quinta-feira, 4 de setembro de 2014

HÉRCULES




Sem estilo definido, Brett Ratner já se aventurou em diversos gêneros, sem com isso demonstrar possuir uma marca em sua direção. Mas se por um lado o cineasta não possui uma identidade reconhecível em sua condução, por outro, tampouco tem se revelado incompetente naquilo que faz. Prova disso é que se saiu bem sucedido em quase todas as empreitadas que assumiu em sua carreira (sim, inclusive X-Men: O Confronto Final). Fato que este Hércules vem agora reafirmar.


Ratner, claro, ao menos acusa uma preferência por tramas descontraídas, e é o tom que assume aqui. Propondo-se a contar a “verdadeira” história do mitológico herói, o longa-metragem já inicia com uma narrativa que retoma os principais pontos da lenda sobre o semi-deus. Só para momentos depois revelar que Hércules (Dwayne Johnson) na verdade agia em grupo, e que os fatos antes atribuídos a um só homem, na verdade, eram obra de um bando de mercenários liderados pelo famoso guerreiro. É neste ponto que um tal Lord Cotys (John Hurt) convoca os seus serviços para que treinem seus exércitos a fim de acabar com uma guerra civil iniciada por um sanguinário rebelde. Com seu peso em ouro prometido, o grupo aceita a tarefa sem saber dos perigos que os aguardam.


Brincando com a ideia de mito, Hércules se empenha tanto em desmistificar o herói do título, quanto no contrário, ao investir em várias cenas que sugerem uma força sobre-humana ao protagonista. Uma dubiedade que se reflete na escolha de Dwayne Johnson para o papel principal; o ator, que é fisicamente assustador e imponente, como qualquer concepção idealizada de um super-herói, tem em seu carisma um forte contraponto aos modos brutos de sua expressão corporal. Dono de um timing cômico apurado, o eterno “The Rock” tem se mostrado cada vez mais um dos meus atores favoritos, apesar de constantemente se entregar a projetos duvidosos, como O Fada do Dente. Mas admito que depois de me surpreender com Sem Dor, Sem Ganho e O Acordo, onde ele indubitavelmente brilhava, passei a tê-lo em maior estima e atenção. Seu Hércules, então, é tão bruto quanto é gentil e afável, e faz rir sem maior dificuldade com que convence de sua fúria e intensidade em uma cena de ação.


Cercado por um grupo de atores que, apesar de viverem figuras com pouco ou nenhum aprofundamento, esbanjam semelhante carisma, Johnson acaba por protagonizar uma adorável aventura mitológica. E sim, tenho noção de que usei “adorável” para descrever um filme onde Dwayne Johnson esmaga a cabeça de um personagem usando pesadas correntes. Aliás, ainda que a violência esteja bastante presente em quase toda a projeção, a parte gráfica nos é, no entanto, muitas vezes poupada. Para fins óbvios de se manter baixa a classificação indicativa. Ai reside também o único tropeço de Ratner na direção, já que para isso investe em uma montagem rápida nas sequências envolvendo batalhas, que só se tornam mais confusas com o uso da câmera de mão que o diretor emprega. Ele faz isso de forma consciente, é verdade, para esconder o sangue as mutilações, o que não o deixa menos apto a arcar com as consequências estéticas para o seu projeto.


O cineasta também encontra alguma dificuldade para lidar com o chroma key, e não raramente abusa de tomadas aéreas que denunciam certa fragilidade nos efeitos digitais. Fraqueza esta que poderia passar insuspeita graças a uma produção e design competentes. Que complementam esta divertida aventura sem terem pretensões de serem o seu astro principal, tal qual Ian McShane em relação ao resto do elenco, com seu ótimo personagem tragicômico. E é de forma despretensiosa que Hércules chegas aos créditos finais ainda com criatividade, contando através de grafismos as versões “verídicas” dos feitos de sua lenda.



NOTA: 7/10 




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