sexta-feira, 12 de outubro de 2012

A ENTIDADE


     Ficar incomodado e ter ciência dos minutos se passando dentro de uma sala de cinema quase nunca é um bom sinal para o filme que você estiver assistindo. A não ser que, causar esta sensação seja exatamente o objetivo dos realizadores, como é o caso deste A Entidade, onde eficientemente somos convidados a ficarmos tensos e inquietos durante suas quase duas horas de duração, sendo presenteados com breves momentos de descontração que nos forçam a rir justamente pela necessidade de fugir momentaneamente desta experiência exaustiva (no bom sentido) que é assistir ao filme. E mesmo que caindo em clichês do gênero de vez em quando e introduzindo um "epílogo" desnecessário e até cafona que destoa de toda boa condução do resto, este exemplar de terror estrelado por Ethan Hawke cumpre o que a maioria de seus "colegas" não consegue, dar medo, e por isso recomendo que seja assistido Antes da Meia-Noite... MIL PERDÕES PELA PIADA INFAME AOS QUE A ENTENDERAM.



     Um escritor especializado em desvendar crimes para depois relatá-los em romances policiais, muda-se para uma casa onde ocorreram quatro assassinatos e um suposto sequestro. Lá Ellison (Hawke) encontra velhos filmes caseiros em Super 8 onde estão registrados outros crimes que podem estar relacionados ao caso, é quando sua família passa a ser assombrada por estranhos acontecimentos noturnos.


     Christopher Young, este é o nome que representa o melhor e o pior de A Entidade. Responsável pela trilha do filme, o compositor acerta em cheio, por exemplo, ao acompanhar os tais vídeos caseiros dando o tom de acordo com o que o protagonista está assistindo neles, não se furtando de mudar a trilha drasticamente para algo mais grave e incomodativo junto com os cortes abruptos das filmagens, como se sua trilha fizesse parte das mesmas. E neste quesito, o investimento constante que Young faz em cânticos e notas graves estendidas ao seu máximo remetem diretamente a algum culto ou evocação maligna, o que, claro, casa perfeitamente com a trama. Porém, provavelmente sendo orientado pelo diretor Scott Derrickson, ele acaba caindo também em lugares comuns, como usar a trilha para dar algum susto, aumentando-a bruscamente em momentos chave ou silenciando-a segundos antes de um susto previsível, o que mostra no mínimo uma falta de confiança dos realizadores quanto ao que está ocorrendo em tela. E esta insegurança acaba culminando, após uma boa condução de Derrickson durante todo o longa, em um enxerto pós-clímax desnecessário que ao apostar naquilo que o filme vinha evitando até então, a exposição dos elementos geradores de terror, acaba na verdade quase que ridicularizando o vilão do filme.


    Porém, a direção não é incompetente, aliada a trilha de Young cria tensão sem problemas, levando com calma e sem vontade de esfregar no rosto do espectador todos os seus mistérios de uma só vez. Inclusive é interessante (e acertado) como Derrickson se mantenha controlado ao ir liberando os vídeos caseiros aos poucos ao longo da trama, coisa que em outro caso com certeza teria sido mostrado em uma única vez, o que tornaria a violência explicita neles repetitiva e cansativa. Trabalhando basicamente com a estrutura e de Atividade Paranormal (e não é surpresa tendo vista que o realizador deste está aqui como produtor), o filme adota eficientemente a fórmula de "um acontecimento por noite", aonde cada vez mais este mundo paranormal vai se aproximando do protagonista. O diretor sabe aproveitar deste esquema e cria com calma cenas como a dos sons no teto ou o inspirado momento envolvendo crianças dentro da casa, o que poderia soar como um clichê (e às vezes soa), o realizador trata com alguma técnica para causar mais comoção do que medo.


     E esta condução quase que totalmente acertada realiza aquilo que seria a prioridade em um filme do gênero, fazer-nos sentir medo pelo personagem, ou melhor, nos colocar no lugar deste. E quem assistir ao filme perceberá isso apenas quando em um breve momento de descontração, sentir prazer em poder rir mesmo que nervosamente junto com os personagens, não porque a situação seja hilária ou sequer engraçada, mas sim porque é um breve momento de respiro em meio a tanta tensão. E este respiro, aliás, tem um nome (ou não), James Ransone que interpreta o delegado da pequena cidade, que por pura sutileza não carrega pendurada no pescoço uma placa dizendo "Alívio Cômico". Enquanto isso, Ethan Hawke vive com seriedade Ellison e seus ataques de pânico que são compreensíveis e até mesmo esperados.


     E embora estabeleça com requintes de crueldade as ações de seu vilão, o filme perde alguma força enquanto avança para explicações sobrenaturais, que além de retirarem um pouco da brutalidade dos crimes investigados por Ellison, ainda enfraquecem o mesmo ao revelar que suas ações contra o antagonista eram inúteis.


     Apostando na tensão que cria eficientemente, A Entidade ainda comete alguns erros que podem provocar o riso involuntário aqui e ali, vide o já citado epílogo e uma cena onde uma imagem no computador se mexe misteriosa e falsamente, diga-se de passagem. Porém, seu elenco e diretor nunca deixam de levar sua trama a sério, sendo coesos, investindo e sendo bem sucedidos em colocar aqueles que forem assistir ao longa no lugar do protagonista.


NOTA: 8/10 

Nenhum comentário:

Postar um comentário