quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

ENDER'S GAME - O JOGO DO EXTERMINADOR



     Em seus primeiros minutos, Ender's Game parece caminhar em direção a repetir o fracasso de X-Men Origins: Wolverine (dirigido pelo mesmo Gavin Hood), abrindo o filme com uma citação "profunda" que é de autoria de ninguém mais que o seu próprio protagonista (pretensioso, não?), o longa corre em apresentar os conceitos de seu universo em sequências clichês envolvendo bullying escolar e relações familiares previsíveis. Porém, isso é compensado quando finalmente chegamos ao treinamento do personagem título, onde boa parte da trama se contextualiza e onde, de fato, sua história cresce ao lado de seu herói, mostrando-se uma eficiente reflexão sobre liderança.



     Claro que para essa imersão é preciso comprar a ideia de militares adultos confiando em crianças para comandarem batalhas importantes e decisivas para a humanidade, o que pede (ou melhor, implora) por uma boa vontade da suspensão de descrença de seu espectador, ainda que ao menos superficialmente o filme se preocupe em levantar a questão moral de usar menores como estratégia de guerra. Mas me adianto, O Jogo do Exterminador conta a história do jovem Ender (Asa Butterfield), que é recrutado pelo programa militar de formação de novos comandantes para a frota estelar humana, que há anos combate as invasões alienígenas dos tais Formics, que são basicamente insetos espaciais. Observado pelo Coronel Graff (Harrison Ford) e pela Major Gwen Anderson (uma insípida Viola Davis), o menino logo se mostra um líder natural e visionário dos grupos pelos quais passa na estação de treinamento, gerando também a antipatia de alguns de seus colegas no processo.


     É questionável, aliás, o tal visionarismo atribuído ao protagonista, já que na verdade, é quase risível que nenhum dos adultos ali presentes tenham pensado em qualquer uma daquelas estratégias, porém, no universo de Ender's Game, onde um adulto como o Coronel Graff parece passar metade da película repetindo variantes de "ele é perfeito para o trabalho", é aceitável que sobre mesmo para as crianças o futuro da raça humana. Vencido este empecilho imersivo, é fácil se relacionar com a figura aparentemente frágil vivida por Asa Butterfield, que apesar de sua magreza e postura fechada, se mostra um intérprete fascinantemente forte e interessante, que assim como parece não se intimidar na presença de atores consagrados como Ford e Kingsley (com quem volta a dividir cena depois de Hugo Cabret), também transmite essa confiança para Ender, que jamais parece se intimidar diante de qualquer autoridade. E nem deveria, já citei o quão idiotas alguns adultos nesse filme parecem ser? Enfim, com essa postura e presença em tela, o menino logo convence como o líder que é vendido, e torna-se cativante vê-lo empenhado na tarefa de conquistar a confiança e, acima de tudo, a simpatia de seus liderados. E é justamente quando se concentra na personalidade de seu protagonista que o filme convence e ganha pontos, já que todo o resto do elenco é insosso (alguns deles indicados e outros vencedores de Oscar). 


     Uma amenidade que não se limita aos atores, permeando também todo o desenvolvimento de O Jogo do Exterminador, e que Gavin Hood não consegue desatrelar da trama por jamais estabelecer uma ameaça real para qualquer personagem em tela, e por mais interessante que seja a pequena reviravolta no final do longa, esta também acaba por revelar que um tão esperado clímax na verdade já passou enquanto achávamos estar assistindo a outra coisa, o que não só é frustrante como também retira qualquer tensão da única oportunidade tátil que o roteiro tinha de desenvolve-la. Mas há de se notar que ao menos em seus aspectos técnicos a produção não deixa a desejar, principalmente na trilha pesada e presente de Steve Jablonsky que ajuda a climatizar melhor o universo abitado por Ender. Que afinal, sendo o personagem mais racional em tela, é o grande trunfo do projeto. 


NOTA: 6/10



Um comentário:

  1. Eu estou olhando para tirar a segunda parte do filme. "Orador dos Mortos", pelo menos para mim, um livro é muito superior a "Ender's game", que amplifica e larga em todo o universo de Ender.

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