segunda-feira, 2 de junho de 2014

NO LIMITE DO AMANHÃ



Eficiente diretor de ação, Doug Liman une seu talento para transformar até mesmo o mais caótico cenário de batalha em um mise en scène compreensível, a uma estrutura narrativa tirada diretamente de Feitiço do Tempo. Trazendo um sempre competente Tom Cruise como protagonista, No Limite do Amanhã, além de um filme divertido, acaba por se revelar também mais um pequeno acerto na carreira do ator depois dos bons Oblivion e Jack Reacher. Não são filmes para o Oscar ou destinados a se tornarem os maiores lançamentos de sua semana, mas tampouco são medíocres ou esquecíveis.


Dirigido por Doug Liman (do divertido Sr. e Sra. Smith), No Limite do Amanhã conta a história de Cage (Cruise, sempre enérgico), um publicitário que vende a si mesmo como herói de uma guerra entre humanos e alienígenas invasores que tomaram conta da Europa. Recusando a ordem de ser mandado para o fronte de batalha registrar o heroísmo dos soldados, acaba preso e rebaixado, tendo de servir na linha de frente, quando então é morto e no processo acaba tendo seu sangue misturado com o de um dos extraterrestres, o que dá a ele o dom de voltar no tempo toda a vez que morre, revivendo seu último dia como num jogo onde ao falhar em uma missão, você retorna ao último ponto salvo. Para entender melhor sua situação ele passa a treinar com Rita (Emily Blunt), uma veterana que já esteve em situação parecida. Juntos, aproveitando sua vantagem em relação ao inimigo, eles planejam um modo de destruí-lo definitivamente.


Uma das principais virtudes de No Limite do Amanhã é o bom uso que faz de sua estrutura dramática, inspirada diretamente em Feitiço do Tempo, o diretor Doug Liman - do tenso A Identidade Bourne; Repassando diversas vezes a mesma série de eventos, o cineasta se sente à vontade para investir no humor e deixar que seu protagonista (Tom Cruise, com uma presença sempre notável) percorra um arco bem definido. Jamais deixando que a repetição canse seu espectador, Liman procura retratar todos os acontecimentos sempre sob uma nova perspectiva, o que denota a mudança de percepção de Cage sobre os mesmos. Também se saindo admiravelmente bem ao conseguir estabelecer quem está onde e quando em todos estes momentos, o que é essencial para o funcionamento das gags de montagem – aquelas duas que trazem Cage sendo atropelado de maneira banal são hilárias. Cruise, aliás, merece palmas por conseguir representar o amadurecimento de seu inicialmente covarde personagem dentro dessa construção narrativa, e gradualmente, faz do nosso herói um mais centrado, sério e astuto. Sem com isso deixar de transparecer sua habitual intensidade, principalmente, claro, ao correr, marca registrada do ator.


No Limite do Amanhã, dirigido por Doug Liman (do mediano Jumper), tem um grande problema, depois de nos introduzir a uma estrutura narrativa magnética – idêntica a de Feitiço do Tempo e do mais recente e igualmente bom, Contra o Tempo – o filme dedica seu terceiro ato a um clímax genérico e desprovido de qualquer tensão. É natural, claro, que os roteiristas tenham querido seguir as regras da construção básica de tramas e retirar do protagonista sua invejável vantagem em relação aos seus adversários, a fim de tornar o desafio final mais perigoso e definitivo, porém, falhando em sugerir tal obstáculo.


Estrelado por um sempre eficiente Tom Cruise, em um não tão alardeado, mas ainda assim ótimo momento de sua carreira, No Limite do Amanhã, dirigido por Doug Liman, deixa por trás de uma trama divertida – que brinca com o conceito de Feitiço no Tempo – uma analogia sobre a Segunda Guerra Mundial, não à toa a invasão vista diversas vezes durante o filme passa-se em um praia da França, tal qual foi o Dia D. Até mesmo o apelido maldoso de uma das personagens, Rita (uma carismática Emily Blunt), é referência ao período ao brincar com o título do clássico de Kubrick: Lê-se pichado em um ônibus “Full Metal Bitch”. É um longa despretensioso que diverte ao extrair novas visões dos mesmos elementos, e que apesar das repetições, nunca para de avançar e jogar a história para frente, pecando apenas em seu desfecho. Algo que tentarei não cometer aqui.


NOTA: 8/10



P.S. – No Limite do Amanhã, dirigido por Doug Liman e estrelado por Tom Cruise, tem uma participação divertidíssima de Bill Paxton.




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