Guardiões da Galáxia é um filme muito, muito divertido. E se os
produtores temiam que os desconhecidos e estranhos heróis fossem rejeitados
pelo grande público, podem ficar tranquilos. Essa falta de embasamento deste novo mundo entre
os espectadores é superada tão logo a cena inicial - que serve de prólogo até
mesmo para o logo da Marvel – nos leva de uma triste situação familiar a uma
abdução alienígena em segundos. E já com ares Spilberianos, demora a revelar o
rosto adulto de nosso protagonista enquanto esse, solitário, busca uma relíquia
nas ruínas de uma civilização antiga. Se os outros filmes deste universo da
Marvel já eram considerados coloridos e irreverentes, Guardiões extrapola o conceito e seus títulos já surgem gigantes ao
som de uma descontraída canção da década de 1980, marcando o compromisso de
entreter ao qual os próximos 110 minutos irão se dedicar com afinco. E os “críticos”
chatos, aqueles que não consideram blockbusters uma expressão artística também,
que bocejem à vontade, pois na nobre tarefa de fazer rir e se empolgar – tão válida
quanto a de outros filmes de fazer refletir sobre a natureza humana, por
exemplo – o diretor James Gunn consegue ser deveras bem sucedido.
Após roubar um artefato
misterioso, Peter Quill (Chris Patt) se vê caçado pelo mercenário Yondu
(Michael Rooker) e consequentemente por um despótico vilão chamado Ronan (Lee
Pace), que acima de tudo deseja exterminar uma raça inimiga de um planeta
inteiro. Primeiro perseguido pelos caçadores de recompensas Rocket (Bradley
Cooper) e Groot (Vin Diesel) – um guaxinim geneticamente modificado e uma
espécie de alienígena arbóreo, respectivamente – logo Quill, que se
autodenomina Star-Lord, também se vê como alvo da filha do poderosíssimo Thanos
(Josh Brolin), a mortal Gamora (Zoe Saldana). E no meio desta disputa de cabeças os quatro acabam sendo feitos prisioneiros, quando então deverão juntar forças
para escapar e descobrir de que tipo de poder é dotado o tal objeto para que
tantos estejam caçando-o. Mas para isso, acabam precisando da ajuda de Drax
(Dave Bautista), adicionando assim mais um estranho membro ao grupo.
É impossível não estabelecer certas
relações com Star Wars em Guardiões da Galáxia; desde o óbvio uso
de figurinos que referenciam os westerns, passando pela situação do
protagonista, que em sua amada nave vive altas aventuras fugindo de um
mercenário a quem deve, até a desumanização dos capangas inimigos através da
uniformização e ocultação dos rostos dos mesmos. Fórmulas que funcionam sem
chamar atenção para si mesmas e por isso são eficientes. Mas o grosso do caldo,
o que dá ao longa-metragem a sustância para sobreviver na memória do
espectador, é mesmo seu bom humor. O filme não se leva a sério – e veja que
isso é diferente de dizer que ele não leva seus personagens e aquele mundo a
sério – não se poupando de, dentro da lógica daquele universo, inserir diversas
piadas e momentos cômicos que buscam, sem medo algum, o único objetivo de ser
divertido. Ou seja, o roteiro não ri de si próprio, apontando falhas e rindo de
suas esquisitices. Não, ele usa a própria natureza de sua trama e das figuras
que a povoam para fazer rir. Drax e sua dificuldade em entender expressões, a
tendência de ser mulherengo de Peter – “se tivesse uma luz-negra aqui ela iria
realmente sentir nojo, parece uma pintura abstrata” – e o temperamento
estourado de Rocket, uma animalzinho aparentemente inofensivo que porta uma
arma duas vezes o seu tamanho - "se liga nos gêneros!" alerta ele a Groot em certo momento.
Aliás, é o pequeno guaxinim quem
rouba a maior parte das cenas, não só pelo contraste óbvio entre tamanho e
talento em combate, como também por ganhar a voz enérgica de Bradley Cooper e
ser concebido por uma animação digital impecável. O que, felizmente, também
pode ser dito de Groot, que embora tenha as falas dubladas por Vin Diesel
reduzidas a “I am Groot”, exibe um carisma descomunal através de sua concepção
visual facial. Parabéns a todos os departamentos técnicos então. Principalmente
aquele responsável pelo design de produção do projeto, que exibe cenários tão
envolventes como criativos. O enorme crânio transformado em uma cidade inteira
é provavelmente o meu favorito. Ainda bem, é bem explorado entre cenas de ação,
romance e aventura. Mas palmas a parte merece também a maquiagem, que no tanto
que pode, aposta nas boas e velhas trucagens de pintura e próteses, renunciando
o máximo possível os quase sempre inverossímeis acabamentos digitais.
Aqueles acostumados com a
tendência sombria e de cunho humano/político/social em longas adaptados de HQ’s,
deverão deixar este mundo cinzento e dessaturado para trás, pois James Gunn não
nega ao seu filme uma paleta colorida, uma trilha baseada em leves canções e muitas
piadas repletas de referências que saem pela boca de Peter Quill. Este,
interpretado por Patt com a seriedade necessária para que o possamos comprar
como nosso herói e representante dentre todos aqueles inéditos seres. E é
assim, calcado em soluções simples, comprovadas, mas não menos inteligentemente
usadas por isso, que Guardiões da Galáxia ganha até o mais indiferente dos
espectadores e o leva através de uma aventura tão saborosa quanto satisfatória.
Mal espero para ver os filmes que se seguirão a este, e a já anunciada junção
do grupo com aqueles que compõe Os
Vingadores.
NOTA: 9/10
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