segunda-feira, 28 de maio de 2018

CRÍTICA: 13 REASONS WHY - 2ª TEMPORADA


Em 2017, a primeira temporada de 13 Reasons Why causou um rebuliço, acusada de utilizar problemas sensíveis da adolescência, tais como o suicídio, o abuso sexual e a solidão de forma gráfica e explícita, a fim de chocar e chamar atenção. Mas, independentemente da série promover o debate ou de trazer apenas um amontoado de gatilhos irresponsáveis, era difícil defender a encomenda de uma segunda leva de episódios – apesar de alguns pequenos ganchos, a linha cervical da trama, exatamente as fitas deixadas por Hannah (Katherine Langford) depois do suicídio, estava resolvida. Mas os novos capítulos foram confirmados em seguida, e com isso ficou patente que, se não fez isso na temporada um, a Netflix certamente iria capitalizar de forma inconsequente em cima dessas temáticas numa vindoura segunda. Continue lendo aqui>>>

sexta-feira, 25 de maio de 2018

CRÍTICA: HANDIA


A trama gira em torno de dois irmãos bascos. Um deles, Martin (Joseba Usabiaga), é mandado à guerra pelo pai, deixando o outro, Joaquin (Enego Sagardoy), para trás. Quando volta para casa, três anos depois, com um braço paralisado por ferimento à bala, o soldado descobre que seu irmão passou a sofrer de gigantismo. Pobre, aleijado e sonhando em se mudar para a América, Martin decide explorar a impressionante estatura do irmão num show itinerante para ganhar dinheiro e fugir da fazenda familiar. Handia jamais consegue fazer essa história soar interessante. O filme investe num tom asséptico e por vezes beira o sombrio, criando um distanciamento emocional que não permite aos personagens cultivarem carisma dentro de uma atmosfera tão pesada e melancólica. Se entendemos e apreciamos a jornada dos protagonistas, isso se dá num nível de observação racional. Continue lendo aqui>>>

quarta-feira, 16 de maio de 2018

CRÍTICA: DEADPOOL 2


Há dois anos, quando escrevi sobre o primeiro Deadpool, lembro de ter me preocupado com o quão bem o filme iria envelhecer, por se sustentar tanto em piadas referenciais que poderiam alienar boa parte do público. Além disso, parecia que a produção se enxergava como algo visionário apenas por estar usando violência gráfica, piadinhas sujas e recursos de linguagem espertos - o que não seria verdade. Fato é que o primeiro filme estrelado pelo mercenário (ou, digamos, o primeiro que deu certo, cof cof X-Men Origins cof cof), conseguiu ser ele mesmo uma expressão perfeita do protagonista: irreverente, brutal e um tanto estúpido.

quinta-feira, 10 de maio de 2018

CRÍTICA: A NOITE DO JOGO


Às vezes as comédias parecem mais engraçadas do que realmente são. Você pode gargalhar o tempo todo, mas em retrospecto, perceber que não viu um grande filme. E tudo bem, porque não há problema algum em querer apenas divertir (e se divertir) - Cinema, como Arte que é, pode tentar expressar drama, horror e, porque não, o puro entretenimento. A Noite do Jogo se encaixa nesta última categoria.


Max (Jason Bateman) e Annie (Rachel McAdams) formam um casal apaixonado por jogos e competições. É tradição juntar os amigos em casa, com lanchinhos e bebidas para virar a noite em cima de um tabuleiro. Até a chegada de Brooks (Kyle Chandler), irmão bem-sucedido de Max que convida a turma toda para uma noite de jogos um pouco mais realista. Porém, começa a ficar difícil diferenciar o que é parte do plano de Brooks e o que é perigo de verdade, bem no estilo de Vidas em Jogo, de David Fincher - cuja obra também surge em outras referências.


O cenário é propício - tramas ambientadas durante a noite já facilitam o trabalho do espectador na suspensão de descrença (estamos falando aqui daquelas noções semióticas de que, durante o dia, as autoridades e a sociedade estão “acordadas” e, portanto, a realidade é mais palpável). Durante a noite não, há uma expectativa maior de que coisas inusitadas e fantasiosas aconteçam. E o filme não se poupa nesse sentido, forçando um grande número de situações implausíveis. Mas tudo casa muito bem com a abordagem.


Os diretores Jonathan Goldstein e John Francis Daley (dois dos SEIS roteiristas de Homem-Aranha: de Volta ao Lar), adotam uma gramática visual que visa a agilidade e o ritmo. Obviamente inspirados no estilo de Edgar Wright, tentam extrair comicidade de momentos simples (como uma compra na farmácia) resumindo-os através de colagens dramáticas de planos detalhe dessas ações corriqueiras. Da mesma forma, a montagem investe em raccords (quando um plano tem continuidade visual no próximo) e elipses para impulsionar o ritmo da narrativa. Além disso, Daley e Goldstein também fazem um uso interessante do efeito de miniaturização (que se obtém quando se filma um plano aéreo ou geral com um desfoque especial nas lentes) ao sugerir que a cidade é um grande tabuleiro e, os personagens, as peças. Ainda que, um dos pontos altos de sua direção seja o plano sequência durante um “pega-pega” no terceiro ato.


Apesar disso, os diretores ainda precisam amadurecer um pouco mais, antes de igualarem seu trabalho a filmes como Scott Pilgrim ou Em Ritmo de Fuga. Um problema é a insistência do roteiro de Mark Perez de inserir piadinhas a todo instante, o que não dá respiro ao espectador - é claro, fica a sensação de que sorrimos o filme inteiro (o que pode ser verdade), mas são mais raras as vezes em que se ri do que está em tela. O que acontece, de fato, quando Daley e Goldstein estendem algumas piadas, criando momentos hilários justamente pelo absurdo de irem tão a fundo num momento cômico - como se fossem pequenas esquetes que surgem durante o longa. E nesse quesito, a cena da bala é o ápice de humor do projeto.


Vem para auxiliar nisso tudo a trilha de Cliff Martinez, usando os mesmos instrumentos eletrônicos que pontuam sua habitual colaboração com o cineasta Nicolas Winding Refn, com quem já se tornou especialista em evocar essa atmosfera noturna neon. Mas quem melhor mantém o filme equilibrado são mesmo Jason Bateman e Rachel McAdams, que conseguem dosar o timing cômico de forma, inclusive, a driblar algumas das piadinhas ruins do roteiro de Perez - quase todas envolvendo alguma referência à cultura pop soam forçadas. Escoltados por algumas boas participações especiais, eles ainda ganham a coadjuvância do ótimo Jesse Plemons, que está virando um especialista em viver personagens que sugerem uma mistura estranha de carisma, desconforto e ameaça.


Para pontuar, o filme costura algumas rimas visuais e sonoras (músicas do Queen) que denotam que o projeto, por mais descontraído que seja, leva seu pequeno universo e personagens bastante a sério - A Noite do Jogo acredita que eles vão funcionar e conquistar o público. O que não deixa de ser verdade, e a autoconfiança por si só já é um pequeno mérito da produção, que chega mesmo (no melhor estilo Marvel Studios) a colocar uma cena durante e outra depois dos créditos finais - cuja primeira parte é outra (boa) piada.

Nota: 8/10



segunda-feira, 7 de maio de 2018

CRÍTICA: ATLANTA - 1ª TEMPORADA


O dia a dia é repleto de aleatoriedades. Mas aparentemente, quanto mais periféricas, mais as pessoas vão estar expostas ao improvável e às injustiças dessa arbitrariedade. O absurdo é cotidiano para as comunidades mais pobres, e se manifesta tanto na forma revoltante de um abuso policial, como na divertida excentricidade de um vizinho. Protagonizada e criada por Donald GloverAtlanta entende que a realidade dos seus personagens, povoada de violência e miséria, implica na procura inerente por felicidade, e com isso em mente, inspira o riso de forma delicada, principalmente por construir tão bem uma atmosfera de melancolia e introspecção. Continue lendo aqui>>>

quinta-feira, 3 de maio de 2018

CRÍTICA: LA CASA DE PAPEL - 1ª TEMPORADA


La Casa de Papel poderia muito bem ter sido escrita por Dan Brown, autor de O Código Da Vinci (2006) e Anjos e Demônios  (2009). Assim como nos livros do escritor estadunidense, acompanhamos aqui uma série de eventos curtos e tensos que deixam o espectador (ou leitor) curioso para saber o que acontece em seguida – aquela personagem foi executada mesmo? A polícia vai encontrar o esconderijo do ladrão na próxima cena? O que será que Raquel descobriu numa gravação? Os ganchos não existem apenas ao final de cada episódio, mas praticamente a cada mudança de cena – o que remete bastante aos capítulos minúsculos de Brown e sua mania de fechá-los com uma incógnita.

Entretanto, esta tática acarreta numa demanda absurda de criatividade para gerar situações que continuem se superando ou mantendo o nível de choque causado pela cena anterior – e ninguém há de acusar a série de não ser inventiva. Mas é aí que La Casa de Papel começa a partilhar também de um dos principais problemas das narrativas de Dan Brown: a implausibilidade. Não que “ser plausível” seja um pré-requisito indispensável a todas as obras, mas o absurdo simplesmente não casa muito bem com tom de thriller policial estabelecido pela linguagem da série – a fotografia escura, a trilha pesada e os próprios ganchos que, para funcionar, exigem que o espectador leve tudo aquilo muito a sério. Continuar lendo>>>