quinta-feira, 31 de agosto de 2017

ATÔMICA



Dominado pela intensidade de Charlize Theron, Atômica é o tipo de projeto que poderia rapidamente soar aborrecido e repetitivo, se perdendo como obra genérica no vasto repertório dos filmes modernos de ação - e ainda mais no nicho daqueles centrados na Guerra Fria. Entretanto, trata-se de um longa que busca desesperadamente por um diferencial que o ajude a fugir de sua estrutura burocrática de roteiro, e para tanto, explora tanto os arquétipos do noir quanto a ideia de se cobrir com um verniz pop. O que funciona. Sua abordagem é justamente o que acaba tornando a experiência divertida e despretensiosa, uma vez que equilibra a crueza de sua violência com a saturação de cores vibrantes, o ritmo de sua montagem com o embalo da seleta de canções. Surgindo, portanto, como uma extrapolação dos conceitos que Nicolas Winding Refn ajudou a estabelecer nos ótimos Drive (2011), Só Deus Perdoa (2013) e mesmo no horroroso Demônio de Neon (2016), um subgênero que poderia, inclusive, se chamar neo(n) noir.

OS DEFENSORES - 1ª TEMPORADA [Papo de Cinema]


Escrevi sobre a 1ª temporada da série que junta o Demolidor, Jessica Jones, Luke Cage e Punho de Ferro. A crítica está postada lá no Papo de Cinema, só clicar AQUI.



NO MEIO DO CAMINHO, TINHA UMA MURALHA




O que aconteceu nesta última temporada de Game of Thrones pode ser facilmente constatado se analisado o arco de Cersei. Antes uma estrategista fria e implacável, que se aliava aos seus piores inimigos se isso produzisse alguma vantagem, Cersei foi convertida numa típica vilã. Se antes não hesitou em dar poder ao Alto Pardal, como parte de um estratagema bem mais complexo, se não se importou com as consequências de explodir o Grande Septo, uma vez que isso salvaria seu pescoço, aqui ela se resumiu a mentirinhas bobas e jogadas traiçoeiras, tão previsíveis quanto decepcionantes - pense naquilo que ela revela na sua última cena dessa season finale. E isso resume o cerne de todos os problemas que GoT acumulou nessa safra horrorosa de episódios.
Ou seja, antes a trama e os personagens prendiam o espectador porque tinham vida própria, ninguém se considerava coadjuvante e todos agiam como seres humanos agem, pensando serem o centro da própria história. Isso tornava possíveis as reviravoltas chocantes das temporadas anteriores, pois às vezes o plano de um personagem secundário é mais eficiente que aquele das figuras "principais". Esse aspecto é o que trazia verossimilhança à série, cuja fórmula do sucesso foi misturar essa abordagem com a fantasia (dragões, zumbis, feiticeiras, etc.).
Não digo "porque quando seguiam os livros blá blá blá". Fodam-se os livros. O seriado tem que funcionar sozinho, e GoT, na verdade, sempre sofreu de alguns tropeços de narrativa. Entretanto, até aqui vinha sendo COERENTE com a própria lógica. Já a sétima temporada ejetou o compromisso com essa coesão. Não só a narrativa problemática foi de vez pro caralho (vide a total falta de talento dos realizadores de criar elipses orgânicas), como os personagens surgem em cena apenas cumprindo suas funções pré-estabelecidas pelas convenções de roteiro.
Eventos como a morte de uma criatura mágica ou a degolação de um personagem traiçoeiro, já não são mais reviravoltas, mas acontecimentos lógicos na construção de um arco linear e previsível. A política e a inteligência deixaram de ser o atrativo da série, e o espetáculo assumiu o palco. Não que o entretenimento, por si só, seja reprovável, e GoT ascendeu à altura técnica de qualquer blockbuster que se preze, mas quando serve a uma trama que é, de várias formas, impalatável, ele é vazio.
E se antes eu precisaria me deter para descrever a complexidade dos personagens e suas relações, hoje isso é muito mais fácil:

Cersei: malvada.
Daenerys: durona do bem.
Jon Snow: queridão honesto.
Tyrion: intelectual ponderado.
Jaime: capanga com consciência.
Etc.

Claro que mesmo lineares e previsíveis, eventos numa trama podem ter efeito catártico, podem impulsionar a narrativa de forma eficiente. Não é o caso. Ver dragões, vivos e mortos, fazendo coisas legais, é... enfim, legal. Mas sobrevive? Dura?
"Ah mas O Senhor dos Anéis é só entretenimento e todo mundo adora". SdA foi construído nesse sentido, a profundidade de seus personagens e trama foi construída com tom, atmosfera e, outra vez, narrativa.
Já GoT abandonou sua própria estratégia. Pegue Ned Stark como exemplo. Estamos na sétima temporada e sua morte ainda não foi esquecida - não só por ser herói, mas pelo impacto que teve. A vitória do Blackwater, idem. O Casamento Vermelho. Por ai vai. Quem vai lembrar de Mindinho amanhã ou depois? Quem vai lembrar da Muralha caindo? São eventos esperados e entregues apenas por esse motivo.
Enfim, Valar Morghulis... Todas as séries devem morrer. Só não precisava ser tão feio assim.


quinta-feira, 10 de agosto de 2017

O ESTRANHO QUE NÓS AMAMOS


Eu sou um homem. Digo, um ser humano do sexo masculino. XY, pênis e tudo mais, e por isso consigo entender porque meus congêneres podem (e alguns devem) se sentir desconfortáveis assistindo a esta versão dirigida e adaptada por Sofia Coppola do livro de Thomas Cullinan, que por sua vez já tinha ganhado as telas em um filme de 1971. Dona de uma filmografia autoral em sua linguagem, Coppola prefere aqui sacrificar um pouco de seus virtuosismos (um pouco, pois eles existem) para construir uma narrativa tensa. Porém, e o que é mais curioso sobre O Estranho que Nós Amamos, é que, apesar de colocar ameaças pairando incessantemente sobre a cabeça de seus personagens, a maior parte da tensão que provoca vem do erotismo que sugere.

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

PLANETA DOS MACACOS: A GUERRA



Quando começou em 2011 com Planeta dos Macacos: A Origem, este reboot da clássica franquia hollywoodiana dava poucas pistas de que seria uma série de filmes tão melancólica e pessoal. Depois do competente blockbuster de estreia e uma sequência construída na tensão, chegamos aqui ao claro desfecho de uma trilogia, com um capítulo final que, apesar de obviamente ter demandado uma custosa produção repleta de ótimos efeitos visuais, consegue equilibrar as necessidades de mercado com aquelas relacionadas à conclusão do arco de seu protagonista. Portanto, Planeta dos Macacos: A Guerra é bem menos um filme de ação sobre o embate do título, do que um drama intimista em torno de Cesar (Andy Serkis).