sábado, 15 de fevereiro de 2014

FROZEN - UMA AVENTURA CONGELANTE



Sem um vilão definido até o clímax da produção, contando também com uma princesa que é criticada por se apaixonar no mesmo dia em que conhece seu suposto amor verdadeiro, com um príncipe que se revela tudo, menos heroico, e ainda com um desfecho que prova que no final das contas, a donzela em perigo pode salvar a si mesma sem a ajuda de herói algum, Frozen chega quebrando sem sutileza alguma os padrões dos filmes de princesa da Disney estabelecidos há quase 77 anos com A Branca de Neve e os Sete Anões, finalmente realizando com sucesso completo o que a casa do Mickey Mouse vinha tentando fazer desde 2009 com A Princesa e o Sapo (fraco) e mais tardiamente, com Enrolados (muito bom). Aqui, diferentemente destes últimos, o roteiro subversivo, os adoráveis personagens, uma trilha contagiante e, veja só, até mesmo uma referência a Watchmen, tornam esta mais nova animação da produtora um clássico recém-nascido.


Elsa (voz de Idina Menzel) é uma jovem princesa no reino de Arendelle; dotada de poderes mágicos que lhe permitem criar e controlar o gelo, ela é afastada de sua irmã, Anna (voz de Kristen Bell), quando um acidente ocorre durante uma brincadeira entre as duas. Anos mais tarde, durante sua coroação como rainha, seus poderes se revelam e Elsa é obrigada a fugir, deixando sem intenção seu reino sob um rigoroso inverno. Assim a irmã parte em busca dela contando com a ajuda de Kristoff (Jonathan Groff), sua rena Sven (Groff também?) e do boneco de neve Olaf (Josh Gad).


Despreocupado em se deter em demais explicações, o longa já começa assumindo que seu espectador entenderá que naquele universo, uma garota nascer com poderes mágicos e trolls são, ainda que rejeitados pela sociedade local, fatos conhecidos pela população. Neste quesito, poderíamos estar falando do mesmo mundo onde se passa Enrolados, e na verdade, os protagonistas daquele filme chegam a fazer aqui uma aparição relâmpago durante a canção For The First Time in Forever - Por Uma Vez na Eternidade na versão dublada, e me preocupo em assinalar isso tendo em vista que apenas UMA cópia legendada foi disponibilizada em todo o país. Esta, inclusive, é apenas uma das deliciosas canções que embalam e resgatam o espírito musical das animações da Disney. Não que seus últimos “filmes de princesa” não o fizessem também, mas fazia tempo que suas composições não eram tão memoráveis quanto as ouvidas aqui. Aquela, indicada ao Oscar, aliás, Let it Go (Livre Estou), é não só realmente a melhor da trilha como também a sequência em que é encenada por Elsa ao mesmo tempo homenageia os conceitos de diva ao trazer a rainha assumindo controle total de seus poderes ao passo em que usa-os para criar um vestido de cauda e um palácio de gelo gigante na encosta de uma montanha, e também referencia com esta mesma construção, Watchmen: um ser poderoso e que se considera perigoso se isola distante de sua terra natal em um palácio translúcido construído a partir de seus poderes, é o mesmo que faz o Doutor Manhattan tanto na HQ de Alan Moore, quanto no filme de Zack Snyder.


Aliás, a arte de Frozen é genial; se qualquer outra produção não hesitaria em apenas ser, enfim, branca, por se tratar de um filme sobre neve, aqui as cores são importantes fatores no entendimento da trama. As roupas usadas por Elsa no início são roxas e verde-piscina, cores frias e mórbidas espalhadas num vestuário castrador e rigidamente ajustado. Mais tarde, estas peças dão lugar a um vestido leve e fluído, de cor azul-claro, indicando sua segurança e sintonia com os próprios poderes. E é uma pena que a animação não poderia ser indicada e agraciada com prêmios de melhor figurino. O mesmo digo sobre o design de produção, que não só cria espetacularmente o castelo de gelo já citado, como também não se poupa de modificar o modo como o vemos de acordo com a situação. Assim, quando eventualmente perde o controle de seus poderes, vemos a rainha de Arrendelle rodeada por um gelo iluminado por uma luz vermelha, enquanto em outro segmento, logo após controlar seus poderes, a enxergamos sob uma luz angelical no topo de uma escadaria.



Sem contar que o drama de Elsa é desenvolvido com cuidado, beirando de maneira estudada sua tendência a cair no papel de vilã, algo que é reforçado pela personalidade da irmã. Anna é uma figura puramente positiva que traz no seu figurino o verde, cor de seu reino, e mais tarde o azul e o roxo, que serão importantes na rejeição da rainha a sua proposta de retorno. Mesmo Olaf, ganha um tom de branco mais brilhante que os demais vistos na neve durante o filme. O boneco, aliás, é um alívio cômico excepcional e importante para a trama, jamais soando descartável, e mesmo sua trágica obsessão com o verão é justificada por ter sido criado por Elsa, que sempre desejou não possuir seus poderes gelados e que também nunca conheceu plenamente o calor. Enquanto isso, Kristoff e Sven formam uma dupla que se equilibram formidavelmente entre serem o Timão e Pumba e também o Príncipe Encantado e seu alazão 
do projeto.


Assumindo um caráter imprevisível durante seu terceiro ato, o filme possui ainda um plot twist e um ápice belíssimo de clímax por contar com uma ação incomum de sua protagonista. E embora a mensagem se mantenha a mesma de sempre: o amor verdadeiro é a solução, Frozen encontra maneiras ao mesmo tempo novas e autocríticas de entregá-la, mostrando-se um marco na história dos Estúdios Dinesy e definitivamente, um dos melhores filmes do último ano que poderia facilmente, por exemplo, substituir Trapaça nas indicações aos principais prêmios da temporada.


NOTA: 10/10 





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