quarta-feira, 13 de março de 2013

OZ: MÁGICO E PODEROSO



     O Mágico de Oz, de 1939, era um filme inocente, ingênuo e bobo... E, portanto, servia perfeitamente a um público que nos últimos trinta anos havia enfrentado uma Guerra Mundial e uma severa depressão financeira em seu país, e que nos anos seguintes sofreriam um dos piores atentados de sua História em Pearl Harbor, o que os levariam a entrar em outra grande guerra. Décadas estas que não afetaram apenas aos Estados Unidos e tiveram repercussão mundial, fazendo de filmes como este e o próprio E o Vento Levou (do mesmo ano), exemplares cinematográficos escapistas adorados por espectadores alvejados constantemente com desventuras de escala mundial. A superação de problemas impossíveis, o renascimento de famílias das cinzas da pobreza e uma heroína disposta a buscar o "caminho de volta para casa" (claro, estamos falando de uma época pré-feminismo, então sempre teremos um bom canastrão para dar aquela ajudinha no final...) eram temas que serviam a necessidade de uma geração inteira, e por isso, seu sucesso é mais do que justificado. Hoje, em tempos de relativa paz, Oz: Mágico e Poderoso surge como pouco mais do que um divertido entretenimento, que respeitando e homenageando o seu antecessor (com incríveis 74 anos de diferença), serve apenas a si mesmo, tratando de contar, sem ousar ou distorcer, o prelúdio da famosa terra de Oz antes da chegada de Dorothy.


     Oz (James Franco) é um mágico caloteiro de um circo itinerante. Um dia, fugindo de uma briga, sobe em um balão de ar-quente e é sugado por um tornado, que o leva magicamente para uma terra encantada, cheia de bruxas, animais selvagens, pessoas de porcelana e macacos voadores. Coroado rei da Cidade de Esmeraldas pelas irmãs bruxas Evanora (Rachel Weisz) e Theodora (Mila Kunis), Oz tem a missão de destruir Glinda (Michelle Williams), uma bruxa má dona de um exército de babuínos voadores que ameaça aquelas terras. Assim, junto com Finley (Zach Braff) e a menina de porcelana (Joey King), o mágico farsante embarca em uma jornada para destruir a varinha da vilã.


     Não é surpresa alguma que o principal atrativo de Oz seja o seu visual repleto de efeitos digitais, ainda que o macaco Finley vez ou outra represente um tropeço na qualidade dos mesmos. E embora nunca alcance a identidade visual que Alice no País das Maravilhas esbanja (a versão de Tim Burton) ou mesmo o preciosismo técnico e criativo de Avatar, o mundo também feito em CGI aqui é convincente, colorido, sombrio e também inventivo. Plantas que formam uma orquestra, uma geografia impossível, uma cidade inteiramente feita de objetos de porcelana, um cemitério expressionista, fadas da água e trepadeiras coloridas são alguns dos destaques da composição de cena e design de produção do longa, que ainda conta com uma versão estonteante e totalmente revitalizada da Cidade de Esmeraldas. Junto com isso, os belos figurinos enchem os diversificados habitantes de lá com cores básicas e saturadas, vestindo também com elegância notável Mila Kunis, Michelle Williams e principalmente Rachel Weisz, que surge belíssima em tons escuros de verde como Evanora.


     Aliás, descobrir como os elementos irão se ajustar como os conhecemos em O Mágico de Oz é um dos maiores divertimentos que o roteiro proporciona ao seu espectador. Assim, descobrir a origem da Bruxa má do Oeste e de sua estranha aparência, da fumaça holográfica de Oz e até mesmo do balão visto ao final do longa de 1939 torna-se uma busca que certas vezes se sobrepõe a própria trama. E mesmo quando não está preparando o terreno para o longa original, Oz constantemente se preocupa em fazer pequenas homenagens, como os cavalos coloridos que passam discretamente ao fundo de um plano, os espantalhos usados em uma cilada e um leão envolvido em uma pequena situação.


     Mas a melhor e a mais inteligente referência que o longa concebe, é quando o diretor Sam Raimi (cuja sempre notável direção passa quase despercebida aqui) resolve iniciar seu longa num preto e branco puxado para um sépia e numa razão de aspecto quadrada que remetem diretamente ao clássico. E se lá em 39, a passagem de Dorothy de dentro da casa destruída e monocromática para dentro de um jardim belo e colorido fazia a transição entre os dois mundos de maneira criativa e eficaz, aqui, Raimi escolhe além de colorir sua palheta fotográfica, mudar sutilmente sua razão de aspecto para um formato Wide enquanto a câmera abandona o tornado que trouxe Oz e resolve acompanhar sua entrada naquela terra encantada. E tantas referências devem ser reconhecidas, tendo em vista que os direitos autorias do longa de 39 não se encontram nas mãos da Disney, e que a produtora somente pode permear a estética de seu original. Portanto, os sapatinhos de rubi por exemplo, não puderam ser incluídos, tendo em vista que foram uma criação do longa anterior.


     Uma pena, então, é ver o diretor Sam Raimi contido, se dando ao luxo de empregar um ou dois zooms rápidos em planos oblíquos para poder dizer que foi mesmo ele quem assumiu o controle da câmera, quase nunca criando algo memorável, inspirado ou que relembre seu estilo saído dos filmes de horror tipo B que tanto marcaram ótimos exemplares como A Morte do Demônio, Arrasta-me Para o Inferno e até mesmo sua passagem pela trilogia Homem-Aranha. Um plano sequência, auxiliado por toneladas de efeitos digitais, em que acompanhamos a chegada de Oz a um lago "musical", é o momento em que a direção mais chama a atenção, e mesmo assim, em nada remete a qualquer coisa que o diretor já tenha feito antes. E como o comando dos atores também nunca foi uma marca de Raimi, aqui o elenco faz o que sabe fazer, assim enquanto Franco claramente diverte-se no papel de Oz, Michelle Williams se contenta em empregar uma áurea etérea a Glinda, tornando a figura da boa bruxa mais em um ponto tedioso em tela do que realmente em uma alma bondosa. Já Mila Kunis, entregue ao overacting, se encaixa perfeitamente no universo absurdo apresentado pelo longa, fazendo uma dupla equilibrada com Rachel Weisz que prefere construir Evanora com uma maldade calma e indiferente, que claro, tem seus estouros de raiva, mas que sempre se preocupa em manter certa fragilidade na compostura da personagem (o que também a torna a persona mais interessante da trama).


     É claro que este Oz: Mágico e Poderoso não alcançará a importância do clássico de mais de setenta anos de idade, mas serve, sem ousar ou se comprometer, como uma bela lembrança de que aquele longa existe e ainda pode ser revisitado nos dias de hoje com o devido olhar contextual. 


NOTA: 8/10


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