Sully: O Herói do Rio Hudson, baseado em uma história real,
dirigido por Clint Eastwood e estrelado por Tom Hanks, era um filme bem melhor
quando se chamava O Voo, era uma
ficção, dirigida por Robert Zemeckis e estrelada por Denzel Washington. Embora também
gire em torno de um acontecimento extraordinário envolvendo uma aeronave (em
2009, o piloto de um Boeing comercial fez um pouso de emergência no meio do Rio
Hudson, em Nova York), a produção se sabota ao tentar expandi-lo através de
conflitos artificiais que jamais se justificam em tela – ou na realidade.
Acompanhando o desenrolar
jurídico e midiático após o tal evento, o roteiro de Todd Komarnicki (autor do
péssimo texto de A Estranha Perfeita),
baseado no livro escrito pelo próprio piloto do avião, investe em uma narrativa
entrecortada por idas e vindas no tempo, que desta maneira buscam cobrir o
acontecido de diversos pontos de vista. Entretanto, a estratégia não demora a
deixar óbvio o seu objetivo: repassar de novo e de novo e de novo o único
evento de peso da trama. Além disso, o texto investe na instabilidade emocional
e psicológica de Sully (Hanks) para tentar criar um suspense quanto ao desfecho
da investigação das autoridades, que insistem que o piloto poderia ter
retornado ao aeroporto e feito a aterrissagem de forma mais segura - e barata.
Nada disso funciona,
infelizmente. Se os pesadelos e devaneios de Sully com os possíveis cenários do
incidente soam apenas como maniqueísmos para trazer alguma ação entre um
momento e outro, sua relação com a esposa (Laura Linney, desperdiçada) é um grande
embaraço ao tentar ser o ponto de comoção do longa, já que nem mesmo ganha uma
conclusão, sendo rapidamente esquecida logo após cumprir sua função estrutural.
Enquanto isso, Eastwood tenta vender o investigador vivido por Mike O’Malley
como um típico vilão corporativo, para que o espectador tenha a quem
antagonizar – e não surpreende que o personagem também soe incoerente ao adotar
uma postura amigável com Sully assim que termina de exercer seus deveres como
algoz. E bate uma vergonha alheia palpável testemunhar dois atores tão
competentes quanto Anna Gunn e Tom Hanks dividirem um diálogo tão piegas quanto
aquele que precede os créditos finais.
Que Clint Eastwood é um ufanista
conservador, não é grande novidade. Entretanto, isso nunca o impediu de realizar
obras como Sniper Americano ou Gran Torino, filmes que, sim, muitas
vezes podem estar impregnados com suas ideologias e até falhas de caráter (esse
último, por exemplo, é bastante xenofóbico e até racista), mas que jamais
deixam de soar interessantes e eficientes enquanto cinema. Da mesma forma, já
constatamos que o cineasta é perfeitamente capaz de navegar entre diferentes
perspectivas políticas com as obras A
Conquista da Honra e Cartas de Iwo
Jima. Porém, o que o diretor faz em Sully
parece ser um abandono de sua disciplina, exaltando o feito de um estadunidense
como prova da soberania de seu povo, enquanto compromete sua técnica em
detrimento disso – e que inclua um pôster enorme de um de seus filmes na Time
Square também não denuncia nenhuma humildade de sua parte, incluindo ele mesmo
e, logo, o próprio filme, como parte dessa cultura que supostamente é “melhor”.
Por outro lado, Tom Hanks
consegue equilibrar esses pontos negativos ao dosar em sua performance a
humanidade necessária para que nos identifiquemos com Sully. Da mesma forma,
ele e Aaron Ekchart, que vive o copiloto Jeff Skiles, criam uma química que
inspira a torcida pela dupla, ainda que, conforme a narrativa comprova, não
tenha muito pelo que torcer contra. Instigante então apenas quando finalmente
se foca no incidente em si, o filme chega no seu clímax enfraquecido de tanto
repaginar a sequência e seus desdobramentos, sobrando apenas o espetáculo
visual. O resto soa como um exercício desnecessário de glorificação que ainda é
pontuado por imagens do Sully, dos passageiros e dos tripulantes reais – e veja
bem, não duvido que a experiência, de fato, tenha sido impactante e divisora de
águas para todos os envolvidos, mas ainda parece tolo investir uma hora e meia
em algo que durou 208 segundos se não é para extrair uma reflexão mais profunda
disso tudo.
NOTA: 4/10
O póster é muito bom, adorei o filme. É interessante ver um filme que está baseado em fatos reais, acho que são as melhores historias, porque não necessita da ficção para fazer uma boa produção. Gostei muito de Sully um grande filme de Tom Hanks não conhecia a história e realmente gostei. Super recomendo, o elenco é grande, muito bom trabalho.
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