Luc Besson tem em seu currículo
ao menos dois excelentes filmes; O
Profissional e O Quinto Elemento.
Porém, ambos datam da já longínqua década de noventa, e desde então, o cineasta
tem se dedicado a projetos no mínimo duvidosos, que ocasionalmente, mostram algum
brilho daqueles tão eficientes de outrora. É o caso do divertido A Família, lançado por aqui no ano
passado, e em uma observação mais enaltecedora, é também o caso deste Lucy.
Estamos falando de um
filme que não se preocupa com verossimilhança, e isso fica claro quando a
protagonista, Lucy (Scarlett Johansson), começa a desafiar as leis da gravidade
e se contorcer por uma parede acima em convulsões após seu corpo absorver uma
nova droga. Acontece que a moça é sequestrada por traficantes japoneses a fim
de ser usada como transporte para o produto, que “inovador”, deveria ganhar um
novo mercado na Europa. Assim, um pacote é escondido cirurgicamente dentro de
seu abdômen, mas acaba rompendo-se. Com a substância infiltrando-se em seu
corpo a nível celular, Lucy começa a ter sua capacidade cerebral aumentada exponencialmente,
o que lhe garante poderes sobre-humanos dos mais diversos conforme se torna
mais forte.
Portanto não se surpreenda quando
em certa parte do filme nossa heroína simplesmente explodir em uma espécie de
Big Bang dentro de um avião. Ou quando ela derrotar um punhado de inimigos
apenas fazendo-os flutuar. É o tipo de acontecimento que permeará toda a trama,
e para os quais Luc Besson já prepara o espectador ao apostar desde o início do
longa em uma montagem ágil e repleta de pequenos interlúdios. Mesmo que estes
sejam óbvios, como aquele traz um leão prestes a atacar sua presa, que apesar
da redundância temática, corta a linha narrativa comum esperada pelo público e
já o deixa esperando por demais anomalias na história, que mais tarde, claro,
terão origem na própria. Não à toa, Besson parece abandonar a técnica por um
longo tempo quando Lucy então começa a desenvolver suas habilidades.
Vivida com intensidade por
Johansson, a super-humana é também apresentada com alguma esperteza,
introduzindo-a em uma situação de extrema fragilidade, o que sempre funciona
quando um realizador precisa que o espectador seja conquistado pelo
protagonista ainda nos minutos iniciais. O que quase sempre é devido a alguma
característica problemática, amoral, ou de alguma forma apática que este
personagem vá assumir mais tarde. Aqui, no caso, os poderes de Lucy a deixam
bastante austera, o que não é muito bom para uma heroína de um filme de ação,
mesmo que esta seja a Scarlett Johansson.
Ritmado também pela constante
marcação em caixa alta na tela do avanço percentual da capacidade cerebral de
Lucy (10%, 20%, 40%, etc), o longa-metragem tira proveito de sua curta duração
e se faz bastante divertido. Não cansa em nenhum momento ao pular de sequência
em sequência sem jamais se deter por tempo demais em apenas uma, o que só
ocorre no início do filme, que, como já expliquei, era claramente necessário
para a correta criação de empatia com a personagem título. Mas entre uma
perseguição de carros, um tiroteio ou mesmo uma operação médica inusitada, o
filme se mantém sempre à trote, intercalando bons momentos de tensão e angustia
- como a retirada do pacote de drogas do abdômen de Lucy - com outros de ação
desenfreada. É verdade que é um filme difícil de engolir, e suas aparentes
bobagens podem fazer torcer o nariz com facilidade. O clímax em especial em
torno da criação de um computador fará os mais impacientes com este tipo de
aventura fantasiosa saírem bufando da sala dizendo coisas como “nunca vi
tamanha besteira!”. E provavelmente eles já viram (alguém ai tem ouvido a
Marina nos debates pras eleições deste ano?). Mas conquanto Luc Besson trate
esses absurdos com bom humor, a mim não incomodarão. Mesmo o dinossauro que ela
encontra em sua viagem no tempo ao final do projeto. Nem isso me incomoda. Até
porque, no fim das contas, Lucy é
apenas uma diversão despretensiosa e não vale ficar atacando-a pelo óbvio. É um
filme que vem, cumpre o que promete e sai de cena sem nem mesmo deixar muito
espaço para citar Morgan Freeman, que, vejam só, está aqui também. Espero,
claro, que o diretor volte aos seus tempos gloriosos de O Profissional, mas tampouco me incomodaria se mantivesse a
qualidade atingida com estes seus dois últimos projetos.
NOTA: 8/10
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