segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

BIUTIFUL


TRAILER BIUTIFUL 


     

     Sair de uma sessão de Biutiful e não sentir uma certa futilidade em nossas rotinas não é normal. O filme é um belo exemplar de uma "tragédia grega", mas sem nunca ser um dramalhão meloso ou nos pedir que nos apiedemos de seus personagens, e sim nos inserindo em suas duras rotinas por uma duração de aproximadamente 145 minutos, dos quais é impossível sair sem ao menos se sentir tocado com a obra.

     O filme (Espanhol / Mexicano pra constar...) conta a história de Uxbal, um pai separado que vive com seus dois filhos Ana e Mateo em um bairro pobre da cidade. Durante o dia o protagonista lida com negócios ilegais para sobreviver, entre cuidar de um ponto de "camelôs" e fornecer mão-de-obra imigrante não legalizada. É no meio desta rotina que descobrimos junto ao personagem que este possui câncer de próstata e deverá morrer dentro de poucos meses. Ele começa a correr pra juntar dinheiro de todas as formas que pode (para poder deixar a vida organizada e sem dívidas para seus filhos), enquanto lida com a ex-mulher alcoólatra -que trabalha como prostituta- e um irmão trambiqueiro. Eu avisei que era uma tragédia grega! Mas isso não tira mérito nenhum do filme que aprofunda a história deste personagem que teme acima de tudo ser esquecido pelos filhos assim como ele esqueceu o próprio pai.



     Os cenários muito sujos e urbanos criam o clima de desânimo e depressão presentes durante toda a exibição junto a uma fotografia "nublada", cinzenta que finaliza o peso da atmosfera do filme. Brutalmente visual o filme não teme em nos mostrar aquele mundo em decadência onde vive Uxbal, aliado da crueza é o roteiro que leva o filme sempre por situações realistas e impactantes, algumas que fazem a espinha congelar (vide o terrível e cruel momento em um certo porão).
    Javier Bardem interpreta com raiva e angustia dosadas este difícil personagem que passa por inúmeros conflitos para conseguir assegurar a vida de seus filhos depois que ele partir, enquanto, aos poucos, percebemos que ele vai deixando sua rotina e vai se entregando mais a seu destino e a sua família. O personagem quer que seus filhos possam ver as sutilezas e inesperadas belezas que o mundo de repente pode oferecer, como um bando de pássaros voar como numa dança sobre o céu de uma cidade poluída, ou a simples neve branca que se acumula nas montanhas. Um mundo torto, porém bonito, assim como o título do filme.
     No fim, Biutiful é um filme sobre separações e as barreiras entre as pessoas e aquilo que as une ou não, sobre a simplicidade dura do mundo real e aquilo que podemos achar de bom nele, sobre propagação de um ser através da lembrança que é a única coisa nossa que fica.
     O diretor Alejandro González Iñárritu tem em seu currículo filmes como "Amores Brutos", "21 Gramas" e "Babel" (dos quais eu só vi os dois últimos), e leva este aqui por sua longa duração sem nunca deixar cair a peteca!


NOTA: 10/10

P.S. Bardem merecia um Oscar, mas este ano já tem dono....kkkk

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