quarta-feira, 16 de maio de 2018

CRÍTICA: DEADPOOL 2


Há dois anos, quando escrevi sobre o primeiro Deadpool, lembro de ter me preocupado com o quão bem o filme iria envelhecer, por se sustentar tanto em piadas referenciais que poderiam alienar boa parte do público. Além disso, parecia que a produção se enxergava como algo visionário apenas por estar usando violência gráfica, piadinhas sujas e recursos de linguagem espertos - o que não seria verdade. Fato é que o primeiro filme estrelado pelo mercenário (ou, digamos, o primeiro que deu certo, cof cof X-Men Origins cof cof), conseguiu ser ele mesmo uma expressão perfeita do protagonista: irreverente, brutal e um tanto estúpido.



Deadpool 2 já reconhece ainda melhor esses pontos fortes, e por outro lado, também se faz mais humilde. Se antes o anti-herói parecia se colocar um pouco acima dos outros longas do gênero por ter consciência de que estava em um filme, agora, ele usa isso muito mais para se satirizar como um produto de mercado. “Deadpool 2 é um filme família”, garante Wade (Ryan Reynolds) já nos minutos iniciais; e que a fala seja ilustrada por uma carnificina nem chega ser a parte mais engraçada disso, porque em segundo plano, podemos constatar que Deadpool 2, de fato, está tentando ser um filme família.


A trama dessa vez gira em torno de um garoto mutante chamado Russell (Julian Dennison), abusado por fanáticos anti-mutantes em um orfanato, ele usa seus poderes para escapar, o que coloca Wade na sua cola. Mas daí entra Cable (Josh Brolin), um ciborgue vindo do futuro que quer matar Russell, pois acredita que ele vai se tornar um perigoso assassino. O que, por tabela, força Deadpool a juntar forças com outros mutantes, como Dominó (Zazie Beetz), Colossus (Stefan Kapicic) e Negasonic Teenage Warhead (Brianna Hildebrand), na tentativa de salvar a criança.


E essa é uma das ideias primordiais no distanciamento que o filme toma de seu predecessor. “Eu estou destinado a só viver aventuras solo”, reclama o mercenário, e para não se converter apenas em uma repetição da fórmula, Deadpool 2 prefere povoar aquele universo. Ok, isso demora um pouco pra acontecer, e por mais interessante e dramaticamente relevante que seja o primeiro ato do longa, ele parece destacado do outros dois. Sem revelar nenhum detalhe importante da trama, apenas quero dizer que as viradas de roteiro poderiam ter levado aos mesmos desfechos sem tanto radicalismo - e quando eventualmente se percebe isso, fica claro que as escolhas criativas visavam apenas comover da forma mais fácil.


“Ah, Yuri, mas é um filme que se chama o tempo inteiro de preguiçoso”. Bom, caro leitor hipotético, não é porque um roteiro é auto-ciente da sua preguiça, que ele vai soar menos preguiçoso.


A coisa é que os eventos no início são um tanto previsíveis e, inclusive, incorporam a estrutura do outro filme - Wade está feliz com a namorada, alguma coisa acontece, os X-Men intervém, ele fica preso em um lugar e se liberta para cumprir uma missão etc. O ponto é que, assim como o longa anterior, Deadpool 2 acaba se tornando um amontoado dos clichês que tanto satiriza. O que não é exatamente um problema, porque faz parte da ideia de meta-piada que o próprio projeto pretende ser. Mas sim, frente às outras sacadas espertas (a cena dos paraquedas, sozinha, é uma esquete excepcional), essas escolhas parecem como um degrau de criatividade que o filme poderia, mas decide deliberadamente não galgar. Além do mais, essa despreocupação com o roteiro distancia a produção de uma narrativa que se sustenta sozinha, e a traz mais próxima da ideia de ser unicamente uma sátira mesmo, no estilo Todo Mundo em Pânico - algo como uma colagem de piadas guiada por uma trama que, pela própria descontração do projeto, torna-se desimportante.


De outra forma, David Leitch é um diretor mais interessante do que Tim Miller, que abandonou a continuação por diferenças com a Fox. Embora Leitch mantenha a estética estabelecida antes, é melhor maestro das cenas de ação - mais presentes nessa sequência. Por exemplo, a perseguição envolvendo um caminhão gigante, que é o ponto alto nesse quesito, diverte justamente por conseguir estabelecer onde está cada um dos heróis e vilões e como suas habilidades interagem de forma diferente dependendo do oponente - e o filme obviamente se detém um tanto a mais ilustrando a “sorte” da carismática Dominó, personagem com quem Leitch se diverte por poder repetir com ela as estratégias visuais que empregou em De Volta ao Jogo e Atômica, utilizando qualquer elemento de cena e do cenário para impulsionar as lutas de forma criativa, o que as deixam consideravelmente mais interessantes e imprevisíveis.


E se Julian Dennison não é uma criança especialmente carismática, especialmente para inspirar a torcida do público, Ryan Reynolds, com o rosto coberto pelo capuz vermelho na maior parte do filme, demonstra continuar a ser um poço de carisma e dono de um timing cômico que complementa muito bem sua apurada expressão corporal para a comédia. Já Zazie Beetz faz bem ao conferir um tom mais blasé à Dominó, até pela natureza dos seus poderes, mas não deixa de conferir certo encanto ao olhar da mutante, que apesar de não ter medo de muita coisa, não sabe que surpresas a jornada lhe reserva. Ainda que seja mesmo Josh Brolin quem acaba ocupando a maior parte da coadjuvação ao estabelecer Cable como um homem de poucas palavras e emoções, bem diferente do complexo Thanos vivido pelo ator através da performance capture em Vingadores: Guerra Infinita.


Por fim, ainda é divertido como esse universo continua a zombar dos pudores hollywoodianos com sexo, colocando as piadas envolvendo genitálias ao lado da violência grotesca, banalizando ambos - o que não deixa de ser um modo crítico de apontar como a indústria tende a tratar de forma bem mais preconceituosa o corpo e a líbido, enquanto é mais permissiva com a brutalidade. E, para seguir a tradição, há algumas cenas durante os créditos finais que, na minha singela opinião, estão entre as mais engraçadas do filme.


Nota: 8/10


Um comentário:

  1. A trilha sonora é uma peça perfeita para este filme. Adorei a participação de Josh Brolin, é um ator multifacetado, seu papel de Cable é muito divertido e interessante. O vi também em Homens de Coragem, é muito bom. É interessante ver um filme que está baseado em fatos reais, acho que são as melhores historias, porque não necessita da ficção para fazer uma boa produção. Gostei muito de Homens de Coragem, não conhecia a história e realmente gostei. A história é impactante, sempre falei que a realidade supera a ficção, acho que é um dos melhores filmes de Jennifer Connelly . Super recomendo. É impossível não se deixar levar pelo ritmo da historia, o elenco fez possível a empatia com os seus personagens em cada uma das situações.

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