Envolto em uma fotografia preto e
branca crua, Nebraska reflete esteticamente a narrativa que nos entrega:
melancólica e crível, a história de Woody Grant (Bruce Dern) e sua família se
desenrola com sensibilidade, jamais caindo no erro de transformar em caricaturas
os personagens que desfilam em tela. E se a descoloração da palheta de cores
não é lá um toque muito sutil ou original, ao menos não ofusca um roteiro
delicado e habilmente representando pelo admirável elenco.
sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014
terça-feira, 25 de fevereiro de 2014
APOSTAS - OSCAR 2014
Como todo ano, listei as minhas apostas para o Oscar, afinal, é divertido tentar adivinhar os vencedores da premiação mais reconhecida do cinema mundial. Deixo meus palpites e argumentos abaixo para cada categoria, não esqueça de fazer o mesmo deixando sua opinião nos comentários.
MELHOR FILME:
QUEM DEVERIA GANHAR: Os
Suspeitos... Como é que é? Não está nem
indicado? Shit! Ok, e Antes da Meia-Noite? Esse também
não foi lembrado!? Porra... Gravidade então.
QUEM VAI GANHAR NA REAL: 12 Anos de Escravidão, a Academia adora exorcizar os
demônios da escravidão e do preconceito racial através de prêmios que
demonstrem sua "extrema bondade", pelo menos farão isso com um filme
que merece desta vez, ainda que Gravidade tenha suas chances aqui também.
UMA BOA SURPRESA SERIA: Gravidade ou O Lobo de Wall Street.
SE GANHAR MANDO "SE FODER!": Philomena ou Trapaça, bons
filmes que, apesar de muitos méritos, não deveriam estar em nenhuma lista de
melhores do ano.
sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014
12 ANOS DE ESCRAVIDÃO
A arte é normalmente uma via de
duas mãos: o artista e sua obra oferecem algo, mas o observador, mesmo que
inconscientemente, também deve desprender algo de si próprio para que sua
experiência seja completa, pode ser conhecimento, emoção, sensações... De
qualquer forma, ao menos ele tem de oferecer à obra atenção, se espera que ela
lhe atinja de alguma maneira, mesmo que de uma ruim. Vista assim, a arte existe
graças a este tipo de reação química, esta troca de elétrons ente ser humano e
criação. Porém, no que se trata do cinema, o espectador sempre foi mal
acostumado por produções de fácil acesso a apenas sentar-se em sua poltrona e
esperar ser comovido por aquilo que se passa na grande tela a sua frente. Um
equívoco, claro, e alguns chegam a dizer inclusive que há certos filmes que são
apenas para desligar o cérebro e relaxar. Eu costumo chamar longas-metragens assim
de ruins, pois acredito que mesmo o blockbuster mais clichê e previsível possa
oferecer algo que mantenha o cérebro trabalhando por toda a sua duração, e
simplesmente não entendo o conceito de “conseguir desligar o cérebro” para
qualquer coisa que seja. Posto isso, grande parte das produções que vemos
semanalmente buscam de certa maneira induzir a emoção, a moral ou a lógica que
querem passar com uma história ou outra - e não aponto isso como um demérito
(!). Mas, de vez em quando, aparecem aqui e ali um roteiro que exige de seu
observador um pouco mais; que este trabalhe em cima do que a obra oferece, seja
teorizando, julgando, raciocinando, etc. Obras assim costumam gerar grande
repúdio do público em geral que simplesmente prefere tramas que digam elas
mesmas ao que vieram e do que se tratam, poupando assim o trabalho do
espectador. O que não será o caso de 12
Anos de Escravidão, que embora apresente esta característica exigente de
seu espectador, fala sobre um tema tão polêmico e acessível, que deve compensar
a abordagem do diretor Steve McQueen no que tange o cativo exercido pelo filme.
quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014
ROBOCOP
O novo Robocop é um exemplo de remake, ao menos em suas intenções, e se
estas funcionam para uns e para outros não já é uma questão diferente.
Recontando a história original sem se preocupar em ser fiel e tomando muitas
liberdades, o filme dirigido pelo brasileiro José Padilha atualiza a narrativa,
a abordagem e a proposta crítica do longa de Paul Verhoeven, sem com isso
desrespeitar o filme de 1987, pelo contrário, homenageando-o sempre que
possível e sem precisar pisar no freio para fazê-lo, inserindo suas muitas
referências de forma natural. Por isso desde já considero errado usar o material de
origem para criticar este longa-metragem, uma vez que, apesar de referenciá-lo,
a produção de Padilha jamais torna sua história dependente daquele filme. São
duas linhas de pensamento diferentes em cima de um mesmo plot; se lá na década
de oitenta Verhoeven usava o satírico para alfinetar as grandes corporações
que, com grande poder acumulado após um longo período de propagandas
pró-capitalistas e anticomunistas, controlavam e influenciavam partes importantes
do serviço público, aqui, quase trinta anos depois, o remake aborda a tendência dos Estados Unidos a interferir nas políticas externas de
outros países e as diversas fobias que isto acaba causando em sua população. E
um povo com medo, é sempre um povo mais fácil de se manobrar.
PHILOMENA
Indicado a quatro Oscars este
ano, incluindo Melhor Filme, Philomena
é o típico projeto que a academia adora premiar ou de alguma forma reconhecer.
Baseado em fatos reais, conta a história da personagem título, uma senhora de
idade irlandesa (Judi Dench) que, com a ajuda do pomposo jornalista Martin
(Steve Coogan), tenta achar seu filho, de quem foi separada quando ele ainda
tinha apenas poucos anos de vida. Equilibrando habilmente o drama da situação
da nossa protagonista com o humor gerado a partir do choque entre seus jeitos
simples e os mais etiquetados de seu colega de viagem, o longa de Stephen
Frears, porém, não toma partidos ou ousa de qualquer forma, mantendo-se em uma
zona de segurança que sempre garantem que filmes como estes sejam premiados
temporada a fora.
CLUBE DE COMPRAS DALLAS
Clube de Compras Dallas é um filme de personagem, isso quer dizer que apesar de tratar de muitos
interessantes temas, o foco é em como estes cenários afetam o arco de seu
protagonista. No caso, Ron (Matthew McConaughey), é um eletricista e peão de
rodeios aposentado que se descobre com AIDS. Preso no Texas dos anos oitenta,
ele logo é excluído do convívio de seus amigos e colegas que o acusam de ser
homossexual. Doente e com uma expectativa de vida estimada em trinta dias, ele se associa ao colega de quarto, o travesti Rayon (Jared Leto), e a médica
Eve (Jennifer Garner) para fundar um negócio onde, por uma taxa significativa,
disponibiliza para diagnosticados com HIV remédios traficados do exterior para
o tratamento da doença, em combate a outro considerado perigoso e
disponibilizado legalmente pelos hospitais.
sábado, 15 de fevereiro de 2014
FROZEN - UMA AVENTURA CONGELANTE
Sem um vilão definido até o clímax
da produção, contando também com uma princesa que é criticada por se apaixonar
no mesmo dia em que conhece seu suposto amor verdadeiro, com um príncipe que se
revela tudo, menos heroico, e ainda com um desfecho que prova que no final das
contas, a donzela em perigo pode salvar a si mesma sem a ajuda de herói algum, Frozen chega quebrando sem sutileza
alguma os padrões dos filmes de princesa da Disney estabelecidos há quase 77
anos com A Branca de Neve e os Sete Anões,
finalmente realizando com sucesso completo o que a casa do Mickey Mouse vinha
tentando fazer desde 2009 com A Princesa
e o Sapo (fraco) e mais tardiamente, com Enrolados (muito bom). Aqui, diferentemente destes últimos, o
roteiro subversivo, os adoráveis personagens, uma trilha contagiante e, veja
só, até mesmo uma referência a Watchmen,
tornam esta mais nova animação da produtora um clássico recém-nascido.
CAÇADORES DE OBRAS-PRIMAS
Recentemente, por motivos
diversos, me pediram para fazer um corte didático do filme Tudo Pelo Poder, para ser apresentado em uma aula de faculdade,
reduzindo-o a no máximo quarenta minutos. Me encontrei então com uma tremenda
dificuldade de retirar um segundo sequer de sua duração, já que cada uma de
suas cenas me parecia necessária para o entendimento da próxima. Antes me
tivessem entregado este outro filme dirigido e estrelado por George Clooney, Caçadores de Obras-Primas, do qual se
poderia retirar muitos minutos com facilidade, sem garantir com isso,
porém, que o resto se tornasse interessante.
quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014
ELA
Em um futuro (não tão diferente
assim do nosso presente) onde cada indivíduo parece ter como melhor amigo o seu
computador portátil, pouco comunicando-se um com o outro presencialmente,
tornou-se desnecessário paras as pessoas demonstrarem seus gostos, estilos,
opiniões ou posições sociais e políticas através da aparência. Estampas, logos,
marcas e demais detalhes estilizados e ou personalizados fugiram da vestimenta
do cidadão comum, em seu lugar, roupas coloridas, de uma paleta de tons básicos,
que quando não se mostram chapadas em toda uma peça do vestuário, no máximo se
espalham por alguma textura padronizada, unificando assim aquele conjunto de
pessoas que em tempos de redes sociais e alta exposição da vida pessoal online,
não precisam mais externar no mundo real suas nuances de personalidade. E deste
modo, a roupa acaba servindo até mesmo para poupar o último resquício de
comunicação entre eles, já que suas agradáveis cores vivas e suas texturas
repetitivas parecem já adiantar pra o próximo “estou bem e tudo está normal,
obrigado por perguntar”. E o figurino é apenas um detalhe admirável de Ela, novo longa-metragem de Spike Jonze,
projeto que se mostra eficiente como estudo de personagem, romance, ficção-científica
e debate filosófico. O que é algo considerável para um filme que fala basicamente
sobre um homem apaixonado pela Siri.
quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014
TRAPAÇA
O Vencedor foi um bom filme que, reconhecido na maioria das
premiações ao menos com indicações, deu destaque ao seu diretor, David O.
Russell, que apresentava então uma direção apenas correta, mas não admirável.
Claro, este filme e seu projeto seguinte, O
Lado Bom da Vida, foram frutos da produção dos Weinstein, que pra quem não
conhece, são dois produtores que conhecem muito bem o funcionamento das
premiações e sempre garantem ter um de seus filhotes entre os favoritos; às
vezes são bons filmes que realmente mereciam o reconhecimento (como o próprio O Vencedor), outras vezes são projetos
medianos (como o Lado Bom da Vida), e
outras vezes ainda, são filmes que decididamente não mereciam nem mesmo se
perder tempo escrevendo sobre, quanto mais um Oscar (cof cof, Shakespeare Apaixonado... COF COF!). Dito
isso, Trapaça, novo longa do cineasta,
não faz parte destas últimas categorias, mas tampouco é integrante da primeira,
acontece de ser apenas um bom filme sustentado basicamente por seu elenco.
Ponto final.
Sendo assim, suas DEZ (!)
indicações ao Oscar são no mínimo exageradas, principalmente aquela referente à
direção, e tendo em vista que pela primeira vez os Weinstein não estão por trás
do projeto, as de Melhor Filme, Montagem e Roteiro também. Categorias onde foi
claramente superestimado. Se em O Lado Bom da Vida elogiava detalhes da condução de O. Russell como baixar a
câmera rapidamente para filmar as mãos nervosas do personagem de Bradley
Cooper, aqui tenho de engolir minhas palavras e admitir que o realizador demonstra ter se apaixonado pela própria criação ao
repetir o mesmo plano diversas vezes, só que desta vez sem propósito algum,
fazendo disso quase que uma destas assinaturas inúteis como os flares de J.J.
Abrams, as lentes grande-angulares de Tom Hooper e os travellings circulares de
Michael Bay.
Mas méritos sejam dados ao homem
no mínimo por enxergar que a força de seu filme se encontra no bom elenco que
tem em mãos, sacrificando sua montagem para inserir o trio principal em uma
divertida interação ao invés de optar pela ordem cronológica onde demoraria
para apresentar a dinâmica entre os personagens. Christian Bale é um golpista
chamado Irving, que apesar de sua ocupação, é um homem muito dócil e bondoso,
casado com a supérflua Rosalyn (Jennifer Lawrence), ele começa a nutrir
sentimentos pela comparsa de golpes Sydney (Amy Adams). Mas acontece de os
dois serem pegos pelo agente do FBI Richie DiMaso (Cooper de novo), e para
escaparem da prisão certa, aceitam ajudá-lo a pegar um criminoso, interpretado por Robert De Niro, outro que repete a parceira com O. Russell
aqui. Para isso, além de lidarem com o chefe de Richie, Stoddard (um comedido,
mas sempre divertido Louis C.K.), terão de usar ainda o político interpretado
por Jeremy Renner - cuja maquiagem e figurino o transformaram em um cosplay do
Prefeito Shelbourne de Tá Chovendo
Hambúrguer.
Esta aparência caricata dos
personagens, aliás, traz um certo bom humor ao filme que ajuda a ressaltar o
carisma de seus personagens e a química admirável entre eles, assim, se Renner
parece um personagem saído de uma animação, Adams e Lawrence se enfeitam sem
pudores e apesar da rivalidade entre as personagens, até mesmo dividem um
divertido beijo. E é engraçado até que ambas estejam indicadas em categorias
opostas as do ano passado no Oscar, já que se fosse por este filme, Lawrence de
fato mereceria uma estatueta, uma vez que o papel de Rosalyn foge ao lugar
comum da atriz, da mulher forte e determinada, aqui com trejeitos e entonações
cadentes na voz; em particular, a discussão que tem com Irving sobre um
micro-ondas é hilária graças a sua performance. Já Amy Adams, embora também
fuja ao seu tipo comum, não chega a ser a fervorosa e devota esposa que lhe deu a indicação no passado, onde sua performance assustadora em O Mestre deveria ter lhe rendido a
estatueta, se vivêssemos em mundo justo. Por outro lado, Cooper passa batido e
sua cena mais memorável deve-se aos bobs presos em sua cabeça, sendo realmente
Bale o grande destaque de Trapaça.
Gordo, o ator volta a demonstrar sua incrível capacidade de alterar a forma
física para interpretar seus personagens, vivendo Irving com uma insuspeita
gentileza que nos faz até perdoar a “profissão” do homem, que aos poucos, nos
conquista como um protagonista inteligente e carismático.
Todos eles, figuras excêntricas
que parecem caber naquele mundinho concebido por David O. Russell, que desde o
início já nos avisa: “Alguns dos fatos a seguir são reais”. Mas o aviso seria
dispensável, já que, além das composições e do design de produção, nada mais
parece ressaltar o absurdo no longa, e novamente o cineasta não aposta em nenhuma
linguagem diferenciada, ficando geralmente num esquema café com leite apenas
correto, e mesmo o roteiro não apresenta a mais interessante das tramas, sendo
o inevitável plot twist ao final, esquecível. David O. Russel volta assim a realizar um projeto que, se pouco se pode criticar, tão pouco quanto pode-se
elogiar também, e tirando o elenco, sempre infalível, mas também sempre repleto de
escolhas seguras e queridas pelo público, ainda não entendo qual é a grande
comoção que o cineasta parece gerar com seus filmes.
NOTA: 7/10
NOTA: 7/10
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