sábado, 9 de maio de 2020

CRÍTICA: HOLLYWOOD


Nem tão lá e nem tão cá. Hollywood é o novo hype em forma de série promovido pela Netflix. Nela, somos levados aos glorificados anos de ouro da cidade dos sonhos, na década de 1940 pós-Segunda Guerra Mundial, quando reinava o star system. Num resumo a grosso modo, isso quer dizer que os estúdios mandavam em tudo, ponto final.

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Série da Netflix revisita a Hollywood dos anos 1940 com muito otimismo.

Uma versão mais detalhada vai te dizer que, nessa época, Hollywood funcionava baseada em contratos exclusivos entre as estrelas e os estúdios. Isso porque o público estadunidense valorizava bastante os nomes, e nem sempre os filmes em si. Então quando identificava um talento em potencial, o estúdio fechava contrato com o ator, diretor, roteirista e por aí vai. A partir da assinatura dos documentos, o artista estava atrelado ao estúdio e tinha que se submeter à mão de ferro dos produtores e agentes que o transformariam naquilo que “o público quer ver”. Os atores, claro, sofriam de maneira mais óbvia nesse sistema, pois como eram a “cara” dos filmes, precisavam fazer jus à persona criada pelo agente, o que normalmente envolvia serem verdadeiros deuses na Terra. Para tanto, a rotina dos novatos, que tinham pouco poder de barganha, vinha preenchida com dietas malucas, exercícios constantes, aparições públicas programadas e romances orquestrados ou aprovados pelos chefes.

Essa chamada Era de Ouro de Hollywood se parecia muito mais com uma linha de produção fordista, destinada a fabricar produtos dentro dos requisitos pré-aprovados pelo público. E assim como o capô encerado de um carro novinho escondia todo um processo insalubre e desumano de fabricação, o glamour e as belezas criadas por Hollywood foram um poderoso verniz que escondia o lado podre dessas relações nos bastidores de estúdios como a Warner, a Fox, a MGM, a Paramount e a falecida RKO.

E é precisamente este lado feio que a série Hollywood vem abordar, pegando emprestada a ideia de Quentin Tarantino em Era Uma Vez… em Hollywood para reimaginar como as pessoas reais que existiram naquela época teriam reagido e agido se encontrassem com personagens criados com a cabeça dos dias atuais. Só que tem uma diferença: enquanto o filme do Tarantino consegue honrar a memória de Sharon Tate e das demais vítimas da família Manson ao mesmo tempo em que nos lembra da tragédia que foram os seus assassinatos, justamente por NÃO mostrá-los e ao optar por um desfecho diferente, a série da Netflix é bem otimista. Aliás, otimista é pouco, os sete episódios são repletos de idealismo.

Mas afinal, isso aqui é coisa do Ryan Murphy, notório criador de séries que, para o bem ou para o mal, sempre passa longe da sutileza. Dentre os trabalhos que ele assinou, o meu favorito é o filme The Normal Heart, que dirigiu para a HBO. Trata-se de um drama sobre o estouro da epidemia de HIV nos anos 1980. Lá, Murphy reúne todos os seus histrionismos, incluindo o excesso de montagem e filmagem, como se fosse uma versão gay do Michael Bay.

Já aqui, Murphy dirige apenas um episódio, o primeiro, que dá o tom dos demais. E nele é perceptível como o realizador segue uma cartilha mais, digamos assim, “comportada”. Somando a isso, sua típica fotografia saturada, cheia de sol e bem iluminada dá uma cara de filme da Disney para o seriado, se filmes da Disney não tivessem problemas em mostrar e falar sobre sexo gay, sexo lésbico, sexo bi, sexo hétero e sexo em geral. Tudo bem que essa estética “perfeitinha” é bem condizente com a própria noção de que os anos 1940 foram o ápice do glamour em Hollywood, mas é ela também que vai nortear o clima de otimismo do projeto. Porque, a verdade é: ainda que passem por situações terríveis que envolvem, inclusive, abuso sexual e estupro, os personagens parecem sempre estar vivendo num mundo ensolarado onde nada parece oferecer um graaaande obstáculo para os seus objetivos.

Agora, isso acaba não sendo um problema. Porque, no final, o intento da série é te propor uma revisão dos valores dessa época ao inserir personagens que desafiam o status quo: o roteirista negro que quer colocar seu nome nos créditos, o casal gay que quer casar e se assumir, a atriz negra que quer protagonizar um filme, a esposa do produtor que quer dirigir um estúdio e vários etc. Então, diferente da satisfação seguida de melancolia trazidas pelo longa-metragem de Quentin Tarantino no ano passado, ou mesmo da sátira cínica concebida pelos irmãos Coen no hilário Ave, César! (2016), Hollywood é uma brincadeira gostosa e descompromissada de “e se?”.

Mesmo longe, mas muuito longe da realidade que assombrava o star system, o seriado de Ryan Murphy consegue propor com méritos esse exercício de imaginação que, ao menos ao longo de seus sete episódios, consegue substituir o real pela satisfação de ver as coisas tomando um rumo diferente. Um exercício que logo levanta indagações pertinentes.

Por exemplo: como será que a luta de Camille (Laura Harrier) e os resultados que ela obteve impactaram nos movimentos civis pelos direitos da população negra que se fariam tão contundentes, especialmente nas duas décadas seguintes? Como essa Hollywood que agora não depende mais do respaldo de setores conservadores e ultra-conservadores vai se portar na caça aos comunistas nos anos 1950? Será que as ações dos personagens enfraqueceram ou fortaleceram o star system? Será que nasce ali uma Hollywood mais conservadora ou mais aberta? E se Los Angeles se tornar um lugar mais liberal, como isso vai influenciar no endurecimento de valores que levou à migração do movimento hippie para dentro da cidade? E como isso, por sua vez, vai afetar a própria sociedade hollywoodiana que, saturada dos tempos paz e amor, usou os assassinatos da família Manson como ponto de virada para uma nova época de austeridade e ceticismo? Teria, nessa realidade, Rock Hudson formado seu ship icônico com Doris Day?

Só por levantar reflexões como essas que forçam o espectador a contestar o otimismo dessa realidade idealista apresentada por Murphy (ainda que este possa não ter sido o seu objetivo), Hollywood já seria uma distração admirável. Mas, para além disso, a série ainda combina essa estética ensolarada e convidativa com performances carismáticas e energéticas das quais se destacam o protagonista Jack (David Corenswet, um clone perdido do Henry Cavill), o produtor Dick Samuels (que ganha uma personalidade dotada em iguais partes de inteligência e doçura nas mãos de Joe Mantello), o roteirista Archie (Jeremy Pope, que poderia dosar um pouco mais na hora de usar o choro como muleta) e as sempre hipnotizantes Holland Taylor e Patti LuPone. Sem contar a pequena participação de Rob Reiner com sua excelente expressão corporal cômica e um timing perfeito - uma pena só que o diretor de Conta Comigo, A Princesa Prometida, Harry & Sally, Louca Obsessão e Questão de Honra esteja sumido no plano geral das produções significantes.  

Meu porém fica por conta do personagem de Jim Parsons, que sofre do que eu vou batizar de síndrome de Berlin. Pois, tal qual o personagem Berlin, daquela chatura que é La Casa de Papel, o produtor Henry Wilson, vivido por Parsons, comete as mais terríveis atrocidades e, ainda assim, a série nos pede que perdoemos seus crimes para que ele possa fazer parte do time de aliados dos heróis… Vai se foder sabe. Não.

Curioso ainda por retratar a Hollywood dos anos 1940 em uma razão de aspecto mais larga (16:9), distante dos formatos mais quadrados de tela que eram padrão nessa época, a série, ao menos esteticamente, lembra aquilo que hoje o público entende como “imagem de cinema”, com as tarjas pretas e tudo mais. E justamente pelas indagações que promove, o seriado, que na verdade é apresentado pela Netflix como uma minissérie, poderia ganhar mais temporadas tranquilamente. Eu gostaria de ver como essa turma segue desafiando os fatos históricos nessa onda de não abaixar a cabeça para o preconceito. Se não retrata a Hollywood como ela realmente foi e é, a série Hollywood pelo menos expressa muito bem o espírito que ela, um dia, tentou representar.

Nota: 8/10



quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

JUSTIÇA PARA MARTIN SCORSESE

Polêmicas com a Marvel e Oscar fazem necessário relembrar que o cineasta é muito mais do que os filmes de máfia.





Depois de comprar briga com os fãs da Marvel ao afirmar que não considerava seus filmes de quadrinhos como cinema, o renomado cineasta Martin Scorsese saiu de mãos abanando na última edição do Oscar quando O Irlandês, a produção que ele e Robert De Niro levaram mais de 20 anos para tirar do papel, não trouxe para casa nenhuma das 10 estatuetas a que estava indicado. Não faltou gente para comemorar a notícia nas redes sociais, argumentando que Scorsese, conhecido por seus filmes sobre máfia, não merecia os troféus porque estava entregando apenas mais do mesmo. Mas isso não é verdade.

Scorsese e os Filmes de Máfia


Voltando ao universo dos mafiosos num filme com quase 3 horas e meia de duração e lançado na Netflix, Scorsese se tornou um alvo fácil para seus haters. Não só o acusaram de estar se repetindo, como também de ser hipócrita por afirmar que a Marvel não faz cinema enquanto ele mesmo lançou seu projeto numa plataforma conhecida por ser assistida em celulares, notebooks e tablets ao redor do mundo.

Não é a primeira vez que Martin sofre com o estereótipo de ser o “cara dos filmes de máfia”. No livro Conversas com Scorsese, de Richard Schickel, o jornalista entrevistou o cineasta sobre sua infância e juventude em meio aos mafiosos sicilianos em Nova York e como isso influenciou seus trabalhos. Em certo ponto, Scorsese fica impaciente e pergunta se podem falar de seus outros filmes, além daqueles que são focados na máfia. De fato, sem contar episódios de séries, curtas e especiais para a TV, Martin dirigiu pelo menos 37 longas-metragens em sua carreira, e desses apenas 5 falam sobre o submundo do crime.

Scorsese já dirigiu musical (New York, New York), suspenses (Cabo do Medo, Ilha do Medo), dramas religiosos (A Última Tentação de Cristo, Kundun, Silêncio), cinebiografias (O Aviador, O Lobo de Wall Street), romances (Quem Bate à Minha Porta?, Alice Não Mora Mais Aqui, A Época da Inocência) e, talvez seu gênero favorito, os documentários, como O Último Concerto de Rock e Shine a Light. Aqueles que ele mesmo considera “filmes de máfia” são Caminhos Perigosos, Os Bons Companheiros, Cassino, Os Infiltrados e, agora, O Irlandês.

Um Ativista pelo Cinema Mundial


E se Scorsese não é conhecido pela diversidade da sua filmografia, menos ainda se fala sobre seu ativismo na preservação do cinema mundial. Sim, o cineasta ítalo-americano sempre demonstrou grande interesse pela produção cinematográfica não apenas dos países com que se relaciona, os Estados Unidos (onde nasceu) e a Itália (de onde vem sua família), sobre as quais Martin dirigiu dois fantásticos documentários relatando sua relação com os filmes que cresceu assistindo: Uma Viagem Pessoal Pelo Cinema Americano e Minha Viagem à Itália. Ambos são uma aula de cinema e servem também como um guia para quem deseja conhecer mais aprofundadamente a história do cinema dessas duas nações.

Porém o cineasta não se permitiu ficar apenas atrás das câmeras quando o assunto é proteger a memória do cinema mundial. Essa dedicação o levou até o cineasta britânico Michael Powell, que foi esquecido pelo público da Inglaterra depois de lançar alguns projetos polêmicos no final da década de 1940, entre eles Os Sapatinhos Vermelhos, um dos filmes favoritos de Scorsese e grande influência em produções como Sinfonia de Paris, Cisne Negro e até La La Land. Martin conseguiu contatar Powell e os dois passaram a trabalhar na restauração de cópias raras de seus filmes, incluindo Os Sapatinhos, que estava de certa forma perdido há muitos anos. Foi nesse processo que a premiada montadora Thelma Schoonmaker, fiel colaboradora dos filmes de Scorsese, conheceu e se casou com Michael Powell, que acabou falecendo em 1990.

Nesse mesmo ano, Scorsese fundou a Film Foundation, uma fundação sem fins lucrativos dedicada ao resgate e à preservação de filmes em todo o mundo. Hoje, alguns membros da diretoria da Film Foundation incluem seus amigos Francis Ford Coppola e Steven Spielberg, assim como Paul Thomas Anderson, Peter Jackson, Christopher Nolan, George Lucas e Wes Anderson. Através da fundação, Martin e Thelma fizeram juntos a restauração e o relançamento de Os Sapatinhos Vermelhos com uma sessão especial no Festival de Cannes em 2009.

Coringa e a Contracultura


Além disso tudo, os filmes de Martin Scorsese tiveram um papel importante no movimento de contracultura da década de 1970, que foi uma mudança radical de atmosfera que se distanciou da época paz e amor mostrada recentemente em Era Uma Vez em Hollywood. O final dos anos 1960 trouxe um cinema predominantemente mais cético, sombrio e político para os Estados Unidos, cimentado pela perseguição aos hippies, o ápice da corrida espacial, o assassinato de Sharon Tate e o caso Watergate. Os filmes de Scorsese acompanharam essas mudanças e foi o espírito desse cinema que, por exemplo, inspirou o Coringa de Todd Phillips - um filme baseado em quadrinhos.

Ainda assim, no mesmo ano em que o Coringa de Joaquin Phoenix ganhou as telas pelo mundo, tão inspirado em alguns personagens aclamados do diretor, Scorsese se viu refém de sua própria afirmação sobre filmes de HQ: “Não são cinema”.

Scorsese responde os fãs da Marvel


O cineasta chegou a publicar um artigo no New York Times para explicar suas declarações. No texto ele diz que as franquias sempre existiram e que entende o fascínio que elas geram. Ele cita que o próprio Alfred Hitchcock era uma espécie de franquia na sua época, pois seus filmes eram muito similares e também levavam multidões aos cinemas - Martin revela que foi assistir à pré-estreia de Psicose com seus amigos e todos vibraram como as plateias mais jovens ainda fazem hoje com os filmes da Marvel. O que ele admite é que a estética dos filmes de heróis não chama sua atenção, embora tenha assistido alguns deles e ressalte que são muito bem feitos.

Sua maior preocupação, porém, é o método de distribuição desses blockbusters de super-heróis, que ocupam boa parte das salas de cinema. Segundo ele relata no artigo, a tela grande ainda é a principal e mais respeitada das janelas de exibição, e por isso continua sendo a mais procurada pelos realizadores do mundo inteiro. No texto, ainda escreve que por causa dessa predominância de heróis nas salas disponíveis, é que esses filmes se aproximam bastante de parques de diversão, pois Scorsese enxerga que são tratados como produtos de entretenimento, feitos sob medida para vender mais, não deixando espaço para a criatividade para filmes que lidam com sentimentos e a complexidade dos seres-humanos.

Pode ser argumentado que o entretenimento e a diversão também são sentimentos que fazem parte da complexidade das pessoas. Entretanto, dentre todos os realizadores em atividade hoje, Martin Scorsese parece ser um dos poucos com o currículo para embasar suas opiniões, mesmo que se discorde delas. O Irlandês não foi a primeira vez em que ele saiu de mãos abanando de uma cerimônia do Oscar, Taxi Driver, A Última Tentação de Cristo, Cabo do Medo, Cassino, Kundun, Gangues de Nova York, O Lobo de Wall Street e Silêncio foram outras produções indicadas ao prêmio da Academia e que acabaram não levando nada. Se muito, isso significa que nem sempre Hollywood consegue premiar Scorsese, mas também que não consegue ignorar seus trabalhos. Longe de ser apenas o “cara dos filmes de máfia”, esse senhoriznho, hoje com 77 anos de idade, já viajou pelos mais diversos gêneros do cinema, produzindo, salvando e se inspirando em filmes pelo mundo todo, inclusive no Brasil.

Yuri Célico / Instagram

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

APOSTAS OSCAR 2020


Para os novinhos, eu sou Yuri Célico, esse é o meu blog de cinema e essa é a minha lista de apostas em quem vai vencer ou não os Oscars em 2020. 

Minhas apostas oficiais estão marcadas em negrito e vermelho ao longo do texto.

Porém, eu sugiro que leia todas as justificativas que descrevi caso pretenda se basear na minha lista para fazer o seu bolão do Oscar. Em algumas categorias eu dei palpites arriscados, mas sinalizei no texto qual é o verdadeiro favorito e a aposta segura.

Para quem está chegando agora e pensa que eu sou um tipo de vidente dotado de poderes paranormais por conseguir fazer previsões com tamanha certeza, explico que prever os vencedores não é um bicho de sete cabeças. Os prêmios da Academia tem um histórico de tendências e perfis de votação. Por exemplo, acompanhar os vencedores dos troféus individuais das guilds (os sindicatos e associações dos EUA) já é um excelente termômetro para se ter uma ideia dos ganhadores. Assim como acompanhar as campanhas de mídia de cada concorrente - normalmente quem dá mais entrevistas e aparece bastante, tem mais chances de levar. 

Outros fatores eu vou explicando conforme comento cada aposta, cada desejo de vitória e as possíveis surpresas dessa edição do Oscar. Vamos nessa?





MELHOR FILME


QUEM VAI GANHAR: Parasita ou 1917. Todos os indícios “tradicionais” apontam para a vitória de 1917 (venceu o PGA, o ASC, o MPSE, o BAFTA e até o Globo de Ouro), além disso, Parasita com certeza leva como Filme Estrangeiro, e nunca aconteceu de uma produção vencer em duas categorias de melhor filme (por exemplo, como Documentário e Filme, ou como Estrangeiro e Documentário, ou Animação e Filme) e nem de um filme em língua não inglesa ganhar o Oscar principal - seriam dois fatos inéditos e improváveis numa tacada só. Porém, o favoritismo do longa de Bong Joon-ho em outras categorias, como Roteiro Original e Montagem, além de seu prêmio inédito no SAG (que representa a maior parte da Academia) e o próprio fato de terem levado a Palma de Ouro em Cannes, indica que, no mínimo, existe uma divisão entre os votantes. É uma aposta beeeeem arriscada, mas meu palpite oficial aqui vai ser em Parasita
OLHA A SURPRESA: Essa divisão pode acabar beneficiando um terceiro favorito, que no caso seria Era Uma Vez… Em Hollywood.
QUEM MERECE GANHAR: O Irlandês ou Parasita - nessa ordem.
MANDO SE FODER: 1917, as razões estão explicadas na minha crítica, basta clicar aí no link para acessar.

MELHOR DIREÇÃO


QUEM VAI GANHAR: Sam Mendes, por 1917.
QUEM MERECE GANHAR: Martin Scorsese ou Bong Joon-ho - nessa ordem.
UMA BOA SURPRESA SERIA: Não vai ter surpresa aqui, infelizmente, mas ao contrário do que muitos pensam, acho que Tarantino está cada vez mais maduro como cineasta e, uma hora ou outra, merecia esse carequinha dourado de Direção que ele nunca ganhou.
MANDO SE FODER: Eu entendo o fascínio que Sam Mendes desperta com o seu 1917, mesmo considerando-o profundamente falho. Agora, Todd Phillips, por mais que eu goste de Coringa, realmente não deveria nem estar aqui - ainda mais lado a lado com Martin Scorsese, que ele tanto se esforça para emular no seu filme, sem jamais chegar nem perto de alcançar a mesma maestria.

MELHOR ATRIZ


QUEM VAI GANHAR: Renée Zellweger, por Judy.
QUEM MERECE GANHAR: Lupita Nyong’o, por Nós. Ah, como é que é? Ela nem sequer foi indicada? Poxa, que bola fora ein. Ok então, vamos de Saoirse Ronan, por Adoráveis Mulheres.
OLHA A SURPRESA: Que surpresa? Só se a Academia ficar com pena de Adoráveis Mulheres e resolver atirar esse osso para a Saoirse Ronan, indicada pela quarta vez.
MANDO SE FODER: Rebléééeee Zellwebléeeerr.

MELHOR ATOR


QUEM VAI GANHAR: Joaquin Phoenix, por Coringa - a Academia está em débito com ele há muito tempo. Além disso, ele tem a atuação que mais se destaca dentre os indicados. É aquela que os membros da academia vão  lembrar na hora de votar. 
QUEM MERECE GANHAR: Antonio Banderas, por Dor e Glória.
UMA GRANDE SURPRESA SERIA: se Joaquin Phoenix não ganhar. Mas vá lá, Antonio Banderas seria o próximo na linha.  
MANDO SE FODER: Adoro todos os indicados, não mandaria ninguém se foder.

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE


QUEM VAI GANHAR: Laura Dern, por História de um Casamento.
QUEM MERECE GANHAR: Scarlett Johansson, por JoJo Rabbit.
OLHA A SURPRESA: Johansson? Afinal, ela está duplamente indicada.
MANDO SE FODER: Tô de boas.

MELHOR ATOR COADJUVANTE


QUEM VAI GANHAR: Brad Pitt, por Era Uma Vez… Em Hollywood.
QUEM MERECE GANHAR: Joe Pesci, por O Irlandês.
UMA BOA SURPRESA SERIA: Al Pacino, por O Irlandês. 
MANDO SE FODER: Com Anthony Hopkins, Al Pacino, Tom Hanks, Brad Pitt e Joe Pesci na mesma categoria, não tem resultado que seja ruim.
  

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL


QUEM VAI GANHAR: Parasita, porque Boong Joon-ho merece e é um fofo.
QUEM MERECE: Entre Facas em Segredos e Parasita - nessa ordem.
UMA BOA SURPRESA: Parasita. Sim, acho que o filme de Bong Joon-ho é, ao mesmo tempo, o favorito e o azarão aqui. 
MANDO SE FODER: Quantas linhas tem o roteiro de 1917?

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO


QUEM VAI GANHAR: JoJo Rabbit, porque Taika Waititi é um fofo.
QUEM MERECE: Steven Zaillian, por O Irlandês.
OLHA A SURPRESA: Greta Gerwig está sendo muito lembrada por ter sido esquecida (sim), talvez aqui a Academia queira reparar esse erro dando o Oscar para Adoráveis Mulheres
MANDO SE FODER: Ah não mando se foder, mas… Coringa? Sério? Ok.

MELHOR DOCUMENTÁRIO


QUEM VAI GANHAR: Indústria Americana… ou For Sama… ou Honeyland… ou For Sama… e definitivamente talvez Indústria Americana… Mas quem sabe, Democracia em Vertigem? Essa é a categoria mais disputada desta edição do Oscar, sem dúvidas. Aposto em Indústria Americana, porque está disponível na Netflix, porque conta uma história que se passa nos EUA e porque é produzido pela produtora do casal Obama.
EXPLICA MELHOR ISSO AÍ: Ok, For Sama e The Cave abordam o mesmo contexto e, inclusive, de formas bastante similares. Ou seja, os votantes podem acabar divididos entre esses dois por considerá-los iguais (não são) e deixar a maioria de votos para Honeyland, que indicado como Filme Estrangeiro também, tem favoritismo. Não fosse o bastante, Honeyland é um filme mais simples e palatável para o gosto geral da Academia, pois tem uma história minimalista, facilmente compreensível, universalmente comovente e não coloca o dedo na ferida de ninguém. Poooooorém, enquanto isso, Democracia em Vertigem ganhou uma boa vantagem na corrida quando, nas últimas 48 horas de votação da Academia (justamente quando a maioria dos votantes entrega seus votos), Bolsonaro resolveu usar veículos oficiais do governo para atacar pessoalmente Petra Costa, uma covardia que tem sido denunciada em largas manchetes nos principais veículos de notícias nos Estados Unidos - e enquanto Honeyland está disponível no Amazon Prime, Democracia em Vertigem está disponível e sendo divulgada pela bem mais popular Netflix. Mas aí, Indústria Americana também é da Netflix e conta uma história sobre estadunidenses lutando por seus direitos e, portanto, tem grande apelo patriótico. Ou seja, todo mundo tem chance, entendeu? Difícil... Mas olha, que seleção do caralho a desse ano! 
QUEM MERECE: Como bom brasileiro que sou, minha torcida ferrenha é para Democracia em Vertigem, que para além de posicionamentos políticos, é um filme excepcional. Porém, For Sama deve ser uma das coisas mais chocantes que já assisti em toda minha vida cinéfila - e o seu conteúdo é tão e se não mais urgente até do que a denúncia política apresentada por Petra Costa. Merece igualmente. E não fosse o fato de estar concorrendo com esses dois monstros, Honeyland e sua doçura paradoxalmente amarga, seria o meu favorito.
MANDO SE FODER: Gosto do Indústria Americana, mas vai ser um desperdício e um desrespeito sem tamanho esnobar as imagens e as vidas (e mortes) envolvidas na realização de projetos como For Sama, The Cave, Honeyland e, claro, Democracia em Vertigem.

MELHOR FILME ESTRANGEIRO


QUEM VAI GANHAR: Parasita.
QUEM MERECE: Parasita.
UMA BOA SURPRESA SERIA: Não é boa surpresa se não for Parasita
MANDO SE FODER: Gosto (e gosto muito) de pelo menos outros dois indicados (Dor e Glória e Honeyland), mas esse Oscar é do Parasita.

MELHOR ANIMAÇÃO


QUEM VAI GANHAR: Toy Story 4. Klaus seria uma opção mais segura, porque venceu vários Annie Awards, mas o fato de ser da Netflix ajuda e atrapalha ao mesmo tempo, pois enquanto torna o filme mais acessível, também garante que ele vai sofrer com o ranço da parte mais conservadora da Academia. Além disso, o nome da Pixar tem peso, ainda mais com a surpreendente ausência da Disney na competição.
QUEM MERECE: Toy Story 4, não porque o acho impecável, basta clicar aí e ler o que escrevi sobre o filme para saber disso, mas porque os demais indicados, ainda que tenha gostado bastante de um ou outro, não fizeram uma boa média - temos animações tecnicamente belíssimas entre os concorrentes, mas nenhuma que seja um filme primoroso.
OLHA A SURPRESA: Como disse, Klaus venceu o Annie Awards, que é o maior prêmio da categoria, e pode muito bem ser o azarão aqui.
MANDO SE FODER: Não curti tanto assim Como Treinar o seu Dragão 3, clica aí para descobrir o porquê.

MELHOR MONTAGEM


QUEM VAI GANHAR: Ford vs Ferrari, porque é o filme com mais cortes, logo, aquele que deve ser mais notado pela maior parte leiga da Academia.
CUIDADO: Parasita venceu o prêmio do ACE (sindicato de montadores). 
QUEM MERECE: O Irlandês.
MANDO SE FODER: MasOQue QueCoringa tÁfazendoAqui!?

MELHOR FOTOGRAFIA


QUEM VAI GANHAR: Roger Deakins, por 1917 e por motivos óbvios.
QUEM MERECE: É a primeira vez em que vou torcer contra o deus Roger Deakins, mas tanto Jarin Blaschke, por O Farol, quanto Rodrigo Pietro por O Irlandês, fazem trabalhos excepcionais que contribuem para seus projetos, ambos infinitamente mais coesos do que 1917.  
MANDO SE FODER: Novamente, eu entendo o fascínio gerado pela fotografia de Deakins em 1917, apesar de considerar profundamente falhos os seus resultados artísticos.

MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO


QUEM VAI GANHAR: 1917, porque Dennis Gassner já foi indicados várias vezes e a direção de arte do filme é muito aparente. Além disso, ele é o favorito a Melhor Filme.
QUEM MERECE: Parasita.
OLHA A SURPRESA: Já é a sexta indicação de Dennis Gassner, que concorre por 1917. E seus cenários, além de parte essencial do filme de Sam Mendes, são impressionantes de uma maneira mais óbvia. Porém, ele não venceu o prêmio do seu sindicato, que na categoria filme de época foi para Era Uma Vez… Em Hollywood, assinado por Nancy Haigh, que curiosamente foi colega de Gassner em vários projetos, tendo sido premiada junto com ele em 1992 por Bugsy, e indicada outras sete vezes. Além disso, o filme de Tarantino mostra uma Hollywood idealizada - e é bem possível que a Academia de Hollywood queira premiá-lo por isso.
OUTRA SURPRESA: Parasita, que venceu o prêmio do ADG (sindicato dos diretores de arte).

MELHOR FIGURINO


QUEM VAI GANHAR: Jacqueline Durran, por Adoráveis Mulheres.
ME EXPLICA ISSO: Ela nem mesmo concorreu ao CDGA (sindicato dos figurinistas), mas a Academia obviamente curtiu bastante o filme e ele não deve levar mais nada, por isso aqui está a chance de não deixá-lo sair de mãos abanando - ainda mais depois das críticas que a entidade recebeu por não ter indicado Greta Gerwig à Direção. Além disso, os nomes aqui têm grande peso na hora do voto e, além de Durran, que já foi indicada algumas vezes e até venceu esse Oscar anteriormente, temos outras figurinhas carimbadas e já premiadas da categoria, no caso Sandy Powell (O Irlandês) e Mark Bridges (Coringa). Powell já venceu três vezes e Bridges venceu há dois anos. Por fim, os figurinos de Adoráveis Mulheres chamam mais atenção do que os vistos em O Irlandês e Coringa - então se é para escolher um dos três, a Academia deve acabar elegendo Durran.
QUEM MERECE: Mayes C. Rubeo, por JoJo Rabbit.
OLHA A SURPRESA: Mayes C. Rubeo, que venceu o CDGA por JoJo Rabbit.
MANDO SE FODER: Ninguém se fode aqui.

MELHOR MAQUIAGEM E CABELO


QUEM VAI GANHAR: O Escândalo, porque varreu quase todos os prêmios do MUAHSG (sindicato dos maquiadores e cabeleireiros) - e que deixou Charlize Theron idêntica a Megyn Kelly. 
QUEM MERECE: O Escândalo. 
OLHA A SURPRESA: Coringa, que também venceu prêmios no MUAHSG.
ACHO INJUSTO SE LEVAR: Judy ou Malévola.

MELHOR EFEITOS VISUAIS


QUEM VAI GANHAR: Eu gosto muito dessa categoria porque é a que mais tem surpreendido nos últimos anos. Antigamente era fácil prever quem a venceria, pois o filme com os melhores efeitos visuais se destacavam na multidão. Porém, atualmente, quando qualquer adolescente com um pacote Adobe consegue fazer seus próprios efeitos visuais em casa, a Academia tem se mostrado em conflito sobre noções e conceitos do que são trabalhos oscarizáveis. Penso que é natural, pois estamos passando por uma fase de descobertas e experimentação nessa onda de novas tecnologias que vêm surgindo. Seguindo o perfil dos últimos anos, porém, vou apostar em 1917, porque tem um favoritismo maior no geral. O Irlandês é muito polêmico, O Rei Leão é a mesma coisa que eles já premiaram recentemente em Mogli, e Vingadores: Ultimato é mais um filme da Marvel, e a Academia se provou indiferente ao excesso de criações digitais desses projetos.
QUEM MERECE: O Irlandês.
OLHA A SURPRESA: O Rei Leão ganhou muitos prêmios no VES (sindicato do pessoal de efeitos visuais), assim como O Irlandês. Porém, é Vingadores quem está fazendo a campanha mais barulhenta. Qualquer um dos três pode surpreender.
MANDO SE FODER: Não tem muitas chances, mas uma fanfic como A Ascensão Skywalker não merecia nem indicações, quem dirá um Oscar.

MELHOR TRILHA SONORA


QUEM VAI GANHAR: Coringa.
OLHA A SURPRESA: Essa é a décima terceira indicação de Thomas Newman (1917), e dessa vez ele está concorrendo por um filme favorito ao principal prêmio da noite. Será?
QUEM MERECE: Randy Newman (História de um Casamento) ou Alexander Desplat (Adoráveis Mulheres) - nessa ordem.
MANDO SE FODER: John Williams não foi um compositor em A Ascensão Skywalker, ele foi um refém.
  

MELHOR CANÇÃO ORIGINAL


QUEM VAI GANHAR: I’m Gonna Love me Again, de Rocketman.
QUEM MAIS TEM CHANCE? Fique de olho em Stand Up, de Harriet, pois além da campanha #OscarsSoWhite, Cynthia Erivo está indicada a Melhor Atriz e também é co-autora da música.
QUEM MERECE: Stand Up. Porém, esta é a décima primeira indicação de Diane Warren, e embora eu não goste do filme pelo qual está concorrendo (Superação: O Milagre da Fé), preciso admitir que sua perseverança ganhou a minha torcida.

MELHOR MIXAGEM DE SOM


QUEM VAI GANHAR: 1917, porque os membros da Academia acham que Mixagem e Edição de Som são a mesma coisa.
QUEM MERECE: Ford vs Ferrari.
OLHA A SURPRESA: Ford vs Ferrari.
MANDO SE FODER: Ad Astra, porque se tem um filme que detestei mais do que 1917 nessa temporada, foi esse.

MELHOR EDIÇÃO DE SOM


QUEM VAI GANHAR: 1917, porque, enfim, os membros da Academia acham que Mixagem e Edição de Som são a mesma coisa. 
QUEM MERECE: Ford vs Ferrari.
OLHA A SURPRESA: Ford vs Ferrari.
MANDO SE FODER: Sai daqui Star Waaaarsss...

MELHOR CURTA DE FICÇÃO


QUEM VAI GANHAR: The Neighbors' Window, não apenas porque esta já é a quarta indicação do seu diretor, como também pelo fato de ser aquele com uma história mais palatável.
OUTRO FAVORITO É: Eu ficaria de olho também Brotherhood, cujos realizadores já têm passagem pelo Oscar também - e por ser visualmente chamativo.
QUEM MERECE: Une Soeur (ou A Sister) é um pequeno exercício de tensão bem didático, mas eficiente.

MELHOR CURTA DOCUMENTÁRIO


QUEM VAI GANHAR: Learning to Skateboard in a Warzone (If You're a Girl), só pelo título já vão querer votar nele.
OUTRO FAVORITO É: A Vida em Mim, além de ser da Netflix e acessível, é o único dos indicados cujos realizadores já têm algum histórico com a Academia, no caso a diretora Kristine Samuelson, indicada em 1976. Mas, apesar de tratar de um tema aterrador e curioso, seu documentário tem uma atmosfera pesada e às vezes até poética, o que tende a afastar muitos votantes que fazem o perfil mais tradicional da Academia. 
QUEM MERECE: Learning to Skateboard in a Warzone (If You're a Girl), de fato, é o melhor dentre os 5 indicados.


MELHOR CURTA DE ANIMAÇÃO

QUEM VAI GANHAR: Hair Love, porque é delicadinho e tem temática negra, ou seja, mais uma pequena chance da Academia de fugir do #OscarsSoWhite.
OUTRO FAVORITO É: Kitbull, por motivos de Pixar.
QUEM MERECE: Gosto muito de todos os indicados, mas Mémorable e Sister são particularmente tocantes.