segunda-feira, 30 de outubro de 2017

MINDHUNTER - 1ª TEMPORADA


As pessoas não costumam resistir a um bom mistério. Talvez (e aqui vai uma teoria) porque temos esta necessidade instintiva de conhecer as coisas com que interagimos, para ter controle sobre elas ou apenas para ter certeza de que as mesmas não nos farão mal. E, quando algo desconhecido e intrigante surge numa narrativa ficcional, ainda há a expectativa, acordada mutuamente por séculos entre público e obras, de que haverá um desfecho, uma explicação, uma luz em meio às sombras inicialmente apresentadas – por isso, provavelmente, que bons filmes, seriados ou livros de suspense, ao invés de nos incomodar com essas incertezas, acabam por nos magnetizar pela promessa implícita de solução. O cineasta David Fincher, aliás, entende muito bem essa dinâmica e aqui dá um passo além. Por toda a sua carreira, ele demonstrou um estilo que podemos classificar como “extremamente narrativo”, ou seja, construído para conduzir o espectador, seu olhar, suas expectativas – o que, ironicamente, retira o pouco controle que aqueles do lado de cá da tela têm sobre o que estão assistindo. Ora, se analisarmos as motivações dos assassinos apresentados nesta primeira temporada de Mindhunter, podemos encontrar em todos eles, da mesma forma, esse mesmo primitivo impulso de controle – provavelmente por isso que mistérios envolvendo serial killers e David Fincher é uma combinação que sempre casou tão bem. CLIQUE AQUI PARA CONTINUAR LENDO >

Esta crítica foi originalmente postada no Papo de Cinema.

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

RICK & MORTY - 3ª TEMPORADA



Desde o seu lançamento em 2013, Rick & Morty angariou uma boa parcela de fãs e, como acontece em qualquer fandom, muitos deles tornaram-se radicais, afirmando sobre a série coisas como: “ela é só pros inteligentes” e “precisa ter QI alto para entender o humor sofisticado”. Por outro lado, algumas semanas antes da publicação deste texto, adoradores da animação fizeram algazarra e brigaram nas portas de redes de fast food atrás do tal molho szechuan oferecido pelo McDonalds na época da estreia de Mulan(1998), apenas porque o protagonista Rick o enaltece já no primeiro episódio desta terceira temporada. Parece que, ironicamente, os apreciadores mais fanáticos do seriado falharam em compreender uma das frases menos engraçadas e, ainda assim, uma das mais certeiras e literais já ditas pelo seu personagem principal, apenas há algumas temporadas atrás: “Pense por você mesmo, não seja uma ovelha”. O cientista, entretanto, não ficaria desapontado ao saber desses eventos; meramente constataria, entediado, que seu desprezo pela existência de vida no universo é justificado. CONTINUE LENDO AQUI>

Esta crítica foi originalmente postada no Papo de Cinema.

A MORTE LHE DÁ PARABÉNS



A ideia popularizada em Feitiço do Tempo (1993) já foi tão explorada desde então que formou praticamente um subgênero, montando um espectro que vai de extremos como os bons Contra o Tempo (2011), Questão de Tempo (2013) e No Limite do Amanhã (2014), até o detestável Nu (2017). Trata-se, claro, da premissa de uma pessoa que revive o mesmo período de tempo de novo, de novo e de novo, tentando viver aquela situação de formas diferentes a cada vez. Em algum lugar no meio disso está A Morte lhe dá Parabéns, que embora não seja um exemplar especialmente criativo desse nicho, é ainda assim um longa que consegue converter a estrutura cíclica da narrativa em diversão. Isso porque, apesar de dirigido pelo mesmo Christopher Landon do decepcionante Como Sobreviver a um Ataque Zumbi (2015) e do horroroso Atividade Paranormal: Marcados pelo Mal (2014), o projeto se depende menos da condução trôpega deste, e muito mais do carisma da atriz Jessica Rothe, que vive a protagonista com energia e delicadeza o suficientes para que torçamos pela moça.

terça-feira, 24 de outubro de 2017

BOM COMPORTAMENTO


Dirigido pelos irmãos Benny e Josh Safdie, Bom Comportamento traz uma fotografia de textura suja, foco impreciso e quadros fechados que, associados à câmera na mão, tornam o visual do filme quase amador - mas os cineastas jamais cruzam a linha tênue entre a construção da crueza e uma narrativa confusa ou incompreensível. É possível sim, viu, Michael Bay? Aliás, esse amadorismo calculado, que ainda incluí um design de som desbalanceado e um filtro incomodativo na coloração do projeto (como se um operador de câmera inexperiente não tivesse regulado direito a captação da cor branca no aparelho - o que se chama no ramo de “bater o branco”), confere ao longa-metragem uma estética que evoca o mundo habitado por seu protagonista - a periferia, a madrugada, os pequenos crimes e delinquentes e a marginalização dessa gente urbana, jogada e aprisionada nos cantos das metrópoles, sufocada na noite de luzes artificiais pálidas.

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

DETROIT EM REBELIÃO



"To be young, gifted and black"

Ao assistir a DETROIT EM REBELIÃO, novo filme dirigido por Kathryn Bigelow (única mulher vencedora do Oscar de Melhor Direção até hoje), me veio à cabeça inúmeras vezes a música de Nina Simone que intitula essa postagem. Embora eu seja um grande fã de Miss Simone, há músicas suas que eu não ouso cantar por aí, apesar de adorá-las e as ouvir recorrentemente.

Isso porque algumas de suas canções carregam um contexto de luta, são palavras de protesto, gritos de guerra, discursos que, ainda que sejam belos e tenham meu apoio, não são meus para serem ditos. Não falam do meu drama, da minha dor ou das minhas lutas. Posso apreciar essas obras esteticamente, mas não me sinto confortável para reivindicá-las para mim, e sair cantarolando-as ou dizendo que são "as músicas da minha vida".

Talvez por isso a crueza da abordagem quase documental e os quesitos técnicos duros e truncados dos filmes de Bigelow sejam apropriados ainda mais a este projeto aqui. Seu lugar de fala na questão que é o foco do filme, mesmo como ficcionista, é abordá-la, de um ponto de vista passional, à distância. DETROIT é tenso, incrivelmente inquietante e brutal. Ainda assim, os aspecto mais triste da narrativa é perceber que, não fosse a ambientação no final dos anos 1960, as cenas mostradas no longa poderiam se passar hoje, em qualquer periferia, e não só nos Estados Unidos, mas no Brasil também.

Que sintomático, portanto, que esteja em cartaz em tão poucas sessões. Afinal, é um filme sombrio e provocativo, mas não é polêmico como Mãe!, ou audiovisualmente impressionante como Blade Runner 2049. É uma provocação necessária, que se distancia da ficção e traz o espectador para muito próximo da realidade, e por isso incomoda tanto - e não do jeito que as pessoas gostam de serem incomodadas na sala de cinema.


Mas Arte é isso.



sexta-feira, 13 de outubro de 2017

BLADE RUNNER 2049




Filmes têm personalidade, tom e ritmo(s) singulares, têm também maneiras próprias de se expressar, nuances únicas, ideias divergentes e roupagens diversas; eles são (ou deveriam ser) conscientes de si mesmo e às vezes falam sobre isso, alguns são inteligentes, outros nem tanto, e todos têm uma duração limitada com começo, um meio de infinitas possibilidades e, inevitavelmente, um fim. De certa forma, portanto, filmes se assemelham muito com seus criadores: nós, seres-humanos.

terça-feira, 10 de outubro de 2017

AS AVENTURAS DO CAPITÃO CUECA: O FILME



Filmes como As Aventuras do Capitão Cueca contam a seu favor com uma inocência e despretensão que fazem de suas piadinhas mais bobas parte de um esforço válido para cativar em suas mensagens aquele que claramente é o seu público alvo: as crianças. E se por vezes é importante repetir que filmes infantis não precisam ser eles mesmos infantis, noutros momentos é também agradável assistir a um longa notando como ele funciona de forma eficiente em conversar com um público que tem uma percepção ainda tão diferente do mundo. Aliás, se tem algo que esta animação compreende, é que a lente das crianças tende a pintar o universo que as cerca com cores diferentes, além de recorrentemente entendê-lo através de interpretações exageradas e absurdas – e, portanto, como trama, não se priva de investir nessas características. CONTINUE LENDO AQUI.

Crítica completa postada no Papo de Cinema.


segunda-feira, 2 de outubro de 2017

JOGO PERIGOSO [Papo de Cinema]


A Netflix lançou na última sexta-feira o thriller Jogo Perigoso, baseado num livro de Stephen King. O filme é dirigido por Mike Flannagan, que já comprovou talento conduzindo longas de horror como O Espelho, Sono da Morte, Ouija: A Origen do Mal e Hush: A Morte Ouve, e estrelado pela talentosa Carla Gugino. Expliquei na minha crítica, postada no Papo de Cinema, porque o projeto é tão eficiente em causar tensão, só clicar AQUI.