"To be
young, gifted and black"
Ao assistir a DETROIT EM REBELIÃO, novo filme
dirigido por Kathryn Bigelow (única mulher vencedora do Oscar de Melhor Direção
até hoje), me veio à cabeça inúmeras vezes a música de Nina Simone que intitula
essa postagem. Embora eu seja um grande fã de Miss Simone, há músicas suas que
eu não ouso cantar por aí, apesar de adorá-las e as ouvir recorrentemente.
Isso porque algumas de suas canções carregam um
contexto de luta, são palavras de protesto, gritos de guerra, discursos que,
ainda que sejam belos e tenham meu apoio, não são meus para serem ditos. Não
falam do meu drama, da minha dor ou das minhas lutas. Posso apreciar essas
obras esteticamente, mas não me sinto confortável para reivindicá-las para mim,
e sair cantarolando-as ou dizendo que são "as músicas da minha vida".
Talvez por isso a crueza da abordagem quase documental
e os quesitos técnicos duros e truncados dos filmes de Bigelow sejam
apropriados ainda mais a este projeto aqui. Seu lugar de fala na questão que é
o foco do filme, mesmo como ficcionista, é abordá-la, de um ponto de vista
passional, à distância. DETROIT é tenso, incrivelmente inquietante e brutal.
Ainda assim, os aspecto mais triste da narrativa é perceber que, não fosse a
ambientação no final dos anos 1960, as cenas mostradas no longa poderiam se
passar hoje, em qualquer periferia, e não só nos Estados Unidos, mas no Brasil
também.
Que sintomático, portanto, que esteja em cartaz em tão
poucas sessões. Afinal, é um filme sombrio e provocativo,
mas não é polêmico como Mãe!, ou audiovisualmente impressionante
como Blade Runner 2049. É uma provocação necessária, que se
distancia da ficção e traz o espectador para muito próximo da realidade, e por
isso incomoda tanto - e não do jeito que as pessoas gostam de serem incomodadas
na sala de cinema.
Mas Arte é isso.
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