Eu gostaria de escrever uma
crítica sobre Transformers 4: A Era da
Extinção, mas, primeiro, teria de ver algumas perguntas respondidas. De
fato, lendo o meu caderninho de anotações - onde rabisco memorandos sobre os
filmes que assisto para depois poder compor um texto com eles – encontrei não
os habituais apontamentos e transcrições de falas e pequenos detalhes, mas
perguntas. Tenho pelo menos uma teoria para cada resposta, mas apenas Michael
Bay sabe a verdade. Ele, que no ano passado reconheceu todos os seus
maneirismos e os usou a favor de uma obra no ótimo e divertido Sem Dor, Sem Ganho, aqui, retorna aos
espasmos catatônicos de sua habitual direção. Então, de agora em diante, minhas
perguntas são diretamente direcionadas ao Sr. Bay.
Michael, você já assistiu a um filme chamado 2001: Uma Odisseia no Espaço? Pois lá, o diretor, Stanley Kubrick, faz um dos cortes mais famosos do cinema, um salto (elipse) temporal que avança da pré-história até um futuro próximo do nosso presente, ligando os dois momentos apenas com um movimento parecido de um objeto centralizado em ambos os tempos. Acho que deveria dar uma olhadinha neste filme caso não o tenha feito ainda, porque lhe seria uma inspiração já que, aqui, você também faz um salto temporal tão grande quanto, desde a época dos dinossauros até um futuro ainda mais distante que aquele de 2001, mas faz isso de maneira brusca, tosca e sem preparação. A princípio, a diferença entre os dois takes poderia ser apenas geográfica, caso não soubéssemos que dinossauros e seres humanos nunca conviveram.
Mas já que estou falando de sua
montagem, me responda mais uma ou duas coisinhas. O senhor tem labirintite, Sr.
Bay? Porque se sim, acho que está deixando transparecer isso nos seus filmes –
mesmo tendo o vencedor do Oscar William Goldenberg na sua equipe de monatgem.
Sei que a desorientação e falta de equilíbrio devem ser foda, mas é que fica
difícil muitas vezes entender quem está onde, vindo de que lugar, em relação a
que e quando neste seu filme. Por exemplo, quando aqueles agentes (não
lembro o nome deles, acho que não eram importantes para a trama afinal de contas, mas
chego lá num segundo...) decidem ir até a fazenda do Code (Mark Wahlberg), é noite,
então, a filha dele é mostrada lá num pôr do sol, mas logo depois aparecem os
carros vindo e é pleno dia, mas quando surge um helicóptero, o pôr do sol
voltou! O que só me deixou mais confuso quando tudo culmina na fazenda e o sol
está a pino novamente. Digo, quantos dias demoraram pra esse pessoal chegar lá?
Porque o filme dá a entender que foram apenas algumas horas...
De qualquer forma, sem isso eu
consigo viver, mas por favor, Michael, eu preciso saber o que acontece com o
Code durante (um dos muitos) clímax. Ele está lá lutando com o cara na lateral
de um prédio, por cima de toldos, pedestais e ar condicionados, eles despencam
pelo menos uns dez andares nesta luta, isso que já estavam mais ou menos no meio do
prédio. Porém, veja só, quando vemos um plano geral da luta, o senhor nos
mostra que eles estão apenas três andares abaixo do telhado. Como isso ocorreu?
Code passou por algum tele transporte? Voltou no tempo? Na verdade ele caiu
para cima? Bom, fica mais essa pergunta aí.
Eu levantaria questões sobre a
trama, caro Michael Bay, mas não tenho ainda plena certeza de que ela é
relevante para quem vai assistir ao filme. Digo, essa já é a quarta vez que se
inventa um motivo diferente para os robôs terem vindo parar na Terra, então,
não sei nem se assistir aos filmes anteriores é realmente necessário. Uma das
únicas referências que notei a eles foi um outdoor que dizia “relembrem
Chicago”, aludindo aos acontecimentos daquele pavoroso O Lado Oculto da Lua. E
talvez você pudesse argumentar “Hey, Yuri, mas sem os outros filmes o pessoal
iria ficar perdidão com o que tá rolando, nem saberiam quem é o Optimus!”. Bom,
Michael, eu já fiquei perdidão e isso que assisti a todos os outros três
filmes. Afirmo que não seria mais confuso do que já é considerar este um
primeiro longa-metragem de uma série.
Ah, e esse roteiro Michael? Digo,
“minha cara é o meu mandato” foi até legal, mas quando alguém durante o filme
chama outra pessoa de machista, fiquei pensando se era uma piada
metalinguística sua, confere? E falando em diálogos, Optimus tem mesmo centenas
de anos ou você tá de zoeira comigo? Quero dizer, ele bem poderia ser uma
criança gigante de metal, já que sua inteligência o limita a dizer coisas como
“Honra até o fim” e “vou matar você”. Complicado esse tipo de atitude para um
ser supostamente tão evoluído, não é? Mas do que estou reclamando?! Optimus é um
achado perto daquele coadjuvante mala que já nem lembro o nome. Só lembro que
em certo ponto ele morre e, uffa, já não era hora... Aliás, o sobrenome do Code
ser Yeager tem algo a ver com uma homenagem a Círculo de Fogo...? Enfim.
Ao menos, Michael, de uma tenho
certeza. Ninguém, NINGUÉM mesmo, se divertiu tanto com esse filme quanto
Stanley Tucci e Mark Wahlberg, que normalmente ótimos, voltam a esbanjar aqui o
que tem de melhor: o carisma e timing cômico. Deveria trabalhar sempre com eles
e POR FAVOR, com o The Rock de novo. Ainda dou risadas à noite lembrando de
“One Way Jesus” em Sem Dor, Sem Ganho.
Temo dizer, entretanto, que eles tenham sido os únicos a se divertir com
Transformers 4. Eles e, claro, todos os patrocinadores que vocês da produção
não deixaram de “homenagear” durante a projeção. Aquelas participações
especiais da Victoria’s Secrets e do RedBull fizeram a diferença no rumo das
coisas, com certeza... Falando nisso, aqueles dinossauros robôs, de onde vieram
e para onde foram? Por um acaso trata-se aqui de um prelúdio de Jurassic World?
Seria inusitado, afinal, ele também é o quarto filme da franquia Jurassic Park. É
que quando o Optimus diz aos bichos que corram livres, eles meio que fazem isso,
não é? Mas em direção à China... Bom, enfim...
Michael!!! Quase esqueci, acho
que deveria dar mais atenção aos seu personagens cara, eles são muito carentes
e vivem querendo chamar a atenção para si. Ficam até mesmo apontando o óbvio
diversas vezes; “olha, aquilo atrai o metal e depois solta”, diz um deles logo
depois de você mesmo, Sr. Bay, ter acabado de nos mostrar isso. Aliás, nessa
cena, que se assemelha visualmente ao clímax de Homem de Aço, aquela trilha também foi composta “inspirada” no
filme do Zack Snyder, ou... Foi só coincidência a marcha composta pelo Steve
Jablonsky ser quase idêntica a faixa Terraforming,
criada pelo Hans Zimmer para esse mais recente filme do Super-Homem?
Enfim, são tantas perguntas e
dúvidas Michael, espero que logo possamos esclarecê-las todas para que eu possa
escrever a crítica do seu filme... Até lá, deixarei uma nota provisória, ok?
NOTA: 3/10
P.S. – Michael, uma última coisinha, um pedido na verdade.
Mais curtinho da próxima vez? Até porque eu sei que vai haver uma, não só pelo
final mas pela bilheteria que o filme tem feito... Então, tipo, robôs gigantes
lutando é legal e tudo o mais e tal, mas, quase três horas disso, né, dá um
cansaaaaço...
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