Pois sim, O Juiz é um melodrama
pensado para comover o espectador que, em prantos, sairá da sala com a
impressão de ter assistido a um profundo drama familiar. Mais ou menos como era
o caso do recente e aborrecido Álbum de
Família, que lá confundia “ser triste” com “ser complexo”. O que torna O Juiz diferente daquele projeto
protagonizado por Meryl Streep é que, aqui sim, apesar dos maniqueísmos
desnudos de que o roteiro usa para atingir seu púbico, o filme de fato é
eficiente em ser tocante e, ao menos, sóbrio, ainda que tente com afinco se
sabotar.
Diretor de carreira insípida
até o momento, é provável que este David Dobkin encontre em O Juiz o seu trabalho mais regular. E me
pergunto se é apenas coincidência ou realmente houve alguma inspiração na
abertura do documentário nacional Santiago
de João Moreira Salles quando o cineasta decide abrir seu filme com objetos
mostrados individualmente – em uma paleta quase monocromática - e que mais
tarde descobriremos serem pequenos resumos dos personagens que os possuem. Mas
ao mesmo tempo em que tem estas poéticas e boas ideias, que geram uma dramática
e boa cena numa banheira mais tarde, Dobkin também é o cara que perde não
apenas uma, mas ao menos três chances de terminar seu filme mais cedo e
de maneira muito mais poderosa do que o plano que acaba escolhendo para isso. O que faz do fechamento do projeto, aliás, a prova de que o diretor parece ainda não
ter compreendido que economia também é poder.
Mas ao invés de sugerir, O Juiz muitas vezes prefere esfregar na
fuça do espectador toda a sua “carga dramática”. Acontece que conta a história
de um advogado bem sucedido de Chicago, Hank Palmer (Robert Downey Jr.), que
com a morte da mãe é obrigado a comparecer a cidadezinha em que cresceu e onde o
pai, Joseph Palmer (Robert Duvall), com quem não se dá bem, trabalha como juiz e é visto com respeito por todos. Porém, quando esse último é acusado de homicídio,
o filho se vê ficando no lugarejo para tentar ajudá-lo, ao passo em que tentam
resolver todos os anos de mágoas e brigas.
Neste processo, surge uma
sequência durante uma viagem de carro em que Hank, seus dois irmãos e Joseph discutem um antigo acidente. Sendo importante que entendamos este acontecido, é
óbvio que ele precisava ser esclarecido, mas soa apenas tolo quando o filme faz
isso colocando os personagens que já conhecem a história contado-a para...
Quem!? Eles não conhecem a história!?
Então, a não ser que trate-se de um exercício metalinguístico onde a quebra da
quarta parede se dá com uma sutileza incrível, é simplesmente um recurso
absurdamente tolo e implausível. Mas sutileza definitivamente não parece ser a
onda de Dobkin; para a briga final entre pai e filho, é concebida literalmente
uma tempestade, que de outra maneira não influencia em mais nada a trama, está lá para contextualizar a fúria de ambos, em uma espécie de exercício de
ultra romantismo praticado apenas nesse segmento do filme.
A trilha é outra que não ajuda em
nada. Recheadas de acordes bobinhos e ingênuos, as composições de Thomas Newman
buscam claramente conduzir o espectador a certos sentimentos, como se fossemos
todos incapazes de entender o básico aqui deste lado da tela. Situação triste:
melodia melancólica. Situação divertida: melodia animada. Situação séria:
melodia tensa. É tão desnecessária sua intromissão no nosso entendimento dos
fatos, que ouso dizer que o filme ficaria algumas vezes melhor se preferisse o
silêncio nos momentos em que entraria Newman. Aliás, em sua concepção todo o
projeto apresenta tropeços: depois da tal tempestade e da trilha, ainda surge
uma plaquinha com o nome do juiz que julgará Joseph, que diferente da plaquinha
do mesmo, é de cor preta, para ficar claro até para os mais desatentos: “é um
personagem de oposição!”. A montagem fecha o pacote com algumas ingenuidades
também; é um corte cômico que demora tempo demais para acontecer, perdendo o
timing; é um fade to white horroroso
para introduzir uma lembrança – a pior inserção de flashback; e o desfecho já
citado que se perde em inúmeros desdobramentos desnecessários que poderiam ter
ficado na imaginação sem problemas. Mas admito que a tela quebrada do celular
de Hank é um detalhe intrigante, não por representar alguma verdadeira natureza
do personagem, mas por mostrar que na prática, o advogado realmente não liga
para todas as aparências que ostenta, e em algum lugar no fundo, mesmo que seja
o fundo de seu bolso, ele ainda é o garoto simples e rebelde da cidadezinha
pequena de onde veio.
O que me leva até Robert Downey
Jr., que mesmo não estando fantástico, merece todos os elogios por conseguir se
manter em um raro personagem sóbrio e pouco afetado. Em outras palavras, muito
mais humano. De novo, a cena da banheira, que divide com Duvall, é ótima ao
retratar um momento tão trágico que Dobkin acertadamente transforma em cômico
por também representar uma reaproximação entre as duas figuras. O ator mais
veterano, aliás, convence de sua fragilidade tanto quanto de sua austeridade,
impregnando de empatia a relação entre os dois, mesmo que conflituosa. E é apenas
graças a eles que o filme chega ao fim com algum grau de comoção, já que a
própria trama do julgamento em si é bastante desinteressante, apesar dos
joguetes que, convenhamos já vimos sendo melhor executados em diversas outras
obras. Uma pena, já que é somente nessas cenas que temos Billy Bob Thornton
em cena. Que por falar nisso, não é o único coadjuvante mal utilizado, fazendo
companhia a Vera Farmiga também neste quesito; ela que protagoniza uma subtrama
envolvendo uma possível situação incestuosa com Hank, que no fim, não dá em
nada.
NOTA: 6/10
Quero conferi-lo pois estou muito curioso com a atuação dos dois Roberts. Espero me agradar.
ResponderExcluir