quinta-feira, 3 de agosto de 2017

PLANETA DOS MACACOS: A GUERRA



Quando começou em 2011 com Planeta dos Macacos: A Origem, este reboot da clássica franquia hollywoodiana dava poucas pistas de que seria uma série de filmes tão melancólica e pessoal. Depois do competente blockbuster de estreia e uma sequência construída na tensão, chegamos aqui ao claro desfecho de uma trilogia, com um capítulo final que, apesar de obviamente ter demandado uma custosa produção repleta de ótimos efeitos visuais, consegue equilibrar as necessidades de mercado com aquelas relacionadas à conclusão do arco de seu protagonista. Portanto, Planeta dos Macacos: A Guerra é bem menos um filme de ação sobre o embate do título, do que um drama intimista em torno de Cesar (Andy Serkis).



Inimigos declarados dos seres humanos depois do confronto do filme anterior, os macacos se refugiaram nas montanhas, onde são atacados pelo fanático Coronel (Woody Harrelson) e seus homens. Durante o conflito, dois entes queridos de Cesar acabam mortos, o que o impulsiona em um plano de vingança para encontrar e matar os responsáveis.

Com ares de western, a jornada de Cesar toma então o seu tempo para construir o encontro dessas figuras. Note como, embora citado desde os segundos iniciais, o Coronel só surge em tela após uma cena de atmosfera cuidadosamente preparada, e mesmo assim o que vemos não vai muito além dos seus olhos - convertendo o personagem em uma espécie de Coronel Kurtz, e não duvido que essa tenha sido a inspiração aqui. Aliás, tenho certeza que sim, já que Matt Reeves, de volta à direção, facilita o trabalho de Woody Harrelson construindo uma aura quase mística em torno do vilão, com seus subalternos comentando os seus feitos e formações meticulosas de soldados marchando em sua homenagem, além de o design de produção também merecer créditos por conceber o QG do algoz como uma fortaleza aparentemente inexpugnável, ornamentada com uma gigantesca bandeira dos Estados Unidos. Assim, quando Harrelson finalmente tem a chance de atuar, sua escolha por uma fala calma e até descontraída é acertada, pois vem embebida no poder que atribuímos a ele devido à construção de sua figura.

Enquanto isso, Reeves pavimenta o caminho de Cesar com takes aéreos e planos abertos que descortinam a beleza do mundo pós-apocalíptico. Essas paisagens são cruzadas pelo nosso protagonista símio, que vem montado em um cavalo e sob a trilha do sempre ótimo Michael Giacchino, num ribombar que tanto empolga quanto dimensiona a tragédia que o move em sua busca por justiça. Aliás, Cesar é um personagem fascinante. Criado a partir da captura de movimentos de Andy Serkis, suas expressões e a voz rouca remetem sutilmente a Bryan Cranston como Walter White em Breaking Bad, principalmente pelo modo como as inúmeras rugas do rosto funcionam para intensificar seus sentimentos. Ambos também dividem a instrospecção e austeridade, dignas do personagem que acumula as vivências do macaco. Inclusive, Matt Reeves consegue utilizar de forma construtiva mesmo o batido clichê da alucinação com uma pessoa que já morreu, trazendo esse recurso entre dois primatas e, assim, humanizando-os - não podemos esquecer de que, independente do quão verossímeis sejam os efeitos visuais, nós como espectadores humanos ainda temos de transpor mais essa barreira antes de firmar um laço realmente empático com aquelas figuras, o que não é tarefa fácil quando as motivações de Cesar dessa vez surgem tão sombrias.

Que tantas nuances da atuação de Serkis sobrevivam e sejam até potencializadas pelo processo de CGI, só prova que a técnica não deveria ser uma desculpa para barrar indicações nos principais prêmios. Vejam, por exemplo, como a performance de Steve Zahn se destaca em meio a tantas outras na pele digital de Bad Ape, um alívio cômico que consegue comover e fazer rir simultaneamente, estabelecendo-se como a melhor adição do projeto. Já que a outra seria a pequena Nova (Amiah Miller), que apesar de sua função catártica óbvia, funciona menos por não ganhar tanto espaço ou desenvolvimento. Ainda que, é preciso ressaltar, sua personagem esteja no centro de algumas das sequências mais delicadas do filme - e aquela envolvendo uma boneca e o enorme orangotango Maurice (Karin Konoval), é de uma doçura ímpar.

E Reeves é hábil construindo a atmosfera melancólica que combina instantes assim com as perdas irreparáveis no caminho dos personagens, usando os cenários belos, mas inóspitos, para ambientá-los em um mundo brutal, onde um campo de concentração símio não destoa da triste paisagem geral. Sua direção não só é eficiente, entretanto, como também viva e sintonizada com o tom geral da produção. E quando a guerra do título estoura enfim, Reeves contém o impulso de jogar sua câmera no meio do conflito, que em certo momento admirável de sua abordagem, aparece centralizado ao fundo do quadro, com bombas e demais elementos se movendo com beleza plástica na composição geral, enquanto Cesar surge em primeiro plano, enfatizando que o foco da trama é ele.

Finalizado ainda com um take que se converte numa verdadeira pintura renascentista ao equilibrar conteúdo, cores e formas de forma elegante, A Guerra encerra uma trilogia quase despretensiosa como produto, mas extremamente dedicada a levar com dignidade seu protagonista de uma ponta à outra. E por isso mesmo seu desfecho acaba soando uma despedida comovente. Cesar vai deixar saudades.



3 comentários:

  1. Amei Woody Harrelson em "Planeta dos Macacos: A Guerra" É um ator lindo, carismático e talentoso. The Edge of Seventeen é um dos seus filmes mais recentes. Adoro esse tipo de histórias para adolescentes, tem uma mensagem para qualquer idade! Realmente a recomendo!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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