Primeiramente, eu não li o livro
do John Green, e já cansei de falar aqui que filme é filme e obra que o
originou é, enfim, obra que o originou. São coisas distintas e DEVEM a
princípio – vá saber, a proposta pode mudar eventualmente – serem independentes.
Resumindo: não ter lido um livro não faz de ninguém menos apto a avaliar um
longa-metragem adaptado do mesmo. Então deixem o “mimimi” aqui neste parágrafo
se querem saber a opinião oficial do Classe
de Cinema sobre A Culpa das Estrelas.
Livres do “mimimi”? Beleza! É bobinho? É. É Meloso às vezes? É. Isso quer dizer
que o filme é ruim? Não. Graças a um punhado de intérpretes carismáticos é
possível se envolver e se importar com o arco bonitinho e – surpresa! – sóbrio de
Hazel e Gus.
É bem verdade que o roteiro de
Scott Neustadter e Michael H. Weber não nega suas origens literárias, e é
possível notar certo inchaço na duração causados por diversos, pequenos e
óbvios fan services. Que não necessariamente
servem à trama, mas como tampouco a atrapalham, meu único problema com o texto
acaba sendo sua natureza um tanto episódica. Porém, esse trata-se de um mal
comum em adaptações em geral, e é até louvável que o ritmo possua alguma
fluidez; conta-se então a história de Hazel Grace (Shailene Woodley, aqui bem melhor do
que no insosso Divergente), uma
adolescente diagnosticada com câncer que, em um grupo de auto ajuda, conhece Gus, um garoto cuja condição igualmente enferma outrora lhe
custara uma das pernas. Com o tempo, o menino interessa-se romanticamente por
ela – dãã – que por sua vez se mostra resistente por temer a perda eminente que
um do dois sofrerá caso se relacionem. O que, claro, não vai impedi-los de viver
uma historinha de amor cheia de lições de vida batidas.
Ainda que, atores como Laura Dern
e Willem Dafoe tragam certo peso para a narrativa ao investirem em personagens
que fogem elegantemente dos clichês do gênero. Sim, a mãe interpretada por Dern
é sofrida e melancólica, como qualquer pessoa em sã consciência colocada em sua
situação deveria ser, mas ao mesmo tempo já apresenta os indícios de uma
convivência diária com a eminência da morte da filha, e em um momento tocante
revela que já tem planos para o pós-óbito de Hazel que não são apenas lamentar
a sua partida. Já Dafoe, ao invés de representar a salvação e última vontade
realizada dos protagonistas, mostra-se um canalha detestável e amargurado que
reflete o espírito cínico com que A Culpa
é das Estrelas parece abordar a relação do casal central.
Hazel e Gus poderiam facilmente
tornar-se uma Bella e um Edward em um conflito que se estenderia – literalmente
no caso dos segundos – ad infinitum sobre se deveriam ou não ficarem juntos.
Diferentemente, o filme prefere trazê-los de forma mais lúcida, encarando com
uma maturidade insuspeita sua própria situação. Ok, essa maturidade é expressa
em exposições adocicadas e levianas que tentam sabotar o seu próprio teor, mas
ainda assim, expressas de qualquer modo. Gus admite que se magoará muito com a perda
de Hazel, mas tampouco deixa de reconhecer que ele mesmo tem pouco tempo de vida,
cedendo ao seu lado mais emocional ao invés do racional, o que ajuda a elevar
essas figuras de meros ícones adolescentes para seres humanos críveis. O
garoto, por exemplo, fixa seu olhar na menina displicentemente na primeira vez
que a vê, não negando mais tarde que o faz porque deseja usufruir de cada
impulso que lhe vem. Essa espontaneidade com que Ansel Elgort (repito o
comentário sobre Divergente) é
benéfica ao projeto não só por tornar Gus divertido e carismático, fugindo
também aos lugares comuns do romântico incurável, como igualmente serve de base
de contraste para sua depressão mais tarde, quando o avanço da doença faz com
que se torne mais dependente de outras pessoas. Já Woodley é eficaz ao fazer
menos chata uma protagonista que além de lidar com limitações físicas, também
se mostra cética sobre quase tudo. Sua Hazel Grace é adorável o suficiente para
justificar o entrosamento com o público, afinal, mesmo condenada por sua saúde,
a garota surpreende ao se mostrar positiva quanto a sua situação. “Você não
estragou a nossa viagem” contradiz ela o personagem de Dafoe em certo momento.
Inseridos em situações que,
dentro das suas próprias proporções, são bem inventivas, os nossos “heróis” também
merecem palmas por não estarem perdidos em um filme completamente sem conflito,
como, por exemplo, cof cof, Crepúsculo.
De sua obsessão por descobrir o final de um livro – que reflete o seu desejo de
que seus entes queridos tenham eles mesmos um final feliz apesar do trauma de
perdê-los – passando por uma vingança que envolve ovos e um carro, até um
discurso fúnebre feito ainda em vida para os futuros falecidos, A Culpa é das Estrelas entende
corretamente que não só de “eu te amo’s” é feito um romance, não esquecendo de
rechear a vida daqueles dois com momentos memoráveis que façam valer a pena
para o público torcer e lamentar com eles. E por entender isso e priorizar esta
abordagem é que o diretor Josh Boone merece alguma lembrança aqui; por isso e
pelo sutil momento relâmpago – do tipo piscou, perdeu – em que ao fundo do
quadro mostra Gus invertendo o cigarro na boca do amigo cego, num simples,
corriqueiro e simpático ato de amizade genuína. O cineasta também tenta ao
máximo evitar o tom melodramático, ainda que conforme avance a duração do
longa, esta se torne quase inevitável. Mas nada que incomode. Muito. Boone
também coloca aqui e ali algumas referências da cultura pop em pôsteres, cenas
de filmes, citações, etc, o que embasa eficientemente a vida pregressa daqueles
jovens.
Os mais sensíveis irão às
lagrimas sem dúvidas, eu mesmo tive um nozinho na garganta em certo momento,
mas não é nenhum dramalhão ou mesmo um filme muito complexo. Cumpre um pouco mais
do que promete, o que já satisfaz. Não incomoda com suas eventuais pieguices e
diverte enquanto dura. A história do casal de pacientes terminais ficará na
memória? Não. Hazel e Gus vão? Provavelmente.
NOTA: 8/10
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