sexta-feira, 20 de julho de 2012

APENAS TRISTE, APENAS UM DESABAFO

     Quando nos últimos dias houveram ameaças à um crítico de cinema que havia publicado opiniões negativas sobre o filme Batman o Cavaleiro das Trevas Ressurge, já me espantava o fato de a cultura do Hype ter atingido níveis tão absurdos que a violência estava sendo encontrada como solução por fãs cegos e insensatos. Afinal, cansado já de criticar a fé religiosa cega que certos cultos e pessoas costumam exercer, é algo que me atinge profundamente como pessoa, estudante e amante do cinema que esta devoção cega a algo que muitas vezes as pessoas nem viram ou tem alguma prova de que seja algo realmente bom, tenha chegado a sétima arte em tal escala. A ponto de irracionalmente, como apontou Pablo Villaça no ótimo texto sobre a cultura Hype (clique aqui para lê-lo), ameaçarem de morte um profissional em seu ofício, sem nem mesmo terem o mínimo de embasamento para contestá-lo.
     Mas quem me dera ter parado por aí. Quem me dera as ameaças de morte tivessem ficado na internet, na página e não tivessem se alastrado para o mundo real concretizando-se. Algo, aliás, que a maioria das pessoas que navega por esta rede mundial de computadores parece não perceber, mas as suas ações online quase sempre repercutem e tem implicações na vida real. Não, ainda bem, o crítico de cinema ameaçado e sua família pelo que se sabe estão bem e neste momento devem estar tão chocados quanto eu. Pois não devo ter sido o único que ao acordar hoje pela manhã e acessar a internet descobri os acontecidos da última noite na cidade de Aurora no estado do Colorado nos Estados Unidos durante uma sessão de pré estreia do novo filme do Batman. Ainda de queixo caído, logo me enxeram as têmporas de lembranças sobre outros ocorridos do mesmo tipo. Em 1986 durante uma sessão de Cobra nos Estados Unidos, em 1999 em uma do filme Clube da Luta, aqui mesmo no Brasil, São Paulo e parece que houve algo assim em uma sessão do filme Matrix também em 1999 mas não sei confirmar o local agora. E hoje então, 2012, mais uma vez, um resquício de ser humano, invade uma sala de cinema lotada e abre fogo contra os espectadores despreparados, distraídos e indefesos, matando 12 pessoas e ferindo outras 38 (pelo que sei até agora). [ATUALIZADO: o número de feridos subiu para 59, enquanto o de mortos, pelo menos, se manteve em 12, o que segundo as redes de notícias, como a ABC news, torna este o maior ataque de atirador dos Estados Unidos]
     O atirador, um imbecil chamado James Holmes, foi preso no local após entrar por uma saída de incêndio  na sala de cinema, explodir uma bomba de gás lacrimogênio no meio da platéia e começar a atirar nos espectadores desnorteados. Parece que não satisfeito em atirar nas pessoas em pânico dentro da sala, o monstro se voltou para o lobby do estabelecimento onde os clientes que conseguiram escapar da sala de exibição corriam para a saída, tendo acertado ali um bebê (que pelo que sei ficou gravemente ferido), resultando assim no número de mortos e feridos já citado acima. Há vários vídeos no Youtube feitos no local e tudo mais, assisti alguns e pessoalmente não aconselho ninguém mais a assistir, embora a maioria não traga imagens visualmente chocantes, trazem o desespero das pessoas do lado de fora aguardando seus amigos e familiares saírem pela porta da frente. E claro que vários deles devem estar nesta espera interna até agora.
     Não se sabe o motivo ainda do ataque, mas sabe-se que o "troço" (como chamarei Holmes daqui pra frente) havia largado a faculdade de medicina há um mês e que em sua casa foram encontradas várias armadilhas explosivas altamente sofisticadas que podem levar muito tempo para serem desarmadas pelas autoridades. Mas enfim, um cinema, um espaço onde não se espera "assaltos" ou ações de extrema violência que não estejam restritas as suas telas, que está no máximo preparado para uma situação de incêndio, acaba sendo um alvo fácil para atrocidades como estas cometidas pelo "troço".
     Hoje estou de luto, vou muito ao cinema e não imaginaria o desespero que seria se algo assim acontecesse. Um lugar que é todo projetado para te tirar da sua rotina, da sua vida durante algumas horas, para se divertir, para analisar, pensar e mergulhar em mundos totalmente novos, acabar sendo o último em que você estará. Faz as discussões que eu estava tendo ontem sobre A Origem ou  Amnésia, parecerem idiotas e extremamente fúteis. Pois a imagem de uma homem em estado de choque com o lado direito da camisa ensopado de sangue, sendo levado para fora do lobby do cinema andando como um ser desprovido de alma ou consciência, tentando ainda entender o que lhe acontecera, está ecoando na minha cabeça. E ao olhar para toda esta raiva e toda esta violência gerada em torno de algo que eu amo tanto, me pergunto: 

"Quando foi que o cinema deixou de ser divertido?"


9 comentários:

  1. Cara essa é uma questão complicada de se tratar, você, como as pessoas em geral, trata o atirador como um ser de apenas uma faceta, sendo ela a da maldade.
    Não estou querendo tirar a brutalidade do ato dele, mas acho que há questões muito mais profundas que as que você levantou, já foi revelado pelo FBI que não foi um ataque terrorista, nem nada planejado por um grupo.
    Esse tipo de violencia é um tanto comum nos E.U.A, principalmente em escolas, acho que devemos nos aprofundar no passado de James Holmes antes de chamá-lo de "monstro".

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    1. Não disse que James Holmes era de um grupo terrorista, o que não faz ele deixar de ser um. O passado... Sim, o ser humano sempre tenta encontrar um justificativa para não admitir que há frutas podres no seu cesto. Se Holmes não for um doente mental altamente esquizofrênico (o que ele não parece ser, cursava medicina), ou se alguém não o estava ameaçando com uma arma na cabeça da família dele (o que me parece também não é o caso, a família dele estava indo prestar depoimentos agora pouco), não vejo a mínima desculpa para alguém simplesmente se armar e entrar em um cinema e atirar contra pessoas inocentes. Me desculpe, sou ser humano e mantenho minha posição, não há aprofundamento que desculpe tal atrocidade. E dizer que é comum tais acontecimentos apenas os futilizam desrespeitando o grau da tragédia
      por trás do acontecimento. Admito que podem haver fatores que indiquem os motivos do atirador, mas não existe nesta situação nenhum motivo que desculpe uma pessoa racional a cometer um crime tamanho contra outro ser humano, que dirá contra quase 70 deles!

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  2. Carinha! O cinema ainda é divertido. Os diretores e autores não têm culpa dos doentes que os interpretam. Doente também é que generaliza a porra toda. Cinema, como falou, é arte, passível de interpretação, arte é algo passível de visões, não tem conceito pronto, nem eu e nem tu podemos pagar de entendidos. Se não gostou da interpretação, se acomode com um comentário particular e não generalize. A matança não tem nada a ver com o cinema, é obra de um maluco, que como tu e como eu, acreditam que algo deve ser como deve ser. Não existe um conceito real, tudo depende da realidade vivida. Se não pôde viver todas, não critique as dos maníacos, ao menos que os entenda, ou estás muito por dentro das perturbações da mente humana.

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    1. Não generalizei, leia de novo o texto e descobrirá que apontei apenas a minha tristeza quanto aos fatos ocorridos. Não disse que o cinema deixou de ser divertido. Ponto. Disse que pelas tristeza que estava sentindo no momento com a situação envolvendo algo que amo tanto, me questionei "quando foi que o cinema deixou de ser divertido?" justamente porque PARA MIM ele continua sendo uma das fontes de maior alegria da minha vida, e presenciar tal atrocidade me faz pensar nisso. Portanto não culpei os autores a diretores de cinema, apenas questionei o fato da sétima arte estar sendo palco de algo tão horrível.

      Quanto ao "doente", poucas coisas vão me tirar da cabeça que é isso que ele é. E indesculpável o seu ato e com certeza é fruto de uma mente doentia/monstruosa ou seja o que for. E o título de "troço" ou "monstro" ainda me parece muito adequado seja quais forem suas motivações. Portanto não generalizei, apenas repliquei um comentário que tentava "tentar entender" esta criatura com claras intenções de amenizar seus feitos. Outra, não estamos discutindo arte aqui, est texto foi sobre um ocorrido trágico que se deu em um cinema, um veículo de arte. Não há muitas interpretações a serem feitas, o que me dá o direito sim, assim como a qualquer um, de discutir visões que eu achar errôneas como a do primeiro comentário.

      Já "pagar de entendidos" é variável, deppende do que você está falando, cinema? arte em geral? o caso de Aurora em si?

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    2. Realmente, as interpretações serão inúmeras, assim como nossos comentários.
      Acho que uma coisa não tem nada a ver com a outra. O cinema não deveria sere crucifixado por seus desdobramentos e sim por seu resultado artístico.
      Se mataram ou deixaram de matar, culpa do filme não é, assim como os casais formados após o Meu Primeiro Amor, não são filhos do filme.
      Separaremos arte de realidade. Seus desdobramentos são meras doenças de nossa interpretação.

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    3. Se é assim que pensa, estamos andando em círculos, pois concordo inteiramente. E nunca afirmei o contrário. Nunca culpei o filme ou a arte pelo ocorrido. Não mesmo, apenas constatei minha infelicidade perante ao fato de justamente o cinema e a arte estarem sendo palco de uma tragédia assim, sendo exatamente minha tristeza porque sei que que eles não tem absolutamente nada a ver com o maluco que cometeu os assassinatos.

      E a minha frase que encerra o texto diz respeito a isso, quando que o cinema deixou de ser divertido e virou algo que as pessoas estão relacionando a tragédia? Entende meu ponto?

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  3. Entendi o fato das pessoas estarem transformando arte em tragédia.
    Não podemos culpar este meio pelos ocorridos, mas as não podemos culpar esta arte de ser a culpada pelas doentias atitudes protagonizadas por espectadores doentes que resolvem enlouquecer e deturpar tudo o que a arte significa.
    O post é válido, mas deve ser bem direcionado.

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    1. Concordo de novo, e tão pouco relacionei o assassino ao filme ou ao cinema em si, como ambos já dissemos aqui, nenhum dois tem nada a ver. É o filme e um maluco, um não é consequência do outro. Justamente o que me entristece é que relacionem ambos.

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  4. Tive um PVT com o autor do post e chagamos a um denominador razoável. Fazem sentido, todas as opiniões.

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