O longa acompanha a
famosa história de rivalidade dos pilotos Niki Lauda (Daniel Brühl) e James
Hunt (Chris Hemsworth) através dos anos, passando pelo acidente quase fatal do
primeiro e pelos títulos mundiais disputados pelos dois. No meio disso, conhecemos
seus interesses românticos interpretados por Olivia Wilde e Alexandra Maria
Lara, ainda que isso represente a parte mais desinteressante de suas
trajetórias. Na verdade, nem mesmo as corridas são o ponto alto do filme (e
sim, as cenas que acompanham as disputas são ótimas, chego nelas num segundo),
sendo este cargo ocupado pelos embates entre Hunt e Lauda, que dividem diálogos
cheios de personalidade.
Por outro lado, ambos
os protagonistas permanecem criaturas bidimensionais para o espectador. Thor...
Opa! Digo, Hunt, é um beberrão carismático, enquanto Lauda é o certinho
antipático. Hemsworth não tem problema algum ao encarnar o piloto rebelde,
também não fugindo muito da persona que seu deus nórdico estabeleceu para a
carreira do ator. Já Brühl cativa com trejeitos e locuções elaboradas, tudo
muito estudado e belo de se ver, o que já faz do ator um dos meus favoritos
para qualquer indicação na temporada de prêmios. Uma pena que o texto não
possibilite maiores desenvolvimentos individuais para cada um deles, se focando
mesmo em suas interações, algo que também é crédito da ótima química entre a
dupla. Infelizmente, a falta de profundidade dessas figuras não é o único tropeço do roteiro de Peter Morgan, que
aposta em uma narração em off despropositada para abrir o longa, um conceito
que ele abandona momentos depois só para retomá-la ao fim do longa, onde
claramente se nota uma certa falta de vontade, aí tanto do roteirista quanto de
Howard e de sua montagem, que terminam o filme com uma sequência explicativa
sobre o que houve com cada um dos nosso heróis, postergando um desfecho que já
havia encontrado seu ponto perfeito na despedida de Hunt e Lauda no aeroporto momentos
antes.
Uma escolha equivocada
que não reflete o trabalho do diretor e dos montadores Daniel P. Hanley e Mike
Hill durante o resto da película. Pelo contrário, na maior parte do tempo o
cineasta investe em planos inventivos, como os constantes takes feitos nos
cantos das curvas nas pistas de corrida, bem próximos ao chão e com baixíssima
profundidade de campo, que ao colocar o espectador tão próximo da velocidade
dos veículos que passam raspando pela lateral do quadro, ajudam a estabelecer
com eficiência a periculosidade envolvida no esporte. Em outros momentos a
câmera acompanha as corridas de ângulos que só são possíveis graças a bons
efeitos práticos e digitais, e o meio tempo preenche o arco de Hunt com
planos inclinados e outros muito próximos de seu rosto, que ajudam a traduzir a
instabilidade e a inconstância do personagem, já adotando uma lógica mais
"quadrada" e fria para Lauda, cujo sofrimento em meio a uma limpeza
pulmonar ou a análise sobre a terrível morte de um piloto, Howard nos obriga a
assistir em planos estáveis, tudo em uma fotografia cinzenta e descolorida
- aliás, o realizador se mostra muito mais cru e gráfico em sua condução do que
normalmente, assim, um corpo estraçalhado, fraturas expostas e queimaduras
gravíssimas não são imagens das quais o cineasta nos poupe. Isso tudo aliado à boa
montagem, que coloca letreiros a todo segundo na tela para identificar os
locais e o tempo em que estamos na trama, adicionando um ritmo frenético às
corridas e saltando abruptamente de uma simples cantada entre dois
personagens para o seu casamento muitos meses depois, apenas no intuito de
fazer uma piada com o corte. Que funciona.
Já o sempre ótimo HansZimmer se mostra contido aqui, o que é incomum, deixando suas composições se
revelarem mais perto do clímax, quando o filme parece tratar com alguma
reverência o Grande Prêmio do Japão. Uma corrida que acaba se mostrando não tão
impactante quanto os efeitos que faz surtir nos protagonistas. O que poderia
descrever praticamente o projeto todo, que realmente tem sua força nas figuras
de James Hunt e Niki Lauda, e na sua divertida rivalidade, que só fica melhor
tendo como capa a direção inspirada de Ron Howard e como plano de fundo as
emocionantes cenas das corridas de Fórmula 1.
NOTA: 8/10
PS - O filme também faz um uso interessante de imagens de arquivo, e o acidente de Lauda, por exemplo, é noticiado pela televisão dentro do filme usando a gravação real do ocorrido.
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