Ficar incomodado e ter
ciência dos minutos se passando dentro de uma sala de cinema quase nunca é um
bom sinal para o filme que você estiver assistindo. A não ser que, causar esta
sensação seja exatamente o objetivo dos realizadores, como é o caso deste A Entidade, onde eficientemente
somos convidados a ficarmos tensos e inquietos durante suas quase duas horas de
duração, sendo presenteados com breves momentos de descontração que nos forçam
a rir justamente pela necessidade de fugir momentaneamente desta experiência
exaustiva (no bom sentido) que é assistir ao filme. E mesmo que caindo em
clichês do gênero de vez em quando e introduzindo um "epílogo"
desnecessário e até cafona que destoa de toda boa condução do resto, este
exemplar de terror estrelado por Ethan Hawke cumpre o que a maioria de seus
"colegas" não consegue, dar medo, e por isso recomendo que seja
assistido Antes da Meia-Noite...
MIL PERDÕES PELA PIADA INFAME AOS QUE A ENTENDERAM.
Um escritor especializado em desvendar crimes para depois relatá-los em
romances policiais, muda-se para uma casa onde ocorreram quatro assassinatos e
um suposto sequestro. Lá Ellison (Hawke) encontra velhos filmes caseiros em
Super 8 onde estão registrados outros crimes que podem estar relacionados ao
caso, é quando sua família passa a ser assombrada por estranhos acontecimentos
noturnos.
Christopher Young, este é o nome que representa o melhor e o pior de A Entidade. Responsável pela
trilha do filme, o compositor acerta em cheio, por exemplo, ao acompanhar os
tais vídeos caseiros dando o tom de acordo com o que o protagonista está
assistindo neles, não se furtando de mudar a trilha drasticamente para algo
mais grave e incomodativo junto com os cortes abruptos das filmagens, como se
sua trilha fizesse parte das mesmas. E neste quesito, o investimento constante
que Young faz em cânticos e notas graves estendidas ao seu máximo remetem
diretamente a algum culto ou evocação maligna, o que, claro, casa perfeitamente
com a trama. Porém, provavelmente sendo orientado pelo diretor Scott
Derrickson, ele acaba caindo também em lugares comuns, como usar a trilha para
dar algum susto, aumentando-a bruscamente em momentos chave ou silenciando-a
segundos antes de um susto previsível, o que mostra no mínimo uma falta de
confiança dos realizadores quanto ao que está ocorrendo em tela. E esta
insegurança acaba culminando, após uma boa condução de Derrickson durante todo
o longa, em um enxerto pós-clímax desnecessário que ao apostar naquilo que o filme vinha
evitando até então, a exposição dos elementos geradores de terror, acaba na
verdade quase que ridicularizando o vilão do filme.
Porém, a direção não é incompetente, aliada a trilha de Young cria tensão sem
problemas, levando com calma e sem vontade de esfregar no rosto do espectador todos
os seus mistérios de uma só vez. Inclusive é interessante (e acertado) como
Derrickson se mantenha controlado ao ir liberando os vídeos caseiros aos poucos
ao longo da trama, coisa que em outro caso com certeza teria sido mostrado em
uma única vez, o que tornaria a violência explicita neles repetitiva e cansativa.
Trabalhando basicamente com a estrutura e de Atividade
Paranormal (e não é surpresa
tendo vista que o realizador deste está aqui como produtor), o filme adota
eficientemente a fórmula de "um acontecimento por noite", aonde cada
vez mais este mundo paranormal vai se aproximando do protagonista. O diretor
sabe aproveitar deste esquema e cria com calma cenas como a dos sons no teto ou
o inspirado momento envolvendo crianças dentro da casa, o que poderia soar como
um clichê (e às vezes soa), o realizador trata com alguma técnica para causar
mais comoção do que medo.
E esta condução quase que totalmente acertada realiza aquilo que seria a
prioridade em um filme do gênero, fazer-nos sentir medo pelo personagem, ou
melhor, nos colocar no lugar deste. E quem assistir ao filme perceberá
isso apenas quando em um breve momento de descontração, sentir prazer em poder
rir mesmo que nervosamente junto com os personagens, não porque a situação seja
hilária ou sequer engraçada, mas sim porque é um breve momento de respiro em
meio a tanta tensão. E este respiro, aliás, tem um nome (ou não), James Ransone
que interpreta o delegado da pequena cidade, que por pura sutileza não carrega
pendurada no pescoço uma placa dizendo "Alívio Cômico". Enquanto
isso, Ethan Hawke vive com seriedade Ellison e seus ataques de pânico que são
compreensíveis e até mesmo esperados.
E embora estabeleça com requintes de crueldade as ações de seu vilão, o
filme perde alguma força enquanto avança para explicações sobrenaturais, que
além de retirarem um pouco da brutalidade dos crimes investigados por Ellison,
ainda enfraquecem o mesmo ao revelar que suas ações contra o antagonista
eram inúteis.
Apostando na tensão que cria eficientemente, A Entidade ainda comete
alguns erros que podem provocar o riso involuntário aqui e ali, vide
o já citado epílogo e uma cena onde uma imagem no computador se mexe misteriosa e
falsamente, diga-se de passagem. Porém, seu elenco e diretor nunca deixam de
levar sua trama a sério, sendo coesos, investindo e sendo bem sucedidos em
colocar aqueles que forem assistir ao longa no lugar do protagonista.
NOTA: 8/10
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