A Disney tem mantido um padrão
admirável em suas animações nos últimos anos, enquanto cada vez mais a outrora
impecável Pixar se torna apenas aceitável. Depois dos excepcionais Detona Ralph e Frozen, sua mais nova aposta é este Operação Big Hero, uma aposta ousada que investe na adaptação de uma
HQ da Marvel repleta de traços da cultura oriental. E que mesmo não alcançando o
nível de excelência das outras duas citadas, funciona e é carismático e divertido o
suficiente para deixar saudades quando acaba.
Há de se ressaltar que as animações como as conhecemos nos traços da Disney já eram, muito antes disso, oriundas da
concepção do continente asiático. Por exemplo, os olhos grandes e expressivos que se fazem
presentes em todos os bons personagens de quase qualquer animação americana –
seja Disney, Pixar, DreamWorks, etc – são características que nós,
ocidentais, absorvemos e enraizamos na nossa própria cultura imagética.
Aqui, somos levados a conhecer
Hiro, que vive em um futuro alternativo nos Estados Unidos na cidade de São
Fransóquio, quando, após alguns tristes eventos, ele torna-se responsável pelo
robô Baymax. Uma espécie de protótipo de agente pessoal de saúde, Baymax está
constantemente avaliando o estado de saúde das pessoas a sua volta e procurando
soluções, exalando a sua paciente e afável programação de interação com humanos.
Hiro, entretanto, prefere usar o robô para ajudá-lo a descobrir um mistério envolvendo
o roubo de uma revolucionária invenção sua que pode estar sendo usada por um
grande empresário inescrupuloso. Para isso ele junta-se a um grupo de jovens
cientistas brilhantes para formar uma espécie de grupo de super-heróis
tecnológicos e descobrir a verdadeira identidade de seu vilão.
Visto do final para o começo, Operação Big Hero é uma típica história
de origens, como essas que já estamos mais do que acostumados a assistir nos
cinemas anualmente. Nesse sentido é feito um bom trabalho para se estabelecer a dupla
principal, mas falha no de cativar com seus coadjuvantes. Não lembro, por exemplo,
do nome de quase nenhum deles, embora possa citar vários momentos memoráveis,
principalmente de ação, envolvendo-os em equipe – a primeira “união” do grupo em uma fuga
de carro é eletrizante. Embora distintamente divididos por habilidades, a
abordagem sobre eles é basicamente de gags, não os caracterizando com nada mais do que seus poderes mostram. Ou seja, como massa amorfa, o grupo funciona
e diverte, mas individualmente, me lembro apenas de Fred, e grande parte disso
devido a sua relação com a ponta de Stan Lee – sim, Lee faz uma de suas famosas
aparições aqui, e em forma de animação, o que torna sua visita ainda
mais divertida do que o comum.
Mas no fim das contas se envolver
apenas com Hiro e Baymax se mostra o suficiente. A rebeldia genial do garoto em
contraste com a personalidade gentil e ingênua do robô faz funcionar a antiga
(mas eficiente!) fórmula da dupla de opostos que tornam-se grandes amigos
justamente por suas diferenças. Claro que é o android quem rouba toda a
atenção, destacando-se desde já como uma daquelas figuras instantaneamente
antológicas, que devem gerar milhares de brinquedos entre os quais há o grande
potencial de explorar bonecos de pelúcia, devido a sua natureza e formas no
longa-metragem. Encenando pelo menos uma sequência memorável em que o nível
baixo de sua bateria o faz agir como um bêbado, Baymax não precisa se preocupar
em deixar sua marca na cabeça dos milhares de espectadores vindouros, levando
com facilidade ao riso e a comoção.
Uma pena que os diretores Chris
Williams e Don Hall – responsáveis por uma das mais subestimadas e mais
divertidas animações da Disney, A Nova
Onda do Imperador – não demonstrem ao final a mesma paciência que investem
no início do filme, quando tomam o tempo necessário para introduzir aquele novo universo,
suas características, os personagens e os eventos dramáticos que servirão de
estopim para a verdadeira história. Assim, é com surpresa que percebi em
meio a mais uma boa cena de ação já estar no clímax do longa-metragem, que mesmo
se estendo mais alguns minutos em um desfecho tocante, logo depois disso
resolve amarrar todas as suas pontas rápida e preguiçosamente retirando todo
peso que os esforços recém investidos poderiam ter tido. Por isso, por mais
divertido e carismático que possa ser, Operação
Big Hero acaba ficando um pouco aquém dos projetos que o precederam na casa
do Mickey Mouse, ainda que de qualquer forma, seja mais um passo bem dado do
estúdio. Mas nas apostas da próxima temporada de premiações, meu coração ainda deve ficar com Uma Aventura Lego.
NOTA: 8/10
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