quarta-feira, 5 de outubro de 2011

CONTRA O TEMPO


          Nada como "tomar nos dedos" positivamente. Quando vi o trailer deste Source Code (título original), admito que não fiquei muito empolgado. Porém, o novo longa estrelado por Jake Gyllenhall, que está chegando atrasado por aqui, excede com folga as baixas expectativas entregues pelo marketing. Não é nenhum clássico ou obra prima, mas ainda sim, o filme consegue o que cada vez mais pode ser considerado um feito, ser completamente satisfatório dentro de sua proposta.


     Imagine o seguinte: Há uma tecnologia que pode te colocar no corpo de alguma pessoa que já morreu durante os últimos oito minutos de vida dela. Imagine também que aconteceu um atentado terrorista envolvendo dois trens, um de carga e outro cheio de civis. É neste cenário que somos introduzidos na trama de Contra o Tempo. O capitão Colter Stevens (Gyllenhall) acorda em um corpo que não é seu a bordo de um trem, e oito minutos depois, bum, tudo explode e ele acorda em uma cápsula, onde ele só pode ver um monitor que mostra Colleen Goodwin (Vera Farmiga), que é a única pessoa a quem Stevens tem acesso. Ela pouco explica o cenário em que o capitão está metido, mas deixa claro o objetivo desta operação, encontrar a bomba e o terrorista a bordo do trem. E assim, o militar é mandando diversas vezes para os últimos oito minutos daquele civil, e durante essas experiências, ele vai começar a se questionar se aquilo se passa realmente só dentro de sua cabeça, ou se há algo mais por trás de toda esta operação.


     Um dos grandes destaques do projeto é com certeza sua montagem. Conduzida habilmente pelo montador Paul Hirsch, esta parte cumpre sua função ao inserir com maestria, os espectadores, na situação do protagonista. Por exemplo, ao começar o filme bruscamente no meio da ação, Hirsch nos deixa tão perdidos quanto o próprio Stevens. Ou mais tarde, retratando de forma eficiente o cansaço do mesmo perante a uma exaustiva repetição, usa de planos rápidos dos momentos chave do evento no trem. Tudo muito bem orquestrado pelo diretor Duncan Jones (Cria do David Bowie), que se mostra muito competente atrás das câmeras, principalmente na atenção que dá à relação entre Stevens e Christina (Michelle Monaghan). Aliás, é interessante notar, que para não estressar o espectador no mesmo nível que o protagonista ao nos forçar a assistir de novo e de novo o mesmo cenário, Jones opte por abordar de diferentes maneiras os acontecimentos.


     Assim o diretor cria de momentos cômicos a outros muito tensos. Por exemplo, ao mostrar Stevens se divertindo com a idéia de já saber o que vem em seguida, o realizador corta um clima pesado e insere uma leveza a trama. Mas assim como sabe abordar o momento da explosão de várias maneiras brutais, Jones sabe também recriá-lo com uma carga dramática maior e mais profunda em um dos dois melhores planos do filme, em que mostra em câmera lenta o triste acontecimento. E falando nisso, há um plano realmente tocante mais para o final, que só tem sentido e carga dramática graças ao ótimo roteiro de Ben Ripley.
     Este último merece palmas por abordar de maneira tão coesa o universo que criou. Inserindo elementos, como a perda de memória para que as exposições no começo não soem forçadas, o roteirista consegue nos apresentar seus personagens e suas regras de forma gradual, liberando apenas o necessário para entendermos aquilo que vamos ver em seguida. O que soma pontos ao projeto, já que é mais um área bem sucedida da produção em nos mostrar como se sente o personagem principal.


     Sim, os personagens! Que prazer é dizer que não há um entre eles que seja dispensável ou a quem falte carisma. Pois até o muito criticado (e na minha opinião, quase sempre injustamente) Jake Gyllenhall, está ótimo em seu papel. Carismático, o ator incorpora um Stevens confuso a princípio, frágil até, mas que com o tempo, vai se tornando mais ágil e adotando uma postura mais ereta e focada, demonstrando o total retorno da educação militar do personagem. Vera Farmiga é a única coisa que impede que sintamos total empatia pela instituição dentro do longa. Ao incorporar uma militar claramente fragilizada com o desespero de Stevens, Farmiga é o nosso elo com esta ala do roteiro que podia ter facilmente caído em estereótipos nas mãos de um roteirista ou de uma atriz menos talentosos. Já Michelle Monaghan traz aos olhares de Christina uma inocência palpável, que contrastam brutalmente com seus cenhos fechados sempre que vê o protagonista fazer algo incrivelmente fora do comum.


     E isso é o suficiente. É um dos maiores filmes do ano? Não, e nem pretende ser. É um clássico então? Não, e nem pretende ser também. Então por que diabos dar a nota máxima para este filme? Simples, porque dentro de sua proposta inicial, o projeto é extremamente feliz ao alcançar seus objetivos. E assim, temos um filme divertido, carismático, tecnicamente falando bem feito e acima de tudo, cativante, que com certeza vai prender sua atenção do início ao fim. É verdade que os objetivos do filme não eram os mais altos, mas nem por isso ele merece menos reconhecimento por tê-los alcançado.

NOTA: 10/10

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