"Em 2004 uma
tsunami devastou o sudoeste da Ásia" já diz o pôster de O Impossível. Estrelado por
Naomi Watts, Ewan McGregor e o trio de crianças que mais berram na indústria
cinematográfica, o longa é ambicioso no ponto em que tenta abranger
dramaticamente o impacto de um país inteiro enquanto foca-se num núcleo familiar, através do qual conhecemos a tragédia que assolou o território.
Porém, soando egoísta e até mesmo preconceituoso, o diretor Juan Antonio Bayona
prefere investir em um drama forçado e repetitivo que acaba justamente
destruindo seus próprios esforços em construir a dimensão do desastre que
pretendia retratar.
Após decidirem passar as férias à beira-mar em um hotel na Ásia, a família
formada pelo casal Maria (Watts) e Henry (McGregor) mais os filhos Lucas (Tom
Holland), Thomas (Samuel Joslin) e Simon (Oaklee Pendergast) é separada por um
tsunami avassalador que carrega cada um dos entes para um canto diferente.
Assim, começamos a acompanhar a dura jornada de Maria ao lado de seu filho
Lucas em busca de socorro (ela encontra-se gravemente ferida), enquanto isso,
Henry e os outros dois garotos tentam sair do local onde ficaram ilhados ao
mesmo tempo em que buscam um meio de achar o resto de sua família, morta ou
viva.
Não há como negar que o coração do filme resida na interação entre Watts
e Holland que convencem rapidamente como mãe e filho. Ao se entregar ao papel de
Maria de uma forma assustadora, respirando fundo e aceleradamente, mantendo o
movimento dos olhos em constante procura por foco conforme seu estado vai
piorando e modulando a voz para que fique cada vez mais fraca enquanto perde
suas forças, a atriz acaba tendo um de seus melhores momentos (Cidade dos Sonhos,
ainda representa o ápice de seu trabalho) na cena onde ela tem de subir em uma
árvore estando com ferimentos graves pelo corpo. E muito disso graças ao trabalho em conjunto com o menino Tom Holland que
assume o papel de criança amadurecida à força com a vivacidade necessária,
sendo infelizmente desperdiçado pelo roteiro de Sergio G. Sámchez em situações
clichês e tapa furos, como na qual o menino se perde da mãe e noutra na qual
ele quase se esbarra com o pai dentro do mesmo local vária vezes em uma tentativa tola
de gerar um suspense desnecessário por parte de Sánchez e de Bayona (mesmo recurso que quase arruinou o final de Argo recentemente). Já
Ewan McGregor assume irregularmente o papel de Henry, que se em certos momentos
convence como o marido e pai desesperado, em outros constrange ao encenar um
choro copioso que por ter tamanha semelhança com uma gargalhada acaba gerando o
riso involuntário do espectador.
Agora, do ponto de vista técnico, O
Impossível não fica devendo
em quase nenhum sentido, e a tsunami vista no início da projeção deixa no
chinelo aquela indicada ao Oscar que abre Além da Vida de Clint Eastwood. Porém, é a
maquiagem e o design de produção que merecem aplausos por tamanha veracidade
que imprimem a cada um de seus respectivos departamentos em tela. E se sentimos
um arrepio ao ver um pedaço de pele pendurada na perna de Maria ou seu seio
cortado em frangalhos, é graças ao realismo dos artistas do extenso núcleo de
makeup, enquanto os grandiosos, desastrosos e caóticos cenários montados pela
equipe de direção de arte ajudam a estabelecer toda a tragédia que circunda os
protagonistas e permitem a Bayona abrir seu scopo sem medo algum. E adicione ai uma nota de rodapé, principalmente no que diz
respeito às cenas que se passam no hospital: Haja figurantes!
Porém, a despeito de todos os seus méritos técnicos, o filme infelizmente
acaba caindo em clichês já há muito remoídos pelo intelecto de qualquer
espectador mediano, seja o reencontro da família (e isso não é nenhum spoiler,
está no pôster E no trailer), a notícia boa no fim da trama e até mesmo o
resgate final. E o pior, o longa se julga surpreendente o bastante para
protelar muitos deles ao máximo da paciência de seu público, como na já citada
cena dos quase encontros entre Lucas e seu pai dentro do hospital. Sem contar as
apelações constrangedoras que Bayona nos empurra, tais quais o choro de Henry e
a súbita mudança de caráter de Lucas após reencontrar a mãe em meio à água. E
se colocados e separados em uma mesa de edição, juro que devem haver pelo menos
trinta minutos de cenas onde acompanhamos (e aturamos) personagens gritando os
nomes uns dos outros. E neste quesito há um lado bom e ruim, pois ou pode-se
sair lembrando o nome de todos aqueles adoráveis personagens por quem você
torceu durante todo o longa, ou pode-se sair querendo que pelo menos um deles
tivesse se afogado, nos poupando assim de ouvirmos seus incessantes gritos por
mais duas horas de projeção.
NOTA: 6/10
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