terça-feira, 24 de outubro de 2017

BOM COMPORTAMENTO


Dirigido pelos irmãos Benny e Josh Safdie, Bom Comportamento traz uma fotografia de textura suja, foco impreciso e quadros fechados que, associados à câmera na mão, tornam o visual do filme quase amador - mas os cineastas jamais cruzam a linha tênue entre a construção da crueza e uma narrativa confusa ou incompreensível. É possível sim, viu, Michael Bay? Aliás, esse amadorismo calculado, que ainda incluí um design de som desbalanceado e um filtro incomodativo na coloração do projeto (como se um operador de câmera inexperiente não tivesse regulado direito a captação da cor branca no aparelho - o que se chama no ramo de “bater o branco”), confere ao longa-metragem uma estética que evoca o mundo habitado por seu protagonista - a periferia, a madrugada, os pequenos crimes e delinquentes e a marginalização dessa gente urbana, jogada e aprisionada nos cantos das metrópoles, sufocada na noite de luzes artificiais pálidas.



Aliás, o filme é prova de que a “saga” Crepúsculo só desperdiçou o tempo e o talento de Robert Pattinson, que aqui surge num paralelo de gentileza e brutalidade. Sua performance é o que dá dimensão a Connie, que tem apenas algumas horas para arranjar dez mil dólares para tirar da cadeia o irmão, que tem problemas cognitivos - este, aliás, é vivido de forma extraordinária pelo diretor Benny Safdie, que mereceria algum reconhecimento como Ator Coadjuvante. Embora forjado pelas ruas, o Connie de Pattinson demonstra possuir uma doçura intrínseca, que sempre vai buscar aquilo que é mais justo e pacífico, ainda que não hesite em se entregar à violência e frieza se necessário. Mais pragmático do que a princípio sugere ser, aquela figura ganha do ator modos desajeitadamente dissimulados (quando se passa por um segurança, ou o acompanhante de um paciente no hospital), mas também delicados (quando divide um pouco de suco com uma senhora num leito, ou o modo como salva da polícia a garota que conhecera mais cedo e que o ajudara).


Estas nuances vão aos poucos elevando o personagem, e o que deveria ser um filme de forma, ou seja, cujo principal atrativo fosse sua técnica em prol da imersão, acaba também se convertendo num palco para Pattinson e seu Connie. Um andarilho da noite neon embalada por uma trilha eletrônica, de batidas sintéticas como aquelas populares nos anos 1980 - elementos todos que, por si só, já estabelecem para o espectador uma atmosfera de fantasia suburbana, auxiliando na sua suspensão de descrença para mergulhar nos absurdos cada vez mais implausíveis em que o protagonista se mete.




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