Claramente dividido em duas
partes distintas, Caminhos da Floresta tem
uma primeira metade arrastada e tediosa, enquanto na segunda funciona muito
melhor, ainda que, como um todo, o projeto pudesse dispensar ser um musical – o
que é algo triste de se apontar em um filme adaptado de uma peça composta pelo
sempre ótimo Stephen Sondheim.
Rob Marshall é quem assume a
produção, é o terceiro musical que o cineasta leva às telonas, e o quinto filme
para cinema que dirige na vida. Todos que vieram após o seu longa de estreia, o
vencedor do Oscar Chicago (muito bom),
demonstram que a academia – e eu mesmo - o alardeou cedo demais, e
incrivelmente, este é o seu longa mais regular desde então, treze anos depois.
Vários dos personagens dos contos
de fadas clássicos e seus arquétipos, como a Bruxa (Meryl Streep), se misturam
em uma espécie de comédia de erros onde todos querem algo um do outro, e no
processo de conseguir, acabam instaurando uma calamidade no reino onde vivem.
Essa, claro, é a versão simples da trama, desinteressa a esta análise
pormenores como os da maldição sob a qual vive o casal de padeiros
interpretados por Emily Blunt e James Corden, por exemplo.
O que interessa é que é feita uma
subversão das nossas expectativas que só é possível graças à tamanha popularidade
das histórias abordadas. Essa, aliás, é a melhor característica de Caminhos da Floresta. Pois sim, é divertido
descobrir que o sapato de Cinderela (Anna Kendrick) na verdade fica preso em
uma armadilha de piche do Príncipe Encantado (Chris Pine), e que esse último
também não é tão encantado afinal. O roteiro está repleto destes pequenos
momentos de humor negro – “então os pássaros as cegaram” ou “Pelo tanto que eu
sei, pode já estar morta” – que conferem também ao filme um caráter
imprevisível, que justamente por estar mais latente na segunda metade, faz com
que o projeto se desenrole com maior fluidez a partir de sua quebra de
estrutura central. Momento em que também Marshall assume sem pudor algum a
origem teatral de sua trama, com personagens entrando e saindo de cena como de
uma coxia, dando em diálogos expositivos o destino de outras figuras que
supostamente estariam em “cenários diferentes”. Não incomoda muito, apesar de
existirem soluções fáceis para adaptar este tipo de linguagem para a do cinema.
Quem sofre mesmo com isso é a Rapunzel (Mackenzie Mauzy), que simplesmente some
em determinada altura pra nunca mais voltar a ser nem sequer mencionada.
Uma pena que para chegar na boa
segunda metade, tenha-se que passar pela dolorosamente arrastada primeira. Sem
quase nenhum momento inspirado – alguns, como a canção do Lobo (Jhonny Depp) e
seu desfecho, até são vergonhosos – e músicas no mínimo imemoráveis, que soam
todas como uma estranha repetição da primeira, Into the Woods, essa parte se preocupa durante muito tempo em
configurar os personagens para a história, e lá se vão já uns quinze minutos
quando fica claro que tudo aquilo trata-se apenas de uma introdução. Todos cantam,
mas não há músicas. E falas repreensivelmente óbvias e condescendentes para com
o espectador que são cantadas, ainda são falas repreensivelmente óbvias e condescendentes
para com o espectador de qualquer maneira. Ao menos, se fossem ditas, soariam
mais honestas, ainda que não menos terríveis de se ouvir. Não que ali também
não existam alguns bons momentos, até citei um ou dois ali em cima, mas como
bloco, é uma tortura.
Agarra-se então aos personagens,
principalmente aos vividos por Blunt e Streep, com alguma ajuda do de Pine,
proposital e divertidamente canastrão. As atrizes tem um timing cômico muito
apurado, e Streep – que sim, está ótima, mas nada fora do comum para valer uma
justa indicação ao Oscar – ainda tem a sorte de cantar as únicas canções de que
é possível se lembrar – remete bastante a sua energia no excepcional A Morte Lhe Cai Bem. Last Midnight é realmente o único
momento musical do longa que funciona como tal. Está bem, ok, Agony também é bem divertido pelo
absurdo. Não é como se o longa-metragem fosse um desastre, mas, uma vez que
suas músicas soam coisa alguma, o longa-metragem em si soa como uma boa ideia
desperdiçada.
NOTA: 5/10
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