quarta-feira, 11 de setembro de 2013

RUSH - NO LIMITE DA EMOÇÃO



     Ainda que tenha realizado bons trabalhos no passado, tais como Apollo 13 e Uma Mente Brilhante (entre os mais conhecidos), o diretor Ron Howard nunca possuiu uma identidade visual bem estabelecida, e na maioria das vezes a qualidade de seus filmes está diretamente ligada aos roteiristas que os escrevem. Assim, é até um alívio ver o nome de Peter Morgan nos créditos do filme, já que seu trabalho anterior junto ao diretor foi o ótimo Frost / Nixon. Aliás, escrever bons roteiros baseados em fatos reais parece estar se tornando um tipo de especialização para Morgan, que no passado também escreveu os roteiros de O Último Rei da Escócia e A Rainha. Porém, conforme avançamos na trama de Rush, descobrimos que desta vez Howard, sim, apresenta certa estilização visual que em meio a maioria de seus trabalhos se destaca através de planos inventivos e de uma montagem frenética e acertada. E é justamente no roteiro que acaba residindo o elo mais fraco do projeto, já que o texto de Morgan parece ter preguiça de começar o longa, de aprofundar seus personagens, e por fim, de terminar o filme.


     O longa acompanha a famosa história de rivalidade dos pilotos Niki Lauda (Daniel Brühl) e James Hunt (Chris Hemsworth) através dos anos, passando pelo acidente quase fatal do primeiro e pelos títulos mundiais disputados pelos dois. No meio disso, conhecemos seus interesses românticos interpretados por Olivia Wilde e Alexandra Maria Lara, ainda que isso represente a parte mais desinteressante de suas trajetórias. Na verdade, nem mesmo as corridas são o ponto alto do filme (e sim, as cenas que acompanham as disputas são ótimas, chego nelas num segundo), sendo este cargo ocupado pelos embates entre Hunt e Lauda, que dividem diálogos cheios de personalidade.


     Por outro lado, ambos os protagonistas permanecem criaturas bidimensionais para o espectador. Thor... Opa! Digo, Hunt, é um beberrão carismático, enquanto Lauda é o certinho antipático. Hemsworth não tem problema algum ao encarnar o piloto rebelde, também não fugindo muito da persona que seu deus nórdico estabeleceu para a carreira do ator. Já Brühl cativa com trejeitos e locuções elaboradas, tudo muito estudado e belo de se ver, o que já faz do ator um dos meus favoritos para qualquer indicação na temporada de prêmios. Uma pena que o texto não possibilite maiores desenvolvimentos individuais para cada um deles, se focando mesmo em suas interações, algo que também é crédito da ótima química entre a dupla. Infelizmente, a falta de profundidade dessas figuras não é o único tropeço do roteiro de Peter Morgan, que aposta em uma narração em off despropositada para abrir o longa, um conceito que ele abandona momentos depois só para retomá-la ao fim do longa, onde claramente se nota uma certa falta de vontade, aí tanto do roteirista quanto de Howard e de sua montagem, que terminam o filme com uma sequência explicativa sobre o que houve com cada um dos nosso heróis, postergando um desfecho que já havia encontrado seu ponto perfeito na despedida de Hunt e Lauda no aeroporto momentos antes.


     Uma escolha equivocada que não reflete o trabalho do diretor e dos montadores Daniel P. Hanley e Mike Hill durante o resto da película. Pelo contrário, na maior parte do tempo o cineasta investe em planos inventivos, como os constantes takes feitos nos cantos das curvas nas pistas de corrida, bem próximos ao chão e com baixíssima profundidade de campo, que ao colocar o espectador tão próximo da velocidade dos veículos que passam raspando pela lateral do quadro, ajudam a estabelecer com eficiência a periculosidade envolvida no esporte. Em outros momentos a câmera acompanha as corridas de ângulos que só são possíveis graças a bons efeitos práticos e digitais, e o meio tempo preenche o arco de Hunt com planos inclinados e outros muito próximos de seu rosto, que ajudam a traduzir a instabilidade e a inconstância do personagem, já adotando uma lógica mais "quadrada" e fria para Lauda, cujo sofrimento em meio a uma limpeza pulmonar ou a análise sobre a terrível morte de um piloto, Howard nos obriga a assistir em planos estáveis, tudo em uma fotografia cinzenta e descolorida - aliás, o realizador se mostra muito mais cru e gráfico em sua condução do que normalmente, assim, um corpo estraçalhado, fraturas expostas e queimaduras gravíssimas não são imagens das quais o cineasta nos poupe. Isso tudo aliado à boa montagem, que coloca letreiros a todo segundo na tela para identificar os locais e o tempo em que estamos na trama, adicionando um ritmo frenético às corridas e saltando abruptamente de uma simples cantada entre dois personagens para o seu casamento muitos meses depois, apenas no intuito de fazer uma piada com o corte. Que funciona.


     Já o sempre ótimo HansZimmer se mostra contido aqui, o que é incomum, deixando suas composições se revelarem mais perto do clímax, quando o filme parece tratar com alguma reverência o Grande Prêmio do Japão. Uma corrida que acaba se mostrando não tão impactante quanto os efeitos que faz surtir nos protagonistas. O que poderia descrever praticamente o projeto todo, que realmente tem sua força nas figuras de James Hunt e Niki Lauda, e na sua divertida rivalidade, que só fica melhor tendo como capa a direção inspirada de Ron Howard e como plano de fundo as emocionantes cenas das corridas de Fórmula 1.


NOTA: 8/10

PS - O filme também faz um uso interessante de imagens de arquivo, e o acidente de Lauda, por exemplo, é noticiado pela televisão dentro do filme usando a gravação real do ocorrido.



      

Nenhum comentário:

Postar um comentário