sexta-feira, 28 de setembro de 2018

O CINEMA DIZ: #ELENÃO - Nº 3




Nesta edição, quem deu uma passadinha recomendar alguns títulos foi a Ana Maria Bahiana. Jornalista cultural, autora, roteirista e correspondente internacional, já trabalhou para o Estado de São Paulo, a Folha de São Paulo, O Globo e o Jornal do Brasil. Dentre outras publicações de sua autoria, também escreveu Almanaque 1964, livro em que recura o ano do Golpe Militar no Brasil através de um panorama cultural da época. Hoje ela é uma das únicas brasileiras a fazer parte da Associação de Correspondentes Estrangeiros de Hollywood, que é responsável por escolher e premiar os vencedores do Globo de Ouro.


Alguns filmes para entender o que está acontecendo

Para entender o transe social-político que estamos vivendo agora, no Brasil e no mundo todo, recomendo, em primeiro lugar, uma trinca de filmes de um tempo que espelha este: Sob o Domínio do Mal (1962), Três Dias do Condor (1975) e a A Trama (1974).

Sob o Domínio do Mal (1962) conta a história de um oficial da inteligência do exército estadunidense (Frank Sinatra) que, depois de servir na Guerra da Coreia, começa a ter pesadelos envolvendo o seu antigo sargento, Raymond Shawn (Laurence Harvey). Quando decide visitar o homem, descobre que, apesar de estar vivendo bem, o militar se submete aos caprichos e temperamentos da mãe (Angela Lansbury), uma extremista de Direita que acusa qualquer oposição de Comunismo. Aos poucos, o oficial percebe que outros ex-companheiros de batalha também sofrem com pesadelos similares, todos, de alguma forma, ligados ao sargento Shawn. Indicado aos Oscars de Melhor Atriz Coadjuvante (Lansbury) e Montagem, também ganhou um remake em 2004, com Denzel Washington e Meryl Streep.

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

O CINEMA DIZ: #ELENÃO - Nº 2




Hoje eu convidei o Ulisses da Motta. Professor e crítico de cinema, também dirigiu os premiados curtas Luz Natural e O Gritador, além de Kassandra, vencedor do prêmio de Melhor Fotografia no Festival de Gramado. Coordenou o núcleo de roteiros da série infantil Universo Z, transmitida para 42 países e já fez mochilão pelo país para ajudar projetos independentes de amigos. Atualmente está envolvido com projetos de longa-metragem e séries para a TV como roteirista e diretor. 


À Meia-Noite Levarei tua Liberdade: Zé do Caixão e espírito da Ditadura

É uma constatação bastante comum entre pesquisadores de cinema: o gênero horror costuma, de certa forma, antecipar ou ler através de alegorias violentas o espírito da sociedade e da época em que são produzidos. Essa análise costuma se confirmar nos mais diversos cenários, dos filmes expressionistas “prevendo” os horrores do nazismo à sátira cáustica dos zumbis de George Romero à sociedade hiperconsumista. Não seria diferente no Brasil. Afinal, aqui o cinema de horror nasceu junto com a Ditadura Militar.

Sim, o ano de 1964 viu nascer o regime militar – ainda tímido e revestido de vernizes de defesa da democracia, que logo desbotariam e descascariam. Também viu a estreia comercial do que se considera nosso primeiro longa de horror, À Meia-noite Levarei sua Alma, de José Mojica Marins. Hoje, é um filme considerado um clássico absoluto do gênero, em especial no exterior.

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

CRÍTICA: UM PEQUENO FAVOR



Um Pequeno Favor traz não só os clichês, mas diversos maneirismos e ainda a estética pobre e caricata das novelas televisivas. Tem romances proibidos, incestuosos, cenários e figurinos glamourosos, assassinato, personagens que voltam dos mortos, traições, gêmeos malignos, sexo fetichizado, gente falando sozinha para expor a trama e diálogos artificiais ao extremo. É como se Pretty Little Liars atropelasse Garota Exemplar. Entretanto, Um Pequeno Favor também é um filme dirigido por Paul Feig, que depois do excelente Missão: Madrinha de Casamento, lançou o mediano, mas divertido As Bem-Armadas, o hilário A Espiã que Sabia de Menos e o revigorante Caça-Fantasmas. Já confortável, portanto, conduzindo comédias, Feig abraça o novelesco sem, com isso, deixar de levar a sério ou caçoar dos personagens e suas motivações, o que confere peso narrativo a toda essa divertidíssima breguice.

O CINEMA DIZ: #ELENÃO - Nº 1


Criado por mãe e avó, Glauber Cruz, o meu convidado desta primeira postagem do projeto O Cinema Diz: #EleNão, é cinéfilo desde pequeno. Atualmente é estudante de Jornalismo na UFRGS e autor da publicação Construtor, na qual se aventura em palavras de resistência. O filme que ele escolheu para refletir sobre os riscos que estamos correndo hoje foi o emblemático A Lista de Schindler (1993), de Steven Spielberg, vencedor de 7 Oscar, incluindo Melhor Filme.

A Lista de Schindler e a importância de lembrar a nossa própria História

Uma das cenas de A lista de Schindler mostra um professor de História em uma fila de seleção. Definido como “não essencial”, o professor é encaminhado para a fila daqueles cujo conhecimento adquirido ao longo da vida não é de utilidade prática para os alemães, podendo assim ser facilmente descartado. Ele então é encaminhado para outra fila, a fila do abismo, para a qual vão aqueles que, envoltos por uma “não essencialidade” seriam engolidos pela máquina totalitária e assassina do nazismo. O professor acaba sendo salvo a tempo por Itzhak Stern, personagem encarnado por Ben Kingsley, e o que fica no espectador é o alívio pelo seu destino e a perturbação em torno da marca de “não essencial” carimbada sobre a História.

Hoje, no que diz respeito ao horror perpetrado por Adolf Hitler, a Alemanha caminha no sentido contrário e vê a História como algo essencial e inerente à experiência humana. Essa é uma das maiores motivações de A lista de Schindler: mostrar para que nunca sejam esquecidos (tampouco relativizados) os horrores de um passado que está logo ali atrás. E é por isso que acredito que o filme é uma forma de dizer não a Jair Bolsonaro.

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

O CINEMA DIZ: #ELENÃO




A partir desta semana, vou dar início aqui ao projeto O Cinema diz: #EleNão. A ideia é seguir os esforços do movimento iniciado por grupos feministas contra o candidato à presidência Jair Bolsonaro. Convidei algumas pessoas de certa autoridade para escolher e debater um filme que traga alguma reflexão, alerta ou aprendizado sobre a nossa situação política atual, em que corremos o risco de eleger um candidato ultraconservador.

Por que combater Bolsonaro? 


Uma vez que Jair Bolsonaro propaga discursos de ódio e incentiva de inúmeras maneiras a violência e o preconceito contra as minorias, é do meu entendimento e de milhões dentro e fora do Brasil, incluindo aí publicações, governos e instituições (como a ONU!) de Direita e Esquerda, que o político e seus seguidores mais fiéis são fascistas. E por mais que nem todos os seus eleitores sejam fascistas, o movimento em si é.  


Importante: eu não acredito que todos os eleitores do Bolsonaro são pessoas ruins. Alguns querem mudanças e o fim de velhas políticas. A ideia aqui é demonstrar que Bolsonaro não representa nada disso. Esta série de posts vai buscar refletir e ilustrar os perigos representados pelos discursos e pela postura de Jair Bolsonaro.


Como este espaço é voltado ao Cinema, a ideia é trazer alguns convidados para escolher um filme e refletir sobre o que podemos aprender com ele para não repetir os erros do passado.


Eleger Bolsonaro é um risco para a Democracia


As pesquisas mostram que há grande chances para esse senhor se eleger, trazendo com ele um vice que é militar. O risco de uma nova Ditadura Militar, de um golpe de estado e um novo regime de terror são reais e imediatos. E mesmo que esses extremos não aconteçam, eleger uma chapa fascista agravaria por demais os problemas de violência e medo sofridos pelas minorias no Brasil todos os dias, como: pobres, moradores de periferia, pessoas em situação de rua, todos os cidadãos negros, todas as mulheres, os LGBTQs, todas as pessoas com deficiência etc.


Por que se posicionar apenas contra Jair Bolsonaro?


Acredito que todos os outros candidatos à presidência do Brasil representam escolhas humanas e políticas, por mais que eu possa discordar ideologicamente de vários deles e, como tenho certeza, existem os que discordam dos candidatos que eu admiro também. Isso é democracia.


O Jair Bolsonaro NÃO. Não se pode respeitar o voto em Bolsonaro, pois o candidato não respeita a condição humana, a vida e a preservação dos direitos do cidadão. Não pode existir diálogo com quem apoia e incentiva o meu assassinato e o de milhões. Não se pode dialogar com quem é contra o livre diálogo, trata-se do paradoxo da tolerância: quando se tolera o intolerante, a intolerância vira regra.


Deixemos a empatia e o debate para os outros candidatos, com fascismo não se discute. Fascismo se combate e suprime.


A divergência aqui não é política, ela é moral


Repito: o problema com Bolsonaro não é político, é moral. Ele não deve ser tratado da mesma forma que os outros candidatos, não importa o quão defeituosos eles e seus programas de governo possam ser.


Se ele traz boas ou más propostas (são péssimas), é irrelevante, pois desde sua base moral ele já deveria ter sido descartado como possibilidade de voto. A reflexão trazida pelos filmes e convidados escolhidos, vai tentar ilustrar isso para: aqueles que querem votar nele pelo medo de se eleger um governo com o qual não concordam, e para aqueles que já não irão votar no candidato, sejam motivados à ação dentro dos seus círculos sociais.

A edições já postadas do projeto são:

O Cinema diz #EleNão - 1
A Lista de Schindler, por Glauber Cruz

O Cinema diz #EleNão - 2
À Meia-Noite Levarei sua Alma, por Ulisses da Motta

O Cinema diz #EleNão - 3
Ricardo III e outros, por Ana Maria Bahiana

O Cinema diz #EleNão - 4
Milk: A Voz da Igualdade, por Matheus Bonez

O Cinema diz #EleNão - 5
O Animal Cordial, Matheus Pannebecker

O Cinema diz #EleNão - 6
Ele Está de Volta, Maressah Sampaio

O Cinema diz #EleNão - 7
No, Fernando Beretta del Corona

O Cinema diz #EleNão - 8
Merlí, Thais Furtado

O Cinema diz #EleNão - 9
Aquarius, Márcio Picoli

O Cinema diz #EleNão - 10
A Segunda Guerra em Cores, Cristiano Aquino

O Cinema diz #EleNão - 11
A Onda, Thomás Boeira

Harry Potter diz #EleNão

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

CRÍTICA: O MISTÉRIO DO RELÓGIO NA PAREDE


Não que isso sirva de grande elogio ao projeto, mas este é o melhor filme que o diretor/produtor/ator Eli Roth já concebeu. Também, não era difícil superar a deficiência moral e a superficialidade exibida em O Albergue 1 e 2, nem o fetiche esquisito de Bata Antes de Entrar ou o reacionarismo do fraquíssimo remake de Desejo de Matar. Afinal, que O Mistério do Relógio na Parede funcione é compreensível, pois é voltado ao público infantil, uma audiência mais adequada à capacidade intelectual recorrente das obras de Roth.

Aliás, a princípio espanta que o mesmo cara que desentendeu o sadismo contido nos seus filmes de horror, a objetificação que impõem às suas personagens femininas e o discurso armamentista e de incitação à violência implícito do seu último longa, venha agora tentar estabelecer um contato com crianças (!). Ainda bem, as limitações de Roth o impedem de produzir aqui qualquer coisa mais ofensiva do que piadinhas de peido.

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

CRÍTICA: A FREIRA



A Freira não é bem o filme de terror que pretendia ser, tem sustos de menos em comparação com a quantidade de vezes que tenta sobressaltar o espectador. Por outro lado, é um filme que sem dúvidas consegue criar uma atmosfera opressora na qual insere personagens de carisma inegável. Aliás, se tem algo que é uma constante na “franquia” iniciada por James Wan em 2013 com Invocação do Mal, e que até agora já gerou uma continuação deste e mais Anabelle e Anabelle 2, são protagonistas que contam não apenas com a torcida da audiência, mas com o seu carinho também.

Os 70 anos de OS SAPATINHOS VERMELHOS


“Por que você quer dançar?”
“Por que você quer viver?”
“Bom, eu não sei exatamente o porquê. Mas eu Preciso”
“Essa é a minha resposta também”

O ano de 2018 marcou aniversários de filmes de grande relevância e impacto. São 90 anos desde que Charles Chaplin esteve em O Circo (1928) e seis décadas do lançamento de Um Corpo que Cai (1958), possivelmente o mais aclamado dos trabalhos de Hitchcock; enquanto isso, 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968) completou meio século de ampla influência cultural, as mesmas velinhas assopradas pelo brasileiro O Bandido da Luz Vermelha e por clássicos como Era Uma vez no OesteO Bebê de Rosemary A Noite dos Mortos-Vivos (todos também de 1968). Já 1978 ficou 40 anos no passado, junto com Superman: O Filme O Franco Atirador. Até marcos contemporâneos estão saindo da primeira infância: Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008) fez seus primeiros dez anos em meio a uma temporada com diversos filmes de super-heróis. Com tantos fazendo festa, talvez seja possível esquecer que o diálogo ali em cima completa, também em 2018, nada menos do que 70 anos. Pois, mesmo entre os cinéfilos, Os Sapatinhos Vermelhos  (1948) não é uma obra que costuma ser apontada como indispensável. Entretanto, a obra-prima da dupla Michael Powell e Emeric Pressburger influenciou de maneira seminal trabalhos que vão de Martin Scorsese a La La Land: Cantando Estações (2016) – ajudando, portanto, a configurar o Cinema como o conhecemos hoje. Continue lendo aqui>>>

Este texto foi originalmente publicado no portal Papo de Cinema.