sexta-feira, 16 de agosto de 2013

BLING RING - A GANGUE DE HOLLYWOOD


     Sair da sombra das realizações de um pai como Francis Ford Coppola não deve ser uma tarefa fácil, e as comparações tendem a seguir sua filha através de sua carreira. Porém, embora Sofia não tenha produzido ainda nenhum clássico instantâneo como Francis fez com Apocalypse Now, a trilogia Poderoso Chefão e O Drácula de Bram Stocker, é inegável que seja uma diretora segura e com suas próprias e singulares características (ainda que se note um tema recorrente: a vida burguesa de pessoas que querem ser ou são figuras públicas), tendo realizado obras admiráveis como Encontros e Desencontros, Um Lugar Qualquer e até mesmo o esteticamente belo, mas substancialmente vazio Maria Antonieta. E é com a mesma competência que Coppola conduz este ótimo Bling Ring, que toma a corajosa decisão de não aprofundar e assim manter distantes do espectador as figuras que povoam sua trama, mas com isso, nos forçando a julgá-las mesmo que inconscientemente.


     Baseado em uma história real adaptada do livro escrito pela jornalista Nacy Jo Sales (que não li), Bling Ring começa quando Marc (Israel Broussard) conhece Rebecca (Katie Chang), e os dois adquirem um novo e estranho hábito: invadir casas de celebridades enquanto estas estão fora. Contando com a auto confiança destas figuras que "devem até deixar a chave sob o capacho" (como dizem em certo momento), os dois logo se vêem rodeados por um grupo de adolescentes como Nicki (Emma Watson) , Chloe (Claire Julien) e Sam (Taissa Farmiga), todos empenhados em descobrir qual astro de Hollywood estará fora de sua mansão e em qual data, prontos para roubar e esbanjar os bens materiais destas pessoas.


     Por um momento, a diretora faz parecer que o distanciamento emocional percebido entre nós espectadores e os personagens é algo fora de seu controle, quase chegando perto do que acontecera em Maria Antonieta, onde talvez tentando mostrar a futilidade das figuras da corte de Versalhes, Coppola acabara por criar figura nenhuma, em um projeto que em meio a arroubos estéticos belíssimos, se mostrava vazio e sem conteúdo (aliás, Kirsten Dunst faz uma pequena aparição aqui). Em Bling Ring, essa falta de aprofundamento é claramente consciente e medida. Não é que não conheçamos Marc, Rebecca ou Chloe, mas quase tudo que nos é mostrado sobre eles é superficial ou de natureza fútil, como por exemplo a rotina na casa de Nicki e Sam, onde a mãe das garotas as fazem viver sob um regime dogmatizado através do livro O Segredo. Ou mesmo as aspirações de um dos membros do grupo que consiste basicamente em roubar e vestir coisas que pertenceram a Lindsay Lohan. Fora isso, Coppola nos priva quase que totalmente do dia a dia e das nuances destes personagens, focando principalmente a ação nas invasões e festas de farra da turma, onde quase sempre dopados por álcool e drogas, nunca mostram suas mais íntimas características. E assim, aprendemos a apreciar pequenos momentos em que a diretora nos permite ver um pouco além na personalidade destes adolescentes, como aquele em que através da webcam de um computador, assistimos Marc dançar e cantar distraído, seguro de que ninguém nunca assistiria aquele vídeo (e saber que este vídeo existe de verdade e está disponível na internet, só faz mostrar ainda mais a exposição a que Coppola submete seu personagem nesta sequência).


     Mas na maior parte do tempo, a cineasta prefere nos deixar na desconfortável posição de moralistas, julgando os personagens. E seus habituais longos planos aqui servem a este propósito, como aquele em que de fora de uma das casas invadidas (já admitindo e enfatizando o distanciamento entre nós e nossos protagonistas), acompanhamos a ação de Marc e Rebecca, tudo ao longe e sem ouvir nada, quase como voyeurs, espiando pelas janelas toda a situação. É, portanto, uma pena que justamente quando começamos a nos aproximar daqueles personagens, que Sofia seguindo sua lógica de não imersão, decida encerrar o longa logo antes de ele entrar na que poderia ser a fase mais interessante da história do grupo. Mas ao menos com isso a diretora se mantém coerente com a própria proposta. 


     Uma certa frieza na química dos personagens com o seu público que os intérpretes de Marc, Rebecca, Nicki, Sam e Chloe parecem entender com facilidade. Enquanto Israel Broussard cria um jovem homossexual o mais longe possível dos estereótipos, Katie Chang assume com segurança a personalidade forte de Rebecca, que por sua vez é muito parecida com a imprevisível Sam de Taissa Farmiga, que  aliás protagoniza a mais tensa cena do filme, na qual sua personagem brinca com uma arma de fogo. Já Emma Watson encarna com vivacidade sua Nicki, que muito se distancia das personagens inteligentes e fortes vividas pela atriz em Harry Potter e As Vantagens de Ser Invisível, mostrando que Watson possuí um potencial realmente a ser explorado pelas direções certas.


     No fim das contas, Sofia Coppola se mantém fiel do início ao fim à sua (boa e eficiente) proposta narrativa, ainda que para isso tenha que arcar com uma forte inércia de ritmo e falta de carisma por parte de seus personagens. Aproveitando e no meio do caminho ainda criticando o deslumbramento que certas pessoas tem com figuras famosas (em certo momento, a mãe de Nicki apresenta Angelina Jolie como meta de vida para suas filhas), a entrega da nova geração às redes sociais e como muitos jovens parecem viver em função delas (os artigos roubados pelo grupo eram constantemente exibidos em fotos nos seus perfis no Facebook) e até mesmo o sensacionalismo midiático em torno de criminosos e escândalos,  a cineasta concluí este seu Bling Ring ainda não tendo produzido uma obra prima máxima (Encontros e Desencontros é o mais próximo disto), mas continua a manter um bom nível em suas realizações e, pessoalmente, estou ansioso por seu próximo projeto. 


NOTA: 8/10


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