sexta-feira, 27 de março de 2015

CINDERELA


Não há nada de novo nesta versão dirigida por Kenneth Branagh da gata borralheira. Nenhuma revisão moderna do conto ou da animação original da Disney. O roteiro não ousa e, portanto, não surpreende. Porém, dentro de sua condução extremamente correta, Cinderela agrada principalmente por representar uma revisita tecnicamente impecável a história da moça do sapatinho de cristal.

Óbvio, o roteiro de Chris Weitz também não ignora os tempos em que vivemos, e ao convocarem a donzela misteriosa para comparecer ao castelo, os guardas anunciam ao povo “...onde, se quiser, ela deverá se casar com o príncipe”. Assim como a mensagem final tem mais haver com aceitação da mulher como ele é, sem a maquiagem (literal e social), do que realmente com um sapatinho se encaixar ou não no pé de alguém. A vilã ser uma mulher também não ajudaria muito, mas Cate Blanchet tira a carapuça de carrasco conservador da Lady Tremaine do desenho e impõe uma que tem mais relação com suas própria vaidades e ambições, condenando a personagem e não um tipo.

Aliás, Blanchet é um dos dois grandes acertos de Cinderela; divertidamente má, a antagonista admite, sem deixar de esboçar um sorriso no rosto, um “sim”, quando lhe perguntam se ela está fazendo uma ameaça. Se a atriz tem uma queda para o over quando se trata de drama, é inegável que também não se iniba muito quando tem a liberdade de ser caricata, vide a sua Irina Spalko em Indiana Jones. Branagh, que normalmente tem um estilo marcante, aqui apenas uma vez torce o seu ângulo de filmagem, mantendo-se imperceptível atrás das câmeras no restante do tempo, enquanto outros antigos colaboradores seus fazem suas participações aqui e ali, como Helena Bonham Carter (esteve em Frankenstein de Mary Shelley, do diretor), Stellan Skarsgård (em Thor) e o compositor Patrick Doyle (em vários filme dele).

O segundo triunfo do longa-metragem, claro, é o design de produção, assinado por ninguém mais ninguém menos do que Dante Ferretti – três vezes vencedor merecido do Oscar na categoria – que estonteia com a grandiosidade e beleza de suas criações, do salão de festas até o sótão onde vive a protagonista, passando pela carruagem dourada. Se não estivéssemos recém no começo do ano, Ferretti seria a minha aposta para as principais premiações.


NOTA: 8/10

Um comentário:

  1. Eu me senti um pouco curta-metragem, acho que porque várias cenas foram tratados muito rápido. Vou ver agora na programação HBO porque realmente gostei muito. Os sapatos são incríveis e não mencionar o vestido.

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