sexta-feira, 22 de abril de 2011

PÂNICO 4

TRAILER SCRE4M LEGENDADO HD

   
     O ano é 1996. O diretor é Wes Craven, responsável pelo primeiro filme da famosa franquia de Freddy Krueger A Hora do Pesadelo. O filme? Bom, esse tá na cara. Pânico. O filme que chegou para revitalizar o gênero que há muito havia perdido sua força, juntando muitos sustos, cenas de suspense e tensão muito bem trabalhadas e diálogos recheados com uma dose de referências a outros filmes de terror. Craven foi o Tarantino do gênero, e como tal, fez sucesso e garantiu mais duas continuações que ainda que boas, não superaram o original. Pânico 2 de 97 mantém o suspense e o clima ameaçador do primeiro, desta vez, criticando as continuações de filmes famosos, já Pânico 3 de 2000 ainda que divertido é bem mais fraco e forçado que os dois primeiros. Eis que onze anos depois, chega às telas dos cinemas de todo o mundo, esta irreverente e divertidíssima continuação (ou seria Remake/Reboot?) cujo maior defeito é não conseguir trazer o clima de ameaça presente no original, ainda sim sendo a melhor das continuações deste.


     A saga Pânico sempre foi marcada por no mínimo cinco coisas: a) O assassino trajado de Ghost Face; b) Os telefonemas recebidos pelas vítimas antes morrer e a famosa pergunta feita neles; c) A abertura onde duas pessoas são assassinadas; d) O final marcado pela revelação da identidade do assassino; e e) O trio protagonista, Sidney, Gale e Dewey. Pânico 4 tem todos esses itens, e só não é melhor que o primeiro por passar muito tempo o homenageando. A cena inicial já da o clima do filme, já que ele não possuí uma abertura só, e sim três diferentes que exploram e criticam a exaustão os clichês de filmes de horror e suas continuações intermináveis, passando por ótimas tiradas sobre Jogos Mortais e sobre a própria metalinguagem do filme.
     A história volta a cidadezinha de Woodsboro onde Sidney (Neve Campbell) veio autografar seu primeiro livro. Agora Gale (Cox) e Dewey (Arquette) são casados, ele é Xerife e ela tenta ser escritora de ficção (o filme não tenta esconder que se passaram dez anos). Mas logo a paz local é novamente dissipada com a notícia de que duas jovens foram assassinadas. Sidney acaba tendo que se hospedar na casa da tia e da prima até que se resolvam os assassinatos, pondo ela, a família e os amigos deles em risco outra vez sob a ameaça da nova onda de assassinatos do Ghost Face.


     O slogan do filme já dizia: "nova década, novas regras", então já era de se esperar uma nova geração de personagens, ou melhor, vítimas. E o filme nos dá mais uma porção de "futuros personagens mortos", dos quais dois ou três possuem algum aprofundamento, coisa que já era prevista na piada do começo sobre Jogos Mortais. Entre eles estão a prima de Sidney, Jill (Emma Roberts), sua melhor amiga Kirby (Hayden Panettiere), sua outra amiga e vizinha Olivia (Lake Bell), o cinéfilo Charlie (Rory Culkin), Trevor (Nico Tortorella) e o blogueiro Robbie (Erik Knudsen). Dentre esses, Panettiere é a que se sai melhor, carismática e apavorada na medida certa é a única nova personagem por quem realmente torcemos. O resto do elenco jovem está apenas bem. Já os veteranos voltam a encarnar com carisma e química o trio protagonista, mesmo com as marcas da idade nenhum deles deixa de causar nostalgia quando aparece em tela, nunca parecendo perdidos em meio a trama ou as piadas da nova geração. Courteney Cox mantém sua esbelta personagem que volta ao ramo do jornalismo (fato que remete ao primeiro longa) nos trazendo uma Gale mais "metida" que dos dois longas anteriores, inclusive fazendo uma piadinha quando interrogada pela agente publicitária de Sidney, "Eu ainda tenho raça". David Arquette nos entrega também um Dewey que lembra muito o do primeiro filme, que não manca mais, e continua mal de mira, conseguindo em certa cena acertar uma lâmpada, mas não o assassino. Neve Campbell traz pra tela uma Sidney mais corajosa e bem menos chorona que aquela vista na trilogia original, quase uma heroína de ação metendo a porrada no Ghost Face sempre que se esbarram.  


     Mas o veterano na série, o roteirista Kevin Williamson (que não escreveu apenas o terceiro capítulo) sabe dar a série o clima que regeu o original, incluindo um humor muito mais galhofa que acaba tendo como consequência a falta do sentimento de ameaça que já citei. Ainda assim, o roteiro mantém um suspense constante e crescente, que se não tem momentos de ouro como a famosa abertura com Drew Barrymore no primeiro filme, alcança bons momentos de tensão em pelo menos duas cenas do longa, uma envolvendo uma charada sobre um armário, e outra um jogo de perguntas e respostas que remete direto a cena de abertura citada acima. O humor está bem mais óbvio aqui, nunca deixando de usar da metalinguagem para criticar e se criticar, Williamson também usa de um humor mais "abrangente", ou seja, que pode ser entendido pelo público comum que não está por dentro do histórico de filmes de horror supracitado durante toda projeção. Isso sem nunca se deixar cair na sátira óbvia, usando aqui mais do que nunca a saga de filmes dentro do filme, Stab, o roteirista consegue citar o próprio filme com naturalidade e muito bom humor, tratando sempre de encaixar todos os clichês possíveis durante o longa.


     Ghost Face aparece menos que nunca, suas cenas são mais rápidas e suas vítimas agonizam menos,  acabou de vez o jogo de gato e rato dentro das casas, pois os que têm são curtos e inexpressivos. Sempre brandindo sua faca pra tudo que é lado acertando tudo o que está ao seu alcance, correndo feito desvairado e tropeçando e brigando a torto e a direito, desta vez, ele acerta menos ombros e mais costelas. E no quesito facada a equipe de efeitos sonoros merece destaque, já que sentimos cada golpe desferido pelo assassino mascarado. Craven aposta em esconder aquilo que já conhecemos, isso é claro traz para a tela o famoso efeito Tubarão de Spielberg, onde escondendo-se a criatura, cria-se um medo maior. As mortes também são mais subentendidas o que as deixam mais brutais, claramente se adaptando a linguagem moderna em que mostrar tudo acaba sendo gore.
     Se o filme possuí três aberturas é de se esperar que ele possua três finais, que vão ficando mais interessantes conforme vão progredindo, tendo neles um discurso moralista como motivo que, embora muito criticado, achei crível (o mais crível de todos os apresentados na saga inclusive) e bem encaixado no contexto moderno das redes sociais, que alias são também supracitadas e usadas aqui. Desta vez se vêem muito mais celulares e Iphones em comparação ao longa de 97 onde Dewey e Gale procuravam em uma praça cheia de gente alguém que tivesse um (ponto para Williamson e Craven que souberam modernizar sua narrativa).


     Ágil, com muito humor, tenso e cheio de citações para os cinéfilos descascarem, o filme é como uma reunião de velhos amigos numa festa, com uma abertura hilária, um final convincente (e por que não, hilário também?) e um miolo nostálgico e também renovado, Pânico 4 acaba sendo uma ode a própria saga que vai deixar muito marmanjo com um sorriso no rosto no final da sessão. Gente que pode nunca ter recebido uma ligação de um assassino perguntando "qual seu filme de terror favorito?" mas que com certeza sabe a resposta para esta pergunta. E incluo-me nesta.

2 comentários:

  1. baita filme!!fui com esse "moleque" no cinema e ele saiu com uma mascara do ghost face, e eu do lado, ninguem merece. Bom texto, e ótimo flme, continua assim...!!!

    ResponderExcluir
  2. Ah, muito bom o filme, né? Olhei duas vezes e se deixasse olhava de novo. Como sempre Yuri e suas opiniões super apuradas e bem fundamentadas ^^ Aliás, também sempre faz uma ótima seleção de fotos para postar. Sucesso, meu amigo.

    ResponderExcluir