Conduzido com segurança pela diretora Kimberly Peirce, esta nova versão para o cinema de uma das obras mais famosas e adoradas do escritor Stephen King encontra o seu maior problema no fato de que possivelmente boa parte de seu público já conhece a história de Carrie até de trás para frente. O que claro, não é culpa da produção, que entrega um longa funcional apesar de um pecadilho e outro, porém, colocado ao lado da versão dirigida por Brian De Palma, por exemplo, o longa de 2013 não apresenta nenhum elemento que se destaque, a não ser obviamente, seu efeitos visuais. Sendo assim, por mais eficiente e divertido que seja rever a história da tímida garota com poderes telecinéticos, gozada na escola pelos colegas e oprimida pela mãe ultra-religiosa em casa, não creio que esta revisita ao livro de King irá se sustentar na memória dos espectadores por tantos anos apenas por possuir uma técnica mais modernizada. Não quando a cena do baile na versão de De Palma atravessa os anos como um exemplo de montagem em favor da tensão.
Para quem não conhece então: após menstruar pela primeira vez durante um banho coletivo na escola, sem saber do que aquilo se trata, a introspectiva Carrie (Chloë Grace Moretz) tenta pedir ajuda as colegas, que achando a situação engraçada, atiram-lhe tampões, riem e filmam toda a situação. Punidas pela professora Desjardin (Judy Greer) com detenções, uma das garotas decide se vingar da menina, enquanto outra, Sue (Gabriella Wilde), tenta se redimir sugerindo que o namorado, Tommy Ross (Ansel Elgort), a leve para o baile em seu lugar. O que acaba indo contra os ensinamentos católicos e fundamentalistas da mãe de Carrie, Margaret (Juliane Moore, assustadora).
Falando nela, aliás, Peirce entende que Margaret é a figura mais interessante daquela história, dando um tratamento simbólico todo especial para a personagem (que ganha provavelmente sua melhor transposição para o cinema aqui), que surge em uma de suas primeiras cenas através de um vidro retorcido que deforma sua imagem já sinistra, para logo depois ainda ser enquadrada em um close em contra-plongée que a deixa monstruosamente gigante e ameaçadora em tela. Até mesmo o arco percorrido pela personagem encontra aqui uma rima curiosa pelas mãos da cineasta, que a apresenta dando luz à Carrie, só para no final do filme, mostrá-la escapando do armário onde a filha a havia trancado por uma fenda em forma de ventre, quando então está decidida a aniquilar sua própria criação. Já a escalação de Chloë Grace Moretz como a protagonista título se mostra hora acertada, hora equivocada, e não estou nem falando dos trejeitos caricatos da atriz, principalmente durante o clímax, que não destoam do tom da produção, mas sim da empatia da personagem, que se por um lado é carismática e facilmente acessível a qualquer espectador muito em razão de sua constante vulnerabilidade, também acaba sofrendo desta fácil identificação, já que se tornam forçadas suas mudanças bruscas de personalidade durante o terceiro ato. Isso é algo que, por exemplo, Sissy Spacek entendia ao interpretar Carrie no longa de 1976, sacrificando boa parte do carisma da personagem em detrimento de sua personalidade fria e anti-social, que mais tarde justificariam a facilidade com que se desliga emocionalmente daquele grupo de pessoas o suficiente para cometer os atos hediondos que marcam o tão famoso ápice da produção.
Aliás, é a partir deste ponto de Peirce parece perder a mão sobre o filme: pra começar, ela investe em uma montagem brega que mostra três vezes (TRÊS!) e de ângulos diferentes o balde com sangue de porco sendo virado. No desfecho, ainda tenta empurrar uma lição de moral anti-bullying que não era de todo o foco da história, e que soa também deslocada. Chegando então aos créditos finais, constatamos que Carrie, A Estranha (2013) infelizmente não se mantém por muito tempo na lembrança, o que não é o mesmo que se pode dizer de suas versões anteriores. E se ficar, é graças a ótima Juliane Moore - já disse que ela está assustadora?
NOTA: 6/10
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