terça-feira, 9 de agosto de 2011

SUPER 8

  

     Nostalgia. Ai está uma palavra que marca a vida de quase todo mundo em dado momento da vida. Sentir saudade de um tempo, de pessoas ou de situações não é nada incomum para o ser humano. As pessoas vivem tentando reprisar suas melhores lembranças, e não por acaso muitas delas são de sua infância, onde o mundo era mais simples ao seu olhar, onde diversão e aventura podiam ser encontradas ao virar a primeira esquina e seus amigos eram os melhores companheiros para explorar um mundo que existia bem de baixo do nariz dos adultos, mas que só você e eles podiam ver. Então não é para menos que filmes como Os Goonies, Conta Comigo e E.T. - o extraterrestre estejam hoje em dia no imaginário de tantas pessoas, que mesmo não tendo vivenciado as mesmas experiências dos personagens destes filmes, conhecem o valor de uma boa aventura ao lado dos seus amigos mais leais e, portanto, não vão deixar de identificar este espírito saudosista neste novo e maravilhoso longa de J.J. Abrams, que conta com um dedinho ou dois de Steven Spielberg.



     No verão de 1979 na pequena cidade de Lilian em Ohio, cinco garotos divertem-se filmando um filme caseiro de zumbis com uma câmera super 8. Certa noite filmando acompanhados de uma bela garota perto dos trilhos, o grupo presencia um terrível acidente de trem que logo descobrirão ser muito mais do que um mero acaso. Principalmente quando começam a ocorrer desaparecimentos na cidade junto a estranhos acontecimentos que ganham um tom mais grave com a misteriosa presença das forças armadas nas imediações do acidente. Assim o pequeno grupo de crianças decide investigar o mistério por trás dos eventos enquanto dão continuidade a gravação de seu pequeno filme.


     Não é preciso ser nenhum gênio para ver que este filme, embora dirigido e roteirizado por J.J. Abrams, tem a mão de Spielberg no meio, seja na produção do mesmo ou nas inspirações de Abrams, já que ele é claramente uma mistura entre Contatos Imediatos do terceiro grau com E.T.! Não que o cineasta faça um plágio dos filmes de Spielberg, pelo contrário, por mais que os elementos dos filmes se repitam aqui também, Abrams é original e competente ao captar apenas o clima, a tão cobiçada "magia" dos filmes do outro. E que magia! Abrams mantém o espectador colado na cadeira do primeiro ao último minuto do filme. 


     Dando ao seu público as informações de que precisa gradativamente e nunca de maneira óbvia, o diretor prefere as sutilezas para contar a história pregressa de seus personagens, como ao inserir no primeiro plano do longa uma placa destas comuns em locais de trabalho pesado, informando o número de dias sem acidentes ali, tendo sua contagem alterada de setecentos e tantos dias para um. Revelando assim, de modo claro e "limpo" o triste acontecimento que marca a infância do protagonista Joe (Joel Courtney). Logo em seguida Abrams se mostra eficaz ao mostrar ao seu público os sentimentos do garoto em relação à perda da mãe ao nos apresentar a casa de seu melhor amigo, Charles (Riley Griffiths), como um lugar caloroso, bem iluminado e cheio de pessoas que não só estão felizes, como também enfatizam o fato de que Joe é bem-vindo ali. O que vem a contrastar radicalmente com a casa do próprio menino, que escura e vazia, é habitada apenas por ele e o pai Jack (Kyle Chandler) um policial local que vive atormentado pela morte da esposa. Assim, mesmo que abuse desde os primeiros minutos nos reflexos luminosos que tanto adora, Abrams sabe conduzir cada momento de sua bela fotografia com delicadeza.


     Mas o cineasta corre um grave risco ao apostar a alma de seu filme no carisma de seis adolescentes desconhecidos, já que todo o mistério serve de maneira geral para levar este grupo em sua evolução e amadurecimento. Assim sendo, cabia a estas "crianças" levar o filme nas costas, representando-nos em tela, indo atrás das respostas e resolvendo seus próprios conflitos internos pelo caminho. E para a surpresa geral (ou não), o time de atores mirins mostra que, mesmo por fora da trama a união é necessária, e juntos, levam o filme não só de maneira convincente, mas com todo o carisma que J.J. podia ter pedido e um pouco mais. Riley Griffiths como o melhor amigo de Joe, Charles, é enérgico tanto na voz como na performance corporal, interpretando um aspirante a cineasta, ele não deixa de ser o que o próprio Abrams e até mesmo Spielberg eram quando crianças, meninos deslumbrados com o poder de registrar imagens e assim poder contar histórias, mesmo que a arrogância às vezes suba a sua cabeça, coisa que Griffiths sabe colocar de forma natural em seu personagem, tirando o estigma de que gordinhos só servem para alívio cômico. Ryan Lee vive o alucinado Carey que não perde a oportunidade explodir alguma coisa e por tanto sendo responsável pelos efeitos pirotécnicos do projeto do grupo, sendo este aqui sim, uma grande fonte de piadas. Gabriel Basso vive o galã em potencial Martin, que soturno ainda é responsável por interpretar o personagem Hathaway no filme dos meninos. O que tem menos destaque deles é o amigo pateta e medroso Zach Millis que tem pelo menos um bom momento ao ter de interpretar um figurante ao fundo de uma cena do curta.


     Embora todos sejam importantes em um grupo de crianças num filme como este, os protagonistas existem, e cabe a eles dar a palavra final no nível de emoção que sentiremos ao acompanhar a trajetória de todos os outros. E.T. tinha seu Elliot, It tinha seu Bill e Conta Comigo tinha seu Gordie. Super 8 tem Alice e Joe. Que ganham vida (e alma) nas peles de Elle Fanning e Joel Courtney. Fanning impressiona por sua capacidade de parecer uma garota eternamente afetada pela criação irregular em um lar de onde a mãe fugiu e onde o pai a despreza. A garota nos passa o cansaço de Alice, e sua repentina chama de esperança ao encontrar amigos. Também é carismática e toca o público com sua performance mais triste, que revela o quanto a garota sofre com a privação de amizades, mantendo olhares baixos e um rosto firme, sem nunca parecer antipática ao espectador, conquistando-o pela crível humanização da personagem. Mas o destaque do elenco vai para o ator novato Joel Courtney, que com seus braços sempre caídos ao lado do corpo e suas feições sutis consegue convencer o público da dor que o protagonista é obrigado a reprimir. Reparem em certa cena em um restaurante, quando Charles faz um comentário, ainda que inocente, sobre a mãe do garoto, Joel desvia os olhos recuperando a postura rapidamente. Sabendo ser carismático até demais, o garoto não precisa investir em gritos intermináveis para expressar o medo de Joe em certos momentos do longa. E tenho de admitir que se formaram uma ou duas lágrimas no canto dos meus olhos em uma tocante cena em que Joe confronta o pai que o proíbe de ver Alice. Assim, a performance do garoto, principalmente nas cenas em que divide com Fanning, é um deleite, ainda mais tendo em vista que nenhum deles tem a ajuda de um grande ator ou atriz em cena para diluir suas possíveis escorregadelas. Não que o elenco adulto seja ruim, só é comum. Kyle Chandler até que assume bem as rédeas do papel de Jack, que após o desaparecimento do Xerife é deixado na tarefa de liderar a população da pequena cidade em meio ao caos. Expressões sérias e olhares pesados marcam a interpretação do ator. Enquanto Noah Emmerich como o vilão da história, o Coronel Nelec só consegue não cair em caricaturas. 


     Tendo um competente elenco ao seu dispor, e sua capacidade de dirigir com muito ritmo um longa, Abrams só precisava contar com um bom roteiro. E este, que escrito por ele mesmo, se revela eficiente, ágil e ao mesmo tempo, delicado e paciente. Afinal encontra-se tempo no meio do filme para deixar o suposto romance entre Alice e Joe convincente, e até para gerar uma pontinha de ciúmes em um outro integrante do grupo. E durante a exibição descobrimos que o tal mistério, envolvendo o que parece ser uma criatura que escapou dos destroços do trem acidentado, é apenas um objeto do roteiro para forçar os personagens a desenvolver as relações entre si. E tudo se dá de maneira brilhantemente natural, Seja o interesse romântico dos protagonistas, ou nas relações pais e filhos entre Joe e Jack e Alice e seu pai ou nas discussões do grupo de amigos. Abrams sabe fazer os sentimentos nascerem e sumirem de forma realista e humana, surpreendendo o público de um blockbuster de verão. O diretor deixa seus planos em tela tempo suficiente para que possamos extrair deles o necessário. 


     Mas por mais que a direção, o roteiro e o elenco estejam de parabéns, Super 8 ainda é um filme pipoca de verão, e como tal é cheio de cenas de ação e conta com efeitos especiais incríveis. Destaque óbvio para a cena de grudar na poltrona onde presenciamos o já tão citado acidente de trem, que conta com belíssimos efeitos visuais e um som incrível, de ensurdecer. [POSSÍVEL SPOILER] O design da criatura, que mais uma vez inspirado em Spielberg o diretor prefere ocultar até o último segundo (na verdade nunca revelando-o totalmente) como em Tubarão, é eficaz e ainda lembra outras criaturas desenvolvidas pelo artista Martin Whist ao lado de Abrams. E devo dizer que foi um toque muito especial substituir os olhos frios e sem vida do bicho por olhos iguais aos humanos em um momento chave da trama. [FIM DO SPOILER] A reconstituição do cenário dos anos 70 também está de parabéns, construindo toda uma Lilian totalmente crível. E por fim a trilha de Michael Giacchino (outro colaborador de Abrams) é um presente aos ouvidos, já que nunca eclipsando as imagens com suas composições, o compositor consegue levar a trama como uma dança, levando muitos créditos nos minutos finais do longa, onde som e imagem juntam-se para criar o sentimento perfeito de encerramento.


     Corretamente dirigido, bem fotografado, roteirizado com paixão, tecnicamente bem realizado e contando com uma dinâmica invejável de seu elenco mirim, Super 8 é um filme que nos trás a nostalgia das aventuras e emoções da infância, dos confrontos físicos e psicológicos a que todos são submetidos em algum momento, e ainda é saudosista ao criar um filme tematicamente fora de seu tempo que funciona perfeitamente nas exigências do público atual. Uma verdadeira homenagem ao cinema pela diversão, pela emoção, e por que não? A Spielberg.

P.S. Fique para os créditos onde finalmente vemos o filme dos garotos concluído e editado, possuindo referências a George A. Romero criador dos zumbis como os conhecemos hoje. 
 P.S.[2] Este filme dentro do filme foi escrito e dirigido pelos próprios atores que interpretam o grupo de amigos. Toque genial de Abrams.


NOTA 10/10

3 comentários:

  1. Eu gostei muito do filme e da critica também.parabéns!
    E eu tenho que admitir que o Joel Courtney é muito lindo e fofo hahaha
    Parabéns o blog ta demais :D

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  2. esse filme me lembra querra dos mundos, ou to enganado ?? a fotografia é parecida pelo menos...
    bons tempos q tu tinha aquele grupo de amigos e aprontava muitas confusoes( sessao da tarde )
    quero ver esse filme ae... vo baxa, como eu sempre faço
    Bom texto yuri, mas ta cada vez maior teus textos.. esse ai me tiro o folego de tanto ler...

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  3. Menino travesso, não baixe o filme! vá assisti-lo no cinema, o som é incrível!
    cada vez mais tenho q falar kkkkk ;)

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