sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

INVENCÍVEL



É sintomático que um filme que conta com a direção de fotografia do mestre Roger Deakins passe despercebido justamente nesse quesito, uma vez que Angelina Jolie volta a apresentar uma direção comedida, algo que não havia atrapalhado a densa experiência que era o seu primeiro longa-metragem, Na Terra do Amor e Ódio. Mas como lá ela também era roteirista, algo que aqui fica a cargo, pasme, dos irmãos Coen, devo apenas presumir que Jolie até agora tem se mostrado uma autora muito melhor do que a cineasta temerária que se pôde ver aqui.


Roteirizado também por Richard LaGravenese (P.S. Eu te Amo, ugh...) e William Nicholson (Ok), Invencível sofre os previsíveis danos de ser escrito a quatro pares de mãos - mesmo que dois deles sejam de Joel e Ethan Coen – e funciona muito melhor na sua primeira metade do que na segunda, quando torna-se repetitivo e maniqueísta. Acompanhando paralelamente o passado, quando começou se tornar maratonista, e o presente durante a Segunda Guerra de Louis Zamperini (Jack O’Connell), o filme avança com tranquilidade enquanto acompanha o protagonista e seus colegas soldados tentando sobreviver em alto-mar depois da queda de seu avião. Não se mostrando menos interessante quando decide mostrar os seus primeiros dias no campo de concentração japonês. É a partir deste ponto que o filme se converte em um sequência cada vez mais aborrecida de cenas apelativas que basicamente mostram Louis sendo torturado de alguma forma pelo cruel Watanabe, responsável pelo campo.

Aliás, quanto mais perto do fim Invencível chega, mais decepcionante ele se torna. Se antes Alexandre Desplat aposta em uma trilha sutil – não comedida como a direção de Jolie – mas eficaz em nos fazer transitar entre o passado e o presente de Louis, ao fim, o compositor esquece de todo o seu trabalho prévio e aposta em um tema melodramático que faria até mesmo os John Willians e Steven Spielberg de Cavalo de Guerra e Lincoln se envergonharem. Sem contar a tentativa de humanizar Watanabe através de uma fotografia, o que soa como um desperdício absurdo de esforço para fazê-lo justamente uma figura unidimensionalmente má.

Não que Jolie seja uma má diretora, não me entendam mal, mas ela não ousa, não há uma identidade em sua condução, que apenas está lá, academicamente correta. Quem se destaca no projeto então é Jack O’Connell, que em um papel quase que puramente corporal, encarna a vivacidade física de Zamperini sem problemas. O auxilia também o trabalho soberbo de maquiagem que o torna cada vez mais cavernoso ao longo da duração. Uma pena que isso não seja o suficiente para salvar nomes como Domhnall Gleeson (tão bem em Questão de Tempo) e Garret Hedlund do rápido esquecimento, apesar de suas participações importantes. O que é algo que se pode dizer do filme como um todo; diferentemente de Na Terra do Amor e Ódio, que também se entregava a uma tortuosa dinâmica entre opressor e oprimido em seu terceiro ato, aqui esta relação não faz pensar ou perturba por seu desfecho, e em certo ponto, já não fazia mais diferença de Louis iria sobreviver ou morrer, desde que aquilo acabasse logo.



NOTA: 6/10


Um comentário:

  1. "É sintomático que um filme que conta com a direção de fotografia do mestre Roger Deakins passe despercebido justamente nesse quesito"

    A abertura do texto resume bem a minha frustração com mais este trabalho da Angelina Jolie. Acho que não só Deakins, mas Desplat na trilha e o quarteto de roteiristas não fazem absolutamente nada de especial aqui, só provando como Jolie ganharia muito mais se voltasse a investir na sua carreira de atriz. Assim como "Na Terra de Amor e Ódio", achei "Invencível" um filme profundamente tedioso e repetitivo.

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