Muitos diretores tem marcas e estilos que nos fazem reconhecer quase que imediatamente que se trata de um filme seu. Zack Snyder não é diferente. Depois de sair do mundo dos videoclipes e começar sua carreira com o bom Madrugada dos Mortos, Snyder ganhou nome, fãs e prestígio ao dirigir o visualmente belo -e afogado em testosterona- 300. Com os créditos que tinha, logo passou para um projeto mais polêmico, Watchmen, que resultou em um ótimo filme, muito dirigido aos fãs das HQ's, porém, mantendo o visual cheio de luzes do diretor. Snyder ainda dirigiu a fraca mas belíssima animação A Lenda dos Guardiões antes de lançar este que é seu primeiro projeto com roteiro original (ele mesmo escreveu), Sucker Punch. Arrastado pela maldição que vem assombrando os blockbusters ultimamente, roteiro X visusal, o filme traz um espetáculo para os olhos, um presente para os ouvidos, mas infelizmente, um descanso para o cérebro.
Depois de terríveis acontecimentos, Baby Doll (Emily Browning, a Violet de Desventuras em Série) é mandada pelo padrasto para um sanatório onde ela deve sofrer uma lobotomia, sendo assim o padrasto herda todos os bens que a mãe deixou para a garota. Mas o médico que fará o procedimento só chega em cinco dias, e esse é o tempo que Baby Doll ao lado de Sweet Pea (Abbie Cornish), Rocket (Jena Malone), Blondie (Vanessa Hudgens) e Amber (Jamie Chung) tem para encontrar cinco objetos que as ajudarão a escapar de lá. O filme logo no começo já nos joga em um mundo de escape de Baby Doll que espelha sua realidade, uma espécie de cabaré onde as dançarinas são mantidas presas por um cafetão chamado Blue (Oscar Isaac), que as obriga a dançar para viver, e sem demorar muito mais já nos manda pra outra realidade, acontece que a exigente treinadora das dançarinas Madame Gorski (Carla Gugino) descobre em Baby um talento para a dança que faz todos os que presenciam suas perfomances ficarem totalmente absortos e distraídos. Mas Baby só consegue fazer estas danças se conseguir se "fechar", ou seja, ir para outro mundo onde tudo é fantasioso e épico, onde uma dança vira uma batalha com figuras samurais gigantes armados até os dentes por exemplo. E as cinco amigas não tardam a explorar o efeito dopante que as danças de Baby exercem sobre todos para conseguir os objetos que querem, assim para cada objeto temos uma dança e para cada dança uma batalha épica travada pelas belas garotas, e são essas cenas de batalha o ponto alto do filme, cenas que ou deixam o espctador deslumbrado ou lhe causam ataques epiléticos.
O filme seria perfeito não fosse sua tentativa frustada de "dar uma filosofada", funcionando perfeitamente como um filme de ação. Snyder só tropeça ao tentar explicar, ou refletir, ou dar uma lição ou seja lá o que ele tentou fazer no final da projeção para tornar crível aquela história cujo maior mérito é ser "incrível", o que depois de tudo o que vimos durante o filme acaba soando extremamente desnescessário e até contrangedor, assim como o twist que o precede. No entanto o filme é uma ótima homenagem a videogames de todos os tipos, no melhor estilo "badass" e "motherfucker" o diretor usa sua câmera muito bem em cada cenário para reproduzir o tipo de jogo que está homenagenado, por exemplo, há uma cena que a câmera se afasta de Baby Doll que está costas para nós, deixando-a bem no centro da tela e ao fundo os inimigos que ela vai ter que derrotar, da pra jurar que nesse momento as tajas pretas do Widescreen vão sumir e no seu lugar vão aparecer as barras de vida e de munição da personagem, e você quase chega a procurar um controle pra sair jogando o que seria aqueles jogos orientais em terceira pessoa. Já em um mundo que mistura primeira guerra com zumbis movidos a vapor (Zack misturando tudo que encontrou pelo caminho) Snyder mantêm a câmera agiatada dando um tom realista que remete a jogos de guerra como Call of Duty e Medalha de Honra. Sacada boa é a que ele faz no mundo onde há um castelo dominado por Orcs, onde as protagonistas sobrevoam o local em um avião nos dando uma visão de campo igualzinha a dos jogos no estilo Age of Empire, Warcraft e Age of Mythology. Mas se Snyder faz homenagens a vários tipos de videogames nesses mundos, é claro que o diretor não deixaria de se homenagear fazendo um mundo onde ele usa e abusa do "estilo Snyder de filmar", ou seja, uma câmera que desliza, corre, da cambolhota e pirueta junto com os personagens, tudo isso no irritante modo Bullet time que acelera e volta rapidamente pro Bullet time. Assim Snyder cria um filme de ação interessante com bons, não ótimos, efeitos especiais, e uma trilha bem escolhida, contando com uma releitura de "Where is my mind?" e "Sweet dreams (Are made of this)". Sempre impessoal, nada carismático e cheio de personagens unidimencionais, o filme não cria muitas relações entre o público e aquele universo, não nos fazendo sentir nada nem quando eventualmente algum personagem é morto, se mantendo pelas belas imagens que produz.
Levando as telas uma diverção voltada quase que exclusivamente para os garotos, afinal são cinco jovens protagonistas no auge de sua beleza, trajadas no melhor estilo dos mangás com suas finas cinturas expostas entre as mini saias e os longos e audaciosos decotes, travando lutas corporais em meio a explosões com monstros mitológicos armados até os dentes, o filme se torna bom ao encorporar o estilo "motherfucker" de ser, nos trazendo um bom (porém efêmero) entretenimento, mas pisa na bola tentando ser algo que não é, nunca (nem de perto) sendo tão profundo nem tão complexo quanto A Origem por exemplo. Sucker Punch acaba mostrando que Zack Snyder podia continuar adaptando HQ's, já que mostra se sair melhor com histórias já prontas e com uma base de fãs já pré estabelecida. E se ele continuar a dirigir roteiros originais, tomara que não sofra do mal de "Shyamalan", criando ótimas premissas de roteiro mas errando ao dirigir ele mesmo essas histórias.
P.S. Tem um numero musical durante os créditos, com perfomances de Oscar Isaac e Carla Gugino, meio "WTF!?" mas que vale ficar pra assistir...
NOTA: 7/10
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