domingo, 16 de outubro de 2011

GIGANTES DE AÇO

     

     Muito recentemente falei aqui sobre A Hora do Espanto, ressaltando quão divertido era o filme "vampiresco" apesar de seus defeitos de roteiro, citando também que estes filmes leves e carismáticos eram acontecimentos raros. Constatação que, depois de ver o longa aqui sobre robôs, tem que ser repensada, já que ele também consegue este feito. E, diga-se de passagem, com muito mais êxito que o outro. Longe de ser um filme inteligente ou imprevisível, Gigantes de Aço (Real Steel) tem como maior mérito o enorme carisma de seus protagonistas associado a uma estória que, se não possui a mais original das estruturas, ao menos consegue ter uma que é empolgante e divertia.



     Um ex-boxeador, Charlie Kenton (Hugh Jackman), trabalha como promotor de robôs lutadores de Box (eu sei, também pensei WTF?!). Vendo-se afundado em dívidas, já que seus robôs tem o péssimo hábito de perder as lutas, Charlie se vê sem saída para escapar dos muitos credores que tem. É então que entra em cena Max (Dakota Goyo), um filho que Charlie renegou quando bebê e que agora, com a morte da mãe, está temporariamente sob seus cuidados. Mas, a difícil relação entre os dois logo ganha algum espaço para se desenvolver quando o garoto mostra extremo interesse pelo trabalho do pai, e juntos eles treinam um robô um tanto incomum (adquirido inusitadamente) para disputar pequenas lutas. O que nenhum dos dois esperava é que o grandalhão de metal fosse uma ótima aposta para se conseguir o maior título destas lutas.



     Vindo de uma série de fracas comédias, tais quais Doze é demais, A Pantera-Cor-de-Rosa, Uma Noite no Museu 1 e 2 e Uma Noite Fora de Série (este último diverte ainda que seja irregular), o diretor Shawn Levy pouco faz que não seja conduzir a trama de forma previsível. Então esteja pronto para contra-plongées aos montes quando os robôs estiverem em cena e muitos plongées enfocando o garoto Max, por motivos óbvios. Mas se esta lógica é batida, ao menos funciona dentro do longa quando o diretor resolve enfocar Max e Charlie quase sempre no mesmo nível, se não de câmera, de altura mesmo, colocando algumas vezes o garoto sobre um banco ou semelhante para deixá-lo na altura do pai. Isso serve ao roteiro que procura estabelecer a relação pai e filho com uma incomum igualdade de conhecimentos entre os dois. E para tentar ajudar Levy na tarefa, foi chamado Mauro Fiore como diretor de fotografia. O profissional obviamente já esta acostumado a lidar com seres digitais, tendo em vista que ele vem de Avatar aonde fotografou o filme dos aliens azuis ao lado de James Cameron. Mas se os efeitos visuais casam de maneira espetacular com a iluminação de Fiore nas cenas que se passam sob a luz do sol, é triste ver que nas sequências mais escuras, onde normalmente os efeitos visuais se saem melhor (por ter menos luz em contato com suas texturas), eles voltem a soar apenas bons, já que a noção de realidade se perde na luz artificial que faz dos seres computadorizados apenas isso, boas criações digitais.



     Mas acontece que a força do filme não são seus efeitos, e sim seus personagens. Em dado momento de inspiração de Levy, o diretor coloca Charlie e Max frente a frente de perfil em um plano aberto. Ao fundo dos dois vemos vários arcos, propositalmente, os dois estão colocados aos pés, cada de um de um arco. Estes mesmos arcos se encontram para formar um só pé, ou seja, é curioso ver que mesmo no mais declarado filme "pipocão" se veja elementos que busquem complementar a história, já que claramente este plano indica a saída dos dois personagens de lugares totalmente diferentes e seu encontro em um ponto comum mais adiante, assim como os dois arcos que lado a lado, se encontram no meio. E novamente, se esta linguagem não é genial, ao menos prova a atenção dos realizadores para com seu projeto. O que no mínimo gera algum conforto, afinal, não é ruim perder tempo falando sobre um filme aonde nem mesmo seus realizadores se dão ao trabalho de prestar atenção no que estão fazendo? Assim, é claro o carinho com que, por exemplo, John Gatins trata as relações pessoais dentro do filme. Ainda que cometa erros. Afinal é impossível não notar as viradas abruptas do texto que não são bem suavizadas nem por Gatins e nem pelo montador Dean Zimmerman, que tornam momentos como a entrada do garoto Max no filme, forçados e inquietantes. Afinal de contas o garoto pouco parece sentir sobre a morte da mãe, que logo é superada, na verdade, esquecida pelo roteiro! Se fazendo assim, uma (burra) desculpa para a entrada do menino em cena. Sem citar a desnecessária "rebeldia" de Charlie mais para o fim do filme, que serve apenas... Bem, serve para Bailey (Evangeline Lilly) dizer meia dúzia de frases bobas, por que de resto, nada se altera entre o começo desta cena e o final da mesma, a não ser os preciosos minutos de paciência do espectador.



     Mas, se a força do filme são seus protagonistas (humanos), não é graças ao roteiro. Hugh Jackman é inegavelmente um dos atores mais carismáticos e um dos mais queridos do público atualmente. Então, ele nem precisaria se esforçar muito, e de certa forma não o faz, encarando seu papel de forma divertida, usando muito do seu já garantido carisma para conquistar o público como Charlie, pouco sensível e precipitado. Mas quem dá um show ao lado do ator, criando uma química ágil e deliciosamente divertida com o mesmo, é o garoto Dakota Goyo. O ator-mirim se solta e entrega um Max extrovertido, falante, engraçado, sentimental e inteligente, mas ainda sim uma criança, vide sua ingenuidade em certos momentos. Enfim, um personagem totalmente tridimensional. É claro que não tendo visto o menino em outros filmes, pode-se dizer que ele apenas está sendo ele mesmo. Mas pela gama de emoções que seu personagem consegue passar, prefiro acreditar que seja, ao lado de Joel Courtney e Elle Fanning, uma das melhores atuações mirins do ano.



     E se você se deixar levar por essa dupla, ao chegar ao clímax, você com certeza vai encontrar aqueles momentos típicos de se fazer vibrar na cadeira e gritar "Vai lá!". E grande parte desta emoção que o desfecho nos passa, é mérito da trilha muito bem vinda de Danny Elfman, que não cria tema algum, mas que pelo menos estabelece um fio condutor nos instrumentos eletrônicos, se saindo mais uma vez correto em seu trabalho. E por mais caricatos e estereotipados que sejam os vilões do filme (tem mais de um dependendo do momento), é impossível não vibrar ao som do ótimo Sound Design aliado as composições de Elfman, quando  se chega ao previsível fim que estes tem.



     E sim, o final era previsível. Adotando o velho ideal norte americano do Box (e de qualquer outra disputa) de que perder resistindo e persistindo até o final é melhor do que ganhar sem grandes esforços, o filme se encerra de maneira empolgante, deixando um raro sentimento de "quero uma continuação disto". Afinal, mesmo os mais graves tropeços do longa não impedem o espectador de encontrar em Gigantes de Aço um ótimo divertimento. Porque se não for pela empolgação, o filme no mínimo, vale pela sua dupla de protagonistas.



NOTA: 7,5/10 

Um comentário:

  1. Esse filme me parece o Rocky IV, um garoto, no caso agora um robô, promissor, começando de baixo até atingir o topo da carreira. Sei lá o filme parece uma segunda divisão dos Transformers hehe :p
    e parece que o filme chama a atenção por seus atores, o Wolverine e a Kate , que são bem queridos pelo público. Eu ainda não vi o filme, mas pelos comentários em OFF que ouvi do Yuri, parece ser interessante. Pelo texto Yuri :D

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