas de homens e de urrar a torto e a direito protegendo a garota, o nosso herói deixe que a mesma ande desprotegida por uma floresta (uma floresta no meio dos rochedos? Não era uma praia? pois é...) só porque preferiu tirar uma "sonequinha". 

     Não vale citar muito o elenco. Jason Mamoa poderia até ter algum carisma, se soubesse atuar, mas o ator só sabe é fechar o cenho e grunhir o que fala através do dentes cerrados. Ah sim, os dentes de Mamoa continuam me irritando, já que novamente ele encarna um guerreiro selvagem e brutamontes que deve fazer clareamento dental semanalmente, levando em conta seu personagem no seriado Game of Thrones. Rose McGowan é a que mais chama atenção, não por se sair extremamente bem, mas por que parece ser a única se divertindo fazendo seu papel, o que torna Marique a única personagem minimamente interessante em tela, mesmo que assim como os outros, ela seja totalmente desperdiçada. Stephen Lang torce a boca de novo e entrega outro vilão genérico e canastrão. Mas ao contrário de seu Quaritch em Avatar, Khalar não convence nunca como personagem, pois suas caretas e gritos em excesso o tornam uma caricatura mal feita. Me recuso a descrever a falta de performance de Rachel Nichols, que não desenvolve química alguma seja com Conan, com o filme, o público ou mesmo com o oxigênio a sua volta.


     Tecnicamente falando o filme não é de todo incompetente. A trilha é nula e o sound design previsível, já os efeitos fazem sua parte, embora vez ou outra sejamos lembrados de que não estão realmente ali. A direção de arte, da qual se espera alguma coisa cumpre bem seu papel, mas não tem destaques, é tudo comum. Ah claro, os seres humanos, estes sacos de sangue dispensáveis. Não é preciso mais que um peteleco para que voe um jorro de sangue das centenas de vítimas durante o filme. E na verdade, assumindo a galhofa e estilo trash do longa, está é a parte que mais se adéqua ao funcionamento da produção. Mas quando casuais litros de sangue são o destaque de um filme, não é bom esperar muito mais de todo o resto.

     Terminado o filme e, portanto, as preces, temos um longa que como já dito é em todo, mal feito. Na verdade, feito por muitos incompetentes, que além de tudo, resolveram converter o filme para 3D, o que obviamente torna tal formato dispensável já que assim como o roteiro, a direção e as performances, a terceira dimensão não tem profundidade alguma. Seria muito mais útil para se assistir o longa, se em vez dos óculos, nos dessem na entrada um bico e uma mamadeira.


P.S. COM SPOILER - Senhores roteiristas, existem infinitas maneiras de se dar fim a um vilão. Um pedido pessoal: Parem de jogá-los de penhascos! Pois o mérito da derrota não é dos heróis e sim da gravidade!!!

NOTA: 1/10

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

COWBOYS & ALIENS

    

     Pegar Westerns e colocar seus universos contra os da Ficção Científica? Brilhante! Misturar Cowboys e Aliens? Genial! Já da pra imaginar o Clint Eastwood apontando um revólver pra cara do Predador e dizendo "Go ahead, make my day", ou um duelo implacável entre John Wayne e Spock, "Morte lenta e próspera".
     Porém, ainda que possuísse uma gama de possibilidades para serem exploradas com sua premissa, o novo longa de John Favreau, apesar de divertido, não chega nem perto da palavra "Foda".


    Um homem (Daniel Craig) acorda no meio de um deserto sem lembrar-se de nada mais do que a língua que fala. Preso em seu braço, um estranho bracelete. Andando a esmo vai parar em Absolution onde descobre ser um fugitivo da lei chamado Jack Lonergan. Seu crime? Ter assassinado sua própria esposa, e roubado dinheiro de um coronel chamado Woodrow Dolarhyde (Harrison Ford). Mas antes que os conflitos possam se resolver, a pequena cidade é atacada por naves alienígenas, que sequestram convenientemente, alguém importante para cada um dos personagens. Assim, seguidos de perto por Ella Swenson (Olivia Wilde), um grupo de homens saí em busca dos cidadãos abduzidos, enquanto isso, Lonergan que acabou aprendendo a usar o bracelete como uma arma, tenta lembrar-se de sua vida antes da abdução. 


     É, isso ai. O roteiro fraquinho até que se saí bem no começo do filme, deixando o espectador entender a situação toda sem precisar mastigar tudo. Apresenta bem seus personagens antes de colocá-los em ação. Assim mesmo que estereotipados em muitos momentos, os protagonistas se definem bem dentro do filme antes de mandarem bala nos E.T.'s. Mas, conforme o filme avança, este mesmo roteiro caí numa mesmice insuportável. Os arcos dramáticos dos personagens tornam-se previsíveis, suas falas bobas e seus destinos são insatisfatórios, para não dizer "Clichê". O filme conta com mais de três roteiristas, o que é ruim, pois tantas visões criativas juntas normalmente tendem a não chegar a lugar algum. E é o que temos aqui, um filme cujo começo é bom, mas que no resto mantém uma falta de inspiração terrível. Como se todos esses roteiristas tivessem simplesmente cansado de escrever e começado a jogar a história pra frente de qualquer jeito, só para acabar logo.


     A montagem também não ajuda muito, já que a colocação dos planos não parece ter muito respeito ao tempo ou ao sentido espacial das cenas. Assim às vezes é confuso entender quem está vindo de onde ou quando. Mas ela toma algum rumo mais para o final, por mais que caía em mesmices, ainda sim mantém um ritmo. A fotografia de Matthew Libatique faz seu trabalho e investe em planos com a luz um tanto estourada no deserto, adotando uma previsível coloração dourada nestes cenários, só para contrastar depois com os tons azuis com que colore os ambientes onde aparecem os aliens. A direção de John Favreau por sua vez é funcional enquanto filme de ação, já que em todo o resto o cineasta se mantém apenas adequado. 


     Os efeitos estão bons, nada espetacular que não possa ser perdido, mas cabem muito bem dentro da narrativa e se adéquam com maestria a fotografia de Libatique. Já a trilha de Harry Gregson-Williams se resume aos conhecidos acordes que remetem aos Westerns, pontuando corretamente o longa. Já o Sound Design é um destaque, ainda mais na hora de sublinhar os rápidos movimentos dos alienígenas, investindo em ruídos graves que acompanham desde o impacto de suas armas até os seus golpes fatais. O que na verdade é genial se compararmos aos sons produzidos pelas pistolas dos humanos, que soam mais como bombinhas explodindo na areia, o que torna a fragilidade das armas dos homens perante as alienígenas muito tátil ao espectador. E claro, a direção de arte está de parabéns, pois a pequena cidade de Absolution é muito bem caracterizada em cena, assim como um certo barco virado de ponta cabeça. Este último, aliás, é um cenário extremamente criativo e bem feito que acaba sendo desperdiçado no filme.


     Mas a melhor parte do filme reside nos personagens de Craig e Ford. O primeiro não faz muito diferente do que já fez até hoje em outras produções (na verdade faz a mesma coisa). Mas ainda sim, tem um carisma (ainda que seja um carisma estranho) para levar o filme numa boa, sempre sério. Mas é o veterano Ford quem se destaca, passando para a tela toda a evolução do personagem durante o longa. Assim percebemos aos poucos, de leves indícios de uma aprovação no canto de sua boca até a determinação em salvar um antigo inimigo, o arco dramático mais interessante da trama. Mas e Olivia Wilde? Bom, esta pode voltar pro House, já que assim como em Tron - o legado, ela pouco tem a fazer neste filme que não seja resolver os problemas que os roteiristas tiveram preguiça de resolver sozinhos. 


     Assim o filme termina em um clímax mal conduzido que falha miseravelmente em criar alguma tensão, já que seu protagonista parece não enfrentar desafio algum! Mas ainda sim, ver a relação Ford/Craig (Bond/Jones) é interessante e pode valer o ingresso, que graças a sei-lá-que-santo não foi convertido para 3D.

P.S. Eu ainda espero ver o  Clint Eastwood matando um Predador algum dia desses num filme.


NOTA: 5/10  

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O HOMEM DO FUTURO


  
     Os primeiros segundos de O Homem do Futuro provocaram em alguns nerds e cinéfilos (e me incluo) que estavam na sessão em que fui, vários risos de aprovação ao som de tic-tac surgindo ao fundo dos letreiros iniciais dos inúmeros patrocinadores. Era, claramente, uma homenagem a um dos filmes mais divertidos sobre viagem no tempo. De volta para o Futuro, que se inicia igualmente com o som produzido pelos relógios. Até ai tudo bem, homenagens de filmes a seus antecessores do gênero não são incomuns, principalmente quando se trata de uma ficção científica. Porém, não estamos falando de um filme vindo de Hollywood, e sim de um filme nacional. Ainda que formulaico (e portanto previsível) e adaptado a uma linguagem fácil e acessível ao público geral Brasileiro, este novo longa de Cláudio Torres surpreende por criar uma boa e divertida ficção científica, que tem estampado na cara "Sessão da Tarde", mas que nem por isso é um longa ruim.



     Marcado por um infeliz acontecimento durante uma festa no tempo da faculdade, Zero (Wagner Moura) se tornou um cientista infeliz, ainda que brilhante. Obcecado por criar uma nova fonte de energia ele acaba acidentalmente criando uma máquina do tempo que o leva direto há este dia que marcou tanto sua vida. É então que Zero vê a chance de consertar seu passado com a bela Helena (Alinne Moraes) e, portanto, mudar inteiramente o rumo de toda sua vida. Mas algo sai terrivelmente errado e o personagem se vê preso em uma realidade que nunca pretendeu criar, e para poder consertar tudo ele terá de fazer uma última viagem no tempo.


     A princípio, o roteiro, escrito pelo próprio Torres, é um pouco explicativo de mais, se preocupando a toa com o entendimento do público, já que a trama é simples e direta, não possuindo grande profundidade ou complexidade. Sua força reside em seus personagens, que podem não ser os mais interessantes já vistos, mas que são, com certeza, carismáticos nas mãos do bem escolhido elenco. O diretor sabe nos apresentar cada um, nos familiarizando com eles, para que mais tarde nos importemos com os mesmos, nos divirtamos e nos empolguemos também. Assim, pouco importa a trama batida quando conseguimos realmente acreditar no romance entre Zero e Helena, que ganha motivos fortes em tela. Ou na amizade entre o herói e Otávio (Fernando Ceylão). E melhor ainda, é ver que o roteiro de Torres não investe em piadas bobas, acreditando em seus personagens para manter a atenção do público.


     Esses que nas peles dos talentosos Wagner Moura, Alinne Moraes e Fernando Ceylão ganham a credibilidade por parte do público ao não caírem em caricaturas e esbanjando química uns com os outros. Moura, com sua energia habitual, encarna as várias versões de Zero sem problemas, tornando-o um herói engraçado e romântico. Moraes faz seu dever e usa mais do que sua estonteante beleza para conquistar o espectador. A atriz investe em uma Helena jovial e encantada, com os olhos sempre brilhando. E quando tem que encarná-la como uma figura triste e destruída pelo tempo, se sai igualmente bem, com as expressões tristes e os olhos caídos. Já Ceylão, como um coadjuvante que não é exatamente um alívio cômico, mas que às vezes faz o papel de um, consegue se destacar mesmo perto dos outros dois, sem precisar fazer caras e bocas para isso. Vale citar também Maria Luísa Mendonça que faz Sandra, a chefe de Zero, que acaba por se tornar (esta sim) um ótimo alívio cômico bem dosado por Torres.


     A parte técnica mantém o nível. Embora a trilha musical deixe a desejar um pouco, o resto esta nos lugares, até mesmos os efeitos -pasmem- estão ótimos e convincentes. O trabalho de maquiagem esta incrível, destacando-se ao esconder as rugas das versões jovens dos personagens, tornando os contrastes entre um e outro muito bem feitos. Aliás, cenas essas muito bem realizadas pela equipe de efeitos, já que muito do filme depende da interação de Moura com suas outras versões. E pra finalizar, é ótimo ouvir clássicos como "Tempo Perdido" tocarem durante muitos momentos da projeção, compensando a fraca trilha original.


     E claro que ao final do filme, os nerds de plantão já estarão saciados com as referências a clássicos do gênero como o já citado De Volta Pro Futuro ou o Exterminador do Futuro, etc. Assim, O Homem do Futuro, é uma diversão garantida para o grande público que espera encontrar algo leve e gostoso de se assistir. Não é nenhum clássico, e ganha pontos ao não ser pretensioso tentando sê-lo, mas tem uma história bacana (batida, é verdade), personagem carismáticos, boas e dosadas piadas e uma parte técnica adequada (não impecável) para um filme nacional do tipo, sendo assim, um dos melhores do ano. Coisa que não é difícil tendo em vista os outros filmes nacionais que vieram este ano, vide o terrível As Mães de Chico Xavier, mas mesmo assim não pode se desmerecer este bem feito Blockbuster Brasileiro.


NOTA: 8/10

domingo, 4 de setembro de 2011