quarta-feira, 29 de novembro de 2017

ASSASSINATO NO EXPRESSO DO ORIENTE


Conhecer as reviravoltas de uma trama pode destruir a experiência de acompanhá-la. Há, entretanto, os filmes que se preparam para essa eventualidade e que oferecem um olhar completamente novo e revigorante para o espectador que já sabe os rumos da história. É o caso, por exemplo, de Um Corpo que Cai, O Sexto Sentido, Clube da Luta, Oldboy, A Chegada etc - projetos que a cada revisita parecem contrair novas dimensões, ao invés de subtraí-las. Já tendo sido adaptado em mais de um país, para o cinema e para a TV, Assassinato no Expresso do Oriente é um dos livros mais célebres de Agatha Christie, e como tal, a solução de seu mistério central é famosa - tanto quanto polêmica. As implicações éticas do desfecho ainda geram discussões mesmo 82 anos depois de sua publicação - o que não é surpresa; mesmo mais de oito décadas depois o epicentro da questão ainda é um dos maiores divisores de água no sistema penal pelo mundo.

E a boa notícia é que a nova versão do romance policial de Christie, dirigida e estrelada por Kenneth Branagh, não ignora essa problematização - o que, de cara, já a difere das demais adaptações do texto, mesmo aquela tão divertida conduzida pelo mestre Sidney Lumet em 1974, e que no geral sempre preferiram dar ênfase à surpresa do final, ignorando ou tratando de forma leviana suas implicações morais. Igualmente satisfatório é perceber que Branagh também consegue evitar se tornar exclusivamente dependente do desfecho, e constrói sua narrativa de modo a entreter mesmo um leitor voraz dos mistérios da escritora.

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

BONECO DE NEVE


Num suspense policial sobre assassinatos em série, não é bom sinal quando a coisa mais chocante e surpreendente é constatar o que a idade e as plásticas fizeram com o rosto de um dos atores - no caso, Val Kilmer. Mas esse é o caso de Boneco de Neve, que apesar da direção dedicada do cineasta Tomas Alfredson e de um elenco esforçado em conferir peso e seriedade aos seus personagens, sofre com um roteiro mecânico e um desfecho, enfim, chato - o que deve ser uma das piores coisas que já me senti obrigado a escrever sobre um thriller.

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

SECURITY



Os shoppings já serviram de cenário para um tanto de filmes, das comédias aos terríficos, daqueles que funcionaram muito bem aos que são um completo desastre. Security fica em algum ponto no meio disso. Nada criativo no uso dos sets, o longa se apoia basicamente no carisma de seus personagens para funcionar – e com Antonio Banderas à frente do elenco, e Ben Kingsley na outra ponta, como vilão, a experiência acaba não sendo tão insossa quanto poderia se ali estivessem outros atores menos talentosos. CONTINUE LENDO AQUI>>

Esta crítica foi originalmente postada no Papo de Cinema.

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

LIGA DA JUSTIÇA



Tentando repetir o sucesso da empreitada da Marvel Studios e seus Vingadores, a Warner gerou até hoje cinco filmes para contar a formação da Liga da Justiça, o supergrupo da DC. Entretanto, seus esforços se mostraram bem mais inconsistentes e não tão carismáticos - claro que estamos falando de abordagens bem diferentes, pois aqui sempre houve uma clara tentativa de se aproximar mais do brilhantismo da trilogia O Cavaleiro das Trevas de Christopher Nolan e do próprio Watchmen, de Zack Snyder, tentando combinar uma narrativa estilosa e que também se levasse muito a sério. Isso por si só não é ruim, tendo em vista que, por outro lado, volta e meia a Marvel produz longas divertidos e coloridos, mas esquecíveis. O problema é que o DCEU (Universo Expandido da DC) nunca chegou a encontrar uma identidade para explorar, pois seu projeto inicial, O Homem de Aço, estabeleceu uma estética e atmosfera excessivamente ligadas ao cinema de Snyder, e é perceptível que esse caminho foi renegado pelo estúdio, que nos longas posteriores tentou trazer os filmes para algo menos sombrio e mais descontraído. O que resultou na confusão truncada que era Batman vs Superman, e no desastre Esquadrão Suicida, que confundia o cartunesco e o absurdo com ser imbecil.

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

THOR: RAGNAROK


Apesar do esquema atual de Hollywood conectar diversas produções, em teoria, cada filme deveria funcionar dentro de si mesmo, sem o auxílio de nenhum material extra. Entretanto, para citar um exemplo do universo Marvel, Capitão América: Guerra Civil deve boa parte de sua força ao fato de que os seus personagens já tinham sido apresentados e desenvolvidos ao longo de outros títulos anteriormente. Já Thor: Ragnarok não precisaria disso para se firmar como um bom exemplar do subgênero das comédias de ação, pois seu humor funciona sozinho - traz uma narrativa segura do cineasta Taika Waititi, que além de construir um filme divertido do início ao fim, consegue fazer um trabalho orgânico ao adequar o projeto à estética e ao estilo assentados nos volumes 1 e 2 de Guardiões da Galáxia, com suas cores vivas e as gags recorrentes. É uma pena, portanto, que para isso o longa sacrifique a sua coesão com o resto do universo a que se conecta, destoando não só como sequência dentro da sua própria franquia, como também corrompendo muito do que já havia sido estabelecido sobre seus protagonistas.

terça-feira, 7 de novembro de 2017

1922


Infelizmente não é todo dia que se faz um Jogo Perigoso (2017) ou um It: A Coisa (2017) – por outro lado, desastres como o seriado O Nevoeiro (2017) também não. E no ano em que se comemora os 70 anos de Stephen King, quando diversas de suas obras estão ganhando chances nas grandes e pequenas telas, é possível enxergar nesse pequeno panorama que, como nas últimas décadas, houve aqueles que entenderam bem a força dos livros e contos de King e os que se perderam na recorrente descritividade do escritor e acabaram gerando obras ruins. Acontece que, apesar de qualquer coisa, o autor é notoriamente hábil em transformar o horror sobrenatural ou o drama específico de uma situação em narrativas sobre medos e conflitos comuns a qualquer leitor. 1922 se equilibra entre esses extremos, reconhece a metáfora e a emprega de forma eficiente, mas também peca ao explorá-la demais. CONTINUE LENDO AQUI>

Esta crítica foi originalmente postada no Papo de Cinema.