terça-feira, 4 de dezembro de 2012

A ORIGEM DOS GUARDIÕES


     Recentemente, a animação Hotel Transilvânia tentou reunir os maiores ícones dos filmes de Terror B em uma animação que falhou miseravelmente ao trazer personagens consagrados como o Drácula, o Lobisomem, Frankenstein, a Múmia e até o Homem Invisível para uma trama rasa e repleta de piadas bobas e óbvias. Pois, vindo com um conceito muito parecido, o de unir uma série de figuras já intrínsecas nas culturas mundiais, é que este A Origem dos Guardiões surge como uma agradável, divertida e também (veja só) melancólica aventura, povoada por personagens que, apesar de carismáticos, possuem uma falta de profundidade notável. Já iniciando em uma cena onde vemos o corpo de um garoto recém afogado em um lago congelado voltando a vida como um ser sobre-humano, o longa não demora a apresentar seus famosos personagens e suas relações, e mesmo cometendo alguns tropeços no ritmo da construção de catarses a animação acaba se sustentando graças a esta galeria de figuras que contam com a vantagem de já estarem no imaginário popular.



     O jovem Jack Frost (voz de Chris Pine), que controla as nevascas e tudo relacionado ao frio, é convocado para se juntar ao grupo de Guardiões do espírito infantil quando um velho inimigo, o Bicho Papão (Jude Law), resolve voltar para acabar com a inocência mundial das crianças. Assim, o garoto, ao lado de North Papai Noel (Alec Baldwin), Tooth, a Fada do dente (Ilsa Fisher), Bunny o Coelho da Páscoa (Hugh Jackman) e Sandy, o Sandman (que sendo mudo, não possui um dublador) terá de enfrentar seus piores medos para derrotar o poderoso inimigo.


     O grande problema de A Origem dos Guardiões reside em sua construção dramática, que pretensiosa, assume que o público se identificará facilmente com as famosas figuras em tela, o que acaba se mostrando um erro, já que por mais conhecidos e batidos que sejam os personagens que povoam o universo do longa, estes não deixam de serem revisões únicas feitas especialmente para este filme e que, portanto, devem ser apresentados propriamente como em qualquer outra trama. Assim, o protagonista Jack Frost é o único com quem realmente nos identificamos e quem passamos a conhecer melhor, deixando os apenas divertidos North, Bunny, Tooth e Sandy mais emocionalmente distantes do espectador, fazendo com que o momento onde a morte chega para um deles, mal pese no peito.


     Mas se por um lado esda falta de uma crescente dramática atrapalha e faz soar tola a sequência onde crianças se unem para ajudar os guardiões na batalha final, por outro, a sutileza com que o diretor Peter Ramsey trabalha uma bela cena onde Jack Frost tenta se comunicar com um garotinho através de desenhos no vidro de uma janela é tocante e sensível, e é ainda mais interessante quando se fica sabendo que Ramsey é um famoso desenhista que criou storyboards para inúmeros filmes, tais quais Clube da Luta, A.I., O Quarto do Pânico, etc. Claro que a trilha contida de Alexandre Desplat ajuda a criar certa atmosfera melancólica que dá a esta cena em especial um peso extra.


      Já o design de produção se mostra extremamente irregular, apesar da boa qualidade da animação, fazendo com que o vilão do filme, por exemplo, surja nada memorável em sua concepção, assim como os engraçadinhos duendes de North (que soam, aliás, como uma versão menos superexplorada dos Minions de Meu Malvado Favorito). Mas são pequenos detalhes que salvam da condenação a arte do longa, que vez ou outra nos presenteia com o pequenos detalhes imaginativos, como as manchas nos pelos de Bunny, que lembram tatuagens tribais, Sandy e seu corpo que parece ser formado de areia dourada, ou mesmo a velha estrutura de uma cama posta sobre a entrada do covil do Bicho Papão, traduzindo com um toque de criatividade o conceito do monstro morando em baixo da cama.


     Sendo prejudicado por uma péssima dublagem brasileira que sem timing algum, retira em vários momentos a atenção da trama, o longa possuí ao menos um bom uso do 3D, que explora com habilidade os amplos cenários. Assim, divertido, mas pouco carismático, A Origem dos Guardiões termina com uma promessa de volta. Uma continuação que eu ficaria feliz em assistir. 

NOTA: 7/10

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