Jake Gyllenhaal dá sequência com
este O Abutre a uma série de bons
filmes que vêm compondo sua carreira, e logo depois de estrelar dois
excepcionais e distintos longas-metragens dirigidos por Dennis Villeneuve (Os Suspeitos e O Homem Duplicado), o ator encarna aqui Louis Bloom, um homem
inteligente que passa a viver como câmera freelancer, caçando as imagens mais
chocantes que consegue encontrar pela cidade para vendê-las aos
sensacionalistas telejornais locais. E como articuladores deste tipo de jornalismo
desumano e sanguinário, não é surpresa alguma – e na verdade, por si só, já uma
crítica bastante contundente - que em maior ou menor grau, todos os personagens
envolvidos eventualmente demonstrem ter um caráter corruptível.
Afinal, falamos de pessoas que
exploram a desgraça alheia para alimentar a curiosidade mórbida de seus
telespectadores, que em troca lhe recompensam com altos números de audiência
que podem ser trocados por publicidade. É um mercado de violência e morte, e
não de notícias. E não tarda até que Bloom perceba qual é o verdadeiro produto
que está comercializando, passando ele mesmo a fazer parte de sua produção. É
através dele que Dan Gilroy – diretor e roteirista – exerce sua visão ao
desconstruir a figura já falha que apresenta roubando pedaços de cerca no
início do filme.
Intenso, Gyllenhaal transforma os
já interessantes diálogos do roteiro em sequências tão magnéticas quanto a
perseguição que serve de clímax para o longa. Particularmente, o encontro que
marca com a personagem de Rene Russo torna-se mais inebriante a cada linha,
quando passa a se aproximar mais de uma negociação do que de um flerte. Nada
mais apropriado também para o homem que afirma “um amigo é um presente para si
mesmo”, encarando uma relação de amizade literalmente como um objeto que se
pode comprar, usar e descartar. Com seus cabelos oleosos e uma fala que tenta com
esforço soar aconchegante, o ator constrói o protagonista como a figura
deslocada socialmente que é, e que tem em uma planta o seu maior elo sentimental.
Sim, Bloom é um psicopata, sua visão diferenciada do mundo é ideal para o
trabalho carniceiro em que se torna especialista, e por isso o seu sucesso no
ramo. O que diz muito sobre o que Gilroy pensa sobre esse tipo de “profissional”.
E o que deveria ser pensado também, o que é a grande discussão que
pertinentemente levanta O Abutre, que
no finalzinho do ano chega para conseguir espaço ainda na lista dos melhores
exemplares lançados em 2014.
NOTA: 10/10
Nenhum comentário:
Postar um comentário