sábado, 12 de janeiro de 2013

O IMPOSSÍVEL



     "Em 2004 uma tsunami devastou o sudoeste da Ásia" já diz o pôster de O Impossível. Estrelado por Naomi Watts, Ewan McGregor e o trio de crianças que mais berram na indústria cinematográfica, o longa é ambicioso no ponto em que tenta abranger dramaticamente o impacto de um país inteiro enquanto foca-se num núcleo familiar, através do qual conhecemos a tragédia que assolou o território. Porém, soando egoísta e até mesmo preconceituoso, o diretor Juan Antonio Bayona prefere investir em um drama forçado e repetitivo que acaba justamente destruindo seus próprios esforços em construir a dimensão do desastre que pretendia retratar.



     Após decidirem passar as férias à beira-mar em um hotel na Ásia, a família formada pelo casal Maria (Watts) e Henry (McGregor) mais os filhos Lucas (Tom Holland), Thomas (Samuel Joslin) e Simon (Oaklee Pendergast) é separada por um tsunami avassalador que carrega cada um dos entes para um canto diferente. Assim, começamos a acompanhar a dura jornada de Maria ao lado de seu filho Lucas em busca de socorro (ela encontra-se gravemente ferida), enquanto isso, Henry e os outros dois garotos tentam sair do local onde ficaram ilhados ao mesmo tempo em que buscam um meio de achar o resto de sua família, morta ou viva.


     Não há como negar que o coração do filme resida na interação entre Watts e Holland que convencem rapidamente como mãe e filho. Ao se entregar ao papel de Maria de uma forma assustadora, respirando fundo e aceleradamente, mantendo o movimento dos olhos em constante procura por foco conforme seu estado vai piorando e modulando a voz para que fique cada vez mais fraca enquanto perde suas forças, a atriz acaba tendo um de seus melhores momentos (Cidade dos Sonhos, ainda representa o ápice de seu trabalho) na cena onde ela tem de subir em uma árvore estando com ferimentos graves pelo corpo. E muito disso graças ao trabalho em conjunto com o menino Tom Holland que assume o papel de criança amadurecida à força com a vivacidade necessária, sendo infelizmente desperdiçado pelo roteiro de Sergio G. Sámchez em situações clichês e tapa furos, como na qual o menino se perde da mãe e noutra na qual ele quase se esbarra com o pai dentro do mesmo local vária vezes em uma tentativa tola de gerar um suspense desnecessário por parte de Sánchez e de Bayona (mesmo recurso que quase arruinou o final de Argo recentemente). Já Ewan McGregor assume irregularmente o papel de Henry, que se em certos momentos convence como o marido e pai desesperado, em outros constrange ao encenar um choro copioso que por ter tamanha semelhança com uma gargalhada acaba gerando o riso involuntário do espectador. 


     Agora, do ponto de vista técnico, O Impossível não fica devendo em quase nenhum sentido, e a tsunami vista no início da projeção deixa no chinelo aquela indicada ao Oscar que abre Além da Vida de Clint Eastwood. Porém, é a maquiagem e o design de produção que merecem aplausos por tamanha veracidade que imprimem a cada um de seus respectivos departamentos em tela. E se sentimos um arrepio ao ver um pedaço de pele pendurada na perna de Maria ou seu seio cortado em frangalhos, é graças ao realismo dos artistas do extenso núcleo de makeup, enquanto os grandiosos, desastrosos e caóticos cenários montados pela equipe de direção de arte ajudam a estabelecer toda a tragédia que circunda os protagonistas e permitem a Bayona abrir seu scopo sem medo algum. E adicione ai uma nota de rodapé, principalmente no que diz respeito às cenas que se passam no hospital: Haja figurantes!


     Porém, a despeito de todos os seus méritos técnicos, o filme infelizmente acaba caindo em clichês já há muito remoídos pelo intelecto de qualquer espectador mediano, seja o reencontro da família (e isso não é nenhum spoiler, está no pôster E no trailer), a notícia boa no fim da trama e até mesmo o resgate final. E o pior, o longa se julga surpreendente o bastante para protelar muitos deles ao máximo da paciência de seu público, como na já citada cena dos quase encontros entre Lucas e seu pai dentro do hospital. Sem contar as apelações constrangedoras que Bayona nos empurra, tais quais o choro de Henry e a súbita mudança de caráter de Lucas após reencontrar a mãe em meio à água. E se colocados e separados em uma mesa de edição, juro que devem haver pelo menos trinta minutos de cenas onde acompanhamos (e aturamos) personagens gritando os nomes uns dos outros. E neste quesito há um lado bom e ruim, pois ou pode-se sair lembrando o nome de todos aqueles adoráveis personagens por quem você torceu durante todo o longa, ou pode-se sair querendo que pelo menos um deles tivesse se afogado, nos poupando assim de ouvirmos seus incessantes gritos por mais duas horas de projeção.

NOTA: 6/10

   

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