segunda-feira, 23 de maio de 2011

REENCONTRANDO A FELICIDADE

TRAILER RABBIT HOLE LEGENDADO HD
   
     Em meio a montes de blockbusters que vem saindo por ai com a chegada do verão Norte-Americano, está este novo filme do diretor John Cameron Mitchell, que traz para as telas um exemplar bem mais humano, nos trazendo de volta os tão apreciados dramas. E com tanta explosão dentro dos cinemas, é um alivio poder parar para sentir o coração bater mais pesado com esta triste e belíssima história.
     Oito meses após perderem o filho em um acidente de carro, Becca (Nicole Kidman) e Howie (Aaron Eckhart) ainda tentam superar a tragédia de muitas formas, seja investindo seu tempo em cuidar do jardim ou em terapias de grupo, ambos ainda não sabem como lidar com a situação, nem um com o outro. Isso, mais a família e amigos que sempre remetem ao acontecido, criam uma rede de conflitos internos nas personalidades deste casal que acima de tudo tentam perdoar um ao outro e si mesmos.


     O roteiro leva o filme de maneira simples e delicada, sem dar solavancos ou criar grandes cenas de drama, mantendo os dois pés firmes no chão e criando muitas cenas de discussão entre o casal de protagonistas, onde todas soam naturais e verossímeis. Os diálogos aqui são a alma do filme, sublimes e carregados de rancor, saudade e tristeza, eles criam as ligações e são os responsáveis por fazer a trama andar, não negando em momento nenhum que é uma peça adaptada para as telonas. Mas nenhum deles poderia ser expressado com tamanha veracidade nas mãos de um elenco fraco e sem química. E ai que entra a atriz (e também produtora) Nicole Kidman, que há algum tempo andava sumida de um grande papel que a valorizasse, aqui entrega uma Becca triste e delicada que mantém sua vida equilibrada entre o desespero e aceitação, entre a dor e a frieza (lembrando em certos momentos sua personagem em De Olhos Bem Fechados) encarnando a dor da mãe em eterno luto Kidman mostra que veio ao mundo pra fazer dramas, estando totalmente a vontade no difícil papel que nas mãos de outra atriz talvez ficasse exagerado ou inexpressivo demais. E se Nicole se sai mais do que bem, não fica para trás seu colega Aaron Eckhart que com ela cria uma química perfeita, sabendo também dosar a dor e a transparência com que o pai tem que lidar no dia-a-dia. Os dois criam momentos tensos de desencontro de aflições, tentando se apoiar um no outro e sempre caindo, cada lágrima é sublime saindo dos olhos destes atores em meio a discussões e monstruosas performances. Dianne West é o destaque do elenco coadjuvante, velha, a atriz não esconde suas rugas e marcas para trazer a tela a mãe de Becca, que como uma ancora insiste em trazer os protagonistas de volta a realidade da perda sempre que aparece em tela, é a figura do luto em carne e osso perfeita, sendo ela mesmo a tal "pedra no bolso" que ela usa como metáfora durante o filme.


     Mas a cereja sobre o bolo é a relação desenvolvida entre Becca e Jason (Miles Teller) o garoto que dirigia o carro que atropelou o filho da personagem causando sua morte. Ambos mostram desconforto, culpa e perdão a cada diálogo, tornando aflitivo e desconcertante ver os dois atores juntos em tela, principalmente por Teller conseguir manter-se tão bem ao lado de Kidman. também é desta relação que nasce o título do filme original, Rabbit Hole que é o título de uma história em quadrinhos que o garoto está escrevendo e que tem grande sentido metafórico durante o terceiro ato. 


     Seja pelas atuações, pelo belo roteiro ou pela direção competente e apenas correta de Mitchell, o filme acaba ganhando o espectador por envolvê-lo na dor dos personagens, ao contrário do recente (e ótimo) Anticristo que nos trazia apenas o desconforto daqueles personagens perante o mesmo motivo, Reencontrando a Felicidade, traz o sentimento sublime e aterrador do luto sobre os persoanegens, e toda sua dimensão que parece ser eterna, densa e insuportável. O final, apesar do silêncio, diz tudo.

NOTA:10/10 

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