Sem estilo definido, Brett Ratner
já se aventurou em diversos gêneros, sem com isso demonstrar possuir uma marca
em sua direção. Mas se por um lado o cineasta não possui uma identidade
reconhecível em sua condução, por outro, tampouco tem se revelado incompetente
naquilo que faz. Prova disso é que se saiu bem sucedido em quase todas as
empreitadas que assumiu em sua carreira (sim, inclusive X-Men: O Confronto Final). Fato que este Hércules vem agora reafirmar.
Ratner, claro, ao menos acusa uma
preferência por tramas descontraídas, e é o tom que assume aqui. Propondo-se a
contar a “verdadeira” história do mitológico herói, o longa-metragem já inicia
com uma narrativa que retoma os principais pontos da lenda sobre o semi-deus.
Só para momentos depois revelar que Hércules (Dwayne Johnson) na verdade agia
em grupo, e que os fatos antes atribuídos a um só homem, na verdade, eram obra
de um bando de mercenários liderados pelo famoso guerreiro. É neste ponto que
um tal Lord Cotys (John Hurt) convoca os seus serviços para que treinem seus
exércitos a fim de acabar com uma guerra civil iniciada por um sanguinário
rebelde. Com seu peso em ouro prometido, o grupo aceita a tarefa sem saber dos
perigos que os aguardam.
Brincando com a ideia de mito, Hércules se empenha tanto em
desmistificar o herói do título, quanto no contrário, ao investir em várias
cenas que sugerem uma força sobre-humana ao protagonista. Uma dubiedade que se
reflete na escolha de Dwayne Johnson para o papel principal; o ator, que é
fisicamente assustador e imponente, como qualquer concepção idealizada de um
super-herói, tem em seu carisma um forte contraponto aos modos brutos de sua
expressão corporal. Dono de um timing cômico apurado, o eterno “The Rock” tem
se mostrado cada vez mais um dos meus atores favoritos, apesar de
constantemente se entregar a projetos duvidosos, como O Fada do Dente. Mas admito que depois de me surpreender com Sem Dor, Sem Ganho e O Acordo, onde ele indubitavelmente
brilhava, passei a tê-lo em maior estima e atenção. Seu Hércules, então, é tão
bruto quanto é gentil e afável, e faz rir sem maior dificuldade com que
convence de sua fúria e intensidade em uma cena de ação.
Cercado por um grupo de atores
que, apesar de viverem figuras com pouco ou nenhum aprofundamento, esbanjam
semelhante carisma, Johnson acaba por protagonizar uma adorável aventura
mitológica. E sim, tenho noção de que usei “adorável” para descrever um filme
onde Dwayne Johnson esmaga a cabeça de um personagem usando pesadas correntes.
Aliás, ainda que a violência esteja bastante presente em quase toda a projeção,
a parte gráfica nos é, no entanto, muitas vezes poupada. Para fins óbvios de se
manter baixa a classificação indicativa. Ai reside também o único tropeço de
Ratner na direção, já que para isso investe em uma montagem rápida nas
sequências envolvendo batalhas, que só se tornam mais confusas com o uso da
câmera de mão que o diretor emprega. Ele faz isso de forma consciente, é
verdade, para esconder o sangue as mutilações, o que não o deixa menos apto a
arcar com as consequências estéticas para o seu projeto.
O cineasta também encontra alguma
dificuldade para lidar com o chroma key, e não raramente abusa de tomadas
aéreas que denunciam certa fragilidade nos efeitos digitais. Fraqueza esta que
poderia passar insuspeita graças a uma produção e design competentes. Que
complementam esta divertida aventura sem terem pretensões de serem o seu astro
principal, tal qual Ian McShane em relação ao resto do elenco, com seu ótimo
personagem tragicômico. E é de forma despretensiosa que Hércules chegas aos créditos finais ainda com criatividade,
contando através de grafismos as versões “verídicas” dos feitos de sua lenda.
NOTA: 7/10
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