Em um dos Blockbusters mais esperados pelo
público este ano, encontramos um filme acessível, simples e muito divertido.
Pensar que o filme poderia ter uma trama mais elaborada não é errado, X-men Primeira Classe divertia tanto quanto fazia pensar,
porém, no que se trata deste Os
Vingadores, é compreensível a falta de profundidade em um filme que nunca
se propôs a tê-la.
Em uma época em que franquias como a de O Senhor dos Anéis de Peter Jackson, Batman de Christopher Nolan e Harry Potter de David Yates trouxeram ao público
mundos fantásticos cada vez mais sombrios e com os pés no chão, a figura
cartunesca de heróis em fantasias coloridas unidos ombro a ombro fazendo pose
contra vilões unidimensionais em um filme banhado por uma fotografia ensolarada
e acolhedora, soa no mínimo fora de seu tempo. E talvez isso seja um dos
grandes acertos do longa.
Ameaçada pelas maquinações de Loki (Tom
Hiddleston de volta como o vilão de Thor),
a SHIELD, corporação secreta comandada por Nick Fury (Samuel L. Jackson),
decide convocar um grupo de indivíduos já conhecidos por seus feitos para
protegerem a humanidade enquanto tentam achar o Tesseract, um cubo místico
dotado de poderes cósmicos (visto ao final de Capitão América) que será usado pelo vilão para trazer a terra um exército
dizimador. Assim juntam-se Thor (Chris Hemsworth), Tony Stark (Robert Downey
Jr.), Bruce Banner (Mark Ruffalo), Steve Rogers (Chris Evans), Natasha Romanoff
(Scarlett Johansson), Clint Barton (Jeremy Renner) e todos os seus alter egos
em uma missão que é a última esperança da raça humana.
Alguém disse com muita perspicácia "...É
a mesma trama de Transformers,
um monte de gente tentando achar um cubo cósmico, uns pra escravizar os humanos
e outros pra libertá-los". É, o roteiro escrito pelo próprio diretor Joss
Whedon não possui a mais original das tramas, porém acerta em cheio ao
desenvolver seus personagens e o interessante choque de egos que ocorre entre
os mesmos, sendo este, aliás, o ponto alto do filme. As linhas rápidas que saem
pela boca de personagens como Stark esbarram no moralismo antiquado de Rogers
que logo se equipara a lógica extra social de Thor, que por sua vez, se mostra
tão melancólico em seus diálogos quanto o atormentado Bruce Banner.
Banner, aliás, ganha aqui sua terceira
encarnação nos cinemas só na última década. Embora as duas anteriores não
tenham ganho filmes muito bons, contavam ainda assim com as personas de Eric
Bana e Edward Norton que passavam ao doutor "amaldiçoado" um bom peso
dramático no conflito que o personagem possui eternamente com o grandalhão
verde dentro de si. Já aqui, Ruffalo concede uma naturalidade muito maior a
este drama, conseguindo abrir espaço para um Banner mais leve, divertido e,
portanto, mais adequado ao longa. Já o outro destaque vai para Scarlett
Johansson, cuja personagem, a agente Romanoff, mais conhecida pela alcunha de
Viúva Negra, ganha (surpreendentemente) bastante espaço no filme, tendo em
vista que ela aparecera apenas como um rostinho bonito em Homem de Ferro 2 e que ninguém esperava que fizesse
mais que isso aqui também. Assim, descobrimos um pouco do passado da agente e sua
relação com (o infelizmente pouco explorado) Clint Barton, ou, Gavião Arqueiro,
e suas fraquezas emocionais ligadas aos seus sentimentos por este.
Assim é uma pena anunciar que Tom Hiddleston,
que se saíra tão bem como Loki anteriormente, aqui se limite a parecer feliz
seja com o que for. Mas ainda sim é possível ver vislumbres de sua boa
performance em cenas como a do Museu onde após torturar divertidamente um homem
em meio à multidão, discursa teatralmente como um bom vilão de
quadrinhos unidimensional deve ser, ou na interessante e intensa cena
que divide com Johansson em sua "jaula". Já o resto do elenco se saí
tão bem quanto em seus filmes solos. Downey Jr. encarna novamente sua persona
já carimbada e amada pelo público do sarcástico gênio arrogante. Hemsworth dá a
Thor um ar mais cabisbaixo digno do homem apaixonado que aqui é proibido de
encontrar aquela que ama. E Evans, bem, ainda convence como o bom moço de
Capitão América. Mas méritos sejam dados a Samuel L. Jackson que embora não
saia do seu lugar comum de atuação, ganha tempo em tela para criar algum
carisma como o seu mal-humorado Nick Fury ("O sol está nascendo? Então
ponha este negócio para a esquerda!") que até ganha seu momento
glorificado ao receber de Whedon um belo "motherfucker" para gritar.
Mas é Clark Gregg que tem que ser citado, seu divertido Agente Coulson (criado especialmente
para os filmes) continua divertidíssimo e também ganha seu destaque
na trama como parte dos tais Vingadores.
E é notável a paixão com que Whedon conduz seu
filme, criando planos ostensivos para seus personagens (contra-plongées aos
montes), e tomadas épicas que afirmam e sublinham a união do grupo quando esta
ocorre, como no incrível plano sequência que acompanha cada herói em seu ponto
de ação em meio a um cenário de batalha. Plano esse que só é possível graças ao
uso impecável dos efeitos digitais que desde a armadura de Tony Stark até o
gigante porta-aviões voador invisível (galhofa não é? Pois essa é mesmo a
proposta!) convencem sem nunca ficarem acima dos personagens. Destaque para
o Hulk que de todas as versões até então é a única que me convenceu de verdade.
E para finalizar o divertimento, Alan Silvestri cria uma trilha que se não é
memorável, ao menos cumpre seu papel ao comentar e empolgar a trama.
E Whedon sabe que está lidando com um
Blockbuster para a família, assim, as piadinhas são inevitáveis. Mas a surpresa é ver o quão bem elas se encaixam na trama, sejam nas referências,
"Shakespeare no parque", "Claro Legolas!" ou nas gags
visuais (todas as cenas do Hulk). Trazendo assim um clima divertido e muito
leve para todo o filme. AH! OK! Isso tira todo o peso da tragédia que ocorre no
clímax onde obviamente milhares de pessoas morreram? Sim! Isso tira o clima de
uma real ameaça aos protagonistas? Sim! Mas não é isso que o filme se propõe a
ser? Um filme tanto para os nerds de plantão quanto para as famílias
desavisadas do que veio antes? SIM! Então relaxem meus caros puristas! Relaxem
meus queridos Godardianos! Isso não é pra ser a o novo filme de Orson Welles e
nem pretende atingir a mesma carga dramática de Batman! É um filme para
se divertir, pra ficar ligado nos easter eggs, pros fãs terem orgasmos
cerebrais vendo seus personagens favoritos lutando juntos em tela, para rir e
se divertir com aqueles personagens impossíveis em situações absurdas! E nesse
quesito Whedon entrega um filme pipocão de primeira! Pois não só a interação de
seus personagens é interessante, mas também o carisma que todos esbanjam. E num
filme onde o elenco é amado pelo grande público que o faz vibrar a cada nova
cena de ação e rir a cada nova tirada, é um filme que cumpre seu papel como um produto de mercado e que não se propõe a ser muito mais que isso.
É o melhor filme adaptado dos quadrinhos? Não,
alguém lembra de Batman - o Cavaleiro das Trevas? Watchmen? Sin City? X-men
Primeira Classe? Então, falhas a parte (o filme não é perfeito), Os
Vingadores tem êxito em quase tudo que quer alcançar, e merece ainda mais
pontos por ser o sexto filme de uma franquia que se iniciou em 2008 com Homem de Ferro e que aqui chega ligando
impecavelmente todos os arcos em um único filme que se propõe a divertir e diverte
sem preconceitos!
PS - Cena durante os Créditos para os fãs mais Hardcore!
MANEIRO
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