quarta-feira, 18 de outubro de 2017

DETROIT EM REBELIÃO



"To be young, gifted and black"

Ao assistir a DETROIT EM REBELIÃO, novo filme dirigido por Kathryn Bigelow (única mulher vencedora do Oscar de Melhor Direção até hoje), me veio à cabeça inúmeras vezes a música de Nina Simone que intitula essa postagem. Embora eu seja um grande fã de Miss Simone, há músicas suas que eu não ouso cantar por aí, apesar de adorá-las e as ouvir recorrentemente.

Isso porque algumas de suas canções carregam um contexto de luta, são palavras de protesto, gritos de guerra, discursos que, ainda que sejam belos e tenham meu apoio, não são meus para serem ditos. Não falam do meu drama, da minha dor ou das minhas lutas. Posso apreciar essas obras esteticamente, mas não me sinto confortável para reivindicá-las para mim, e sair cantarolando-as ou dizendo que são "as músicas da minha vida".

Talvez por isso a crueza da abordagem quase documental e os quesitos técnicos duros e truncados dos filmes de Bigelow sejam apropriados ainda mais a este projeto aqui. Seu lugar de fala na questão que é o foco do filme, mesmo como ficcionista, é abordá-la, de um ponto de vista passional, à distância. DETROIT é tenso, incrivelmente inquietante e brutal. Ainda assim, os aspecto mais triste da narrativa é perceber que, não fosse a ambientação no final dos anos 1960, as cenas mostradas no longa poderiam se passar hoje, em qualquer periferia, e não só nos Estados Unidos, mas no Brasil também.

Que sintomático, portanto, que esteja em cartaz em tão poucas sessões. Afinal, é um filme sombrio e provocativo, mas não é polêmico como Mãe!, ou audiovisualmente impressionante como Blade Runner 2049. É uma provocação necessária, que se distancia da ficção e traz o espectador para muito próximo da realidade, e por isso incomoda tanto - e não do jeito que as pessoas gostam de serem incomodadas na sala de cinema.


Mas Arte é isso.



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