terça-feira, 29 de abril de 2014

O ESPETACULAR HOMEM-ARANHA 2: A AMEAÇA DE ELECTRO


Crítica do primeiro filme >>>> AQUI.


Produto de mercado feito sob encomenda, O Espetacular Homem-Aranha sofria de um lado com as exigências de um estúdio maniqueísta, e do outro, com o contraste de estilos devido aos demasiados profissionais envolvidos em sua realização, jamais encontrando um tom acertado. Deste modo, constantemente pulava de um romance jovem, bem humorado e delicado para um filme de ação genérico, isso tudo em uma trama um tanto quanto absurda para a seriedade que tentava vender. Pois eis que, trazendo para o texto final a dupla de roteiristas responsáveis pelos excelentes Star Trek’s de J.J. Abrams, Roberto Orci e Alex Kurtzman, o diretor Marc Webb consegue entregar um longa-metragem muito mais satisfatório, que diverte e emociona com facilidade justamente por encontrar o tipo de filme que afinal queria ser.

domingo, 27 de abril de 2014

"BOYHOOD" - TRAILER



     Saiu o trailer do mais "novo" filme de Richard Linklater (dos irretocáveis Antes do Amanhecer, Antes do Pôr-do-Sol e Antes da Meia-Noite), que levou nada menos do que doze anos para ser filmado. A razão? Poder acompanhar o envelhecimento natural de seus personagens. Confira o vídeo abaixo, o longa tem previsão de estreia no Estados Unidos para o dia 11 de julho.  




quinta-feira, 10 de abril de 2014

NOÉ



Como um filme dirigido por Darren Aronofsky, não é surpresa alguma que Noé seja uma obra protagonizada por um personagem angustiado em meio à execução de um objetivo de proporções psicológicas, emocionais e físicas quase impossíveis, tal qual suas outras excepcionais realizações - sendo Cisne Negro sua obra-prima inconteste. Dando-se liberdade para explorar a figura que dá título ao projeto, o diretor, porém, surpreende ao trazer um filme que não só é fiel ao seu material de origem (o livro Gênesis da Bíblia), como também respeita sua mensagem e reproduz em tela suas partes mais fantasiosas, livre de preconceitos, adaptando o texto milenar como se fosse qualquer outro exemplar de ficção. O que, claro, deverá resultar não só na ira Deus (para os que acreditam), mas também na de uma multidão de fieis que, revoltados, deverão capazes até de dizer que o cineasta inventou o Gênesis 6:4, onde claramente se falam em gigantes que andavam sobre a Terra...


Entretanto, a história segue o que lá está escrito: escolhido por um ser superior (jamais nomeado “deus” no filme) para construir uma grande arca que vai salvar a vida da sua família, mais um casal de cada espécie de animal sobre o planeta, Noé (Russel Crowe) logo se vê em conflito com Tubal-cain (Ray Winstone) e seu exército de bárbaros, logo às vésperas do grande dilúvio prometido para exterminar a corrupção dos homens, o que traz urgência à tarefa de proporções bíblicas (sem perdão pela piada). E mesmo auxiliado por anjos caídos presos em forma de pedra, o protagonista ainda enfrenta outros desafios, como a obsessão de seu filho Set (Logan Lerman) em achar uma esposa, assim como a missão abraâmica que ele acredita precisar cumprir em relação ao bebê de Ila (Emma Watson). 


Porém, mesmo trazendo para as telas tantos dos causos relatados na história de Noé e outras presentes no livro do Gênesis, Aronofsky prefere surpreendentemente a abordagem pela delicadeza. Vários pontos mais polêmicos são tratados por ele de forma sutil, enquanto entrega sua opinião de forma quase despercebida. Por exemplo: embora repasse duas vezes o início do livro onde se conta a origem da Terra, ele jamais cita a culpa como sendo da mulher sobre o caso do fruto proibido - e cita quase que ao acaso que ele também é conhecido como o “fruto do conhecimento”, preferindo não se aprofundar no fato de que as escrituras condenam o acúmulo de informações e consciência enquanto festejam a ignorância autoimposta - embora mais tarde traga a personagem de Jennifer Connelly lamentando o sexo de um recém-nascido, sendo o próprio lamento, um sinal de subserviência feminina, algo que, de qualquer forma, é retirado da Bíblia também. De outro modo, o realizador parece disposto a mostrar aos seguidores do chamado “livro sagrado” alguns dos fatores mais estranhos (no mínimo!) de sua mitologia, como os tais gigantes, a migração em massa de animais e a arca descomunal que os abriga; elementos que o cineasta retrata com a naturalidade que Peter Jackson retrataria seus Ents ou as estruturas impossíveis da Terra-Média em outro O Senhor dos Anéis. Até o CGI capenga ajuda a reforça o conceito fantasioso da história e afasta qualquer possibilidade de se ler o filme como um absurdo "drama de época" (risos).


Desta forma, Noé é feito tanto para aqueles que creem na bíblia como para todos os outros que não. Para os primeiros, é uma adaptação fiel que busca trazer os elementos mais obscuros de seu material de origem enquanto ameniza e atualiza possíveis pontos fracos e morais de sua narrativa (embora não se possa burlar o maior deles, o genocídio promovido pelo tal Criador) enquanto para os outros, funciona também como um grandioso filme de ficção e fantasia, que traz uma aventura completa, com dramaticidade, bons efeitos visuais e um personagem central profundo e multifacetado. Afinal, interpretado com a densidade necessária por Crowe, o protagonista convence-nos de sua jornada rumo ao lado sombrio da Força e seu eventual retorno de lá, quando se entrega então ao alcoolismo – algo que também consta em Gênesis. Já Connelly confere amabilidade a sua Naameh, quase sempre ofuscando seus colegas quando em cena – voltando a contracenar com Crowe depois de mais de dez anos de Uma Mente Brilhante. E embora tenha maiores chances de brilhar apenas mais ao fim, Emma Watson entrega uma performance comovente que (embora caricata, como se costume) é eficiente ao conferir peso ao drama da personagem, tal qual, de forma mais contida, Logan Lerman também faz – outros dois que voltam a contracenar depois de terem aparecido juntos no fantástico As Vantagens de Ser invisível.


Sempre um diretor que demonstra domínio da linguagem a que se propõe, Darren e seu habitual colaborador, o excepcional diretor de fotografia Matthew Libatique, criam quadros que combinam significado com a beleza plástica. E depois de estabelecer os ícones da história prévia da Bíblia através de planos em silhueta contra o céu poente, Aronofsky traz Noé e sua família em um plano similar, só que contra o céu nascente, que por lógica, os coloca como ícones em surgimento. Já noutro instante, uma revoada de pássaros sob a arca é mostrada pela câmera de Libatique em um plongée absoluto de 90 graus (de cima para baixo), recortando com clareza o círculo que os animais formam no céu. O mesmo círculo que, antes, o cineasta e seu fotógrafo já haviam explorado à exaustão em outra trama com referências bíblicas, A Fonte da Vida. Mas se lá a morte era vista de forma até mesmo positiva, já que sua aceitação era a principal mensagem a ser aprendida pelos personagens vividos por Hugh Jackmam, aqui, o cineasta não esquece que, mesmo sendo celebrado mundialmente, o afogamento de milhões de seres-humanos ainda é uma tragédia lamentável, uma reflexão levantada pelos próprios personagens, que aqui e ali questionam a maldade e a frieza por trás de seus próprios atos, o que só é reforça o peso do plano que mostra dezenas de pessoas suplicando por suas vidas presas a uma pedra castigada por ondas violentas – a cada chicotada, elas levam mais alguns sobreviventes para as profundezas.



Também é curioso notar, em outro instante, que no meio de uma batalha a câmera viaja pelo cenário de confrontos e gira em torno de um dos gigantes de pedra que lutam contra os invasores, lembrando e muito o balett que eram os movimentos concebidos por Darren e Matthew em Cisne Negro. A dupla também encanta com a fluidez do stop-motion em uma incrível sequência que remonta a criação (e que leva em conta o Big Bang e a Evolução, criacionistas vão pirar) e que também lembra muito sua opção ao retratar as dietas da personagem de Ellen Burstyn em Réquiem Para um Sonho. Fora isso, Aronofsky traz de seus outros projetos o compositor Clint Mansell, que entrega uma trilha eficientemente ostensiva, feita para ressaltar o teor épico da missão de Noé, algo que o próprio diretor e seus muitos planos aéreos não deixam de alardear. 

No final, há aqui um longa-metragem respeitoso para qualquer gosto, mas já posso ver os devotos reclamando que “fantasiaram demais” (por que a cobra que fala é algo bem crível...) e céticos (como eu mesmo) reclamando que, por ser fiel, tenta nos catequizar de algo absurdo – o que é mentira, nesse sentido, Noé exige tanto que se acredite no criacionismo quanto Transformers pede que acreditemos no cubo gigante e mágico que criou o universo, ou Harry Potter que aceitemos a existência de uma passagem encantada entre as plataformas 9 e 10 na King’s Cross Station em Londres.


NOTA: 9/10




terça-feira, 8 de abril de 2014

CAPITÃO AMÉRICA 2 - O SOLDADO INVERNAL



...Ou Vejam Só como Scarlett Johansson se Esforçou para Ficar Sexy Neste Pôster – O Filme.


Depois da boa Fase 1, que resultou no excelente e divertidíssimo Os Vingadores, a Marvel Studios vem mantendo o padrão estabelecido, ainda que algumas de suas obras continuem a soarem vazias, não passando de mais um pedaço de salsicha jogada aos cães, que na verdade estão sedentos é pelo rosbife que está marcado para estrear no ano que vem (se você não se ligou, dããã, falo de Os Vingadores 2: A Era de Ultron). Assim, depois de Homem de Ferro 3 e do divertido Thor 2, esta nova fase do estúdio resolve nos presentear com o melhor exemplar solo de sua franquia desde o primeiro Homem de Ferro, ficando, junto com o longa que unia o time de heróis, como um dos três melhores filmes entre os nove já produzidos até hoje.


Também se mostrando a única continuação disposta a realmente apostar em um arco dramático concreto que atravessará pelo menos três filmes estrelados por seu personagem título – Homem de Ferro 2, 3 e Thor 2 são apenas aventuras independentes – Capitão América 2: O Soldado Invernal continua a explorar a adaptação de seu protagonista a um mundo diferente daquele que conheceu 70 anos antes. Agora trabalhando para a S.H.I.E.L.D., o Capitão (Chris Evans) passa a questionar as decisões de Nick Fury (Samuel L. Jackson), enquanto este suspeita de uma conspiração dentro da corporação, agora encabeçada pelo perigosamente simpático Alexander Pierce (Robert Redford). Contando com a ajuda da Agente Romanoff (Johansson) e do piloto de resgate Sam Wilson (Anthony Mackie), nosso herói ainda terá de lidar com o letal e misterioso Soldado Invernal – cujo nome do ator não posso revelar sem dar spoilers, mesmo que não seja surpresa para ninguém sua identidade.


Dirigido pela dupla Anthony e Joe Russo, das primeiras e hilárias temporadas de Arrested Development e de vários episódios de Community, Soldado Invernal acaba soando surpreendentemente ser o mais sério dos longas Marvel, e certamente, o mais maduro. Porém, os Russo não deixam sua mão cômica passar em branco e muito menos os toques de bem humoradas referências; a lista de coisas que Rogers deixou de ver nos anos em que esteve congelado é uma das melhores neste sentido, incluindo até mesmo Chaves na versão nacional - a lista muda de acordo com o país onde o filme é exibido. Em outro momento uma fala de Pânico é repetida pela Viúva Negra, que não deixa de assinalar a pequena homenagem, assim como a rápida piada com Pulp Fiction mais ao fim. Mas são pequenas descontrações dentro de uma trama basicamente política e paranoica. A sequência no elevador poderia facilmente provocar o riso, mas seus diretores preferem construí-la e desenvolvê-la de forma tensa, repeitando seu teor violento e estrategista. Aliás, as cenas de ação não deixam de existir por causa do tom conspiratório do filme, muito pelo contrário, povoam boa parte da película sem nunca soarem em excesso, ainda que a condução de algumas seja um tanto confusa visualmente.


O clímax principalmente é bastante empolgante e muito bem orquestrado, além de dramático e inspirador na medida certa. A violência corre solta, e um capanga ser engolido por uma turbina é apenas parte da diversão, que deve uma grande parcela de sua eficiência aos ótimos efeitos visuais e ao design de som primoroso, que exagerando nos sons dos golpes desferidos entre os heróis e vilões, dá uma dimensão muito mais tátil a suas lutas.


Voltando a encarnar com carisma e serenidade Steve Rogers, Evans convence com facilidade da boa índole do herói, enquanto Johansson mais do que nunca parece a vontade no papel da assassina Viúva Negra, enquanto isso Jackson e Ford, os veteranos do elenco, usam suas personas para atribuir respeito e imposição às figuras que interpretam, podendo todos desta vez viverem seus personagens em função da trama e não de uma prévia para um futuro projeto maior, como acontecia antes - embora seja possível notar a presença do universo Marvel com clareza, e é admirável que o projeto consiga trazer esta força dos outros heróis dos Vingadores sem que tenha que parar o longa-metragem para lhes fazer referência. Assim, aparecem aqui as Stark Industries e até mesmo nomeiam Bruce Banner e Stephen Strange (!), futuro membro do grupo que ganhará filme solo em breve.



Apagada mesmo, Capitão América 2 só tem a aparição de Stan Lee, que sem o bigode e os óculos icônicos, pode passar até despercebido para alguns, porque de resto, desenvolve bem o jogo de gato e rato nas entranhas da S.H.I.E.L.D. ao passo que confere uma aura de ameaça ao seu vilão, quesito onde falhavam Homem de Ferro 3 e Thor 2, e que não deixa de ser irônico quando se pensa que lá se tratavam de indivíduos com superpoderes, e aqui, temos por antagonista um mero e humano executivo. Como de costume, há duas cenas extras após o término do longa, uma durante e outra após os créditos finais, estes embalados (assim como resto do filme) pela trilha animada de Henry Jackman, cujo trabalho venho acompanhando (e sempre gostando) desde que o notei em X-Men – Primeira Classe.


NOTA: 9/10




segunda-feira, 7 de abril de 2014

HOJE EU QUERO VOLTAR SOZINHO




Adaptado por Daniel Ribeiro do curta-metragem dirigido e escrito por ele mesmo em 2010, Hoje Eu Quero Voltar Sozinho reconta a história do trio de amigos formado por Leonardo (Guilherme Lobo), Giovana (Tess Amorim) e Gabriel (Fabio Audi), fazendo as mudanças e os enxertos necessários para transformá-la em um longa. Deste modo, repete o feito e entrega um filme belo, delicado e despretensioso, que encontra sua força ao apostar corretamente em seus personagens, ainda que confie demais no nosso primeiro contato com os mesmos.