sexta-feira, 15 de março de 2013

A BUSCA


     Uma câmera de mão inquieta, mostrando um homem desorientado, que abre este A Busca, reflete perfeitamente a desestabilização daquele pai sem esperanças de achar seu filho fugido. Em contrapartida, em uma bela contra rima, uma câmera estável em um quadro bem formado, que mostra três homens que representam três gerações de uma família enfim se conciliando, serve de fechamento para o mesmo filme. E embora possua um tropeço que outro em sua jornada, o longa é eficaz em nos levar do seu ponto inicial até seu fim idealizando o humano dentro de cada ser presente em sua narrativa. E sem nunca deixar sua trama parar, prioriza a introspecção de cada uma destas figuras, ainda que se concentre louvavelmente na bela interpretação de Wagner Moura.


     Theo (Wagner Moura) separou-se de Branca (Mariana Lima), e juntos eles enfrentam a rebeldia do filho Pedro (Brás Antunes) que recusa-se a cumprir o planejamento de vida que os pais lhe fizeram. Certo dia, o menino, alegando ir passar o final de semana na casa de uma amigo, foge. É quando o casal começa uma busca pelo garoto, mas não tarda para que Theo veja-se sozinho na estrada atrás de seu filho, passando pelas mais distintas paisagens e figuras em sua jornada.


     O boné de um barqueiro que passa pelo caminho de Theo tem escrito nele "New Zeland", remetendo diretamente o espectador ao intercâmbio para aquele país planejado pelo protagonista para seu filho, tornando-se um elemento discreto (e justamente por isso divertido de ser notado) que se percebido, fazia entender o porque do garoto interessar-se em pegar aquele barco, e se não o fosse, em nada atrapalharia a experiência proporcionada pelo longa. Mas ao abandonar a discrição e fazer os personagens falarem sobre isso, o diretor e roteirista Luciano Moura também torna a descoberta feita pelo espectador menos especial e até frustrante. É um tropeço pequeno, ínfimo, mas que demonstra a falta de segurança do diretor quanto a sua trama, que se por um lado é enquadrada com um bom controle da linguagem cinematográfica, por outro se perde em furos de roteiro e ao enfatizar elementos como este mesmo do boné.


     Por exemplo, o diretor é eficiente ao introduzir o trio familiar em um ambiente frio e escuro, iluminado por uma luz solar rala (a direção de fotografia do sempre ótimo Adrian Teijido, discuto adiante) aonde reserva um enquadramento para cada personagem, ressaltando assim a distância e o isolamento de cada dentro daquele núcleo de pessoas. Porém, após desenvolver com cuidado a esposa Branca, esquece-a em um canto do roteiro ligada no piloto automático, quando lhe concede apenas o direito de repetir exaustivamente pelo celular "Acha ele pra mim" para o marido. Em outro momento, os realizadores colocam Pedro para vestir uma camiseta onde está escrito "Na dúvida, desista", que não só soa como um elemento repetitivo em comparação com o boné que surge mais tarde na trama, como também serve como um tapa na cara do público lembrando "Esse é o menino que foge". Isso quando a trama não exige uma dose de boa vontade de seu espectador, tentando empurrar a cena em que o menino adota um cavalo ilegalmente, ou o fato de que, após 48 horas desaparecido, nem Theo e nem Branca pensem em chamar a polícia ou qualquer um que seja para ajudar.


     Mas tropeços a parte, Luciano Moura demonstra ter total controle de sua linguagem, e dos enquadramentos fechados e de baixíssima profundidade de campo que denotam a angústia de Theo, que assim como nós não consegue ver muito além de onde ele mesmo está, até aqueles que iniciam e fecham o filme (que citei no início do texto), todo o longa é conduzido com elegância e cuidado plástico precioso, afinal, Adrian Teijido, de CapituA Pera do ReinoAntônia (o filme) e O Palhaço é o responsável pela direção de fotografia, e novamente entrega um trabalho exemplar. Se em O Palhaço, por exemplo, o fotógrafo investia numa palheta que cobria o filme num tom de sépia, que remetia a catinga e ao sertão onde o filme se passava, aqui, as cores frias e luzes solares matinais pintam o planos do longa com maestria, transmitindo com eficiência a solidão e o desespero de Theo. 


     Já por parte de seu elenco, A Busca se mantém equilibrado. Enquanto Mariana Lima se mostra durante boa parte do longa limitada pelo roteiro e o garoto Brás Antunes cumpra bem, mas sem destaque, suas poucas cenas, é Wagner Moura quem acertadamente se destaca, investindo num Theo imperativo e racional, que aos poucos se entrega a uma jornada espontânea e emocional. Contracenando otimamente, aliás, em uma ponta, com Lima Duarte, umas das muitas figuras que o pai encontra em seu caminho. E já que toquei nos personagens, outro acerto do longa reside nestas estranhas personas com quem Theo divide algumas cenas. Do idoso cardíaco a quem ele pede um celular emprestado, passando pela menina hippie e uma matriarca de uma família muito pobre ("o Beto é o Beto" diz ela em uma constatação óbvia e não mesnos genial) até o homem solitário e silencioso que o ajuda após ser atropelado, o personagem cruza-se com inúmeras figuras que, por possuírem claramente passados e rotinas interessantes, nunca soam como atrasos na trama para alongá-la, e sim como complementos interessantes deste pequeno e estranho universo criado pelo filme e desbravado por seu protagonista.



NOTA: 8/10


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