Não se deixe levar pelo enganoso título brasileiro deste novo longa. Blue Valentine (no original) não é um belo romance, ou um leve drama. Apostando em uma trama introspectiva e dividida em dois tempos diferentes contados paralelamente, o maior mérito do filme são, de longe, seus personagens e seus respectivos intérpretes.
No filme acompanhamos Cindy (Michelle Williams) que lida com uma rotina suburbana em uma pequena cidade ao lado do marido Dean (Ryan Gosling), até que ambos, já cansados, começam a dar sinal de uma inevitável separação. Ao mesmo tempo somos apresentados ao casal quando jovem (interpretados pelos mesmos Gosling e Williams) e ao início de sua relação.
O diretor Derek Cianfrance soube conduzir muito bem o longa ao apostar em planos fechados, (característicos de filmes indie) que mantém o clima pesado e claustrofóbico não só nos ambientes, mas na relação dos personagens, que desde o início já parece fadada ao fracasso. Há momentos em que o realizador se mostra mais inspirado, como na cena de uma discussão dentro de um carro em que ele fecha no rosto dos personagens, tornando a cena desconfortável tanto para seus personagens quanto para o espectador também. Em certo momento, Cianfrance coloca o casal ainda jovem em frente a uma loja de casamento que colorida e bem iluminada contrasta com a rua suja e escura aonde os personagens se encontram, e ainda da ênfase a limitação do acesso que eles têm aquele mundo "feliz" colocando uma placa de "closed" bem visível na porta, ou seja, o diretor mostra claramente que aquele mundo não lhes pertence.
O roteiro escrito a três pares de mãos se baseia quase o tempo todo em diálogos, mas abre muitos espaços para ser introspectivo em belas cenas como a que Cindy e Dean dançam em um quarto de motel um tanto quanto inusitado. Mas perde forças no final ao entregar o destino do casal em uma abordagem batida e cansativa. Não há grandes momentos de genialidade, mas no decorrer o texto convence e se encaixa na trama e até na estética do filme, que mantêm uma fotografia amarelo pôr-do-sol no passado promissor do casal, e um azul sem vida no presente conflituoso.
A montagem ainda que isenta de surpresas durante a maior parte da projeção, tem seus méritos em certas cenas ou sequências, sabendo equilibrar bem ambas as histórias que chegam em bom ritmo aos seus devidos ápices, formando a antítese perfeita que o filme pretendia claramente desde o início. Há uma cena em especial em que o jovem Dean antes de se apaixonar, olha leve e diretamente para frente, em então o corte revela uma elipse para o futuro que mostra a já velha Cindy olhando pesada e diretamente para frente também, como se o passado já pudesse ver o que aconteceria, a troca ainda é bem marcada pela diferença na fotografia, que varia radicalmente entre as tuas tonalidades já discutidas. Opções que, sim, não são as mais originais, mas que servem ao propósito do filme com eficiência.
Mas o destaque do filme mesmo são as performances dos dois atores principais, Gosling e Williams, que mantém de forma coesa suas personalidades jovens, puras e sonhadoras em contraste aos seus "eu's" do futuro cansados, desiludidos e cheios de mágoas. Gosling aposta na paciência de seu personagem sabendo interpretar bem o estresse suportado por Dean ao ter que lidar com a esposa, mantendo uma postura cabisbaixa e de poucas expressões, aliás, o figurino e maquiagem do ator ajudam muito no contraste entre o futuro e o passado. Já Williams investe nas expressões de intriga que cravam o belo rosto da atriz, mostrando com competência toda a tristeza que a personagem sente em relação ao rumo da própria vida, faz valer a indicação ao Oscar que recebeu.
Sem grandes surpresas, ou grandes momentos (minto, toda a sequência do motel é interessantíssima), este filme bem conduzido pelo seu ainda novato diretor, acaba focando mais no trabalho de personagens, que apesar de serem muito bem tratados e interpretados, simplesmente não possuem força o suficiente para ficarem na memória, diferente, por exemplo, do recente Reencontrando a Felicidade que se diferenciava por manter os conflitos tão em destaque quanto os personagens. O que não acaba acontecendo neste Namorados para Sempre. Pelo menos, Cianfrance mostrou que tem potencial para dirigir uma boa trama do gênero, esperemos que em seu próximo trabalho, não venhamos a esquecer de seus personagens tão facilmente.
Ai Yuri, seu capeta, agora eu tô louca pra ver esse filme!!! ótima crítica, como sempre.
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