Baseado em uma história real adaptada do livro escrito pela jornalista Nacy Jo Sales (que não li), Bling Ring começa quando Marc (Israel Broussard) conhece Rebecca (Katie Chang), e os dois adquirem um novo e estranho hábito: invadir casas de celebridades enquanto estas estão fora. Contando com a auto confiança destas figuras que "devem até deixar a chave sob o capacho" (como dizem em certo momento), os dois logo se vêem rodeados por um grupo de adolescentes como Nicki (Emma Watson) , Chloe (Claire Julien) e Sam (Taissa Farmiga), todos empenhados em descobrir qual astro de Hollywood estará fora de sua mansão e em qual data, prontos para roubar e esbanjar os bens materiais destas pessoas.
Por um momento, a diretora faz parecer que o distanciamento emocional percebido entre nós espectadores e os personagens é algo fora de seu controle, quase chegando perto do que acontecera em Maria Antonieta, onde talvez tentando mostrar a futilidade das figuras da corte de Versalhes, Coppola acabara por criar figura nenhuma, em um projeto que em meio a arroubos estéticos belíssimos, se mostrava vazio e sem conteúdo (aliás, Kirsten Dunst faz uma pequena aparição aqui). Em Bling Ring, essa falta de aprofundamento é claramente consciente e medida. Não é que não conheçamos Marc, Rebecca ou Chloe, mas quase tudo que nos é mostrado sobre eles é superficial ou de natureza fútil, como por exemplo a rotina na casa de Nicki e Sam, onde a mãe das garotas as fazem viver sob um regime dogmatizado através do livro O Segredo. Ou mesmo as aspirações de um dos membros do grupo que consiste basicamente em roubar e vestir coisas que pertenceram a Lindsay Lohan. Fora isso, Coppola nos priva quase que totalmente do dia a dia e das nuances destes personagens, focando principalmente a ação nas invasões e festas de farra da turma, onde quase sempre dopados por álcool e drogas, nunca mostram suas mais íntimas características. E assim, aprendemos a apreciar pequenos momentos em que a diretora nos permite ver um pouco além na personalidade destes adolescentes, como aquele em que através da webcam de um computador, assistimos Marc dançar e cantar distraído, seguro de que ninguém nunca assistiria aquele vídeo (e saber que este vídeo existe de verdade e está disponível na internet, só faz mostrar ainda mais a exposição a que Coppola submete seu personagem nesta sequência).
Mas na maior parte do tempo, a cineasta prefere nos deixar na desconfortável posição de moralistas, julgando os personagens. E seus habituais longos planos aqui servem a este propósito, como aquele em que de fora de uma das casas invadidas (já admitindo e enfatizando o distanciamento entre nós e nossos protagonistas), acompanhamos a ação de Marc e Rebecca, tudo ao longe e sem ouvir nada, quase como voyeurs, espiando pelas janelas toda a situação. É, portanto, uma pena que justamente quando começamos a nos aproximar daqueles personagens, que Sofia seguindo sua lógica de não imersão, decida encerrar o longa logo antes de ele entrar na que poderia ser a fase mais interessante da história do grupo. Mas ao menos com isso a diretora se mantém coerente com a própria proposta.
Uma certa frieza na química dos personagens com o seu público que os intérpretes de Marc, Rebecca, Nicki, Sam e Chloe parecem entender com facilidade. Enquanto Israel Broussard cria um jovem homossexual o mais longe possível dos estereótipos, Katie Chang assume com segurança a personalidade forte de Rebecca, que por sua vez é muito parecida com a imprevisível Sam de Taissa Farmiga, que aliás protagoniza a mais tensa cena do filme, na qual sua personagem brinca com uma arma de fogo. Já Emma Watson encarna com vivacidade sua Nicki, que muito se distancia das personagens inteligentes e fortes vividas pela atriz em Harry Potter e As Vantagens de Ser Invisível, mostrando que Watson possuí um potencial realmente a ser explorado pelas direções certas.
No fim das contas, Sofia Coppola se mantém fiel do início ao fim à sua (boa e eficiente) proposta narrativa, ainda que para isso tenha que arcar com uma forte inércia de ritmo e falta de carisma por parte de seus personagens. Aproveitando e no meio do caminho ainda criticando o deslumbramento que certas pessoas tem com figuras famosas (em certo momento, a mãe de Nicki apresenta Angelina Jolie como meta de vida para suas filhas), a entrega da nova geração às redes sociais e como muitos jovens parecem viver em função delas (os artigos roubados pelo grupo eram constantemente exibidos em fotos nos seus perfis no Facebook) e até mesmo o sensacionalismo midiático em torno de criminosos e escândalos, a cineasta concluí este seu Bling Ring ainda não tendo produzido uma obra prima máxima (Encontros e Desencontros é o mais próximo disto), mas continua a manter um bom nível em suas realizações e, pessoalmente, estou ansioso por seu próximo projeto.
NOTA: 8/10
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