É sintomático que um filme que
conta com a direção de fotografia do mestre Roger Deakins passe despercebido
justamente nesse quesito, uma vez que Angelina Jolie volta a apresentar uma
direção comedida, algo que não havia atrapalhado a densa experiência que era o
seu primeiro longa-metragem, Na Terra do Amor e Ódio. Mas como lá ela também
era roteirista, algo que aqui fica a cargo, pasme, dos irmãos Coen, devo apenas
presumir que Jolie até agora tem se mostrado uma autora muito melhor do que a
cineasta temerária que se pôde ver aqui.
Roteirizado também por Richard
LaGravenese (P.S. Eu te Amo, ugh...) e William Nicholson (Ok), Invencível sofre os previsíveis danos de
ser escrito a quatro pares de mãos - mesmo que dois deles sejam de Joel e Ethan
Coen – e funciona muito melhor na sua primeira metade do que na segunda, quando
torna-se repetitivo e maniqueísta. Acompanhando paralelamente o passado, quando
começou se tornar maratonista, e o presente durante a Segunda Guerra de Louis
Zamperini (Jack O’Connell), o filme avança com tranquilidade enquanto acompanha
o protagonista e seus colegas soldados tentando sobreviver em alto-mar depois
da queda de seu avião. Não se mostrando menos interessante quando decide
mostrar os seus primeiros dias no campo de concentração japonês. É a partir
deste ponto que o filme se converte em um sequência cada vez mais aborrecida de
cenas apelativas que basicamente mostram Louis sendo torturado de alguma forma
pelo cruel Watanabe, responsável pelo campo.
Aliás, quanto mais perto do fim Invencível chega, mais decepcionante ele
se torna. Se antes Alexandre Desplat aposta em uma trilha sutil – não comedida
como a direção de Jolie – mas eficaz em nos fazer transitar entre o passado e o
presente de Louis, ao fim, o compositor esquece de todo o seu trabalho prévio e
aposta em um tema melodramático que faria até mesmo os John Willians e Steven
Spielberg de Cavalo de Guerra e Lincoln se envergonharem. Sem contar a
tentativa de humanizar Watanabe através de uma fotografia, o que soa como um
desperdício absurdo de esforço para fazê-lo justamente uma figura unidimensionalmente
má.
Não que Jolie seja uma má
diretora, não me entendam mal, mas ela não ousa, não há uma identidade em sua
condução, que apenas está lá, academicamente correta. Quem se destaca no
projeto então é Jack O’Connell, que em um papel quase que puramente corporal, encarna
a vivacidade física de Zamperini sem problemas. O auxilia também o trabalho soberbo
de maquiagem que o torna cada vez mais cavernoso ao longo da duração. Uma pena
que isso não seja o suficiente para salvar nomes como Domhnall Gleeson (tão bem
em Questão de Tempo) e Garret Hedlund
do rápido esquecimento, apesar de suas participações importantes. O que é algo que
se pode dizer do filme como um todo; diferentemente de Na Terra do Amor e Ódio, que também se entregava a uma tortuosa
dinâmica entre opressor e oprimido em seu terceiro ato, aqui esta relação não
faz pensar ou perturba por seu desfecho, e em certo ponto, já não fazia mais
diferença de Louis iria sobreviver ou morrer, desde que aquilo acabasse logo.
NOTA: 6/10
"É sintomático que um filme que conta com a direção de fotografia do mestre Roger Deakins passe despercebido justamente nesse quesito"
ResponderExcluirA abertura do texto resume bem a minha frustração com mais este trabalho da Angelina Jolie. Acho que não só Deakins, mas Desplat na trilha e o quarteto de roteiristas não fazem absolutamente nada de especial aqui, só provando como Jolie ganharia muito mais se voltasse a investir na sua carreira de atriz. Assim como "Na Terra de Amor e Ódio", achei "Invencível" um filme profundamente tedioso e repetitivo.