quarta-feira, 8 de junho de 2011

KUNG FU PANDA 2



   
     Física? Quem liga para as leis dela? Afinal estamos assistindo a continuação de uma animação sobre um panda gordo que luta Kung Fu ao lado de um tigre, uma víbora, um macaco, uma garça e um louva-deus. Longe da baixa qualidade das continuações fracas de Shrek, mais ainda não alcançando o carisma de Como Treinar seu Dragão, esta nova animação da DreamWorks entra no páreo deste ano com um exemplar melhor que o recente Rio, mas ainda nada que se compare com o excelente Rango.


     Agora que foi escolhido definitivamente como Dragão guerreiro, Po (voz de Jack Black) e seus companheiros guerreiros (dublados no original por Angelina Jolie, Seth Rogen, David Cross, Lucy Liu e Jackie Chan) enfrentam um novo desafio com a chegada de Lorde Chen (Gary Oldman) que possuí uma arma que pode subjugar o Kung Fu. E Po pode descobrir que este vilão tem uma ligação com ele no passado, envolvendo uma profecia que explica porque o panda não foi criado por seus pais (alguém ai já leu Harry Potter?).

 
     Novamente o filme faz bom uso do 2D para mostrar o passado, entrando em contraste direto com o 3D da maior parte da animação, e quando não usa o recurso, a diretora Jennifer Yuh opta por um tom dourado diluído em soft focus, dando um ar de lembrança característico aos momentos em que Po relembra frames de seu passado. Mas fora isso, a direção se limita a menos gags visuais que o primeiro, investindo, em vez disso, em tiradas mais infantis.


     O começo é um tanto quanto atropelado. É como visitar um amigo e ele te puxar pelo braço assim que você entra pela porta e sair te mostrando todas as coisas novas que ele tem, sem ao menos dar "oi". Mas depois de uns quinze minutos o filme ganha ritmo, e quem diria, drama. Mesmo que ainda possuindo um aprofundamento filosófico de uma pedra, o roteiro cria questionamentos existências para Po, que o fazem buscar em seu passado soluções para o futuro. Bem melhor que as explicações do primeiro que consistiam em "acredite em você mesmo!". Aqui Po tem que realmente aprender a lidar com seu emocional ligado ao passado e controlá-lo para poder dar o melhor de si contra o vilão que causou as terríveis tragédias que marcam as suas lembranças. Drama parecido com o vivenciado pelo Mestre Shifu (Dustin Hoffman) no primeiro filme, e que lá já era interessante, aqui ganha potencial dramático ao ser transportado para o protagonista. Explorando (e re-explorando) mais os personagens, o filme ganha pontos por torná-los mais carismáticos e acessíveis, não sendo difícil torcer por cada um dos heróis. Mas de nada adiantaria ter um bom grupo de heróis, se sua existência fosse meramente estética. Há aqui, um bom (e bem explorado) vilão também, Lorde Chen, que quase caí na unidimensionalidade de ser o "cara maluco que quer dominar o mundo", mas que, para surpresa geral, acaba tendo sua personalidade explorada em outros aspectos, como o respeito por uma velha cabra que ele acaba libertando após esta lhe ser útil, fugindo dos estereótipos de vilões que matariam a pobre personagem. Além disso, Chen é responsável por mover a trama e dar um frescor a ela, já que seu personagem ainda sim, consegue ser mau, sem ser só mau (ao contrário do recente Piratas do Caribe 4, e seu Barba Negra).


     Mas o que todo mundo quer ver mesmo neste filme não é o aprofundamento psicológico do vilão, ou os dilemas existenciais do herói. Quem vai assistir a Kung Fu Panda, quer ver Kung Fu. E até que não falta isso no filme. Mas, agora tudo tem uma estética meio vídeo game, os enquadramentos e as ações todas lembram muito um jogo. Há claro uma cena em especial que é uma clara homenagem a Pac-man, que sendo engraçada e fazendo a trama andar, se releva. Mas no restante fiquei com aquela vontade de pegar um controle e sair jogando que não tinha desde Sucker Punch. Não que isso torne as muitas cenas de ação, ruins. Muitas delas, como uma perseguição a um lobo pela cidade ou a cena final com os navios e os fogos de artifício, são belas em sua concepção e ágeis em sua condução, sempre misturando muito humor e desta vez economizando nos Slow Motions. 


     O design de produção não se inova, mas se mantém bom e detalhado, e o 3D não é nada de mais, nada é atirado na sua cara (ainda bem!) e, no entanto, não há grandes exercícios de profundidade, servindo mais para dar uma estética mais bonita ao desenho. E desta vez, notei a mão de Hans Zimmer por trás da trilha que está ótima, nunca se sobrepondo ao filme, mas também ganhando seu lugar de destaque em momentos chave em que imagem e som tornam-se um só para causar algum arrepio, vide a ótima cena no ápice do clímax.


     Com uma direção apenas competente, um roteiro meio batido mas bem explorado, personagens carismáticos e bem desenvolvidos, bons momentos de humor e uma boa dose de carga dramática o filme acaba superando o bom, porém fraco exemplar de 2008. Mas ainda sim o Panda gorducho aqui ainda não tem muita chance contra o lagarto cowboy, e duvido que possa ter alguma contra os turbinados da Pixar que vem por ai.      



NOTA: 7,5/10

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