sexta-feira, 1 de agosto de 2014

GUARDIÕES DA GALÁXIA



Guardiões da Galáxia é um filme muito, muito divertido. E se os produtores temiam que os desconhecidos e estranhos heróis fossem rejeitados pelo grande público, podem ficar tranquilos. Essa falta de embasamento deste novo mundo entre os espectadores é superada tão logo a cena inicial - que serve de prólogo até mesmo para o logo da Marvel – nos leva de uma triste situação familiar a uma abdução alienígena em segundos. E já com ares Spilberianos, demora a revelar o rosto adulto de nosso protagonista enquanto esse, solitário, busca uma relíquia nas ruínas de uma civilização antiga. Se os outros filmes deste universo da Marvel já eram considerados coloridos e irreverentes, Guardiões extrapola o conceito e seus títulos já surgem gigantes ao som de uma descontraída canção da década de 1980, marcando o compromisso de entreter ao qual os próximos 110 minutos irão se dedicar com afinco. E os “críticos” chatos, aqueles que não consideram blockbusters uma expressão artística também, que bocejem à vontade, pois na nobre tarefa de fazer rir e se empolgar – tão válida quanto a de outros filmes de fazer refletir sobre a natureza humana, por exemplo – o diretor James Gunn consegue ser deveras bem sucedido.


Após roubar um artefato misterioso, Peter Quill (Chris Patt) se vê caçado pelo mercenário Yondu (Michael Rooker) e consequentemente por um despótico vilão chamado Ronan (Lee Pace), que acima de tudo deseja exterminar uma raça inimiga de um planeta inteiro. Primeiro perseguido pelos caçadores de recompensas Rocket (Bradley Cooper) e Groot (Vin Diesel) – um guaxinim geneticamente modificado e uma espécie de alienígena arbóreo, respectivamente – logo Quill, que se autodenomina Star-Lord, também se vê como alvo da filha do poderosíssimo Thanos (Josh Brolin), a mortal Gamora (Zoe Saldana). E no meio desta disputa de cabeças os quatro acabam sendo feitos prisioneiros, quando então deverão juntar forças para escapar e descobrir de que tipo de poder é dotado o tal objeto para que tantos estejam caçando-o. Mas para isso, acabam precisando da ajuda de Drax (Dave Bautista), adicionando assim mais um estranho membro ao grupo.


É impossível não estabelecer certas relações com Star Wars em Guardiões da Galáxia; desde o óbvio uso de figurinos que referenciam os westerns, passando pela situação do protagonista, que em sua amada nave vive altas aventuras fugindo de um mercenário a quem deve, até a desumanização dos capangas inimigos através da uniformização e ocultação dos rostos dos mesmos. Fórmulas que funcionam sem chamar atenção para si mesmas e por isso são eficientes. Mas o grosso do caldo, o que dá ao longa-metragem a sustância para sobreviver na memória do espectador, é mesmo seu bom humor. O filme não se leva a sério – e veja que isso é diferente de dizer que ele não leva seus personagens e aquele mundo a sério – não se poupando de, dentro da lógica daquele universo, inserir diversas piadas e momentos cômicos que buscam, sem medo algum, o único objetivo de ser divertido. Ou seja, o roteiro não ri de si próprio, apontando falhas e rindo de suas esquisitices. Não, ele usa a própria natureza de sua trama e das figuras que a povoam para fazer rir. Drax e sua dificuldade em entender expressões, a tendência de ser mulherengo de Peter – “se tivesse uma luz-negra aqui ela iria realmente sentir nojo, parece uma pintura abstrata” – e o temperamento estourado de Rocket, uma animalzinho aparentemente inofensivo que porta uma arma duas vezes o seu tamanho - "se liga nos gêneros!" alerta ele a Groot em certo momento.


Aliás, é o pequeno guaxinim quem rouba a maior parte das cenas, não só pelo contraste óbvio entre tamanho e talento em combate, como também por ganhar a voz enérgica de Bradley Cooper e ser concebido por uma animação digital impecável. O que, felizmente, também pode ser dito de Groot, que embora tenha as falas dubladas por Vin Diesel reduzidas a “I am Groot”, exibe um carisma descomunal através de sua concepção visual facial. Parabéns a todos os departamentos técnicos então. Principalmente aquele responsável pelo design de produção do projeto, que exibe cenários tão envolventes como criativos. O enorme crânio transformado em uma cidade inteira é provavelmente o meu favorito. Ainda bem, é bem explorado entre cenas de ação, romance e aventura. Mas palmas a parte merece também a maquiagem, que no tanto que pode, aposta nas boas e velhas trucagens de pintura e próteses, renunciando o máximo possível os quase sempre inverossímeis acabamentos digitais.  


Aqueles acostumados com a tendência sombria e de cunho humano/político/social em longas adaptados de HQ’s, deverão deixar este mundo cinzento e dessaturado para trás, pois James Gunn não nega ao seu filme uma paleta colorida, uma trilha baseada em leves canções e muitas piadas repletas de referências que saem pela boca de Peter Quill. Este, interpretado por Patt com a seriedade necessária para que o possamos comprar como nosso herói e representante dentre todos aqueles inéditos seres. E é assim, calcado em soluções simples, comprovadas, mas não menos inteligentemente usadas por isso, que Guardiões da Galáxia ganha até o mais indiferente dos espectadores e o leva através de uma aventura tão saborosa quanto satisfatória. Mal espero para ver os filmes que se seguirão a este, e a já anunciada junção do grupo com aqueles que compõe Os Vingadores.



NOTA: 9/10 




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