terça-feira, 26 de abril de 2011

AS MÃES DE CHICO XAVIER

TRAILER  AS MÃES DE CHICO XAVIER HD

  

     Depois do ano em que se comemorou o centenário de Chico Xavier, onde o cinema brasileiro homenageou o medium com produções como o bom Chico Xavier e o irregular Nosso Lar, chega aos cinemas este exemplar que traz nos letreiros finais a mensagem de que o filme encerra a temporada de comemorações espíritas em honra a Chico. Entre aspas porque antes da exibição do filme, houve trailers de mais produções do gênero, que talvez, na verdade, muito possivelmente, serão melhores que este longa que consegue ser simplesmente, ruim.
     O filme conta (ou tenta contar) a história de três mães, Ruth (Via Negromonte), Elisa (Vanessa Garbelli) e Lara (Tainá Muller) que sofrem respectivamente com o filho Raul (Daniel Dias da Silva) que é drogado, com a perda do filho Théo (Gabriel Pontes) e com uma gravidez inesperada. Ainda há a subtrama envolvendo o jornalista Mário (Herson Capri) que manda o também jornalista Karl (Caio Blat) entrevistar o médium Chico Xavier (Nelson Xavier). Se passam longos e arrastados 40 minutos de projeção até que os diretores Glauber Filho e Halder Gomes, junto com o roteirista Emmanuel Nogueira decidam fazer a história andar, dedicando este "tempinho" inicial para apresentar de maneira confusa a situação de cada personagem. Estes são tão rasos e mal aproveitados que se tornam estereótipos, fazendo o espectador já sacá-los de primeira, o que faz ser inútil e chatíssimo este desperdício de tempo de projeção.


     Mas claro que a culpa não é só do roteiro e da direção, já que, quando estes fazem um trabalho não muito bom, sempre há a montagem para salvar o dia. Eis que a montagem não viu o bat-sinal sobre Gothan City e o material ficou nas mãos de criminosos terríveis. Sim! Criminosos! Porque a montagem deste filme é um crime! jogando tudo de qualquer jeito na tela à moda "Whatever", a montagem do longa é simplesmente uma das piores coisas já presenciadas em uma sala de cinema por este que vos fala. Do nada estamos vendo a história de Ruth quando de repente Elisa já está em tela acordando e chorando pelo filho Théo, só pra trinta segundos depois sermos jogados de volta ao que Ruth estava fazendo (o que alias era nada). Assim como o acidente de bicicleta do garoto Théo em que a câmera, esta covarde, insiste em deixar sair de tela, nos poupando, nós pobres e indefesos espectadores, de ver um garoto cair de sua "bike", intercalando o momento em que a bicicleta some de tela com a hora em que ela aparece toda retorcida no chão com um plano de um avião passando pelo céu, como se os montadores não tendo mais nada para colocar naquele momento, decidiram com uma moeda que imagem usariam para fazer esta intercalação. Um total absurdo. Sem Ritmo, numa confusão de planos sem linearidade alguma fica difícil acompanhar ou mergulhar nas histórias, já que assistir ao filme lembra mais uma situação em que alguém empurra sua cabeça pra dentro de um balde de água fria e segundos depois a retira violentamente só pra em seguida mergulhá-la de novo. Ou seja, uma experiência sufocante e nada carismática, que só é auxiliada pela direção de Filho e Gomes que mantém cada frame possível em um plano fechado quase nunca mostrando os personagens do joelho pra baixo. Mas a facada final é a montagem da trilha, que conta com musicas nacionais surgindo altas e ruidosas do nada nas sequências, como se o projecionista tivesse lembrado no meio da cena que deveria tocar certa música naquele momento. Descartando qualquer trabalho de edição de som, as canções chegam de surpresa mais uma vez puxando nossas cabeças metafóricas dos baldes de água fria também metafóricos.


     O elenco coitado, mal tem o que fazer com seus personagens. Negromonte  passa o filme todo sentada em frente há uma tela com cara de paisagem. Garbelli faz uma cara de que vai chorar mais não chora nunca, andando de um canto a outro seja da casa ou da cidade. Muller também passa o filme ou na porta da escola onde leciona ou no sofá de sua casa passando a mão na barriga. No meio de tanta mulher depressiva quem tem algum potencial de dar uma luz no final do túnel da dramaturgia deste filme é Caio Blat que ainda consegue ter alguma reação interagindo com o ótimo Nelson Xavier de volta ao papel de Chico.
     Com um roteiro sofrível, um elenco mais perdido que alma no limbo, uma montagem monótona e ofensiva e uma direção medrosa e claustrofóbica, o filme ainda comete o erro de nunca se situar em época alguma! Já que as roupas poderiam facilmente ser atuais, mas com aparelhos domésticos que remetem a década de 80. Enfim, este filme acaba sem deixar saudades, e sim votos de que nunca mais unam os ingredientes que resultaram nesta poção de bruxa malvada. Bem malvada.

NOTA: 2/10 
    
 

sexta-feira, 22 de abril de 2011

PÂNICO 4

TRAILER SCRE4M LEGENDADO HD

   
     O ano é 1996. O diretor é Wes Craven, responsável pelo primeiro filme da famosa franquia de Freddy Krueger A Hora do Pesadelo. O filme? Bom, esse tá na cara. Pânico. O filme que chegou para revitalizar o gênero que há muito havia perdido sua força, juntando muitos sustos, cenas de suspense e tensão muito bem trabalhadas e diálogos recheados com uma dose de referências a outros filmes de terror. Craven foi o Tarantino do gênero, e como tal, fez sucesso e garantiu mais duas continuações que ainda que boas, não superaram o original. Pânico 2 de 97 mantém o suspense e o clima ameaçador do primeiro, desta vez, criticando as continuações de filmes famosos, já Pânico 3 de 2000 ainda que divertido é bem mais fraco e forçado que os dois primeiros. Eis que onze anos depois, chega às telas dos cinemas de todo o mundo, esta irreverente e divertidíssima continuação (ou seria Remake/Reboot?) cujo maior defeito é não conseguir trazer o clima de ameaça presente no original, ainda sim sendo a melhor das continuações deste.


     A saga Pânico sempre foi marcada por no mínimo cinco coisas: a) O assassino trajado de Ghost Face; b) Os telefonemas recebidos pelas vítimas antes morrer e a famosa pergunta feita neles; c) A abertura onde duas pessoas são assassinadas; d) O final marcado pela revelação da identidade do assassino; e e) O trio protagonista, Sidney, Gale e Dewey. Pânico 4 tem todos esses itens, e só não é melhor que o primeiro por passar muito tempo o homenageando. A cena inicial já da o clima do filme, já que ele não possuí uma abertura só, e sim três diferentes que exploram e criticam a exaustão os clichês de filmes de horror e suas continuações intermináveis, passando por ótimas tiradas sobre Jogos Mortais e sobre a própria metalinguagem do filme.
     A história volta a cidadezinha de Woodsboro onde Sidney (Neve Campbell) veio autografar seu primeiro livro. Agora Gale (Cox) e Dewey (Arquette) são casados, ele é Xerife e ela tenta ser escritora de ficção (o filme não tenta esconder que se passaram dez anos). Mas logo a paz local é novamente dissipada com a notícia de que duas jovens foram assassinadas. Sidney acaba tendo que se hospedar na casa da tia e da prima até que se resolvam os assassinatos, pondo ela, a família e os amigos deles em risco outra vez sob a ameaça da nova onda de assassinatos do Ghost Face.


     O slogan do filme já dizia: "nova década, novas regras", então já era de se esperar uma nova geração de personagens, ou melhor, vítimas. E o filme nos dá mais uma porção de "futuros personagens mortos", dos quais dois ou três possuem algum aprofundamento, coisa que já era prevista na piada do começo sobre Jogos Mortais. Entre eles estão a prima de Sidney, Jill (Emma Roberts), sua melhor amiga Kirby (Hayden Panettiere), sua outra amiga e vizinha Olivia (Lake Bell), o cinéfilo Charlie (Rory Culkin), Trevor (Nico Tortorella) e o blogueiro Robbie (Erik Knudsen). Dentre esses, Panettiere é a que se sai melhor, carismática e apavorada na medida certa é a única nova personagem por quem realmente torcemos. O resto do elenco jovem está apenas bem. Já os veteranos voltam a encarnar com carisma e química o trio protagonista, mesmo com as marcas da idade nenhum deles deixa de causar nostalgia quando aparece em tela, nunca parecendo perdidos em meio a trama ou as piadas da nova geração. Courteney Cox mantém sua esbelta personagem que volta ao ramo do jornalismo (fato que remete ao primeiro longa) nos trazendo uma Gale mais "metida" que dos dois longas anteriores, inclusive fazendo uma piadinha quando interrogada pela agente publicitária de Sidney, "Eu ainda tenho raça". David Arquette nos entrega também um Dewey que lembra muito o do primeiro filme, que não manca mais, e continua mal de mira, conseguindo em certa cena acertar uma lâmpada, mas não o assassino. Neve Campbell traz pra tela uma Sidney mais corajosa e bem menos chorona que aquela vista na trilogia original, quase uma heroína de ação metendo a porrada no Ghost Face sempre que se esbarram.  


     Mas o veterano na série, o roteirista Kevin Williamson (que não escreveu apenas o terceiro capítulo) sabe dar a série o clima que regeu o original, incluindo um humor muito mais galhofa que acaba tendo como consequência a falta do sentimento de ameaça que já citei. Ainda assim, o roteiro mantém um suspense constante e crescente, que se não tem momentos de ouro como a famosa abertura com Drew Barrymore no primeiro filme, alcança bons momentos de tensão em pelo menos duas cenas do longa, uma envolvendo uma charada sobre um armário, e outra um jogo de perguntas e respostas que remete direto a cena de abertura citada acima. O humor está bem mais óbvio aqui, nunca deixando de usar da metalinguagem para criticar e se criticar, Williamson também usa de um humor mais "abrangente", ou seja, que pode ser entendido pelo público comum que não está por dentro do histórico de filmes de horror supracitado durante toda projeção. Isso sem nunca se deixar cair na sátira óbvia, usando aqui mais do que nunca a saga de filmes dentro do filme, Stab, o roteirista consegue citar o próprio filme com naturalidade e muito bom humor, tratando sempre de encaixar todos os clichês possíveis durante o longa.


     Ghost Face aparece menos que nunca, suas cenas são mais rápidas e suas vítimas agonizam menos,  acabou de vez o jogo de gato e rato dentro das casas, pois os que têm são curtos e inexpressivos. Sempre brandindo sua faca pra tudo que é lado acertando tudo o que está ao seu alcance, correndo feito desvairado e tropeçando e brigando a torto e a direito, desta vez, ele acerta menos ombros e mais costelas. E no quesito facada a equipe de efeitos sonoros merece destaque, já que sentimos cada golpe desferido pelo assassino mascarado. Craven aposta em esconder aquilo que já conhecemos, isso é claro traz para a tela o famoso efeito Tubarão de Spielberg, onde escondendo-se a criatura, cria-se um medo maior. As mortes também são mais subentendidas o que as deixam mais brutais, claramente se adaptando a linguagem moderna em que mostrar tudo acaba sendo gore.
     Se o filme possuí três aberturas é de se esperar que ele possua três finais, que vão ficando mais interessantes conforme vão progredindo, tendo neles um discurso moralista como motivo que, embora muito criticado, achei crível (o mais crível de todos os apresentados na saga inclusive) e bem encaixado no contexto moderno das redes sociais, que alias são também supracitadas e usadas aqui. Desta vez se vêem muito mais celulares e Iphones em comparação ao longa de 97 onde Dewey e Gale procuravam em uma praça cheia de gente alguém que tivesse um (ponto para Williamson e Craven que souberam modernizar sua narrativa).


     Ágil, com muito humor, tenso e cheio de citações para os cinéfilos descascarem, o filme é como uma reunião de velhos amigos numa festa, com uma abertura hilária, um final convincente (e por que não, hilário também?) e um miolo nostálgico e também renovado, Pânico 4 acaba sendo uma ode a própria saga que vai deixar muito marmanjo com um sorriso no rosto no final da sessão. Gente que pode nunca ter recebido uma ligação de um assassino perguntando "qual seu filme de terror favorito?" mas que com certeza sabe a resposta para esta pergunta. E incluo-me nesta.

terça-feira, 12 de abril de 2011

RIO

TRAILER RIO HD 


     Samba, futebol, diversão, carnaval, festa, música, cores e muita "papagaiada" (se me permitem o trocadilho) embalam esta animação um pouco sem sal.
     O filme começa num Rio de Janeiro paradisíaco e tranquilo, onde de repente estoura uma cantoria coreografada por todos os tipos de aves coloridas que se pode imaginar. É nesse contexto que Blue (voz de Jesse Eisenberg) um filhotinho de Arara Azul cai de seu ninho e é pego por contrabandistas de aves, indo para acidentalmente em... "not rio" (numa boa tirada do filme), ou se preferirem, Minessota. Criado pela dona de livraria meio nerd Linda (Leslie mann) ele cresce mimado e sem aprender a voar, até o dia em que um ornitólogo chamado Túlio (Rodrigo Santoro) aparece para levar Blue para o Rio de Janeiro para acasalar com a última fêmea da espécie, Jade (Anne Hathaway). É claro que chegando lá tudo sai as avessas e Blue e Jade vão parar no meio de uma favela acorrentados pelas patas e tendo que fugir de contrabandistas e de uma terrível ave maluca. Tudo isso enquanto o espectador é transportado pelos pontos turísticos mais conhecidos da cidade maravilhosa.


     O maior defeito de Rio é a falta de expressividade, não há nenhum personagem marcante ou mesmo bem engraçado. Todo o carisma concedido a estes (e eles SÃO carismáticos) é providenciado pelo seu design que conta sempre com olhos grandes e expressivos e com seu colorido sempre berrante. Nenhum deles é bem explorado, e todos parecem clichês do gênero. E clichê é o que não falta, pois essa história de "um estranho no ninho" todo mundo já conhece, assim como os "road movies", e o filme acaba por ser uma mistura dos dois, nunca sendo bom como nenhum destes. E claro que os estereótipos brasileiros estão todos lá, o futebol, o carnaval, a praia, o quase nudismo, o clima de "sempre é festa" e turista perdendo dinheiro a torto e a direito. A vontade do diretor Carlos Saldanha de amontoar estes carimbos sociais do Brasil é tanta que o filme chega a mostrar um grande jogo da seleção Brasileira na noite de véspera a do carnaval, o que convenhamos, é bem forçado. Se Saldanha quis brincar com isso, então esta bem, mas o que parece mesmo, é que o diretor ou esqueceu de como é o Brasil ou foi forçado a colocar esta visão americanizada do país no filme. O que na verdade é só comentário, pois isso não atrapalha a projeção, e nem é inesperado.


     A trilha sonora do filme prometia, afinal pense no que poderia ser feito misturando as trilhas normais com o Samba e carnaval, seria épico! Mas o filme escolhe por ser discreto, e nem as famosas canções de desenho escapam, sendo fracas, sem ritmo e jogadas de qualquer jeito na tela. Mas se a história, os personagens e a música são fracos, o visual vem para encher os olhos com um colorido extraordinário, sempre colocado sobre uma luz ótima que torna qualquer frame do filme em papel de parede. O destaque é para a cena do sambódromo (que é enfiada na trama com uma explicação forçada) que mesmo não desenvolvendo bem a trilha, é majestosa e bem representada na tela em um espetáculo visual.


     Mas Rio não é nenhum desastre, possui personagens coadjuvantes melhores que os protagonistas, como o vilão Nigel que faz rir com seu jeitão psicopata, ou o cão Buldogue babão ou também tem o grupo de macaquinhos picaretas que estão lá pra virarem bonecos do McDonalds depois. E apesar de tudo e todos os estereótipos, é sentido a paixão que Carlos Saldanha traz para a tela, criando uma ambiente mágico (nada verossímil, mas mágico) e encantador que, claro, de um jeito ou de outro, vai encantar platéias mundo a fora, e muito mais as do Brasil.
     Correndo com o final ( numa hora estamos no começo do clímax e cinco minutos depois já tem um "the end" na tela), divertido até certo ponto e também cativante, essa animação não é nenhum clássico e é pouco provável que seja reconhecida em premiações. Ao contrário do recente e fabuloso Rango, Rio deixa espaço aberto (e de sobra) para Carros 2 da Pixar atropelar até passarinho nas indicações este ano.


NOTA: 6/10

Agradecimento especial por responder perguntas sobre futebol, para meu amigo Elói Saldanha (@eloi_sal).   

segunda-feira, 11 de abril de 2011

DA SÉRIE TEORIAS #1

    Estou criando este espaço para conclusões sobre cinema em geral, seja sobre as tramas dos filmes ou sobre o mundo cinematográfico em si. Nessa primeira edição vou falar um pouco (só um pouco eu prometo) sobre uma distinção generalizada de categorias de adoradores de cinema (ufa!) sobre a qual divaguei sexta no ônibus após uma terrível sessão de As Mães de Chico Xavier. 
     Então, estava eu com a cabeça escorada no vidro do ônibus, ouvindo nos meus fones de ouvido "Wake Up" do Arcade Fire, quando... muito descritivo né? Então, este ano eu comecei a fazer Faculdade de Cinema e como consequência entrei em contato com muitos adoradores de cinema de muitos tipos, além daqueles que eu já conhecia. Assim comecei a separar estas pessoas em grupos, e de um modo bem generalizado elas acabaram  postas em três grandes e óbvios grupos: Críticos, Cinéfilos e Cineastas.

OBS: é tudo uma teoria minha, aberta a sugestões e opiniões diferentes que levem a uma mudança de ótica se preciso.

CRÍTICOS:

     Crítico é um cara que (normalmente) estuda o cinema em seus vários aspectos para poder realizar seu trabalho, tenta estar sempre o mais atualizado possível sobre os lançamentos, todos eles, seja um minimetragem feito com uma câmera de manivela por Lars Von Trier em seu banheiro sobre baratas depressivas, seja o mais novo lançamento de James Cameron sobre o náufrago de um navio alienígena do futuro que custou 500 milhões de dólares.
     "Mas então eles não poderiam ser cinéfilos?" E SÃO! Só que um bom crítico procura apreciar cada filme sem preconceito nenhum, e se não o faz, deveria. Eles são o test drive do espectador comum, eles vão na frente pra ver se presta. Eles são cinéfilos com compromisso. Os coitados tem que ver de obras primas a filmes teen americanos da pior raça, e pra isso meus caros leitores, tem que ter coragem. Na opinião deste que lhes escreve um bom crítico é descontraído, bem informado, coerente e fala sobre os filmes! não fica gastando linha ( e paciência) se fazendo de revista "Tititi" nos dando os maiores "babados" da produção. Ainda bem que desses últimos ai tem poucos.
     Interessante é notar que a maioria das pessoas que lêem os críticos de cinema, são cinéfilos que querem ser críticos, já que por experiência própria notei que poucos cinéfilos lêem críticas. O público comum não chega a ler a crítica em si, pois quando a procura (ou esbarra nela) só vê a nota dada, que normalmente vai de 1 a 10 ou de 1 a 5. Nota essa que os coitados dos críticos sofrem para dar, como se pode fazer uma análise e dar uma nota para aquilo como um todo? Imagina se os Psicólogos dessem notas para as pessoas depois de uma consulta? Assim como as pessoas, cada filme tem altos e baixos (em vista que eles são feitos por elas seria improvável que eles não fossem a imagem do criador, profundo né?) e as vezes é difícil dar uma nota adequada para o produto como uma unidade. Este grupo é marcado (ou deveria ser) pela sensatez e clareza, pela informação e abrangência destas, pela calma e paciência e por fim pelo dom observador e claro, crítico.




CINÉFILOS:

     O grupo mais divertido destes pode ser dividido em três sub-grupos em minhas observações: Conservadores, Modernos, e Abrangentes.

Conservadores: Normalmente, cinéfilos com certa "estrada percorrida" este grupo se caracteriza por idolatrar  o cinema mais antigo, dos grandes "clássicos", dando pouco valor ao cinema atual, a não ser que este esteja ligado diretamente na produção com aqueles "das antigas". Quase sempre radicais, não costumam aceitar remakes, homenagens ou menções a filmes que gostam ou mesmo a filmes que sejam da época que gostam. Os mais extremistas ainda não aceitam que possam se criar clássicos hoje em dia, classificando tudo como no máximo "bom". Ainda há o sacrilégio que é encontrar por ai, uns extremistas de pouca idade. Outro dia ainda falava com um de apenas 17 anos (minha idade!) que acreditava que o cinema parava de produzir clássicos nos anos oitenta e que hoje em dia era raríssimo se ter um filme ótimo a cada dois anos. É triste porque a pessoa em questão tem um conhecimento e potencial de conhecimento muito grandes para uma linha de pensamento tão limitada. É claro que não são fãs dos efeitos digitais, e de novas linhas narrativas.

Modernos: Ao contrário dos conservadores, estes adoram o cinema atual e o veneram como fruto de décadas de "testes" cinematográficos, ou seja, ignoram a importância da história do cinema pelo menos até os anos noventa. Eles podem ser mas receptivos e ir atrás do cinema "antigão" mas sempre dando mais importância e valor ao atual, ou eles podem ser extremistas e só reconhecerem como cinema aquilo que for mais moderno e "inovador" chegando ao ponto de achar ridículo quem procura conhecer as raízes do cinema.

Abrangentes: Os abençoados que conseguem ver a indústria cinematográfica sem preconceitos de época, sabendo atribuir os devidos valores a cada filme relacionando-o com seu tempo, recursos e contexto. Quase sem reservas sabem reconhecer clássicos antigos e modernos, sabendo diferenciar quem se inspirou em quem. Pessoas ótimas de se conversar sobre o assunto, elas não tem uma face extremista pelas minhas observações.



CINEASTAS:

     Esse grupo é formado por pessoas que podem estar nos dois grupos anteriores, ou, acreditem, não. E quando digo "cineastas" não me refiro apenas a pessoas que exercem a profissão, mas a todos aqueles que fazem filmes de alguma maneira, ou que gostam de fazer ou que gostariam de fazer. De Spielberg ao "Jõazinho" com a câmera digital dos pais. Esses caras não precisam entender de cinema, basta quererem fazê-lo para estarem aqui, e foi com grande surpresa que descobri isto, já que nem todos os meus colegas de cinema são cinéfilos ou críticos. Muitos não vêem filmes com frequência e pouco conhecem dos clássicos e dos lançamentos atuais, estando mais interessados em fazer seus próprios projetos. É claro que há aqueles que conhecem tudo e amam tudo sobre cinema, e que normalmente acabam por fazer filmes homenagem (Tarantino). Enfim este é o grupo que não só adora cinema, mas que tenta fazer parte dele.



Nota final:

     Depois de analisar cuidadosamente ("eu decidi não aprovar o parque...") eu me peguei como um ser tentando (veja, tentando) ser algo entre esses três grupos, tentando ter um senso crítico, sem preconceitos e sempre tentando fazer parte do mundo do cinema.          

quinta-feira, 7 de abril de 2011

SUCKER PUNCH - MUNDO SURREAL


TRAILER SUCKER PUNCH HD


     Muitos diretores tem marcas e estilos que nos fazem reconhecer quase que imediatamente que se trata de um filme seu. Zack Snyder não é diferente. Depois de sair do mundo dos videoclipes e começar sua carreira com o bom Madrugada dos Mortos, Snyder ganhou nome, fãs e prestígio ao dirigir o visualmente belo -e afogado em testosterona- 300. Com os créditos que tinha, logo passou para um projeto mais polêmico, Watchmen, que resultou em um ótimo filme, muito dirigido aos fãs das HQ's, porém, mantendo o visual cheio de luzes do diretor. Snyder ainda dirigiu a fraca mas belíssima animação A Lenda dos Guardiões antes de lançar este que é seu primeiro projeto com roteiro original (ele mesmo escreveu), Sucker Punch. Arrastado pela maldição que vem assombrando os blockbusters ultimamente, roteiro X visusal, o filme traz um espetáculo para os olhos, um presente para os ouvidos, mas infelizmente, um descanso para o cérebro.


     Depois de terríveis acontecimentos, Baby Doll (Emily Browning, a Violet de Desventuras em Série) é mandada pelo padrasto para um sanatório onde ela deve sofrer uma lobotomia, sendo assim o padrasto herda todos os bens que a mãe deixou para a garota. Mas o médico que fará o procedimento só chega em cinco dias, e esse é o tempo que Baby Doll ao lado de Sweet Pea (Abbie Cornish), Rocket (Jena Malone), Blondie (Vanessa Hudgens) e Amber (Jamie Chung) tem para encontrar cinco objetos que as ajudarão a escapar de lá. O filme logo no começo já nos joga em um mundo de escape de Baby Doll que espelha sua realidade, uma espécie de cabaré onde as dançarinas são mantidas presas por um cafetão chamado Blue (Oscar Isaac), que as obriga a dançar para viver, e sem demorar muito mais já nos manda pra outra realidade, acontece que a exigente treinadora das dançarinas Madame Gorski (Carla Gugino) descobre em Baby um talento para a dança que faz todos os que presenciam suas perfomances ficarem totalmente absortos e distraídos. Mas Baby só consegue fazer estas danças se conseguir se "fechar", ou seja, ir para outro mundo onde tudo é fantasioso e épico, onde uma dança vira uma batalha com figuras samurais gigantes armados até os dentes por exemplo. E as cinco amigas não tardam a explorar o efeito dopante que as danças de Baby exercem sobre todos para conseguir os objetos que querem, assim para cada objeto temos uma dança e para cada dança uma batalha épica travada pelas belas garotas, e são essas cenas de batalha o ponto alto do filme, cenas que ou deixam o espctador deslumbrado ou lhe causam ataques epiléticos. 
   

  O filme seria perfeito não fosse sua tentativa frustada de "dar uma filosofada", funcionando perfeitamente como um filme de ação. Snyder só tropeça ao tentar explicar, ou refletir, ou dar uma lição ou seja lá o que ele tentou fazer no final da projeção para tornar crível aquela história cujo maior mérito é ser "incrível", o que depois de tudo o que vimos durante o filme acaba soando extremamente desnescessário e até contrangedor, assim como o twist que o precede. No entanto o filme é uma ótima homenagem a videogames de todos os tipos, no melhor estilo "badass" e "motherfucker" o diretor usa sua câmera muito bem em cada cenário para reproduzir o tipo de jogo que está homenagenado, por exemplo, há uma cena que a câmera se afasta de Baby Doll que está costas para nós, deixando-a bem no centro da tela e ao fundo os inimigos que ela vai ter que derrotar, da pra jurar que nesse momento as tajas pretas do Widescreen vão sumir e no seu lugar vão aparecer as barras de vida e de munição da personagem, e você quase chega a procurar um controle pra sair jogando o que seria aqueles jogos orientais em terceira pessoa. Já em um mundo que mistura primeira guerra com zumbis movidos a vapor (Zack misturando tudo que encontrou pelo caminho) Snyder mantêm a câmera agiatada dando um tom realista que remete a jogos de guerra como Call of Duty e Medalha de Honra. Sacada boa é a que ele faz no mundo onde há um castelo dominado por Orcs, onde as protagonistas sobrevoam o local em um avião nos dando uma visão de campo igualzinha a dos jogos no estilo Age of Empire, Warcraft e Age of Mythology. Mas se Snyder faz homenagens a vários tipos de videogames nesses mundos, é claro que o diretor não deixaria de se homenagear fazendo um mundo onde ele usa e abusa do "estilo Snyder de filmar", ou seja, uma câmera que desliza, corre, da cambolhota e pirueta junto com os personagens, tudo isso no irritante modo Bullet time que acelera e volta rapidamente pro Bullet time. Assim Snyder cria um filme de ação interessante com bons, não ótimos, efeitos especiais, e uma trilha bem escolhida, contando com uma releitura de "Where is my mind?" e "Sweet dreams (Are made of this)". Sempre impessoal, nada carismático e cheio de personagens unidimencionais, o filme não cria muitas relações entre o público e aquele universo, não nos fazendo sentir nada nem quando eventualmente algum personagem é morto, se mantendo pelas belas imagens que produz.   



     Levando as telas uma diverção voltada quase que exclusivamente para os garotos, afinal são cinco jovens protagonistas no auge de sua beleza, trajadas no melhor estilo dos mangás com suas finas cinturas expostas entre as mini saias e os longos e audaciosos decotes, travando lutas corporais em meio a explosões com monstros mitológicos armados até os dentes, o filme se torna bom ao encorporar o estilo "motherfucker" de ser, nos trazendo um bom (porém efêmero) entretenimento, mas pisa na bola tentando ser algo que não é, nunca (nem de perto) sendo tão profundo nem tão complexo quanto A Origem por exemplo. Sucker Punch acaba mostrando que Zack Snyder podia continuar adaptando HQ's, já que mostra se sair melhor com histórias já prontas e com uma base de fãs já pré estabelecida. E se ele continuar a dirigir roteiros originais, tomara que não sofra do mal de "Shyamalan", criando ótimas premissas de roteiro mas errando ao dirigir ele mesmo essas histórias



P.S. Tem um numero musical durante os créditos, com perfomances de Oscar Isaac e Carla Gugino, meio "WTF!?" mas que vale ficar pra assistir...

NOTA: 7/10                

domingo, 3 de abril de 2011

RANGO

TRAILER RANGO HD


     Em um "mundo" dominado pela Pixar, as vezes surge aqui e ali uma animação capaz de desafiar em qualidade técnica e narrativa esta grande fábrica de sonhos responsável pelos maiores sucessos da animação dos últimos anos. Eis que em meio há um terreno árido surge com imponência este exemplar de nome... Rango.
     O responsável pelo diferente e encantador O Ratinho Encrenqueiro, pelo tenso e assustador O Chamado e ainda pela trilogia Piratas do Caribe, Gore Verbinski acrescenta aqui mais um estilo e gênero a sua filmografia, uma animação de western. E a Pixar que se cuide este ano, pois esta primeira animação da Industrial Light & Magic não deixa nada a desejar dando vida com perfeição aos estranhos personagens vistos em tela. 



     Depois de ser arrancado de sua monótona vida, um pequeno camaleão se vê em uma cidadezinha no meio do deserto habitada pelas mais variadas e hostis criaturas, que são assoladas pela falta de água naquele ambiente inóspito. Tendo em vista que é um desconhecido por aquelas bandas o nosso protagonista encarna então um personagem que chama de Rango. Um xerife durão e cheio de boas intenções que está disposto a desvendar o mistério que envolve o desaparecimento de água, para isso conta com a ajuda de cidadãos esquisitos e de um revólver que pode até ter uma bala só, mas que está inteiramente carregado de referências cinematográficas. Referências estas que vão da ficção científica nos desenhos feitos no ar pelo camaleão que incluem naves de Star Wars, até a musicais na cena em que ele finge uma interação com um pedaço de Barbie, claramente tirado de Cantando na Chuva. Tudo isso é conduzido por Verbinski que nunca deixa a peteca cair sempre mantendo no filme a originalidade do projeto.



     Nos remetendo aos Western Spaghetti de Leone o filme nos leva em uma aventura alucinante que pode deixar vários baixinhos para trás na trama, mas que com certeza vai agradá-los nas muitas cenas de ação, em particular a perseguição com morcegos no desfiladeiro que é ótima. Tendo todos os seus aspectos técnicos perfeitos, vide a fotografia que é belíssima dando o clima certo para cada momento do filme, evocando a solidão de uma noite no deserto até a derrota humilhante a luz de um por do sol vermelho, Rango ainda foge de se tornar mais uma produção visualmente bela mas com uma história fraca, trazendo questionamentos profundos e filosóficos sobre a criação e a vida dos nossos heróis e personagens amados. A cena em que Rango atravessa uma estrada enquanto vários carros quase o atropelam é a metáfora visual perfeita para aquele personagem que passa pela vida cheia de perigos e desafios que nunca se concretizam, e não é por acaso que ao chegar do outro lado, ele caia se rendendo, desistindo, não por estar cansado de lutar, mas porque nunca teve pelo que viver, sendo assim inútil continuar a ficar de pé, vivo. E menos por acaso ainda é a cena seguinte em que ele acorda e se depara com ninguém mais ninguém menos que o próprio homem sem nome, o personagem que ganhou vida e virou ícone na pele de Clint Eastwood, e que serve de referência para Rango já que ele próprio jamais tem seu verdadeiro nome revelado durante a trama, e nem teria porque, já que como um ator, um camaleão que tem que virar outros, sua identidade original pouco importa. E nesta mesma cena se completa outra metáfora perfeita, quando o homem sem nome manda nosso protagonista de volta a sua batalha, afinal ai esta o conflito do camaleão, ele não tem que salvar uma cidade da seca, ou uma donzela dos vilões, o conflito dele é encarnar um personagem que tenha este tipo de conflito, o desafio dele é conseguir ser o personagem que criou, é ser o Rango. E pra completar temos a maior referência cinematográfica do filme, que não faz menção a nenhum filme específico e sim a indústria cinematográfica, afinal se com Rango temos um ator que só assume seu personagem na pequena cidade chamada Poeira, então temos ai também um Set de filmagens, afinal é somente lá que ele vira o personagem, é só lá que ele tem conflitos fantásticos e impossíveis e é só lá que as lendas e mitos do Oeste, os pistoleiros e seus duelos se fazem concretos, logo fora de Poeira o lagarto é como um ator desempregado, sem ter desafios a enfrentar, completando assim a última e maior metáfora do filme. 



      E se o filme todo é um "filme" dentro do filme, só falta então dizer aonde nisso tudo fica a trilha sonora que nos filmes de Leone eram tão marcantes principalmente por serem conduzidas pelo mestre Ennio Morricone. Pois ela esta lá, e acompanha fisicamente o lagarto durante toda sua trajetória, provando que aquele deserto é uma metáfora à um Set de filmagens. Representada por um quarteto de corujas Mexicanas sempre deprimentes que sempre estão prevendo a morte iminente do protagonista, a trilha que na nossa realidade é composta pelo gênio Hans Zimmer não fica para trás nem nas qualidades técnicas do filme nem nas referências que estão muito bem distribuídas ao longo do filme, estas passam pela música tema de Arizona Nunca Mais dos Irmão Coen, por uma versão de banjos de A Cavalgada das Valquírias em uma cena de ataque que sempre se remete a Apocalipse Now, até a bem discreta inserção do tema de gaitas do personagem Harmônica de Era uma Vez no Oeste, outro clássico de Leone.
     Falar dos personagens individualmente é desperdiçar palavras já que estes são muitos e todos igualmente interessantes em seus estereótipos e peculiaridades, sendo os melhores deles claro o protagonista Rango, que com seu jeitão esquisito e olhos grandes mas ao mesmo tempo miúdos é muito carismático e memorável, e também tem o grande vilão da história Jake Cascavél, que recebe todo o visual de Angel Eyes de Três homens em Conflito (também de Leone) que evoca o espírito do mito dos pistoleiros sem lei que tornava aqueles clássicos tão mágicos.



     Homenageando a torto e a direito, mas sem nunca deixar de lado a história que está contando para isso (em certa cena se fazem três menções seguidas), Rango é não só um ótimo exemplar de animação, mas também uma produção incrível que supera muitas outras live action que vem sendo lançadas por ai. Com diversão garantida pra molecada, tendo uma história interessante para os mais crescidos e ainda dando de presente para os cinéfilos uma homenagem cinematográfica cheia de metáforas fantásticas, o filme chega como um forasteiro nestas bandas e desafia os pistoleiros que mandam na área pra um duelo, e sem decepcionar, nos mostra que é rápido no gatilho e dispara diversão, menções e ótimas sacadas pra todo lado.


NOTA 10/10